Análise Arkade: Devil May Cry V é um jogaço que honra o legado da série
Depois de mais de 10 anos longe do mundo dos games (sem contar o reboot), Nero e Dante estão de volta, prontos para botar os demônios para chorar na base da porrada! Devil May Cry V só sai dia 08 de março, mas a gente já jogou e traz um review quentinho e antecipado para você!
O fruto da árvore do mal
A campanha de Devil May Cry V se desenvolve na forma de uma timeline, e traz uma história que se passa anos após os acontecimentos de Devil May Cry 4. A agência que dá nome ao game agora opera de forma itinerante, com Nero e sua mecânica/ajudante Nico sempre viajando em busca de aparições demoníacas e casos do tipo para resolver.
Quando um sujeito tatuado e misterioso chamado V entra em contato com eles para investigar um aumento nas invasões de demônios ao nosso mundo, eles acabam entrando em contato com a Qliphoth, uma árvore do submundo que usa sangue humano para gerar frutos de imenso poder.
Obviamente, há uma entidade demoníaca de olho em um desses frutos. E quando esta entidade aparenta ter ligação com o passado de nosso caçador de demônios favorito — Dante –, ele também é colocado na história, e ajudará Nero e V a darem cabo deste novo perigo que paira sobre a Terra.
A história do game é muito boa, e ainda que esteja o tempo todo abraçando a zoeira e a galhofa, é contada de maneira satisfatória. A origem de V é como ela conecta o novato ao passado da série e ao próprio Dante é muito legal, encaixando o personagem na mitologia da série com muita naturalidade. Nico é outra novata que não está aqui só por estar: ela é neta da artesã que criou as pistolas Ebony & Ivory, e tem toda uma relação de amor com as armas e equipamentos que cria.
Gameplay 3 em 1
Devil May Cry sempre foi uma série sobre combate estiloso, e o novo jogo segue fazendo jus a este rótulo. Devil May Cry V ainda é um hack n slash dividido em fases de ritmo acelerado, onde lâminas, tiros, punhos e garras se unem para formar combos devastadores contra uma crescente variedade de criaturas saídas do inferno.
No decorrer da campanha, poderemos jogar com Nero, V e Dante, e cada um traz seu próprio estilo de gameplay. Dante talvez seja o mais tradicional, trazendo novamente sua espada e suas pistolas gêmeas, mas ganhando novos equipamentos e saindo “no soco” de um jeito que até lembra um pouco a capoeira. Ele ainda possui 4 estilos de combate diferentes — Trickster, Royal Guard, Swordmaster e Gunslinger — e seu arsenal foi expandido consideravelmente, com destaque para a já famosa moto infernal que se transforma em duas espadas enormes.
Temos um pouco de gameplay do Dante para te mostrar, confira:
Já Nero — que teve seu braço demoníaco arrancado — conta com a ajuda de Nico para criar Devil Breakers, próteses cibernéticas que são muito úteis em combate. Há uma boa variedade de braços diferentes (alguns exclusivos de pré-venda) que podem ser equipados, cada um com alguma habilidade específica: há braço que solta raios, outro que explode, e você até surfar em cima de um deles!
Junto destes braços, Nero possui um grappling hook, útil tanto na exploração quanto no combate: é possível puxar os inimigos no melhor estilo Scorpion para manter a contagem de hits rolando, ou ser içado para perto de monstros maiores, atacando em seus pontos fracos. Mesmo sem seu braço demoníaco, Nero ainda é letal.
Confira um combate com Nero no vídeo abaixo:
A adesão destes braços torna o gameplay de Nero bastante versátil. Acho que a única coisa chata é que não podemos trocar livremente de braço on the flow: carregamos um punhado deles conosco, mas a troca só acontece quando um deles se quebra (ele também pode ser sacrificado, gerando um ataque explosivo bem forte). Eles também respeitam a ordem em que estiverem “equipados” no seu inventário, e quando você junta um novo do chão, ele automaticamente assume o lugar do que estava equipado.
V, por sua vez, é um sujeito um tanto frágil, e sem muita desenvoltura em combate. Felizmente, ele possui algum poder demoníaco, e na “hora do pau” conjura criaturas que brigam por ele. São três monstros diferentes: Grifo, uma ave com poderes elétricos; Sombra, uma pantera que ataca com simbionte do Venom garras e tentáculos; e Pesadelo, um enorme titã que fica pouco tempo na tela, mas compensa isso com ataques lentos extremamente poderosos.
Na prática, damos ordens a estas criaturas, que correspondem atacando com suas respectivas habilidades. V só usa sua bengala para finalizar inimigos já derrotados e sorver um pouco mais de poder. Há todo um lance estratégico envolvido, pois devemos manter o personagem em segurança enquanto seus “pets” atacam, mas devemos colocá-lo no meio da ação para finalizar alvos caídos.
Mecanicamente, V é o personagem mais diferentão do trio, ainda que, aprimorando seus “mascotes” seja possível criar combos e sequências incríveis! Confira um pouco de gameplay de combate de V e suas criaturas abaixo:
No geral, o gameplay muda bastante de um personagem para outro, mas como tudo é questão de velocidade e estilo, a regra “tente ser o mais estiloso possível” vale para todos. Mesmo sendo o último personagem jogável, Dante acaba sendo o que mais recebe armas e equipamentos diferentes, mas os Devil Breakers de Nero tornam seu gameplay bastante versátil, enquanto os ataques à distância de V concedem uma cadência muito própria aos seus combates. Ou seja, cada um tem seu valor, e o gameplay de todos é deliciosamente ágil e responsivo.
