Análise Arkade: Elden Ring: Shadow of the Erdtree é uma DLC que mais parece uma sequência
A muito aguardada DLC Shadow of the Erdtree já está entre nós há um bom tempo. Demorou, mas finalmente vamos conversar sobre o que achamos desse retorno para Elden Ring, que entrega muito mais do que prometia, e mais uma vez levantou o debate sobre dificuldade nos games!
DLC só no nome, pois é um verdadeiro novo game completo
Antes do lançamento de Shadow of the Erdtree, Hidetaka Miyazaki, criador do game, chegou a dizer que o mapa da DLC tinha um tamanho comparável ao de Limgrave, a área inicial de Elden Ring, incluindo sua parte sul, a Península das Lágrimas. E que o game teria 10 bosses. Pois bem, ele mentiu.
As Terras das Sombras, local em que a DLC acontece, é quase do tamanho de Liurnia dos Lagos, a maior área aberta de Elden Ring, e é maior que o Platô de Altus, local em que está localizada Leyndell, a capital das Terras Intermédias. Isso sem mencionar que há muita verticalidade no Reino das Sombras, inclusive uma imensa área subterrânea opcional!
Shadow of the Erdtree possui 10 chefões principais, ou “Chefões de Lembranças”, por droparem Lembranças, item usado para adquirir armas e magias de bosses. Mas se contarmos todos os chefões de dungeons, de mundo aberto e inimigos únicos que oferecem desafio alto e não ressuscitam ao se descansar em locais de graça (incluindo NPCs hostis), a DLC tem um total de 80 bosses!
A quantidade de conteúdos entregues em Shadow of the Erdtree é imensa, com novos tipos de armas, muitas novas magias e armaduras, muito lore complementando a história do game base e, principalmente, um nível de dificuldade bem, mas bem alto (se você não aprender as “regras” da DLC!
Uma crítica que a DLC recebeu, porém, é o reuso de inimigos do game base. Como por exemplo Dragões, Pássaro da Morte e alguns poucos outros chefões. Além de repetição de chefões novos, como os Hipopótamos e Golens da Fornalha (ambos aparecem nos trailers), que são encontrados em múltiplos lugares.
Se levarmos em conta a quantidade total de chefões, e que muitos desses inimigos repetidos ganharam novos ataques, além de estarem consideravelmente mais fortes, essa repetição, apesar de aparente, não chega a ser muito incômoda. Ela chega até a ser um “teste de humildade”, por assim dizer, pois ao ver um chefão que você hoje consegue derrotar com extrema facilidade, e ser feito de saco de pancada por suas novas versões, aí você vê que Shadow of the Erdtree realmente não está de brincadeira!
Enfim conhecendo Miquella, o Bondoso
No game base, Miquela, o Bondoso é um personagem que jamais conhecemos, apenas ouvimos falar através da descrição de itens, que montam o seu lore. O único momento em que o encontramos em pessoa é na arena do chefão Mohg, Lorde do Sangue, na forma de um enorme e ressecado braço ensanguentado pendendo de dentro de um casulo.
E justamente esse braço é a porta de entrada para a DLC. Diferente dos games da série Dark Souls e de Bloodborne, você não precisa de nenhum item para entrar na DLC, basta cumprir apenas dois requisitos: Derrotar Radahn, o Flagelo das Estrelas e o próprio Mohg. Feito isso, o caminho da DLC está livre.
No Reino das Sombras então conhecemos um novo grupo de NPCs que viajou ao local seguindo os passos de Miquella, que viajou para lá com o objetivo de tornar-se um deus. Assim, aquele corpo ressecado, que realmente é de Miquella, na verdade é como se fosse apenas uma casca. O próprio Miquella está no Reino das Sombras, deixando rastros de sua caminhada na forma de cruzes de luz, que guiam o jogador e os NPCs em direção ao misterioso semideus.
