Análise Arkade – Bubsy: Paws on Fire é praticamente uma cópia da série Bit.Trip Runner
Bubsy está de volta (mais uma vez)! Depois de um retorno bem sem graça, o mascote retorna para uma nova aventura, que não é realmente inovadora, mas tem lá seus predicados. Confira agora nossa análise de Bubsy: Paws on Fire!
A trama do jogo envolve o retorno do vilão Oinker, que está planejando coletar espécies de animais de todo o universo para criar um zoológico particular. Depois de ganhar um par de tênis especiais, Bubsy resolve dar uma nova sova em Oinker, e desta vez terá a ajuda de seus amigos para isso!
O novo jogo não é só do Bubsy, pois introduz outros 3 personagens controláveis: Virgil, Woolie e Arnold. Juntos – mas separados, cada um em sua fase –, eles irão coletar novelos de lã enquanto evitam abelhas, abismos e outras armadilhas.
Praticamente um Bit.Trip Runner
A Choice Provisions – produtora deste novo retorno do Bubsy – é a empresa por trás da divertida e viciante série Bit.Trip Runner. E ela claramente adora esse tipo de experiência que mistura plataforma e ritmo, pois Bubsy: Paws of Fire! é praticamente uma “cópia” da série Runner.
Ou seja, os personagens correm sozinhos da esquerda para a direita, e nossa missão é basicamente saltar, deslizar, planar… enfim, usar as habilidades de cada um para evitar obstáculos e armadilhas.
Se por um lado essa fórmula funciona, e entrega um jogo bacana, por outro não tem como não ficar com a impressão de que a Choice Provisions está simplesmente “requentando” a receita da casa. Sem sacanagem, é como se este novo jogo do Bubsy fosse um mod, ou um pacote de skins para a série Runner.
Acho até que a série Runner se sai melhor por 1) ser original e 2) ter uma trilha sonora muito mais interessante e variada, que combina mais com a proposta do jogo. Mas, isso não quer dizer que a nova aventura de Bubsy não tenha espaço para novidades, a começar por seu…
Gameplay 4 em 1
Pois é, ainda que traga apenas o nome do Bubsy na capa, este Bubsy: Paws on Fire! traz 4 personagens jogáveis diferentes, e cada um tem um estilo de gameplay ligeiramente diferente do outro. O herói básico é o Bubsy,que pode basicamente pular e planar, além de ter um dash que serve tanto para ataque quanto para cobrir curtas distâncias.
Confira uma fase completa com ele no vídeo abaixo:
Já Virgil possui pulo duplo, e também pode deslizar e dar um “ground pound” que ativa molas que o impulsionam mais para o alto. Por fim, a ETzinha Woolie fecha a “trinca” de personagens comuns, e com ela o jogo vira praticamente um shooter de navinha: em seu disco voador, ela tem livre movimentação, podendo atirar em abelhas e outros perigos enquanto coleta novelos e evita armadilhas.
O quarto personagem é o tatu bola Arnold, que protagoniza fases bônus muito (MUITO mesmo) parecidas com as que tínhamos em Sonic 2: ele rola por dentro de um “tubo”, e deve coletar o máximo de pedras preciosas que conseguir. Aqui, os obstáculos não são morte certa (como nas fases tradicionais), servindo apenas para atrapalhar o jogador.
Confira abaixo uma fase bônus do Arnold e me diga se não lembra as fases bônus do saudoso Sonic 2:
Vale ressaltar que para liberar as fases do Arnold, é preciso jogar cada fase com os outros 3 personagens, e coletar em cada uma delas as peças que montam um medalhão do personagem. Assim, ainda que as fases não sejam realmente iguais — cada herói tem seu próprio “traçado” –, isso torna as coisas um tanto repetitivas, afinal, na prática cada fase precisa ser jogada 3 vezes, ainda que de maneiras ligeiramente diferentes.
Os novelos de lã que coletamos podem ser trocados por roupinhas e customizações puramente estéticas — não afetam o desempenho dos personagens, apenas muda o visual de cada um. Ao final de cada fase, enfrentamos um chefão naquele esquema “jogo de navinha”, e precisamos decorar seus padrões de ataque para vencer.