No mais, Devil May Cry V é um jogo bastante linear, sem firulas, sidequests, nem nada do tipo. Como sempre, existem missões secretas — que agora envolvem um pequeno truque de perspectiva para serem acessadas — e os realmente empolgados terão que suar a camisa se quiserem conseguir ranking S em todas as fases — refazê-las com novos equipamentos e habilidades faz parte da diversão. O fator replay também é aumentado por certas bifurcações, onde podemos decidir se queremos seguir com um personagem ou outro (mais sobre isso abaixo).
O fator online
O fato de termos 3 protagonistas abre espaço para um interessante componente online: há certas fases em que os heróis se dividem, e você só pode jogar com um deles. O jogo então encaixa outro jogador no papel de outro personagem, e ele vai jogar em paralelo com você, ainda que vocês acabem nem se vendo — ocasionalmente podem se ver, mas é raro. Ao final da missão, um pode avaliar o outro.
É um adendo curioso, que transforma certos trechos da campanha em “co-ops acidentais” — e olha que chamar de co-op já é ir bem longe, uma vez que os players nem estão realmente juntos na tela. Não sei exatamente qual é a relevância desse tipo de novidade, mas como não é algo que atrapalha, então tá tudo certo. E são momentos pontuais em que isso acontece, Devil May Cry V ainda é uma experiência majoritariamente single player.
Apesar de não ser algo realmente indispensável, acho que seria legal ver a Capcom implementando algo do tipo em outros games. Imagina que louco algo assim em Resident Evil 2 Remake, com um jogador controlando Leon, e outro a Claire, cada um em sua própria campanha, mas ambas correndo em paralelo, e os feitos de um jogador reverberando no jogo do outro?
Audiovisual
Devil May Cry V é a prova de que a RE Engine é uma engine não só poderosa, mas bastante versátil. É incrível como o mesmo motor gráfico de Resident Evil 7 foi utilizada para produzir um jogo tão diferente. Os personagens estão muito bem modelados, com expressões faciais absurdas e incontáveis animações diferentes. Os cenários — ainda que tornem-se meio repetitivos em alguns trechos, por conta dos ramos e raízes tal Qliphoth— são bonitos e detalhados, com muitos elementos destrutíveis.
As dublagens dão um show, concedendo carisma e personalidade aos personagens — tanto os novos quanto os antigos. Dante segue sendo dublado por Reuben Langdom, que esbanja estilo na pele desta versão levemente envelhecida do herói. Nico também se destaca, e ainda que seja dublada por uma australiana de descendência chinesa (Faye Kingslee), traz um sotaque meio sulista norte-americano que a torna muito engraçada. Ver suas mirabolantes chegadas de van é um dos prazeres do novo jogo!
Tipo essa, ó:
A trilha sonora segue o padrão da franquia: um heavy metal industrial de batidas fortes que ocasionalmente descamba em algo mais eletrônico e psicodélico. Há uma música tema cantada, e os efeitos de porradaria e os grunhidos dos monstros estão todos excelentes.
Aos fotógrafos digitais de plantão, vale ressaltar que o game possui um Modo Fotográfico. Ainda que bem rudimentar — sem filtros ou efeitos –, ele permite que o jogador congele a ação para “clicar” momentos épicos tendo controle sobre a câmera, zoom e etc.
Tirei muitas fotos legais para meu Instagram @gamesphotomode, e sei que quem é fã do recurso também vai se amarrar.
Conclusão
Quem diria que depois de tentar dar um reboot na série — acho DMC um jogo tremendamente injustiçado — a Capcom recolocaria a saga dos demônios chorões nos eixos com tanto estilo? Devil May Cry V respeita (e brinca com) a mitologia da série com muita propriedade, trazendo doses comedidas de fan service e contando uma história ótima, que acha espaço para inserir praticamente todos os personagens importantes da saga (Trish e Lady estão por aqui, também).
Muito tempo se passou desde o quarto jogo, e nesse intervalo games que antes eram hack n’ slashes acabaram mudando, se adaptando a novos tempos– caso de God of War, por exemplo. Mas Devil May Cry V não: ele ainda é pura pancadaria, coroando isso com um gameplay afiadíssimo e variado, visual incrível, elenco carismático e batalhas extremamente empolgantes.
Se você estava com saudade de Dante e companhia, pode vir sem medo: Devil May Cry V traz tudo o que a gente já gostava, e ainda arruma espaço para acrescentar boas novidades. Seja com Dante, Nero, ou o novato V, a porradaria é extremamente fluida, estilosa e satisfatória. Fazer demônios chorarem na base da porrada ainda funciona, e é muito divertido!
Devil May Cry V será lançado amanhã (08/03) com versões para PC, Playstation 4 e Xbox One. O game possui menus e legendas em português brasileiro. Este review foi feito com base na versão Deluxe do jogo — rodando em um Xbox One X –, que recebemos antecipadamente da Capcom para fins de análise.