E falando em semideuses, a Terra das Sombras é lar de um semideus incrivelmente poderoso, Messmer, o Impalador, irmão de Miquella e Malenia, que está nesse local há eras cumprindo o desejo de sua mãe, a Rainha Marika, de expurgar aquele local dos Enviados do Chifre, que opõem-se à Ordem Dourada.
Explicar mais do que isso seria entrar no campo dos spoilers. E levando em conta que grande parte do apelo dos games da From Software, especialmente de Elden Ring, é que o jogador descubra o lore por conta própria e tire suas próprias conclusões, falar mais que isso pode estragar a experiência, caso você ainda não tenha jogado a DLC.
Porém, posso dizer que o lore apresentado em Shadow of the Erdtree é incrível, e até mesmo um pouco controverso, com um enorme plot twist em seu final que pegou os fãs em geral desprevenidos. Pessoalmente, gostei muito do lore, e das consequências de tudo o que vemos ali, mas há jogadores que não gostaram muito do que viram. Se você jogar a DLC (e conseguir fugir de spoilers sobre seu chefão final, o que é quase impossível atualmente), poderá tirar suas próprias conclusões!
O velho e cansado debate da dificuldade dos games
Elden Ring: Shadow of the Erdtree recebe os jogadores do jeito que qualquer fã de Souls-like deseja: Te espancando até a morte. Literalmente o primeiro inimigo que você encontra na DLC já deixa bem claro que você vai encontrar muitas mortes ali. E a DLC ainda faz algo incrível: ela pega toda a sua experiência com o game base e o nível do seu personagem, e simplesmente faz você sentir como se estivesse recomeçando o game do zero, com um personagem novo.
Todos os inimigos da DLC, sem exceção, são muito mais fortes que os inimigos do game base, além de serem mais resistentes. Os chefões então nem se fala. Quase todos conseguem te matar com apenas um ou dois ataques. Mas, há um truque aqui para parar de sofrer tanto, e um que o game explicitamente explica assim que você descansa no primeiro local de graça das Terras das Sombras: Busque os fragmentos da Umbrarvore e as Cinzas Reverenciadas.
Espalhados por todo o mapa estão os dois itens citados acima, que servem para fortalecer seu personagem dentro do Reino das Sombras. Os fragmentos da Umbrarvore são usados para aumentar seu poder de ataque e resistência à dano. Já as Cinzas Reverenciadas aumentam o dano causado e resistência de todas as suas cinzas espirituais e do corcel espectral Torrent.
Assim, dentro da DLC, além de subir de nível utilizando runas, você deve procurar esses dois itens para fortalecer-se do jeito certo, diminuindo o seus sofrimentos para os inimigos da Terra das Sombras. Uma coisa a se levar em conta é que os fragmentos da Umbrarvore e as Cinzas Reverenciadas só possuem efeito dentro da área da DLC. Se você voltar para as Terras Intermédias, seus efeitos são desativados, e você dependerá somente no nível de seu personagem para ganhar poder.
Shadow of the Erdtree tem um nível de dificuldade incrivelmente elevado, levando muita gente a levantar novamente o debate de que Elden Ring deveria oferecer diferentes níveis de dificuldade, que ele é tão difícil que chega a ser ruim e etc. Como sempre, esse é um debate complexo, que não pode ser debatido olhando apenas para um dos lados. Mas, especificamente ao se falar de um Souls-like, é muito difícil não pender para uma direção, e essa direção é: Os games da Fromsoftware são feitos para serem difíceis. Esse é o ponto!
O próprio Hidetaka Miyazaki comentou que a DLC tem um nível elevado de dificuldade pois é isso o que os fãs esperam, e que ele valoriza a criação de algo para um nicho específico ao invés de diluir suas características em prol de atingir uma audiência maior. Isso é também outro assunto para longos debates, especialmente ao colocar a parte industrial dos video games na balança, o que, como vemos muito bem recentemente, tem causado um verdadeiro colapso, com milhares de demissões e estúdios sendo fechados puramente por causa de números.
