Análise Arkade: Bounty Battle, o “Smash Bros Indie” que deu errado

14 de setembro de 2020
Análise Arkade: Bounty Battle, o "Smash Bros Indie" que deu errado

Um jogo de luta 2D estilo brawler que reúne alguns dos personagens mais famosos dos indie games. Essa premissa é muito interessante, não é? Infelizmente, ela não resultou em um jogo bom. Essa é nossa análise de Bounty Battle.

O Smash Bros dos indies

A série Smash Bros faz sucesso por vários motivos, e seu elenco sem dúvida é um deles. Um jogo de pancadaria que coloca Mario, Luigi e sua turma para “sair na mão” com Ryu, Solid Snake, Cloud, Bayonetta, Link, Sonic, Mega Man e dezenas de outros convidados “de luxo” tem um apelo gigantesco só pelo seu elenco.

Análise Arkade: Bounty Battle, o "Smash Bros Indie" que deu errado
Um confronto desses parece bom demais para ser verdade né?

Pois bem, Bounty Battle tenta fazer a mesma coisa, só que com personagens do cenário independente — e me refiro a indies bem populares. Temos aqui personagens de jogos como Dead Cells, Owlboy, Guacamelee , Blasphemous, Jotun, Awesomenauts, Battle Chasers, Darkest Dungeon, entre outros. É o “alto escalão dos indies”, reunido em prol da pancadaria.

Não há muita explicação para esta reunião inusitada. A incrível intro animada (vídeo acima) mostra os personagens sendo “sugados” de seus respectivos mundos por uma espécie de buraco negro, e indo parar nesta realidade compartilhada, onde vão sair no soco entre si. Além de heróis de mais de 20 indie games diferentes, há um punhado de personagens criados especialmente para o game, totalizando 30 lutadores. Nada mal, né?

Gameplay

Os problemas quando a gente sai da tela de seleção de personagens e vai para o jogo em si. A jogabilidade de Bounty Battle é extremamente simples, e em muitos aspectos lembra o que vimos em outros brawlers, como Smash Bros ou Brawlhalla — só que sem a mesma qualidade, o mesmo polimento. Os botões principais de ataque podem ser usados junto do direcional para executar diferentes golpes, e temos também esquivas, agarrões e habilidades especiais.

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Pancadaria entre indies

A questão é que nada aqui é fluido e responsivo como nos games supracitados. A movimentação é truncada e desajeitada. Os golpes não se conectam, então não dá para criar combos, nem nada muito elaborado. Os melhores golpes de cada personagem consomem um medidor, de modo que seu uso é bastante limitado pelo cooldown deste medidor. Não há como “jogar bonito” simplesmente porque as mecânicas do jogo são pobres.

Isso é especialmente bizarro se considerarmos que estes personagens vêm de jogos extremamente fluidos, bem animados e com gameplays excelentes. O Juan de Guacamelee, por exemplo, nem parece o mesmo “luchador” de seu próprio jogo, pois perdeu toda a perícia de seus ataques para se encaixar no sistema de jogo desajeitado de Bounty Battle.

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Este deveria ser um duelo de titãs… mas não é

Somado a este gameplay pouco inspirado, temos um sistema de colisão bastante problemático, com hitboxes que não fazem o menor sentido e deixam tudo ainda mais confuso. Quase todos os personagens possuem algum tipo de ataque à distância, mas ele é tão simplório e repetitivo quanto o restante das habilidades — e alguns são bem apelões.

A maior “novidade” aqui fica por conta de um sistema de aliados: ao eliminar seus adversários, você ganha dinheiro (?!), que pode ser usado para “comprar” um parceiro controlado pela IA, que irá lutar ao seu lado. Este parceiro é temático — Juan, de Guacamelee , por exemplo, conjura algumas galinhas”luchadoras” para lhe ajudarem.

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É um adendo interessante, mas que não salva um jogo mecanicamente tão limitado. E o pior: ele é bem desbalanceado. Alguns heróis — como o Owlboy, por exemplo — conjuram aliados tão poderosos e apelões que podem definir o rumo de uma luta em pouquíssimo tempo. Não há espaço para ser habilidoso aqui, e a sorte (ou a falta dela) acaba por definir as partidas.

