Análise Arkade: Close to the Sun, uma imersiva e sombria jornada (inspirada por Bioshock)
Certos jogos tornam-se muito influentes por suas qualidades. É o caso da série Dark Souls, por exemplo, ou de Castlevania. Na geração passada, vimos o nascimento da série Bioshock, e embora tenha meio que ido para o Limbo com o fechamento da Irrational Games, também influenciou bastante a indústria, ganhando jogos inspirados (ou mesmo copiados) nele.
Close to the Sun é o mais novo jogo a homenagear o estilo de Bioshock, e nos leva por uma jornada tão sombria quanto interessante, confira nossa análise!
Bem-vindo à Helios
Close to the Sun empresta personalidades do mundo real para criar uma história de ficção e mistério. O cientista Nikola Tesla (famoso por seus estudos sobre eletricidade e corrente alternada, bem como por inventos como a Bobina de Tesla) estava em pé de guerra com outro grande cientista do passado: Thomas Edison (inventor da lâmpada elétrica e do fonógrafo).
Tesla precisava de espaço para criar, e das mais brilhantes mentes do mundo científico para ajudá-lo em suas pesquisas. Ele então cria a Helios, uma gigantesca embarcação/laboratório/centro de pesquisas que acaba tornando-se um novo lar para diversas mentes proeminentes da ciência. É uma utopia científica onde cientistas e pesquisadores podem levar seus estudos ao limite, sem muita preocupação com “besteiras” como ética e legislação.
Por estar o tempo todo em alto-mar, pouca gente sabe o que rola na Helios, e que tipo de pesquisas e experimentos estão sendo feitos por lá. Nossa história começa quando a jornalista Rose Archer recebe uma carta de sua irmã Ada (uma das cientistas à bordo da Helios), convocando-a para ir até a embarcação.
Quando chegamos lá, tudo está vazio e silencioso, o que parece bem incomum. Logo descobrimos que algo definitivamente deu muito errado: a Helios está em quarentena, há sangue e corpos mutilados por todos os cantos e Ada parece não saber nada sobre a carta recebida por sua irmã.
Se quisermos sair com vida dessa, precisaremos explorar cada cantinho da Helios para desvendar o mistério que deu cabo de quase todo mundo, transformando o imenso polo científico de Tesla em um sombrio navio fantasma.
Exploração e Sobrevivência
Enquanto Bioshock é uma série que envolve muito combate misturando tiros e os poderes dos Plasmids, Close to the Sun vai por um caminho bem mais contido. Nosso trabalho se resume a explorar a Helios, coletando documentos e anotações que nos ajudem a entender o que aconteceu ali, e pistas que nos ajudem a resolver puzzles e liberar passagens para que possamos prosseguir.
Sim, na prática, Close to the Sun se comporta como um “walking simulator”, mas um bem atmosférico, com sustos scriptados que irão testar os nervos do jogador. Haverá canos estourando aqui e ali, inventos soltando raios, vultos surgindo por trás de janelas e vez ou outra daremos de cara com chocantes amontoados de corpos dilacerados ao abrir uma porta.
Por estar em quarentena, boa parte das portas da Helios estarão fechadas. Não precisamos abrir todas, mas boa parte delas, se quisermos cair fora dali. Teremos alguma ajuda de Ada e de um sujeito misterioso chamado Aubrey, que nos passarão instruções pelo rádio, mas boa parte do serviço (descobrir códigos de segurança, encontrar keycards e operar painéis de controle) fica por nossa conta.
Conforme vamos desvendando alguns dos terríveis segredos da Helios, vamos entrar em situações de perigo, onde criaturas sinistras (que podem ou não ser humanas) irão perseguir Rose. A protagonista não é nenhuma lutadora, então nessa horas o lance é “sebo nas canelas”. O jogo possui algumas perseguições breves, mas intensas, e improvisar um parkour para evitar móveis e caixotes é essencial para sobreviver nestes momentos.
