Análise Arkade: Chrono Cross: The Radical Dreamers Edition – Um clássico que sofreu um remaster
Chrono Cross é um clássico absoluto do gênero de JRPGs, e por muito tempo, durante os últimos anos, rumores se espalhavam sobre um possível remake que estaria sendo produzido para Playstation, até que enfim foi revelado que não se tratava de um remake, mas um remaster, na forma de Chrono Cross: The Radical Dreamers Edition.
E essa nova edição do clássico enfim foi lançada! Trazendo não apenas Chrono Cross, mas o seu “obscuro” antecessor, o game The Radical Dreamers, lançado para o Satellaview, um periférico do Super Famicom lançado somente no Japão.
Vamos então conversar um pouco sobre essa remasterização, suas infelizes características e outros elementos polêmicos que acabaram vindo ainda mais a tona com Chrono Cross: The Radical Dreamers Edition.
The Radical Dreamers
Como já mencionado, Chrono Cross: The Radical Dreamers Edition é uma remasterização que contém dois games em um único pacote: A remasterização de Chrono Cross, que segue o mesmo estilo de Final Fantasy VIII Remastered, e o game Radical Dreamers, do Satellaview do Super Famicom.
Radical Dreamers é uma aventura baseada em texto, bem ao estilo dos antigos adventures de PC, em que você lê a história sendo contada, e em alguns momentos é confrontado com decisões que precisa tomar rápido. Por exemplo num contexto de luta, em que você pode atacar, usar magia, se defender ou fugir. E se não escolher uma opção rápido, será punido por isso.
O game está contido no pacote em sua forma original, com os mesmo gráficos, resolução e funcionamento. O que é algo bem legal, pois certamente não seria uma boa ideia remasterizar um game nesse estilo, ainda mais por ele ter sido um game que não foi disponibilizado no ocidente até então.
E então temos a estrela principal, Chrono Cross, a sequência do lendário Chrono Trigger, que conta uma história totalmente diferente, com mecânicas completamente diferentes. Esse game tinha ainda uma vantagem a seu lado: que é a “fórmula” da remasterização de Final Fantasy VIII, que foi muito bem feita quando foi lançada. Mas, infelizmente, a remasterização de Chrono Cross deixou muito a desejar.
Um clássico maculado por um remaster defeituoso
Chrono Cross foi lançado originalmente em novembro de 1999, com Final Fantasy VIII sendo lançado no mesmo ano, mas em fevereiro. Os games se diferenciam entre si, entre outras coisas, pelo maior uso de elementos 3D em Final Fantasy VIII, principalmente em seu mundo aberto. Enquanto Chrono Cross possui cenários totalmente feitos com imagens 2D, exceto somente durante batalhas, e nos modelos de todos os personagens.
Sendo assim, a remasterização foi feita ao melhorar os modelos 3D de personagens e dar uma melhorada nos cenários 2D. E além disso, todas as imagens de personagens, que aparecem em telas de diálogo e nos menus, foram redesenhadas, ganhando novas versões mais detalhadas, mas mantendo suas poses originais.
Infelizmente, há muitos problemas nessas melhorias, tanto no 3D quanto no 2D. A começar pelo 2D, é preciso mencionar que muitos cenários ficaram realmente belíssimos em suas versões remasterizadas, com alguns cenários que parecem ter sido manualmente redesenhados. Mas, a maioria deles são basicamente melhorias na resolução das imagens originais pixeladas (o que, por si só, é basicamente o conceito de remasterização).
O problema é: muitos dos cenários remasterizados ficaram bem feios, como se tivessem apenas aplicado alguns filtros de suavização, deixando alguns cenários incrivelmente borrados e honestamente muito feios. Não são todos os cenários que são assim, mas os que são se destacam muito, o que é algo bem negativo.
E então temos a parte 3D. Os modelos de personagens, mesmo de NPCs, foram bem feitos. Mas não todos. Há alguns poucos personagens e inimigos, por exemplo, que possuem visuais bem esquisitos, um misto de modelo 3D bem polido, mas suas “texturas” ou desenhos de rostos bem pixelados, como se tivessem feito o trabalho apenas pela metade. Isso é bem evidente quando se compara os modelos dos personagens de sua party, que estão muito bonitos, com alguns inimigos que parecem até que foram feitos as pressas.