Audiovisual
Bubsy: Paws on Fire! é um jogo 2.5D que está longe de ser lindo, mas entrega um visual competente, ainda que um tanto limitado. Os personagens são bem modelados, e os cenários trazem um mínimo de variação dentro de cada mundo — tipo “A Floresta” ou “O Laboratório”, cada um com um bom punhado de fases dentro do mesmo tema.
A trilha sonora simplesmente cumpre seu papel, e merecia ser melhor aproveitada, especialmente por este ser praticamente um jogo de ritmo misturado com plataforma 2D. Na série Runner é muito fácil de perceber como nossas ações estão sempre sincopadas com a trilha sonora. Aqui, isso não acontece com tanta frequência, especialmente porque a trilha não se destaca, e os efeitos não se encaixam nela com naturalidade.
O game não possui menus ou legendas em português brasileiro, mas isso não chega a ser um problema, uma vez que há apenas um fiapo de história, e depois da cutscene inicial a gente mal vê os personagens falando algo além de frases de efeito antes de cada fase. De resto, navegar pelos menus e acessar as fases é bastante intuitivo — e o jogo traz algumas boas piadas e trocadilhos aqui e ali.
Quando a memória atrapalha
No geral, tudo em Bubsy: Paws on Fire! funciona: o jogo em si é divertido e garantia de um bom entretenimento. Porém, esse excesso de similaridades com a série Runner tiram seu brilho justamente por ele ser parecido demais com um jogo que é tão único dentro de um nicho tão específico.
Pegue Mario Kart, por exemplo: outros jogos “copiaram” a fórmula criada pela Nintendo, mas eles geralmente têm qualidades (nem que seja carisma) suficientes para se sustentarem, ou agregaram novos elementos ao gênero — carros que voam, loopings, etc). São parecidos, pertencem a um mesmo gênero, mas não parecem simples cópias — e quando falta originalidade, tornam-se genéricos e esquecíveis.
O mesmo vale para jogos de plataforma em geral: é um gênero pra lá de tradicional que está aí há mais de 30 anos, mas quando um jogo consegue dar uma atualizada na fórmula — ou apenas botar um tempero novo –, automaticamente se destaca. Caso do nostálgico Fox n’ Forests, do psicodélico Octahedron e do excelente Ori and the Blind Forest, por exemplo.
Com Bubsy: Paws on Fire! falta esse tempero, de modo que eu fiquei o tempo todo incomodado, pensando em como a série Bit.Trip Runner já me entregou exatamente a mesma experiência — com mais identidade, carisma e estilo. Comparativamente, a nova aventura de Bubsy é inferior, e deixa a impressão de que a Choice Provisions não sabe (ou apenas não quer) se arriscar a fazer outro tipo de jogo.
Conclusão
Apesar disso tudo, esta nova aventura do Bubsy não é ruim: ela é muito melhor que o último jogo do mascote, por exemplo. Porém, perde pontos por ter esse sabor requentado, repetindo uma fórmula muito específica de uma franquia que construiu sua fama justamente por ser inovadora e diferente. Quando perde-se esse pioneirismo, o que sobra é… bem, esse jogo aqui.
Se o jogo de 2017 foi duramente criticado por ser simplório demais, este novo jogo tem como principal problema o fator comparativo: a gente já jogou isso antes, e se é para jogar algo do tipo, a série Runner ainda é uma opção muito superior, sendo mais criativa, arrojada, interessante e desafiadora.
No fim das contas, Bubsy: Paws of Fire! é recomendável, mas com ressalvas. Válido especialmente para fãs do personagem, ou para quem talvez não conheça a série Bit.Trip Runner. Sem a comparação, este jogo sem dúvida pode ser bem mais legal.
Bubsy: Paws of Fire! está disponível para PC, Playstation 4 (versão analisada, rodando no PS4 Pro) Xbox One e Nintendo Switch.