Análise Arkade – A crítica social em Papo & Yo (PC, Playstation 3)
Não é só de jogos como Journey que a cena independente de games se mantém, e Papo & Yo é a prova viva disso. Criado pela canadense Minority Media e lançado em agosto de 2012 para PS3 (via PSN) e abril de 2013 para PC (via Steam), Papo & Yo é um jogo de fantasia com diversos puzzles, gráficos atraentes e uma forte crítica social.
A história
A história de Papo & Yo se passa em uma favela brasileira, onde você controla Quico, uma criança que fugiu de casa para se livrar do pai alcoólatra e violento. Graças à imaginação fértil do garoto, os cenários do jogo se tornam algo mágico, como se fossem parte de um grande mundo dos sonhos que existe apenas em sua mente.
E é aí que o game nos apresenta Papo, um monstro que adora dormir e comer (principalmente frutas e sapos). Mas cuidado! Apesar de ter um aspecto bonachão, ele fica “de fogo” quando come sapos e sai atacando todos que estão próximos, incluindo o pobre Quico.
Cabe justamente ao menino a tarefa de quebrar este encanto e ajudar Papo a livrar-se do vício – o grande mote de Papo & Yo. Este enredo se torna ainda mais especial quando você percebe que ele serve de metáfora para a história de vida de um dos idealizadores do jogo, o desenvolvedor colombiano Vander Caballero.
Ao longo do game, Quico passa por diversos desafios extremamente criativos para conseguir avançar em sua jornada, em alguns momentos tendo até o cuidado de guiar Papo em seu trajeto.
Este mundo mágico em que casas flutuam, ganham pernas e asas e se movem por vontade própria dá um aspecto de sonho ao game e, juntamente com a qualidade gráfica e a trilha sonora, proporciona momentos de muita imersão, tornando o ato de jogar uma experiência positiva e engrandecedora.
Os personagens
O personagem principal, ao contrário do que o nome do jogo diz, é o Quico, O garoto que você controla e que deve salvar Papo, o segundo personagem mais importante do jogo (e admirado por diversos integrantes da equipe Arkade).
Papo é um monstro com aspecto dócil e inofensivo, a não ser quando come um certo tipo de sapo venenoso, que faz ele se tornar uma besta em chamas e atacar qualquer coisa que se mover perto dele.
Quando o monstro dorme, Quico pode usar sua grande barriga como trampolim para saltar sobre paredes e telhados. Quando ele está acordado – e provavelmente procurando por comida -, ele pode ser controlado bastando segurar uma fruta ou seu grande vício, os sapos, próximo à ele.
Juntam-se a eles Lula, um robozinho de brinquedo com vontade própria e amigo inseparável de Quico, que o acompanha agarrado às suas costas e serve para liberar diversas etapas dos puzzles. Lula também funciona como um jetpack falante, que dá um boost aos saltos do garoto.
E finalmente, temos Alejandra, uma menina que já passou pelo mesmo problema que Quico e que o ajuda durante o decorrer da história. A garotinha esperta também gera grande empatia, e valeria um game só dela (quem sabe um prequel, contando a sua história).
Visual, Som e Puzzles
Levando-se em consideração que a Minority é uma empresa independente, os gráficos do jogo são muito bons!
Claro que há alguns problemas, como o Quico que flutua quando sobe escadas, ou as casas que têm um espaço entre o primeiro andar e o segundo, ou ainda pequenos “blocos” invisíveis que travam a caminhada, mas nada que tenha impacto muito negativo no resultado final do jogo.
A criatividade dos cenários é interessante a partir do meio do jogo para a frente, que é justamente quando ele começa a ficar ainda mais irreal. Vale dar um destaque aos belos grafites que existem em diversas construções, os quais foram criados especialmente para o jogo e remetem ao trabalho de grafiteiros famosos do Brasil.
A trilha sonora é legal, mas nada de muito inspiradora – ainda mais se compararmos com Journey, por exemplo – mas é toda baseada no ritmo do samba genuinamente brasileiro, o que acaba trazendo um efeito tranquilizante durante a jogatina. Os efeitos sonoros são bem fiéis e ajudam bastante na imersão durante o gameplay.
Os personagens falam uma língua própria, mas o jogo tem legendas em português brasileiro, o que é um ponto positivo para nós!
Os puzzles são um espetáculo a parte! Com diversas ferramentas mágicas que movimentam casas formando pontes ou que criam passarelas e escadas, você irá se lembrar de antigos jogos de videogame, trazendo grande nostalgia nos jogadores veteranos. Papo & Yo só tem um problema: é curto! Em apenas 8 horas conseguimos detonar o jogo e conseguir quase todas as conquistas.
Conclusão
Papo & Yo com certeza é um jogo que vale o investimento!
Primeiro, para valorizar o trabalho da Minority em nos trazer um jogo com uma forte crítica social, algo que há um bom tempo não víamos. Segundo, por ele ser tão rico nos detalhes, na criação dos puzzles e na história por trás de cada personagem.
E finalmente, por simbolizar uma história real – o drama da violência doméstica e da redenção entre familiares – acompanhada de uma carga emocional que no final nos deixa com gostinho de quero mais…
Curtiu a abordagem e o estilo do game? Então fique atento, pois ainda hoje teremos uma entrevista especial com Vander Caballero, o diretor criativo de Papo & Yo.