O game ainda oferece a opção de escolher em quais gráficos e resoluções quer jogar, como por exemplo jogar com o visual do original de 1999, jogar em modo Fullscreen, na resolução original ou tela esticada, além de ter algumas pequenas customizações para menus e janelas de texto.
Abaixo você pode ver uma comparação. A primeira imagem é do visual remasterizado, com resolução padrão:
E aqui está a mesma imagem, com os gráficos originais pixelados, mas com resolução em modo “esticado”:
Infelizmente, a mudança de resolução e gráficos não é tão intuitiva assim. Você precisa escolher quais opções visuais quer usar antes de colocar Chrono Cross para jogar. Isso torna complicado até mesmo comparar os visuais novos com o antigo, pois você precisa sair do game, mudar o visual, e iniciá-lo de novo (tudo a partir do menu principal, não é necessário realmente fechar o aplicativo do game).
Mas o pior mesmo acontece nas batalhas. Por ser um game antigo remasterizado, é de se esperar que rode de forma totalmente perfeita, sem lag, input lag ou quedas de FPS. Chrono Cross: The Radical Dreamers Edition possui todos esses defeitos. Durante as batalhas, o framerate cai de forma muito absurda, tornando um verdadeiro sacrifício jogar algumas batalhas.
E não é preciso nem mesmo usar ataques ou magias que consomem muitos recursos, como partículas e efeitos de luz. As vezes batalhas contra apenas um inimigo possuem desempenho terrível, mesmo que a única animação presente seja um personagem andando e atacando fisicamente um inimigo.
Isso ainda causa um imenso input lag, que felizmente não torna as batalhas piores do que já são pelo fato das batalhas por turno e não possuírem o sistema ATB (falarei sobre o gameplay mais adiante). Mas mesmo assim, rola muito input lag, tanto para navegar entre as opções do menu de batalha quanto para selecionar o que você quer fazer.
Tudo isso compromete e muito a experiência de um game clássico que merecia uma remasterização feita com carinho e dedicação. Não sei como a remasterização realmente foi feita, ou os desafios em adaptar um game de 1999 para plataformas do ano de 2022, mas o resultado final ficou muito aquém do esperado.
E falando dos pontos positivos que vieram com o Remasters, temos os mesmos recursos extras de Final Fantasy VIII: Acelerar ou desacelerar a velocidade do game, desativar batalhas e até ativar um modo que deixa sua party mais forte. Assim como Chrono Trigger, Chrono Cross não possui encontros aleatórios. Todos os inimigos de uma área estão sempre visíveis atravessando os cenários. Ao desativar as batalhas, não acontece nada se você encostar neles ou vice versa, permitindo que você não se preocupe em ter que ficar evitando batalhas, se estiver com pressa.
Audiovisual e gameplay
Já falamos muito sobre como está o visual de Chrono Cross: The Radical Dreamers Edition, então vamos focar na parte dos sons, que assim como no original, estão excelentes. Não há vozes aqui, como é de se esperar de JRPGs antigos, mas a trilha sonora e os sons de ataques e de monstros são nostalgia pura.
E é sempre necessário mencionar a estupenda trilha sonora de Chrono Cross, com temas orquestrados magníficos, como seu tema principal, até algumas músicas que tem bem aquele “clima de praia”. Afinal, uma das maiores características do game é o próprio oceano e as praias, com uma tendo vital importância para a narrativa.
Infelizmente, o game não conta com localização em português brasileiro, mantendo os idiomas do game original.
Em termos de gameplay, como já mencionado, não há o sistema ATB, o “Active Time Battle”, em que todos os personagens estão numa mesma linha do tempo e a prioridade é de quem realizar uma ação primeiro. Aqui, as ações são baseadas nas barras de Estamina, que permitem que os personagem possam agir a qualquer momento, com apenas os inimigos estando numa linha de ordem de turnos.
