Análise Arkade: Dead Rising 4 é carnificina zumbi e zoeira (sem limite de tempo)
Frank West está de volta! Dead Rising 4 está sendo lançado hoje, e coloca o fotojornalista mais amado do mundo dos games em uma nova aventura, onde tudo começou! Confira agora nossa análise completa!
De volta às origens
Frank West nos foi apresentado há 10 anos, lá em 2006. O fotojornalista audacioso e boca suja sobreviveu à um outbreak zumbi dentro de um imenso shopping center na cidade de Willamette, e expôs ao mundo todo o terror que aconteceu por lá.
Nos dois capítulos seguintes da franquia, a Capcom nos apresentou a novos protagonistas (Chuck Greene e Nick Ramos) e nos levou à novos lugares (Fortune City e Los Perdidos), mas nunca abandonou de fato Frank West. O personagem deu as caras em outros jogos da empresa — Marvel Vs. Capcom 3 e Tatsunoko vs. Capcom — e ganhou até um spin off exclusivo da série, Dead Rising: Off the Record. Parece que os fãs (e a própria Capcom) gostam de Frank West e queriam vê-lo de volta em ação.
Nada mais justo do que trazê-lo de volta então, certo? E a Capcom caprichou, pois de uma tacada só trouxe não apenas Frank West de volta, mas também a cidade de Willamette, que está maior e mais cheia de zumbis do que nunca.
Nesta nova incursão pós-apocalíptica, Frank é convencido por uma de suas alunas (pois é, ele virou professor) a retornar ao berço da pandemia, e é claro que ele vai descobrir que o pesadelo ainda não acabou: há uma organização militar vasculhando o passado da cidade, uma nova praga zumbi foi liberada e para piorar há alguma outra coisa misteriosa solta pelos esgotos. Ainda que inicialmente não goste muito da ideia, o lado jornalístico (e zoeiro) de Frank fala mais alto, e ele resolve ir a fundo para descobrir o que diabos está acontecendo em Willamette desta vez.
Tudo é familiar, mas com novidades
Vejamos: já conhecemos Frank West e também já conhecemos (um pouco) de Willamette, certo? Ok. Mas, por mais familiar que esta combinação seja, houve espaço de sobra para inserção de algumas novidades muito interessantes no gameplay, que realmente se encaixam bem aqui, seja pela zoeira e carnificina, seja por valorizarem o lado fotojornalístico de Frank.
Por exemplo, a câmera de Frank agora é muito mais versátil: você (obviamente) pode usá-la para tirar fotos — e até selfies — mas ela possui filtros de visão noturna e um “analisador de espectro”, facilitando a visibilidade em locais escuros e permitindo até mesmo que Frank descubra senhas e pistas escondidas pelos cenários. Aliás, fotografar provas e locais suspeitos é algo essencial para manter a história rolando, o que casa muito bem com o teor jornalístico-conspiratório do game.
Os bons e velhos combos de armas estão de volta, mais malucos do que nunca. Basta encontrar um blueprint e duas armas combináveis para formar uma combinação insana, bizarra e letal, útil para trucidar zumbis (e soldados, e sobreviventes hostis, e psicopatas) de maneiras deliciosamente absurdas. Capacetes que cospem ácido, espadas laser, marretas explosivas, carrinhos de mercado eletrificados… são dezenas de opções, cada uma mais maluca que a anterior.
Fora isso, ainda temos a Exosuit, que é basicamente uma super armadura cibernética que potencializa as habilidades de Frank, aumentado sua força e possibilitando que ele carregue armas ainda maiores para causar ainda mais destruição. É muito divertido usar estes trajes, e o fato deles não durarem para sempre (a bateria dura alguns poucos minutos) e serem meio difíceis de achar só os torna mais especiais.
