Análise Arkade: Dangerous Driving é o jogo que os fãs de Burnout estavam esperando

8 de abril de 2019

Análise Arkade: Dangerous Driving é o jogo que os fãs de Burnout estavam esperando

Se você é um fã de corrida estilo arcade que sofre de saudade da emblemática série Burnout, acabou a sofrência: Dangerous Driving é o legítimo sucessor espiritual da franquia, e certamente só não se chama Burnout por questões de direitos autorais!

Um jogo feito por quem entende do assunto

Dangerous Driving é o mais novo jogo da Three Fields Entertainment. Quem acompanha a Arkade certamente conhece o estúdio: formado por um punhado de veteranos da Criterion Games — produtora de Burnout e de alguns Need for Speeds –, incluindo Alex Ward e Fiona Sperry, que são ninguém menos que Diretor Criativo e Produtora Executiva de TODA a série Burnout, eles permanecem focados em entregar jogos que misturem velocidade e destruição.

Nos últimos anos, analisei 3 jogos deles: o primeiro foi Dangerous Golf, basicamente uma versão “pocket” dos Crash Events de Burnout, só que no lugar de um carro, destruíamos coisas com uma bola de golfe “envenenada”. Simples e direto ao ponto, mas bem divertido.

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Essa galera “necessita de velocidade” (sacou?) :3

Depois veio Danger Zone, que era basicamente uma sucessão dos supracitados Crash Events: dirigimos um veículo de testes até um cruzamento e devemos causar o acidente mais espetacular possível. O jogo funcionava bem, mas tinha um escopo bastante limitado, o que tornava-o um pouco repetitivo.

No ano passado veio a sequência, Danger Zone 2, evoluindo o conceito do jogo original e flertando pra valer com o gênero corrida, com mais carros, cenários e possibilidades. E esta semana está chegando Dangerous Driving, game que representa um ápice de investimento, coragem e destruição do estúdio — e é praticamente um revival não oficial da franquia Burnout.

Análise Arkade: Dangerous Driving é o jogo que os fãs de Burnout estavam esperando

Eu quis começar esse texto falando disso porque é lindo ver como esses caras não desistiram dos seus sonhos. A cada novo jogo deles, era possível sentir um gostinho de Burnout, e o que eles estão lançando agora não é só o que todo fã da série queria ver, mas também o que eles vieram se preparando para lançar. Eles manjam de velocidade e destruição como poucos, e Dangerous Driving é a apoteose — agora indie — desta paixão.

Velocidade e Destruição

No momento em que escrevo este texto, Dangerous Driving tem basicamente um modo de jogo, o Dangerous Driving Tour, que seria o equivalente dele ao modo Carreira de outros jogos. Ele é dividido em provas para carros de diferentes modelos, com objetivos variados. Este não é um jogo de corrida em mundo aberto, aqui você simplesmente escolhe um evento no menu e vai pra corrida. Pessoalmente, prefiro assim.

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Repara no tamanho dessa pista…

Há desde corridas “de verdade” até as famosas Road Rages, onde seu objetivo é tirar da pista um número X de oponentes, ou as já tradicionais Elimination Races, que a cada volta elimina o último colocado. Curiosamente, aqui não há nada similar aos Crash Events que o estúdio emulou em seus games anteriores. Talvez eles tenham ficado de saco cheio da fórmula?

Aí vai um pouquinho de uma prova de Road Rage — repare que até o som dos Takedowns é parecido com o de Burnout:

Bom, mas independente do tipo de prova, aqui você nunca vai ter que se preocupar com coisas como troca de marcha, pressão dos pneus, nem estatísticas chatas. Aqui cada classe de carro tem basicamente 4 variações, e cada uma é ligeiramente mais veloz do que a outra. O que importa aqui é ir rápido, pilotar agressivamente e tentar bater o menos possível para conseguir o ouro — ou quem sabe a medalha de platina, que dá ainda mais trabalho.