Esse sistema é ao mesmo interessante e esquisito. Cada personagem possui uma barra com 7.0 pontos de estamina, podendo usar qualquer ação, desde que tenha estamina suficiente. Por exemplo ataques físicos, que podem consumir 1, 2 ou 3 pontos, e quanto maior os pontos, mais forte é o ataque, porém menor é a porcentagem de acerto.
O uso de magias também é diferente, não existindo barra de HP, mas sim um “mosaico” em que você equipa Elementos, que são como as Materias de Final Fantasy VII. A diferença é que cada Elemento só pode ser usado uma vez por batalha (exceto elementos consumíveis, equivalentes a itens de consumo). E para usar os elementos, você precisa ativar seu “mosaico” com ataques físicos. Por exemplo, se você tem até o nível 7 em seus elementos, precisa juntar 7 pontos com ataques físicos. Isso sem contar as diferentes cores de Elementos e as cores inatas de cada personagem, que combinadas com a cor do “campo de batalha”, oferecem vantagens e desvantagens.
É complicado de explicar em texto, mas jogando fica fácil de acostumar, apesar de a sensação de estranheza permanecer por um tempo enquanto o jogador se aventura. Principalmente se você está familiarizado com o gameplay de Chrono Trigger e Final Fantasy.
Por fim, esse não seria um game da série “Chrono” se não tivesse viagens no tempo! Mas aqui, esse recurso é bem diferente, e bem mais limitado. Em Chrono Trigger você podia viajar entre diversas eras diferentes da história, desde a era dos dinossauros até o futuro. Em Chrono Cross, no entanto, você viaja entre dois mundos: O Home World e o Another World.
Esses dois mundos são o mesmo, mas diferenciam-se entre si como duas linhas do tempo paralelas. O mundo original, Home World, é onde o protagonista do game, Serge, nasceu e vive. Já no Another World, Serge morreu quando ainda era criança. E essa diferença é o pontapé para a trama que envolve ambos os mundos e um poder que parece afetar tudo.
Serge deve então viajar pelos dois mundo, fazendo muitos amigos pelo caminho, que irão ajudá-lo a não apenas entender o que está acontecendo, mas colocar um fim num enorme mal que parece estar por trás de tudo. E quando falo muitos amigos, eu realmente estou falando sério, pois Chrono Cross tem nada menos do que 45 personagens diferentes para sua party! Muitos deles são bem legais, e possuem suas próprias quests que desenvolvem suas histórias. Mas há alguns não muito interessantes, ou sem muito desenvolvimento narrativo.
Conclusão
Chrono Cross: The Radical Dreamers Edition tinha tudo para ser perfeito, para relembrar o mundo de um clássico dos JRPGs e sequência do lendário Chrono Trigger. No entanto, apesar do remaster em si manter seus acertos e erros do passado, nos entregando uma experiência bem genuína do game original, seus erros comprometem muito a experiência total.
É claro que é possível ignorar esses problemas e continuar jogando. Dependendo da perspectiva do jogador, esses problemas poderiam talvez ser ignorados, ao colocar na balança o pacote completo. Mas não se pode negar que os problemas de performance não deveriam sequer existir. O que se espera de uma remasterização é resgatar a experiência original, enquanto se conserta erros não endereçados no passado, para entregar a experiência definitiva.
Infelizmente, não foi exatamente o que aconteceu aqui. As quedas muito constantes de framerate (em um game de batalhas por turnos), e problemas de desempenho e visuais, com cenários que parecem muito borrados, mancham essa que poderia ser uma maravilhosa viagem ao passado.
Mais triste ainda é lembrar que atualmente, essa é a única versão à venda de Chrono Cross em todas as plataformas atuais. Não é possível comprar o game original em nenhum lugar, a menos sua versão original física (que por si só custa uma fortuna). Nós já discutimos a enorme dificuldade da indústria em preservar seu próprio legado, e o caso do remaster de Chrono Cross, apesar de só ter sua versão atual à venda, pelo menos permite que joguemos o game original de 1999, se assim desejarmos. No fim, esse não é o remaster que o game merecia, mas felizmente respeita o seu legado e história.
Chrono Cross: The Radical Dreamers Edition está disponível para PC, Playstation 4, Xbox One e PC. Além de estar disponível no Playstation 5 e Xbox Series X/S via retrocompatibilidade.