Análise Arkade: Dominando a arte da espionagem em Invisible Inc.

21 de maio de 2015

Análise Arkade: Dominando a arte da espionagem em Invisible Inc.

Invisible Inc. é o novo game da Klei Entertainment, os mesmos caras que nos trouxeram o excelente Mark Of The Ninja. Trocando o estilo plataforma por uma visão isométrica, o jogo te coloca no comando de uma agência de espionagem (a própria “Invisible Inc.” do título) para lutar contra megacorporações sinistras.

O ângulo pode até ter mudado e agora a ação se passa em turnos, lembrando clássicos como X-Com, Jagged Alliance e até Syndicate, mas duas coisas que a Klei já provou que faz muito bem continuam aí: a jogabilidade stealth e um ótimo estilo artístico. Dê uma olhada no trailer de lançamento para ter uma ideia do que estamos falando:

Cyberpunk e espionagem são dois temas muito legais que têm tudo para dar certo juntos, e eu confesso que sou grande fã de jogos ao estilo X-Com, então a ideia me pareceu bastante promissora. Mas será que a combinação deu certo neste game em particular? Nós hackeamos os cofres e mainframes do jogo para descobrir. Vamos lá!

Espionagem estilosa

Análise Arkade: Dominando a arte da espionagem em Invisible Inc.

Invisible Inc. se passa em um futuro dominado por grandes corporações e onde coisas como implantes cibernéticos, teletransporte e inteligência virtual já são realidade. É nesse cenário que a Invisible atua, roubando segredos, grana e tecnologia dessas empresas. Só que a agência de espionagem entra em cena da pior maneira possível: sua base secreta acaba de ser descoberta e invadida por soldados armados até os dentes – e obviamente eles não estão nada felizes com as atividades clandestinas da nossa organização.

A boa notícia é que a líder da agência consegue escapar com vida do ataque e levar com ela a Incognita, uma entidade de inteligência artificial que é a principal arma da Invisible, capaz de hackear os sistemas de segurança mais avançados.

A má notícia é que, fora do seu computador, Incognita tem poucas horas de vida (tipo um peixe fora d’água), então cabe aos espiões sobreviventes a tarefa de rodar o mundo para encontrar uma maneira de salvar a moça virtual e descobrir como diabos as corporações encontraram a base. No papel do “Operador”, você vai acompanhar essa treta de perto, controlando os agentes durante as missões, administrando recursos e decidindo os próximos passos da agência em uma verdadeira corrida contra o tempo.

De cara, se destaca o bom trabalho da equipe de arte da Klei, liderada pelo talentoso Jeff AgalaInvisible Inc. deixa claro que tem estilo desde cedo. Os personagens combinam ternos, chapéus fedora e roupas estilosas com apetrechos tecnológicos como antenas e fones de ouvido. Junto com os belos cenários isométricos e animações caprichadas, o game se sai muito bem na hora de vender a ideia de espiões “clássicos” se esgueirando pelas sombras de um mundo cyberpunk, mesmo com um estilo “cartunizado”.

Análise Arkade: Dominando a arte da espionagem em Invisible Inc.

A trilha sonora também é ótima e, apesar de não ser tão variada, nunca chega a ser enjoativa. Ela define um tom de suspense que cola muito bem com o jogo. Com os efeitos sonoros temos a mesma coisa: todos eles se encaixam perfeitamente com o que está rolando no game, desde o “zap” das armas não-letais e os passos apressados dos agentes no chão lustrado dos prédios corporativos até as sequências de “bips” e “bops” dos drones e aparelhos de segurança.

Para amarrar tudo isso, temos ótimas dublagens nos personagens principais como a líder Gladstone, codinome “Central”, que faz referência à personagem M da série 007 – com direito a sotaque britânico e tudo. Apesar do bom trabalho nas vozes, porém, os diálogos em si não chegam a ser muito interessantes e o enredo do jogo, como você vai ver mais adiante, não é explorado bem o suficiente para se destacar.

Mas mesmo com estes e alguns outros pontos baixos, a ambientação de Invisible Inc. é excelente em geral, ajudando não apenas a criar essa atmosfera de espionagem e alta tecnologia mas também a guiar os jogadores com dicas sonoras e visuais que enriquecem a jogabilidade.