Pisando Fundo

O gameplay não poderia ser mais simples: acelere com um gatilho, freie com o outro, e use o nitro sempre que puder. Tal qual Burnout, dirigir perigosamente, fazer derrapagens e tirar inimigos da pista enche sua barra de nitro. Encadear estas ações pode mantê-la cheia, permitindo que você “voe baixo” na pista por mais tempo — desde que não se arrebente em uma mureta ou em algum carro, claro.

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Aqui os carros tipo Formula 1 são da “Formula DD

Eu adoro jogos de corrida estilo arcade, e poucas no gênero me são mais satisfatórias do que os pegas de Burnout. E Dangerous Driving traz exatamente o mesmo feeling: a sensação de velocidade é incrível, e cada corrida é intensa, visceral e emocionante.

O jogo até empresta elementos de jogos como Need for Speed (afinal, a Criterion desenvolveu alguns bons jogos da série): as corridas do tipo Pursuit, por exemplo, nos colocam em um carro da polícia, e nosso objetivo é parar os carros adversários (na porrada) antes que eles consigam fugir. Aqui eles têm barras de energia, então você precisar judiar um bocado deles antes de conseguir capotá-los em definitivo. É um modo de jogo que combina muito bem com esse lance de “direção agressiva” do game, e sem dúvida oferece algumas das fases mais intensas.

Confira uma corrida completa do modo Pursuit abaixo:

Se por um lado eventos como Road Rage e Pursuit brilham, há também alguns nem tão legais. As corridas do tipo Face Off — só você contra um rival, vença e ganhe o carro dele — tendem a ser um tanto longas demais, e perder por uma batida aos 45 do segundo tempo é bem frustrante. O mesmo vale para as Elimination Races, que podem durar cerca de 10 minutos (caso você não seja eliminado nas primeiras voltas), tornando-se igualmente longas e potencialmente frustrantes.

As Shakedowns são o que Burnout chamava de Burning Laps — apenas você contra o relógio. O legal desses eventos é que você ocasionalmente pode experimentar um veículo de outra classe antes de liberá-lo. Porém, a margem de tempo é tão apertada que foi (para mim) impossível conseguir qualquer coisa acima do bronze nesses eventos. Conseguir o ouro demanda um desempenho perfeito e reflexos sobre-humanos para evitar acidentes. Caso seja inevitável, aqui há o Danger Time, recurso que permite meio que direcionar a carcaça do seu veículo para tentar acertar alguém que estivesse na sua cola

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S*it happens…

Outra novidade pentelha são os Nervous Wrecks: quando um dos carros participantes de uma corrida sofre um acidente, ele retorna normalmente à pista, mas sua carcaça carbonizada anterior continua no lugar do acidente, tornando-se mais um obstáculo. Há eventos que demandam 3 ou 5 voltas em um mesmo circuito, e conforme estas provas avançam, o número de “cadáveres” na pista só aumenta, o que vai deixando a corrida cada vez mais difícil. É uma ideia legal na teoria, mas que na prática faz a gente querer tacar o controle na parede — especialmente porque fica bem difícil de ver as carcaças dentro de túneis, ou em lugares escuros.

Se no geral o Dangerous Driving Tour funciona, a forma com que ele limita nosso avanço é um pouco pentelha. Por exemplo, começamos jogando com a classe Sedan, e só podemos ir para a próxima depois de concluir quase todas as principais provas com os Sedans. Assim, você sempre fica “preso” a uma classe por 10 ou 12 eventos, e o jogo só libera a próxima depois que você vence o GP (último evento de cada classe, composto por 3 corridas em sequência). Poder mudar de classe — ou mesmo trocar livremente de veículo antes de cada evento — sem dúvida deixaria tudo mais legal.