Ao contrário de jogos como Outlast, porém — onde estamos o tempo todo sendo perseguidos –, aqui as perseguições são pontuais, e não precisamos ficar arrumando esconderijos, nem nada do tipo: o negócio é correr até a perseguição acabar. Close to the Sun é dividido em capítulos, então estamos sempre seguindo em frente, sem possibilidade de explorar livremente.
Apesar de pontuais, estes momentos de correria injetam uma boa dose de adrenalina em um jogo que, do contrário, seria meio “paradão”. Afinal, convenhamos: vasculhar salas, ler arquivos e operar mecanismos não é algo lá muito emocionante. Felizmente, o clima de mistério da trama é excelente, e sem dúvida contribui para deixar o jogador interessado em prosseguir.
Audiovisual
Rodando na sempre versátil Unreal Engine 4, Close to the Sun deixa claras as influências de Bioshock em seu visual: cartazes e banners espalhados pela Helios tem a mesma vibe do que vimos na obra de Ken Levine… e, sendo bem honesto, a própria Helios tem alguns salões e estátuas imponentes que se encaixariam perfeitamente na boa e velha Rapture.
Mas é aquilo: ambos se passam em algum ponto do meio do século XX, então esta meio que era a linguagem visual da época, ainda que a equipe da Storm in a Teacup (baita nome de estúdio, diga-se de passagem) não esconda suas influências.
Apesar destas similaridades, Close to the Sun tem um visual muito legal: a Helios é tão impressionante quanto sombria, e é bacana ver experimentos científicos reais (como a Bobina de Tesla) integrados ao ambiente fictício do navio. O ar de abandono e os cadáveres espalhados pelos cantos tornam nosso passeio por ali bem perturbador.
A trilha sonora do game é bem minimalista, e quando se sobressai, geralmente é para aumentar a dramaticidade de algum trecho de gameplay (como as perseguições). Recomendo que você jogue de fone de ouvido, para sacar como os sons ambientes contribuem com a imersão: os efeitos sonoros são muito bons, e realmente nos colocam “dentro” da Helios, junto de Rose (e de tudo de sinistro que espreita os corredores).
As dublagens também são ótimas, e transmitem muita emoção aos personagens — com destaque óbvio para Rose, a protagonista, que passa por alguns cagaços em sua jornada, e realmente convence o jogador de que seu medo é real.
Infelizmente, Close to the Sun não recebeu nenhum suporte para o nossos idioma: menus, dublagens e legendas estão somente em inglês. Como este é um jogo bastante pautado por sua história, com muitos documentos e audiologos, é fundamental que você tenha um bom conhecimento do idioma para desfrutar plenamente da narrativa.
Conclusão
Close to the Sun tem um escopo muito menor do que Bioshock, mas no geral entrega uma jornada envolvente e satisfatória, e uma história misteriosa que consegue deixar o jogador curioso, querendo prosseguir para saber mais.
O fato do jogo não ser particularmente longo (pode durar entre 4 e 5 horas) faz dele um ótimo título para “maratonar”, indo do começo ao fim “em uma sentada”. O bom ritmo da campanha propicia isso, e quem resolver fazer essa maratona (em uma tarde de sábado, por exemplo),sem dúvida vai viver uma experiência intensa, envolvente e bastante imersiva.
Então, se você é um fã de Bioshock e quer experimentar algo que sem dúvida foi fortemente inspirado pelos jogos do Ken Levine, Close to the Sun sem dúvida é uma ótima pedida. O jogo não vai tão longe quanto Bioshock — tanto em duração quanto em potencial narrativo — mas é um bom “aperitivo” para os órfãos da série, que apreciam esta mistura de realidade com ficção, temperada com generosas pitadas de mistério e suspense.
Close to the Sun foi lançado para PCs em maio deste ano, e chegou ao PS4, ao Nintendo Switch e ao Xbox One (versão analisada) no dia 29 de outubro.