As regras do jogo

Análise Arkade: Dominando a arte da espionagem em Invisible Inc.

O visual é muito legal… mas temos trabalho a fazer: nosso quartel-general já era, a maioria dos espiões estão mortos ou desaparecidos e o relógio não pára. Precisamos de grana, equipamentos e pistas para salvar Incognita e a própria Invisible Inc. – e urgente. Para isso, nossa agência vai fazer justamente o que faz de melhor: invadir, hackear e roubar tudo que puder das corporações, mesmo sem uma base fixa.

Invisible Inc. se divide em dois “modos” que vão se alternando. No primeiro, temos um mapa do mundo de onde cuidamos da parte estratégica. É nesta tela que fazemos upgrades em nossos agentes e na Incognita, compramos equipamentos e o mais importante: decidimos onde vamos atacar na próxima rodada. Não podemos simplesmente dar a volta ao mundo fazendo todas as missões para acumular os melhores itens e muita grana. Cada infiltração leva tempo, e o tempo, como já explicamos, não está ao nosso favor.

A contagem regressiva da Incognita nos força a fazer escolhas bem interessantes. Por exemplo: você acabou de completar uma missão na América do Sul e pode escolher outra perto dali. A viagem levaria apenas cinco horas e renderia um cartão especial capaz de abrir cofres avançados em missões futuras. Mas do outro lado do mundo, em Singapura, há uma missão que lhe daria de graça um equipamento muito poderoso – e caro. O que você faz?

Análise Arkade: Dominando a arte da espionagem em Invisible Inc.

É com esse tipo de decisão que o jogo trabalha e se sai bem, mas ele não chega a ser tão complexo quanto um X-Com. Temos poucos itens disponíveis para compra entre uma missão e outra, e novos agentes só podem ser contratados quando os resgatamos ou liberamos repetindo a campanha. No geral podemos dizer que essa parte estratégica é legal, mas bem mais “leve” se comparada a outros jogos do gênero. Na verdade ela parece muito com o modelo de outro clássico: Syndicate. Equipe seus agentes, escolha as missões, use a grana conquistada para melhorar seus agentes, repita.

O segundo “modo” é onde o bicho realmente pega: as missões. Uma vez escolhido o alvo, sua equipe é teletransportada para dentro das instalações de uma grande corporação, onde precisa cumprir objetivos que vão desde roubar cofres até render um executivo e arrancar uma lista dos implantes cerebrais do “coitado”. E, claro, você precisa fazer de tudo para escapar dali com vida e com o “pacote”. Principalmente com o pacote. Você move seus agentes, passa a vez para o inimigo e repete o processo, turno por turno, até chegar ao objetivo. Na teoria parece simples, certo?

Pois pense de novo. Pelo caminho nossos espiões vão encarar guardas, robôs sentinela, câmeras de vigilância, barreiras laser e todo tipo de aparelho anti-espionagem que você puder imaginar. Mesmo nas opções mais baixas de dificuldade, o game é bem difícil: os mapas isométricos são gerados aleatoriamente, portanto imprevisíveis, os guardas vão te caçar de forma muito insistente se suspeitarem de algo e uma vez pego no flagra você tem que fazer das tripas o coração para despistá-los pelos corredores e saletas. Se um agente passar na frente de um guarda alerta,  já era.

Análise Arkade: Dominando a arte da espionagem em Invisible Inc.

A tarefa não é fácil mas nossos agentes são os melhores dos melhores e têm equipamentos e habilidades especiais para cumpri-la, como atordoadores, dardos tranquilizantes e até dispositivos de invisibilidade. E, claro, são mestres na arte de agir na surdina, podendo se esgueirar e se esconder pelos cantos e espiar a próxima sala pela fechadura. Além disso, eles contam com a própria Incognita, que funciona com uma quinta personagem durante as missões.

