Análise Arkade: a faxina acrobática de DustForce (PC, PS3, Vita, X360)
Hora da faxina, caro leitor! Prepare-se para testar suas habilidades (e sua sanidade) com o desafiador DustForce! Confira nossa análise na sequência!
O gênero plataforma 2D anda em alta nos últimos tempos, vide os excelentes jogos do Rayman, o novo Donkey Kong que sai esta semana e as pérolas indies, que agregam novos elementos a este estilo de jogo tão nostálgico.
Se você é um fã do gênero, é provável que você já conheça DustForce, visto que o game foi lançado no Steam em 2012. Porém, agora a Hitbox Team recebeu uma ajudinha da Capcom, e conseguiu trazer seus faxineiros acrobatas para o Playstation 3, o Xbox 360 e o PS Vita. E se você é fã do gênero plataforma 2D, é bom ficar de olho neste jogo!
DustForce não perde tempo com histórias mirabolantes. Você pode assumir o controle de 4 personagens distintos e sua missão é basicamente limpar os cenários. Os inimigos surgem na forma de objetos e animais que são “possuídos” pela sujeira e tornam-se hostis. Limpe-os, e eles voltarão à sua forma original.
Como os personagens não têm nomes, vamos identificá-los por cores: o sujeito de macacão azul é o mais equilibrado em termos de velocidade e agilidade. A garota de macacão vermelho é a mais rápida, enquanto a garotinha de rosa com espanadores é a mais ágil. Por fim, temos o velhote de verde que carrega o aspirador de pó: ele é o mais lento, porém o mais forte do grupo.
Estas são basicamente as únicas diferenças entre eles: não há desenvolvimento de personagens, não há um grande vilão para ser derrotado, não há sequer uma mensagem social sobre meio ambiente e poluição. DustForce é um jogo que vai direto ao ponto, simplesmente escolha seu faxineiro, entre em uma fase e comece a limpeza.
A jogabilidade do game é relativamente simples, mas demanda muita prática para ser aperfeiçoada. Os personagens possuem notáveis diferenças de velocidade, agilidade e força, atributos fundamentais para o sucesso de sua faxina.
Basicamente, temos movimentos de corrida, pulo (simples e duplo), porrada (normal e forte) e dash, além de um golpe especial, que pode ser executado ao se encher a barra correspondente. Porém, este “feijão com arroz” é temperado com um level design extremamente desafiador e um sistema de recompensas que vai te obrigar a unir todos esses movimentos básicos para se dar bem.
E não fica só nisso, pois cada movimento comum possui suas nuances: a corrida, por exemplo, não precisa necessariamente ser horizontal, é possível dar uns poucos passos em paredes e até mesmo em tetos (a movimentação no teto é bem traiçoeira e difícil de se dominar).
Já se mantiver o direcional para baixo em uma descida íngreme, você ganha velocidade extra. Bater em inimigos voadores te mantém no ar por mais tempo. É possível ricochetear entre duas paredes, deslizar durante um salto, e por aí vai. E este é só um vislumbre bem rudimentar dos comandos que você terá que dominar se quiser se dar bem.
Parece simples, mas acredite: não é tanto assim. Quando a faxina começa a fluir lindamente e você acha que está pegando o jeito, um abismo (aparentemente) intransponível, um corredor vertical de lâminas que deve ser atravessado com precisão milimétrica ou alguma outra pegadinha de level design aparece, para te mostrar que você ainda não está mandando bem o suficiente.
E aí é que está o fator viciante de DustForce, que está intimamente ligado ao seu fator raiva: você inevitavelmente vai ficar empacado em alguma fase, e após gastar 20 minutos tentando superar o mesmo obstáculo de novo e de novo, o sangue ferve, e seu maior desafio será não tacar o controller na TV.
A dificuldade as vezes atinge ápices tão absurdos que é um alívio que a progressão seja não linear: o Nexus, que é o “mapa principal” do jogo, permite que você visite livremente diferentes áreas (Mansão, Cidade, Caverna, Laboratório), cada uma com suas próprias fases. Você pode ir e vir pelas áreas e fases na ordem que desejar, ou seja, quando se deparar com algo aparentemente impossível, respire fundo, saia da fase e relaxe em outro level… ou não, pois você pode cair em uma fase ainda mais difícil!
Cada área apresenta fases com seu próprio estilo, com tipos de sujeira distintos (folhas secas, gosmas verdes) e fases que vão do “ah, isso até que é fácil” ao “é impossível passar daqui”. O design de cada área é único e ao mesmo tempo familiar, e sempre vai exigir o máximo de suas habilidades.