Os problemas não param por aí…

A página do Steam de Bouncy Battle se orgulha de dizer que o jogo tem modos de jogo como “Tournament, Versus, Challenge Mode, Tutorial e Training Room”. Ok, isso é até verdade… mas quando a gente visita cada um deles, percebe que não é bem assim.

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Bom, Tutorial e Training Room são bem autoexplicativos, não é mesmo? O Versus é aquela jogatina pra reunir a galera, que aceita até 4 players em jogatina local… mas com 4 personagens na tela, o jogo roda super mal e engasga ao ponto de parecer que está em câmera lenta. Isso no PS4 Pro, console que roda muito bem jogos infinitamente mais exigentes do que esse.

Pois bem, sobram o Tournament e o Challenge, que também deixam a desejar. O Tournament não é bem o que a gente está acostumado, e consiste basicamente em uma série de 5 desafios para cada personagem — e você nem pode escolher com quem quer jogar: cada um dos 30 personagens têm seus próprios desafios, mas você joga na ordem que o o jogo impõe, e só libera um novo personagem depois de concluir os desafios do anterior.

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E ao final você ganha… só uma ilustração do personagem (?!)

Já o Challenge é o que mais se aproxima daquele tradicional “modo arcade” que quase todo de luta tem. Mas né, considerando que quase nada deste jogo funciona de maneira satisfatória — a começar pelo gameplay –, não é ter apenas um modo de jogo decente que consegue salvá-lo do fracasso.

Audiovisual

Aqui é onde o jogo se sai “menos pior” — com ressalvas: seu visual 2D é muito bonito, e ele consegue fazer um bom trabalho em recriar personagens de outros jogos dentro de sua proposta visual. As arenas — muitas delas inspiradas nos mundos dos outros indie games retratados aqui — também são bonitas. Porém, como já dito, os personagens são mal animados, o que é uma ofensa aos jogos fluidos e bem feitos dos quais boa parte deles saiu.

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O departamento sonoro também não se destaca: as músicas não tem nada de especial, e os sons da pancadaria são no máximo ok. Há um empolgado locutor que apresenta os heróis e anuncia os vencedores, mas até aqui parece que algo está errado, pois a mixagem dos volumes deixa alguns sons muito altos, outros baixos demais.

Como já dito lá em cima, a performance do jogo é péssima, mesmo rodando em um bom console. Imagino como ele deve rodar mal em um hardware mais simples, tipo o Nintendo Switch. Nada aqui parece feito com capricho: os menus são feios, não há animação de vitória, nem nada do tipo. O jogo parece “inacabado” em vários aspectos.

Conclusão

Como fã de boa parte dos indie games que fazem parte deste jogo — e entusiasta de indie games em geral, eu estava muito animado por esse jogo. A proposta de ser um “Smash Bros Indie” é boa demais para ser mal aproveitada, e um jogo como esse poderia ser incrível, se feito da maneira correta.

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Infelizmente, nada aqui foi feito do jeito certo. Não sei se é falta de experiência do estúdio — este é o primeiro jogo do estúdio francês Dark Screen Games — ou alguma outra coisa, mas o fato é: os produtores tinham algo com muito potencial nas mãos, mas não conseguiram transformar isso em um bom game.

Eu sempre tento “ver o copo meio cheio”, especialmente quando se trata de um jogo indie, produzido por um estúdio pequeno, mas aqui não tem como dourar a pílula, e minha obrigação profissional é ser honesto com você, leitor. E a verdade é: Bounty Battle é simplesmente um jogo ruim. É triste ver tantos personagens legais “desperdiçados” nele.

Se quiser um jogo de luta com personagens de indie games, recomendo que dê uma olhada em Blade Strangers. Não é assim uma maravilha, mas é muito melhor do que esse aqui — e seu elenco é ótimo, misturando personagens de Shovel Knight, Cave StoryAzure Striker GunvoltThe Binding of Isaac, entre outros.

Agora, se luta “de verdade” não é a sua praia, e você quer um brawler, algo mais divertido e descompromissado, fique no Smash Bros, que oferece a melhor experiência do tipo — ou fique no Brawlhalla mesmo, que é gratuito, tem em tudo que é plataforma e oferece uma experiência muito superior.

Bounty Battle foi lançado em 10 de setembro, e está disponível para PC, Playstation 4 (versão analisada), Xbox One e Nintendo Switch. O jogo possui menus e legendas em português brasileiro.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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