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A interface como um todo lembra muito Burnout

Vale ressaltar que o jogo ainda não tem modo online, mas os desenvolvedores estão trabalhando nisso, e devem implementar o recurso em breve, através de um DLC gratuito. Mas, para quem é muito competitivo, o jogo já tem leaderbords ativas, e se você jogar no Xbox One e ver um rnpscheidt por lá, sou eu! 😉

Audiovisual

Rodando na versátil e ainda poderosa Unreal Engine, Dangerous Driving alcança os 60fps nos consoles aprimorados (joguei no Xbox One X) de forma bastante fluida — com alguns engasgos perceptíveis quando entramos em alguns túneis). As pistas fogem do estilo urbano de Burnout Paradise, mantendo florestas, montanhas e campos nevados como paisagem.

Burnout nunca teve marcas de carro licenciadas, e isso continua sendo a regra por aqui. Alguns carros até lembram veículos reais — com direito a logos que parodiam patrocinadores reais –, mas todos prezam pelo estilo aerodinâmico e invocado que só flerta de leve com o mundo real. Só há duas opções de câmera, e a interface como um todo lembra (muito) o que víamos na série Burnout, com muitas faíscas e medidores em chamas.

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Os acidentes não são lá muito cinematográficos

O visual do jogo no geral é muito bom, ainda que sua origem indie fique evidente em detalhes — não há todo aquele capricho nas capotagens, nem muito compromisso com realismo em retratar vidros quebrados e latarias amassadas. O estúdio claramente usou sua verba para polir o que interessava — a velocidade, o gameplay –, e no geral acho que essa foi uma decisão acertada, pois o feeling do jogo é excelente, e isso é bem mais interessante do que cacos de vidro realistas.

A trilha sonora… não existe! Burnout sempre teve músicas licenciadas, mas como isso custa (muito) caro, a Three Fields Entertainment optou por pegar um “atalho” interessante: o jogo tem integração com o Spotify, e se você possui uma conta premium, pode colocar sua playlist favorita para rodar enquanto joga, podendo inclusive pausar ou trocar a faixa diretamente pelo controle, como se fosse o controle do rádio de um jogo tradicional.

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Ainda que a boa e velha “Crash FM” deixe saudade, não deixa de ser uma saída inteligente para contornar a falta de músicas licenciadas, e como o Spotify tem playlists pra tudo (inclusive do nosso podcast!), é bem fácil encontrar listas da própria série Burnout criadas pelos fãs. Assim, se quiser deixar a coisa realmente nostálgica, você pode acelerar ao som de Guns n’ Roses, Avril Lavigne, Avenged Sevenfold e Jane’s Addiction… ou ouvindo funk, sertanejo, música clássica… o que o seu coração quiser.

Conclusão

Dangerous Driving sem dúvida é o jogo que os fãs de Burnout estavam esperando há mais de 10 anos — o último jogo original da franquia saiu lá em 2008 e foi remasterizado no ano passado. Ele não leva “Burnout” no nome, mas isso é questão de copyright: a equipe criativa dessa saudosa franquia está aqui, e justamente por isso, o feeling e a alma de Burnout estão aqui também.

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Pilotando em alta velocidade sob o luar

É um jogo impecável? Não. Eu tornaria a progressão mais flexível — me deixa experimentar outros carros, de uma vez! — e deixaria boa parte das corridas mais curtas simplesmente porque, em provas muito longas, a margem de erro que temos é ridiculamente apertada, e isso pode tornar as coisas meio frustrantes. Mas eventos como Road Rage e Pursuit trazem a medida certa de desafio, diversão e velocidade, e correspondem aos melhores momentos da campanha.

Se você é um fã órfão de Burnout, dê uma chance para Dangerous Driving. Dê o play na sua playlist preferida e se deixe levar por corridas viscerais, intensas e desafiadoras, feitas por quem entende do assunto. Te garanto que você não vai se arrepender.

https://youtu.be/k3XX1B7Heb8

Dangerous Driving será lançado amanhã, com versões para PC, Playstation 4 e Xbox One. Este review foi feito com base na versão Xbox One do game (rodando no Xbox One X), que recebemos antecipadamente da assessoria da Three Fields Entertainment para fins de análise. O jogo não possui suporte ao nosso idioma, contando com menus e legendas em inglês.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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