Análise Arkade: Caravan SandWitch – entre a exploração e a chateação

25 de setembro de 2024
Análise Arkade: Caravan SandWitch - entre a exploração e a chateação

Que tal entrar em uma van e explorar paisagens melancólicas em um planeta semi-abandonado? Essa é a proposta de Caravan SandWitch, um jogo pacífico… mas que mesmo assim pode se tornar frustrante de vez em quando.

De volta para casa

A protagonista de Caravan SandWitch é uma jovem chamada Sauge, que passou boa parte de sua vida em um planeta colonizado por humanos chamado Cigalo. Porém, depois que sua irmã Garance desapareceu, Sauge decidiu que era hora de sair de lá, e foi viver em uma estação espacial.

Ela passou anos levando uma vida simples e solitária na estação… até que, do nada, seu equipamento capta um pedido de socorro da nave de sua irmã. A questão é que já se passaram 6 anos desde o desaparecimento da garota, e por ninguém saber o que houve com ela, deduziu-se que ela morreu, ou simplesmente não quer ser encontrada.

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Com um misto de esperança e receio, Sauge decide retornar ao planeta Cigalo, a fim de rastrear a origem do sinal de socorro que captou. Porém, o planeta, que outrora era administrado pelo “Consórcio“, agora está desértico, em ruínas, quase abandonado.

Esta “volta para casa” de Sauge envolve reencontrar diversas figuras que fizeram parte de sua vida e conhecer alguns novos rostos. Enquanto rastreia o sinal de sua irmã, ela vai ajudar novos e velhos amigos a resolver pequenos (e grandes) perrengues oriundos da vida em um planeta decadente.

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A exploração das planícies e ruínas de Cigalo invariavelmente vai nos colocar no rastro de uma misteriosa figura encapuzada, a tal “Bruxa da Areia” do título — repare que não é Sandwich, é SandWitch, olha que sagaz! Mas, não vamos nos aprofundar nessa questão para evitar spoilers.

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A misteriosa SandWitch

Caravan SandWitch: explorando e resolvendo problemas

Caravan SandWitch é um jogo pacífico de exploração. Não há combate, nem inimigos, nem mesmo dano por queda. Sauge é capaz de pular, correr e escalar e já no começo da aventura, vamos “ganhar” uma simpática van, que será nosso principal meio de transporte ao longo do jogo.

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Sauge acaba virando a “garota de recados” do planeta, fazendo favores e socorrendo os habitantes que precisam de ajuda com suas demandas. Isso envolve coletar coisas para eles, levá-los até certos lugares ou abrir caminho para novas áreas.

Além dessas pequenas missões, temos nosso objetivo maior que é localizar o pedido de socorro de Garance. Porém, o planeta está repleto de antenas que bloqueiam as comunicações, de modo que uma parte grande de nosso trabalho é encontrar e desativar essas antenas (alô Final Fantasy VII Rebirth e “Ubisoft the Game“!)

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Felizmente, dá para voltar para a van pressionando apenas um botão

Conforme fazemos isso, vamos chegando cada vez mais longe em nossa exploração do nem tão vasto mapa do game. E, conforme avançamos, vamos precisar criar novas ferramentas e traquitanas que nos permitam seguir em frente… o que nos leva a um ponto meio chato.

A coleta de componentes

No principal vilarejo de Cigalo, uma jovem mecânica chamada Nèfle vai nos ajudar a criar as ferramentas que nos permitirão avançar. Porém, para isso, ela precisa de componentes eletrônicos, que podemos encontrar sucateando equipamentos, explorando ruínas, ou mesmo receber como “pagamento” por nossos serviços.

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Na busca pelos componentes

Estes componentes possuem quatro graus de raridade, e estão literalmente espalhados pelo mundo. Cada equipamento que formos criar vai demandar um número específico de componentes, e a cada novo equipamento, o volume de traquitanas necessárias aumenta — aumentando também o trabalho de coletá-los.

O primeiro desses gadgets é uma antena que nos ajuda a escanear os ambientes em busca de recursos. O seguinte, bem mais útil, é uma garra capaz de liberar barreiras, carregar coisas e até mesmo conduzir energia.

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Antena de ruído identificada

O problema é que isso acaba criando uma barreira pentelha de progressão. Quando perceber que não há mais para onde progredir, é sinal de que é hora de criar um novo equipamento, mas se não tiver recursos suficientes, terá que ficar rodando a esmo, como um sucateiro, em busca de componentes.

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Por onde começar?

Os componentes que recebemos cumprindo missões secundárias e ajudando NPCs nunca são o suficiente para progredirmos sem grinding. E o pior: Caravan SandWitch é dividido em capítulos, mas avançar um capítulo cancela qualquer missão opcional que você por ventura não tenha cumprido.

Assim, o que deveria ser um exercício pacífico e relaxante de exploração ocasionalmente vira uma busca enfadonha e monótona por recursos. Ah, e fica a dica: os coletáveis não ressurgem no ambiente, então não adianta avançar o capítulo e revisitar uma ruína já explorada achando que os recursos estarão lá novamente. Depois que você recolhe um componente, ele não vai dar “respawn”.

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Será que deixei passar alguma coisa?

Como vamos passar muitas vezes pelos mesmos lugares, indo e voltando do vilarejo principal — onde estão diversos NPCs e por onde se iniciam boa parte das missões principais e secundárias da campanha — isso acaba ficando ainda mais chato: temos que ir cada vez mais longe no mapa só para coletar os mesmos componentes

O audiovisual de Caravan SandWitch

Caravan SandWitch é um jogo visualmente muito simpático. A direção de arte é muito competente, os personagens são carismáticos e o mundo do jogo, apesar de desértico, tem diversos locais interessantes para serem visitados, entre cavernas, florestas, cânions e ruínas.

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Um ambiente “menos desértico”

O departamento sonoro não é particularmente marcante, mas traz faixas que combinam com a vibe pacífica e contemplativa do jogo. Sem vozes, o jogo se apoia totalmente em textos, e ainda que esteja localizado para o português brasileiro, o resultado é… inconstante.

Explicando: Caravan SandWitch abraça os pronomes neutros sem medo de ser feliz. O problema é que, ao fazer isso, nem sempre as frases ficam coerentes.

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“Todes minhes amigues”

Além dessa questão dos pronomes, a tradução em si dá umas escorregadas de vez em quando, e algumas frases simplesmente não foram traduzidas, aparecendo em inglês (algo que deve ser corrigido com o tempo).

Conclusão

Caravan SandWitch acaba sendo um jogo de dois extremos. De um lado, a exploração é interessante e estimulante, e a trama é carregada de belas mensagens sobre família, cooperação e ambientalismo.

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De outro, a busca obrigatória por componentes cria barreiras que impedem o progresso do jogador, minando uma jornada que deveria ser leve e contemplativa.

A falta de equilíbrio entre estes dois extremos torna a experiência inconstante, que testa a paciência do jogador e compromete a vibe “cozy game”.

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Aquela tempestade colossal coloca a vida de todos em risco

Sinto que as mensagem trabalhadas aqui, a força narrativa do jogo, e sua emocionante conclusão, são elementos que vão ficar comigo por um tempo. Mas o ato de jogar e a infindável busca por componentes eletrônicos já estavam me chateando bem antes da campanha acabar.

Caravan SandWitch está disponível para PC, Playstation 5 (versão analisada) e Nintendo Switch.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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