Análise Arkade: Diablo IV moderniza uma saga clássica sem perder sua essência
Diablo IV era um dos jogos mais esperados do ano para muita gente. E também é um título que deixava preocupado mesmo o fã mais ansioso. Afinal, a Blizzard não anda em seu melhor momento, envolvida em diversas acusações e polêmicas, além de não ter realmente agradado seus fãs com lançamentos como Diablo Immortal e Overwatch 2.
Mesmo o já antigo Diablo III não foi lá muito bem aceito pela comunidade, lá em 2012, por seu tom mais “colorido e alegre”, ainda que tenha sido otimizado consideravelmente com expansões, relançamentos e melhorias aplicadas ao longo dos anos.
Pois bem, cá estamos nós, em 2023, diante de Diablo IV — que teve seu lançamento adiado algumas vezes. E aí, será que ele coloca a franquia de volta nos eixos e devolve a confiança dos fãs em relação à Blizzard? Vamos descobrir!
Um conto sombrio
A primeira coisa que fica clara em Diablo IV é que seu tom sombrio está de volta, mais forte do que nunca. A incrível cutscene de abertura mostra um ritual de sacrifício dando erado, o que acaba conjurando Lilith, filha de Mephisto, para o Santuário, onde ela vai perpetrar uma nova onda de terror.
Ainda que a trama não pareça realmente inovadora em uma primeira vista, ela ganha força com reviravoltas surpreendentes e personagens interessantes. Diablo IV tem uma boa história para contar, e faz isso com o capricho característico da Blizzard, que traz cutscenes cinematográficas incríveis e viscerais para pontuar os momentos mais intensos da campanha.
E o melhor: faz isso de forma mais sombria, mais adulta. Diablo IV representa um bem-vindo amadurecimento para a franquia, sem, contudo, ignorar os novatos que jamais pisaram no Santuário antes.
Não sou um especialista na extensa lore de Diablo, mas os games mais recentes me pareciam uma fantasia medieval meio “colorida” demais. Passavam uma vibe que não combinava com o “Diablo” do nome. Aqui temos um jogo que retorna às suas origens de forma consciente, flertando com o terror e o sobrenatural com muita competência. Lilith, por si só, é uma antagonista muito mais interessante, e seu tom persuasivo de espalhar o caos é sem dúvida um dos pontos altos da personagem.
Sem entrar em spoilers, o que posso dizer sobre a história de Diablo IV é: ela é intrigante e muito bem contada. Vai surpreender os veteranos e deixar os novatos querendo mais. Os roteiristas da Blizzard conseguiram evoluir o padrão narrativo da franquia, e desde já, mal posso esperar para ver o que teremos em futuras (e prováveis) expansões.
Uma experiência customizável
Diablo sempre foi marcado por classes de personagens interessantes e bem construídas, que possibilitam a construção de builds extremamente poderosas. E Diablo IV segue acertando a mão neste ponto: com 5 classes disponíveis (Bárbaro, Druida, Mago, Necromante e Renegado), o game entrega opções para todos os gostos, e deve agradar tanto aos lobos solitários quanto aos players que planejam fazer parte de um clã para explorar masmorras com os amigos.
Nesta minha primeira experiência, optei pelo Druida, por ser uma classe “menos comum” na série. E olha: não me decepcionei. Por ser metamorfo, os ataques físicos do Druida incluem transformações viscerais em lobisomens e ursos, bem como conjurações de outros animais para ajudar.
Além disso, a classe também possui um bom leque de magias que utilizam “o poder da terrra”, como tornados e tempestades. No geral, me pareceu uma classe que equilibra muito bem o combate de perto e à distância.
Confira um pouquinho de gameplay do Druida no vídeo abaixo:
O acesso antecipado que recebemos me permitiu jogar 10 dias em servidores dedicados. E, embora eu tenha acumulado dezenas de horas de jogo, mantive-me focado no Druida, então não tenho muito a dizer sobre as outras classes. Essa é uma das belezas de Diablo IV: ainda que seja “o mesmo jogo” para todos, a forma como iremos desbravar o Santuário é única.
Mesmo personagens da mesma classe podem ter builds completamente diferentes: como temos um número limitado de slots de habilidades para equipar, devemos priorizar o que mais se encaixa em nosso estilo de jogo. E olha… opções não faltam, pois a skill tree é extensa.
