Análise Arkade: DNF Duel, uma interessante mistura de luta com RPG
Se D&D é uma sigla reconhecível em boa parte do mundo, DNF talvez seja um pouco mais restrita. Dungeon and Fighter é um mix de RPG com beat em up que existe há quase duas décadas… mas é muito mais popular na Coreia do Sul do que no resto do planeta.
Dito isso, DNF Duel é um jogo de luta 2D que bebe na fonte dos melhores do gênero — e, não por acaso, tem a Arc System Works como co-produtora — para trazer um bom punhado de classes de RPG para a porrada. O resultado: um fighting game bonito, fluído… mas um tanto limitado.
Luta de Classes
Perdão pelo trocadilho no título, mas a verdade é que DNF é basicamente isso: um jogo de luta pautado pelas classes típicas de um RPG. E isso é levado ao pé da letra: nenhum personagem tem nome próprio, todos são avatares representando um classe de DNF.
Ou seja, na tela de seleção de personagens você não verá nomes tipo “Chun Li” ou “Sub-Zero“, mas classes, como Berserker, Crusader, Striker e Dragon Knight. Claro que cada um tem um character design estiloso e caprichado, mas é engraçado pensar que eles não são personagens de fato, estão ali basicamente representando um arquétipo.
DNF Duel é enxuto nos modos de jogo: temos um Story Mode exclusivo para cada personagem, uma área de treinamento, uma pequena variação de modos de jogo single player (que conta com modalidades clássicas como Arcade e Survival) e, claro, um lobby online para partidas multiplayer. Jogar acumula moedinhas virtuais, que podem ser trocadas por artes conceituais em uma Galeria bem robusta.
O Story Mode de cada personagem é único, e a narativa é apresentada na forma de cenas estáticas. Ocasionalmente, podemos tomar algumas decisões durante os diálogos, mas não espere nada muito profundo. A lore do jogo sem dúvida interessa aos entusiastas, mas quem não conhece DNF tende a ficar boiando.
Pancadaria acessível
Dito isso, na hora da pancadaria propriamente dita, o jogo traz algumas similaridades com outro jogo de luta oriundo dos RPGs — Granblue Fantasy Versus, que também tem o dedo da Arc System Works em sua produção.
Como mais um jogo de luta que nasceu nos RPGs, aqui o uso de golpes especiais e habilidades está atrelado à uma barra de MP, que se regenera lentamente, mas que deve ser administrada com algum cuidado. Abusar dela significa ter que se virar apenas com ataques básicos por alguns segundos bem dolorosos.
Esta mecânica de MP agrega uma pegada estratégica aos combates, mas não é nada muito complexo. Na verdade, DNF Duel é um jogo bastante simples em seus comandos, a fim de tornar a experiência mais acessível.
Aqui não há comandos complicados, tipo meia-luas ou ziguezagues. Mesmo magias e golpes especiais usam combinações simples ao estilo Smash Bros: aponte o direcional para qualquer direção + botão de ataque especial.
Isso sem dúvida torna o gameplay bastante acessível…. mas também limita um bocado as possibilidades. Jogadores mais técnicos e habilidosos simplesmente não vão ter muito o que “inventar”, uma vez que o jogo não possui grande profundidade em seus comandos.
Que fique claro: há muita plasticidade nos movimentos, e é possível fazer combos bem apelões. Porém, como tudo é muito simplificado mecanicamente, fica uma impressão de que, após algumas lutas, você meio que já “esgotou” todas as possibilidades de um personagem.
Não encare isso necessariamente como uma crítica, mas como um aviso: a Arc System Works já produziu jogos muito mais arrojados mecanicamente, como Guilty Gear e BlazBlue (ainda que a simplificação seja uma tendência que já chegou nessas franquias). Se você curte jogos mais técnicos, não acho que DNF Duel seja o que você procura.
Audiovisual
Aqui é onde o jogo realmente brilha, e alcança o altíssimo nível que estamos acostumados a ver nos fighting games da Arc System Works. Mantendo aquela estética de criar personagens e cenários 3D e então “achatar” tudo no plano 2D, o que temos aqui é um jogo deslumbrante e cheio de estilo, que brinca com a perspectiva e move ocasionalmente a câmera para fins dramáticos.
O fato dos personagens representarem classes “genéricas” de DNF não significa que eles não sejam estilosos. O character design é incrível, inspiradíssimo, com cada lutador sendo extremamente detalhado, com armas, roupas e adereços únicos.
O departamento sonoro segue o mesmo padrão de qualidade: todos os competidores têm vozes, e as dublagens fazem um bom trabalho em lhes conceder alguma personalidade. A trilha sonora também segue a cartilha, acrescentando temas mais épicos e aventureiros ao tradicional metal pauleira que embala os jogos da Arc System Works.
Infelizmente o jogo não recebeu nenhum tipo de localização para o nosso idioma, de modo que temos que nos virar com menus e legendas em inglês. Isso é um problema maior para quem quer curtir as histórias individuais de cada personagem ou mergulhar na lore deste universo (há até um glossário cheio de nomes e termos). De resto, não é algo que cause muito impacto — afinal, este é um jogo de luta.
Conclusão
DNF Duel é um jogo de luta competente, mas que pode ser um pouco básico demais para quem busca complexidade. Porém, assim como Granblue Fantasy Versus, acho que esta simplicidade é proposital, foi feita de caso pensado para tornar o jogo acessível.
Deste modo, creio que o jogo cumpre seu papel, trazendo uma mistura interessante de classes, poderes e elementos típicos de RPG para as arenas de um jogo de luta 2.5D, fazendo um uso estratégico e inteligente da tradicional “barra de mana”.
Não é um jogo particularmente recheado de conteúdo, mas tem o mínimo que se espera do gênero. Seu modo online funciona bem, graças a recursos de netcode via rollback que mantém a estabilidade das partidas — ainda que, infelizmente, não haja crossplay entre as diferentes plataformas.
No mais, acredito que o jogo seja especialmente recomendável para quem conhece o RPG Dungeon and Fighter — ou tem curiosidade de conhecer um pouco de seu mundo.
DNF Duel está disponível para PC, Playstation 4 e Playstation 5 (versão analisada).