Análise Arkade: Eight Dragons, um beat ‘em up simples até demais

2 de junho de 2021
Análise Arkade: Eight Dragons, um beat 'em up simples até demais

Beat ‘em ups estão entre os meus gêneros favoritos desde sempre. Não sei se é só nostalgia dos tempos do fliperama, mas a verdade é que acho reconfortante espancar caras maus em becos escuros e comer comida do chão.

Claro que, como qualquer outro gênero, beat ‘em ups tem lá seus altos e baixos: há jogos que são ótimos, outros… nem tanto. Eight Dragons é um beat ‘em up com estética retrô que preza pela simplicidade… e acaba sendo simples até demais.

Os oito dragões

Beat ‘em up é um dos gêneros mais cheios de clichês dos videogames. Nossa missão é sempre “resgatar alguém” ou “salvar a cidade” na base da porrada. Não tem muito o que explicar quando só o que a gente quer é seguir para a direita, surrando capangas genéricos.

Eight Dragons parte dessa simplicidade, muito herdada lá do primeiro Double Dragon. No início do modo história de cada personagem, vemos alguém sendo raptado por um bandido. Quem é a pessoa raptada? Não sabemos. E, sinceramente: quem se importa? O lance é que isso serve como estopim para começar a pancadaria.

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Escolha seu dragão (genérico)

O grande diferencial aqui é que, enquanto a maioria dos beat ‘em ups tem 3 ou 4 personagens selecionáveis, aqui temos 8 heróis. Quem eles são? Quais suas motivações? É mais uma coisa que a gente fica sem saber. Sabemos o nome de cada um, e só. No mais, eles são bons de briga, e vão resolver tudo no braço.

Nenhum dos heróis tem um visual particularmente inspirado ou diferente — muitas vezes é fácil confundi-los com os inimigos — mas acho que isso talvez seja parte da proposta: são pessoas comuns, saindo na mão com membros de gangues que também são meio que pessoas comuns.

Pancadaria simplificada (até demais)

O beat ‘em up é um gênero que tende a ser formulaico em sua essência. Afinal, o loop de gameplay consiste em seguir da esquerda para a direita, socando inimigos e juntando comida do chão.

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É possível juntar objetos para usar como armas

Porém, é perfeitamente possível incrementar a fórmula. Jogos como Scott Pilgrim Vs. the World e River City Girls trazem sistemas de level ups e lojinhas/dojos onde podemos aprender novos golpes. Isso ajuda a manter o combate fresco, mesmo ao longo da campanha, pois sempre há uma técnica nova para usar.

Mesmo franquias menos inventivas, como Streets of Rage, trouxe novidades em sua edição mais recente: a mecânica de juggling, o sistema de “não perder vida” com os golpes especiais, tudo, no fim das contas, contribui para tornar o jogo mecanicamente mais rico e interessante.

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os inimigos não só se repetem, como chegam juntos…

Eight Dragons, infelizmente, não faz nada disso. Seu gameplay é básico até demais, sem nenhuma nuance ou profundidade. Temos basicamente um botão de porrada, outro de pulo, e um terceiro que serve para se agachar/juntar coisas do chão (?!). E é isso. Não tem golpe especial, parry, nem nada mais elaborado. Só chutes, socos, voadoras e agarrões comuns.

Mecanicamente, tudo é muito raso e, consequentemente, sem graça. Você não se sente impelido a caprichar, fazer combos ou “jogar bonito”. É uma limitação de gameplay que compromete bastante a qualidade e o nível de diversão do jogo.

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E, quando você vê 8 personagens na tela de seleção, pensa que eles devem ter suas próprias técnicas e habilidades, né? Que nada. Todos se comportam meio que da mesma maneira. O que muda são as estatísticas de cada um: o personagem que tem mais pontos de vitalidade realmente tem a barra de vida maior, o mais forte realmente causa mais dano. É perceptível a mudança. Mas, de resto, é tudo igual, tudo sem graça.

A “vantagem” é que Eight Dragons é um jogo super curto. O Modo História de cada personagem mal dura 20 minutos — eles não passam pelas mesmas fases, mas como não há muitos cenários, elas acabam se repetindo, ou apenas mudando de ordem. Tem também um Modo Arcade, que basicamente remixa a ordem das fases.

Audiovisual

No cenário independente, a estética retrô acabou tornando-se muito comum. Geralmente é uma questão de orçamento, mas há quem opta pelo visual retrô simplesmente porque gosta do estilo, do apelo visual, da crocância dos pixels.

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Eight Dragons me parece ser um caso de “retrô pelo orçamento”, visto que a direção de arte em si é extremamente genérica e sem inspiração. Como eu falei, nem mesmo os heróis se destacam, o visual de tudo é simples demais. Os cenários seguem a cartilha do gênero: tem a fase no beco, a fase no metrô, a fase no bar, e por aí vai.

Curiosamente – e não sei se isso foi proposital ou não –, na “tela final” de cada herói, vemos algumas semelhanças entre os personagens e alguns astros dos filmes de ação. Olha esse cara aí embaixo e me diz: não parece o Bruce Willis nos tempos de Duro de Matar?

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O final do jogo é isso: uma mensagem curta, seguida de uma tela estática

A trilha sonora também segue essa vibe estilo “filme de ação dos anos 80/90”, com muitas guitarrinhas distorcidas e teclados. Não é uma trilha que esbanja qualidade — como a de Streets of Rage, por exemplo — mas até que funciona, dentro da proposta.

Conclusão

Eu usei muito a palavra “simples” para descrever Eight Dragons, mas na verdade ele está mais para um jogo simplório: nada do que ele faz é minimamente criativo ou divertido. O jogo não tenta inovar em absolutamente nada, e entrega uma pancadaria sem graça, sem nenhum tempero.

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Destaque para o nome do estabelecimento: Final Flight

Acho que o aspecto mais interessante dele — que eu nem pude testar — é o cooperativo local para 8 jogadores, recurso que só está disponível nos PCs. Nos consoles, acredito que ele aceite multiplayer local para até 4 jogadores, mas acabei não testando por motivos de pandemia.

O fato é: nos últimos anos, o gênero beat ‘em up teve um revival muito significativo. Grandes franquias retornaram, novas IPs surgiram, então há pancadaria disponível em todas as plataformas. Então, busque um jogo mais decente e divertido, pois não faltam opções melhores.

Eight Dragons está disponível para PC, PS4, PS5, XOne, Series X|S (versão analisada) e Nintendo Switch.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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