Felizmente, “resetar” um personagem e redistribuir seus pontos de habilidade é muito mais simples (e barato) do que antigamente. Não há mais aquele problema de criar uma build ruim e ter que recomeçar tudo do zero, com um novo personagem.
Um mundo mais vivo do que nunca
O loop de gameplay de Diablo IV segue a fórmula que os fãs já conhecem e adoram: vamos explorar um mapa enorme, visitando cidades, conversando com NPCs, pegando missões e, claro, explorando masmorras procedurais para massacrar demônios e coletar loot.
Tudo isso é familiar e bastante acessível para os veteranos da série ou qualquer um que jogou algum Diablo-like nos últimos anos. Mesmo as novidades que o jogo incrementa — como as montarias, ou o novo sistema de poções ao estilo Souls — são fáceis de reconhecer e digerir.
Porém, o mundo agora tem um “fator MMO” que, até onde sei, é inédito na série. Como nosso amigo Gilson comentou em seu preview do jogo, o mapa de Diablo agora é colossalmente aberto, formado por diversos biomas distintos, e apresenta eventos aleatórios, “world bosses” que demandam trabalho cooperativo, desafios pontuais e outros elementos típicos de um MMO, como por exemplo, arenas para combate PvP.
Não pude ver como muitas dessas coisas funcionam na prática neste primeiro momento, mas acredito que ad novidaded acrescentam uma camada extra de profundidade que pode ser muito interessante. E, mesmo a polêmica loja in-game (que ainda não estava disponível) só vai conter itens cosméticos, fugindo do modelo pay-to-win que é a perdição de certos jogos.
O lado bom é que o jogo possui crossplay, o que permite que jogadores de diferentes plataformas possam jogar juntos (e aumenta consideravelmente o número de players online). O progresso também é compartilhado — caso você planeje jogar em diferentes plataformas. O lado “ruim” é que isso exige conexão com a internet o tempo todo, algo que, convenhamos, nunca é bom.
Audiovisual
Para indignação da PC Master Race, eu, como o gamer de console que sou, optei por uma cópia de Playstation 5 para experimentar o jogo (valeu assessoria da Blizzard). Em outros tempos, os jogos da saga Diablo demoravam anos para chegar aos consoles. Desta vez, o lançamento é simultâneo. <3
E o jogo, mesmo antes do lançamento, já estava rodando muitíssimo bem no console de nova geração da Sony. Belos efeitos de iluminação, loadings praticamente inexistentes, excelente localização PT-BR (com vozes e tudo). Sempre achei o gameplay de Diablo mais divertido com um controle na mão, e aqui tudo já chega extremamente responsivo e bem calibrado.
Como já disse, o jogo resgata o clima sombrio de terror dos primórdios da franquia, o que resulta em uma experiência muito atmosférica. O design do mundo como um todo está mais “tenebroso” e sangrento. Algo que eu aprecio muto mais e, convenhamos, combina melhor com um jogo chamado Diablo.
Isso mostra que a Blizzard ouve sua comunidade. Diablo III foi meio decepcionante para muita gente — e Diablo Immortal, então, nem se fala. Diablo IV é a comprovação de que a Blizzard esteve atenta aos apelos dos fãs, e fez de tudo para entregar o jogo que os fãs queriam.
Conclusão
Joguei dezenas de horas de Diablo IV antes de seu lançamento e, ainda assim, sinto que mal arranhei a superfície do jogo. Afinal, há quem diga que esse tipo de jogo “começa de verdade no pós-game”, e eu apenas concluí os Atos da campanha e um bom punhado de sidequests.
As novidades do “fator MMO” do game sem dúvida aumentam exponencialmente a quantidade de conteúdo que ele traz. E, a Blizzard é boa em manter seus jogos vivos por bastante tempo com novos conteúdos e atualizações, então acho que é seguro apostar na longevidade de Diablo IV.
Se você é um daqueles que estava reticente em relação ao game, fique tranquilo: Diablo IV sem dúvida é o jogo que os fãs da série estavam esperando. Ele moderniza a receita clássica sem perder sua essência e, mostra que, quando quer, a Blizzard ainda é perfeitamente capaz de entregar um jogo muito acima da média.
Diablo IV chega nesta terça, 06 de junho, com versões para PC, Playstation 5 (versão analisada), Playstation 4, Xbox Series X|S e Xbox One. O jogo está 100% localizado para o nosso idioma.