Falamos bastante de level design e jogabilidade, e o sistema de pontos e recompensas está diretamente atrelado à eles: ao final de cada fase, você é avaliado em 3 itens: Completion, Finesse e Time. Nas duas primeiras categorias, seu desempenho recebe notas que vão de D até S. Ah, e as leaderboards aparecem constantemente para te mostrar o quanto o resto do mundo é melhor que você.
Esmiuçando: Time obviamente é o tempo: quanto mais rápido você for, melhor. Completion se refere ao tanto de sujeira que você limpou durante a fase, e Finesse são os seus pontos de estilo: quanto mais longo forem seus combos de limpeza e mais fluida for sua movimentação pelo cenário, mais pontos de Finesse você ganha.
E isso, meu caro, é o pesadelo de qualquer gamer competitivo ou perfeccionista que se preze: conseguir um duplo S em Completion e Finesse vai se tornando cada vez mais impossível conforme você avança, chegando ao ponto de que o simples ato de completar algumas fases específicas já é uma conquista e tanto, independente do placar.
Porém, isso pode não ser o bastante, pois existem diversas fases trancadas, que carecem de chaves de prata e bronze para serem liberadas. Como você consegue estas chaves? Pois é, completando as fases normais com o maior score possível. Ou seja, você precisa ser bom para destravar todas as fases e poder prosseguir com o game.
Além da versão Playstation 3, também tivemos a oportunidade de experimentar a versão PS Vita do game. O jogo roda liso no portátil da Sony, sem engasgos ou quedas de framerate. A jogabilidade permanece basicamente a mesma nas duas plataformas, funcionando bem em ambas.
O departamento sonoro se destaca por suas músicas calmas, quase em estilo retrô, que parece querer relaxar o jogador perante os desafios insanos do game. O visual é estiloso e possui muita identidade; um 2D de cores fortes e sem contornos, pontuado por ótimas animações.
Um detalhe interessante é que a versão PS Vita possui um charme extra: é possível habilitar pelo menu um belo efeito parallax nos cenários, ou seja, o background se move de acordo com os movimentos do giroscópio do portátil. É apenas um detalhe, mas deixa o jogo visualmente mais interessante no Vita, e mostra que houve um carinho extra na conversão.
As plataformas da Sony também possuem recursos cross-play: você pode tanto compartilhar o save e jogar nas duas plataformas quanto curtir o multiplayer do game com um amigo, cada um em uma plataforma. O jogo possui poucos mapas multiplayer e apenas dois tipos de objetivos – Survival e King of the Hill – mas é uma boa pedida de diversão com os amigos, possibilita que uma equipe controle os vilões e “suje” os cenários para os mocinhos limparem. As disputas podem rolar tanto online quanto offline.
É notória a falta de algum modo de jogo cooperativo. A campanha principal seria incrível para se jogar com os amigos. Deve ser um desafio e tanto colocar modos de jogo cooperativos em games com uma jogabilidade tão rápida e precisa, mas Rayman, The Fancy Pants e outros games já provaram que isso é possível, e o resultado aqui seria bem interessante.
DustForce parece uma mistura peculiar de Super Meat Boy com Devil May Cry: ele é um jogo de plataforma 2D bem desafiador, e aumenta sua dificuldade ao exigir do jogador extrema habilidade para limpar os cenários da maneira mais rápida, fluida e acrobática possível. Não basta passar de fase, é preciso passar com estilo!
Ah e se você é um caçador assíduo de easter eggs, espere por boas surpresas neste jogo: de salas secretas e estátuas misteriosas até a aparição de um personagens bem famoso de um game da Valve, DustForce está cheio de segredos bacanas!
Em resumo, o alto grau de dificuldade de DustForce pode torná-lo frustrante, mas ao mesmo é isso que torna o jogo tão aditivo, pois fica evidente que sempre há um jeito de superar os obstáculos… você só precisa ser bom o bastante para isso! Como na vida real, a faxina de DustForce é penosa e exige muito de você, mas pode se mostrar extremamente divertida!
P.S. A versão Xbox 360 deve chegar à Live em breve, e estão prometidos mais de 100 mapas gratuitos via DLC para todos os consoles.
*Agradecimentos ao companheiro Tsutomu Matsumoto (figura ilustre da Alvanista), que testou a versão PS Vita do game e contribuiu com suas impressões para este review! =)