Ela pode ser usada para hackear câmeras e terminais, por exemplo, em uma interface que mostra os detalhes da rede local (imagem acima), destacando pontos de interesse e mostrando as defesas de cada aparelho. Combinar o trabalho dos agentes no mundo físico e da I.A. no mundo virtual é uma das coisas mais legais do jogo. Assim como os espiões de carne e osso, ela também pode ser melhorada, no caso com “programas” que a permitem criar distrações ou até mesmo reduzir a visão dos guardas, por exemplo. Só que ela gasta pontos de energia (“Power”) para fazer tudo isso, então o jogador deve pensar muito bem como e quando usar-la. Ainda temos os Daemons, vírus de defesa que dificultam a vida de Incognita gerando efeitos negativos após ela hackear algum aparelho.

E para amarrar tudo, temos um alarme progressivo que aumenta a cada turno ou ação suspeita, reforçando as defesas dos aparelhos e trazendo guardas cada vez mais tensos para patrulhar o local, transformando cada missão em um jogo mortal de gato e rato. É possível desligar o alarme nas opções de dificuldade do jogo, mas fica a dica: não faça isso. Invisible Inc. fica muito mais interessante e desafiador quando você não tem todo o tempo do mundo para completar as missões, e é baseado nisso que o jogo cria momentos gloriosos de infiltração, stealth e fuga.

Escapando por um triz

Análise Arkade: Dominando a arte da espionagem em Invisible Inc.

É essa receita que torna as missões de Invisible Inc. tão divertidas. Mais de uma vez tive certeza de que estava tudo perdido: em uma fase que joguei, o nível de alarme estava no máximo, vários guardas bem armados estava a um passo de capturar meus agentes e as defesas dos aparelhos já estavam muito mais fortes do que Incognita seria capaz de hackear… Resumindo: eu estava ferrado.

Mas com uma boa dose de sagacidade e sorte, eu consegui tirar um dos meus agentes da mira de um vigia sanguinário, escondendo-o atrás de uma mesa, enquanto usei outro personagem para lançar uma granada de luz que eu nem lembrava que tinha. Com os seguranças “controlados” por alguns instantes, eu pude mandar meus espiões correrem como loucos até o “elevador” de fuga e completar a missão. Foi memorável.

Este é o lado ótimo do game. O lado ruim é, como já mencionamos, a história. Entre uma missão e outra até temos diálogos que dão uma ideia do que está rolando na trama, mas sinceramente não consegui criar muito interesse por eles, e estava muito mais preocupado em preparar meus agentes para encarar missões cada vez mais desafiadoras. Após algumas fases, o tempo de Incognita acaba e você parte automaticamente para a missão final, que é o único momento onde temos algum tipo de reviravolta marcante. E mesmo assim, ela é concluída de forma abrupta, apressada. A ideia é interessante, mas infelizmente não é trabalhada e se torna pouco relevante para a experiência em geral.

Apesar desse ponto baixo, Invisible Inc. conta com bom fator replay. Você pode customizar profundamente a campanha e a dificuldade. É possível configurar quase tudo, desde o número de guardas e salas de cada fase até a duração da campanha. Por padrão ela leva 72 horas (que podem ser completadas em cerca de quatro ou cinco horas reais, talvez menos), mas é possível deixa-la infinita, o que simplesmente corta o final do jogo e o transforma em um “simulador de agência de espionagem cyberpunk”.

Com todas essas opções, eu certamente voltarei a jogar mesmo já tendo zerado a campanha. Os agentes têm habilidades especiais bem interessantes e a tarefa de liberar todos os dez (mais seis variações) promete aumentar a vida útil do game. Sem falar na jogabilidade, que por si só é muito boa e vale a pena ser repetida em níveis mais altos de dificuldade.

Conclusão

Análise Arkade: Dominando a arte da espionagem em Invisible Inc.

Assim, Invisible Inc. tem tudo para agradar fãs de stealth e jogatina em turnos, misturando as duas coisas de forma competente. Apesar de ter uma história apressada e superficial, as opções de customização da campanha, o capricho no audiovisual e as missões inteligentes e desafiadoras têm potencial para manter os jogadores se divertindo por boas horas.

Infelizmente o game não tem localização para o português, mas um camarada chamado Paulo Belato criou um mod traduzindo o jogo para o nosso idioma e o colocou na oficina do Steam. Vale a pena conferir. Invisible Inc. já está disponível para PC, Mac e Linux, com uma versão para Playstation 4 planejada mas ainda sem data de lançamento.

Daniel Zimmermann

Mais Matérias de Daniel

Comente nas redes sociais