Abaixo, um vídeo de destruição maciça usando uma Exosuit turbinada com uma arma de gelo:
A organização do seu inventário também está muito melhor: agora ele é todo particionado; os diferentes tipos de armas são agrupados juntos (arremesso, corpo-a-corpo e tiro), e você alterna entre elas individualmente pelo direcional digital. Seus itens de cura também possuem seu próprio espaço, e agora você não precisa mais equipá-los para que sejam consumidos, o que ajuda muito.
A jogabilidade por si só teve boas melhorias. Dead Rising começou meio travado, meio desengonçado, mas foi evoluindo com o passar do tempo, e o que temos aqui é o ápice desta evolução. O gameplay ainda é muito familiar para quem acompanha a série, mas tudo está mais fluido, mais funcional. Por exemplo, agora as armas de fogo funcionam como em qualquer outro jogo, você mira com o gatilho esquerdo e atira com o direito. Só isso e o botão para usar itens de cura já melhoram muito as coisas, mas no geral tudo está mais resposivo, mais azeitado.
Mais diversão, menos identidade
Dead Rising sempre teve um elemento emergencial que tornava o game bem desafiador, mas também era o seu diferencial: a história dos jogos anteriores durava um período específico de tempo (geralmente 72 horas), e praticamente todas as suas missões tinham um medidor de tempo. Se você enrolasse demais, simplesmente perdia a missão. Isso sem contar os acontecimentos e chefes opcionais que só apareciam quando você passava por um lugar específico em um horário específico.
Sendo bem sincero, eu odiava essa passagem do tempo. Não pelo tempo em si, mas simplesmente porque eu gostaria de explorar com mais calma, matar mais zumbis, resgatar mais sobreviventes, e o jogo simplesmente não me permitia. Por mais irritante e limitador que fosse, este caráter emergencial acabou virando um dos pilares da série, e administrar todas aquelas barrinhas de tempo simultaneamente era um verdadeiro exercício de organização.
Pois bem, em Dead Rising 4 isso acabou. Não há mais limite de tempo, e você pode explorar o game da maneira que quiser, as missões estrarão sempre lá, esperando por você. Eu achava que isso seria uma bênção… mas confesso que é bem estranho Jogar Dead Rising sem o timer, e ali pela metade da campanha eu já estava com saudade dele!
Sei que isso parece coisa de gente bipolar, mas, como eu disse ali em cima, o tempo contado era um dos pilares da franquia, e ele regia toda a dinâmica do jogo. Sem o relógio, Dead Rising 4 te dá mais tempo para se divertir, explorar e matar milhares de zumbis… mas sacrifica parte da essência da série, algo que não era necessariamente bom, mas que era parte fundamental da experiência, saca?
Outro elemento que perdeu seu brilho foram os psicopatas: antes eles eram interessantes, cheios de personalidade, e eram apresentados em cutscenes muito legais (e sangrentas) que rolavam antes das batalhas. Ainda temos psicopatas criativos — como um Papai Noel psicótico, ou um mascote de futebol americano insano — mas eles não têm praticamente nenhum destaque, e são basicamente inimigos um pouco mais fortes e com barra de energia. Uma pena.
Abaixo, minha luta (nem tão emblemática) contra o Papai Noel e seus ajudantes:
Ainda existem outros fatores que foram modificados e facilitam a vida do jogador: agora você não precisa mais escoltar os sobreviventes até a safe house mais próxima. Basta salvá-los do perigo imediato e pronto, eles vão até lá sozinhos, e ainda te deixam algum combo de armas de brinde! Lembro que o melhor “macete” para zerar Dead Rising era refazer o início várias vezes mantendo o stauts adquirido para upar o personagem e assim tornar o jogo mais palatável. Quando foi que Dead Rising se tornou tão fácil, tão amiguinho do jogador?
Aliás, se você não tiver paciência para ficar catando blueprints e armas combináveis (que agora podem ser criadas em qualquer lugar, não precisam mais de oficinas, nem nada do tipo), pode simplesmente comprar combos prontos com os vendedores que ficam nas safe houses, e oferecem não só armas, mas também mapas, comidas, veículos e até roupas. Ah, e agora também temos saves automáticos e muitos checkpoints, então não precisamos ficar procurando um banheiro só para salvar o progresso.
Essas mudanças claramente visam tornar o jogo mais fácil — e possivelmente mais divertido, mais sandbox –, mas também abandonam muito da essência do game. Dead Rising 4 ainda parece um jogo da série Dead Rising por vários motivos, mas também parece mais um jogo de zumbis genérico qualquer. Nunca achei que eu diria isso, mas o tempo era uma parte crucial da experiência, e jogar sem essa preocupação simplesmente não é tão legal quanto eu achei que seria.
Audiovisual
Se tem algo em que Dead Rising continua sendo referência, é na quantidade absurda de zumbis simultâneos na tela. É impossível sequer tentar contar, e lá pela metade do jogo você provavelmente já vai ter queimado/picado/dilacerado/congelado/explodido mais de 5 mil deles. A quantidade impressiona, e o fato deles não se repetirem tanto quanto seria de se esperar também é bacana. Ah, e o jogo segura muito bem o frame rate (30 fps) mesmo com milhares de zumbis na tela ao mesmo tempo, o que é um feito louvável. Ah, e prepare-se para encontrar novos tipos de zumbis, mais ágeis e letais do que os “comuns”.
Assim como o terceiro episódio da série, Dead Rising 4 chega ao Brasil 100% em português, com dublagens, menus e legendas em nosso idioma. Senti falta da possibilidade de escolher o áudio em inglês e as legendas em português, mas depois acabei me acostumando com a dublagem brasileira. A localização em geral foi muito bem feita, com muitas piadinhas e palavrões. A trilha sonora se destaca por manter um clima natalino (ainda que meio fanfarrão), temática bem pouco aproveitada no mundo dos games.
Em termos de visual, o game não chega a surpreender, mas cumpre bem seu papel e é coerente com a estética da franquia. O visual como um todo está na média do que se espera de um título atual. As expressões faciais são um pouco estranhas, mas só incomodam quando vistas de perto. Este título está um pouco mais escuro do que os anteriores, então lembre de usar a visão noturna da sua câmera sempre que necessário para não acabar perdido.
Ah, e só pra constar
Dead Rising 4 tem um modo multiplayer cooperativo para 4 jogadores online. Ao contrário de alguns games anteriores, o multiplayer aqui é uma experiência independente, que não tem ligação com a campanha single player.
Como joguei antes do lançamento oficial do game, infelizmente não pude testar este modo coop, então não tenho muito o que falar dele aqui. Sei que temos personagens exclusivos para ele, que obviamente podem ser customizados como o jogador quiser com trajes e armas malucas. Espero que este modo de jogo seja no mínimo divertido o bastante para me fazer revisitar o game com os amigos de vez em quando.
Conclusão
Dead Rising 4 é um capítulo meio controverso da saga. Por um lado, ele continua oferecendo uma matança de zumbis extremamente criativa e divertida. Por outro, ele sacrificou muito do que era sua essência para se tornar mais divertido, mais livre, para permitir que o jogador curta a experiência sem obrigá-lo a ficar correndo para lá e para cá o tempo todo. Eu gosto da liberdade que o novo título oferece, mas também sinto falta da passagem de tempo opressora e constante dos games anteriores.
No mais, Dead Rising continua entregando carnificina de qualidade e uma história interessante e cheia de conspirações, que ecoa os primórdios da série e até tem um ar meio nostálgico. É seguro dizer que a série continua sendo referência quando o assunto é matar zumbis, mesmo que tenha perdido um pouco de sua identidade justamente para nos dar mais tempo para matar zumbis.
Dead Rising 4 está sendo lançado hoje para Xbox One e PC. O game está 100% em português brasileiro.