Nem todo estúdio tem a possibilidade de arriscar-se desse jeito, de focar em um nicho específico. Felizmente, a Fromsoftware tem essa possibilidade, e foi isso o que ela fez. Elden Ring já é, em comparação com Dark Souls, Bloodborne e Sekiro, mais acessível, oferecendo muitos recursos que tornam a jornada dos jogadores um pouquinho menos penosa, mas sempre mantendo-se difícil.
Se Shadow of the Erdtree fosse fácil, não estaria recebendo os elogios que vem recebendo. As críticas, como todo Souls-like lançado, são de certa forma um “subproduto” de seu sucesso. O que temos aqui é um produto feito para um público específico, mas que não se limita a ele. Qualquer um pode entrar nesse mundo e encarar seus desafios. O ponto é, você precisa encarar esses desafios, do contrário qual é o sentido?
Um novo show de imagens e sons
Como esta análise trata-se de uma expansão, não faz sentido focar em explicar se os gráficos são ou ruins, pois já falamos disso em nossa análise de Elden Ring de dois anos atrás. Mas não há como não mencionar que as Terra das Sombras são incrivelmente belas. Já ao entrar na DLC somos recebidos com a gigantesca Umbrarvore a distância, lançando seus véus de sombras por todos os lados enquanto sua seiva dourada escorre por seus dois troncos retorcidos. E logo de cara já podemos ver o primeiro Golem da Fornalha caminhando ao longe, como um aviso de que você chegou um local que vai te proporcionar muito sofrimento!
Como mencionado, dizer que a Terra das Sombras é comparável a Limgrave é completamente incorreto. Esse novo local é dividido em vários biomas diferentes. Temos planícies abertas enormes, com suas lápides espectrais. Vales com cachoeiras e lagos belíssimos. Planaltos cheios de vida e perigos, e é claro, pântanos envenenados, que não podem faltar em nenhum game de Miyazaki.
A arquitetura do lugar também é magnífica. A Terra das Sombras é formada principalmente por ruínas, e ao explorá-las é possível entender a “história” daquele local, principalmente ao rever o trailer cinematográfico da DLC, em que vemos os locais destruídos por Messmer, o Empalador. E há ainda as enormes Legacy Dungeons, especial o Forte das Sombras, a cidade de Belurat e a Torre de Enim-Ilim, os três principais locais dessa DLC.
A trilha sonora, como sempre, é magnífica. As músicas novas adicionadas figuram entre as melhores de todo o game, dignas de entrarem em playlists e serem ouvidas no celular. Dou destaque especial a cinco músicas: O tema da “Fera Divina, Leão Dançante”, o tema de Messmer, o tema de Romina, o tema de Rellana e sem dúvida alguma o tema do chefão final da DLC, que agora assume o posto de chefão mais difícil de Elden Ring, fazendo até Malenia parecer “fácil”.
Conclusão
Elden Ring: Shadow of the Erdtree era tudo o que eu desejava: Uma DLC enorme, que nem parece DLC mas sim um game completo (com um mapa que me parece até ser maior que o do Primeiro Dark Souls e talvez até do que Dark Souls III). Um nível de dificuldade muito maior que o game base. Muito lore para ser descoberto. E chefões realmente memoráveis, que me proporcionaram lutas incrivelmente intensas.
O melhor de tudo dessa DLC é que ela entrega aquilo que o nicho de fãs dos games da From Software deseja: Desafio alto, muitas mortes, e recompensas valiosas ao finalmente derrotar um chefão que tomou incontáveis tentativas até finalmente cair.
Estranhamente, mesmo com Elden Ring agora enfim completo, já que Shadow of the Erdtree será sua única DLC, Hidetaka Miyazaki comentou que o game ainda não atingiu o nível de qualidade e escala que ele deseja. Segundo o próprio, Elden Ring chegou próximo, mas ainda não chegou lá. Provavelmente Elden Ring não receba uma sequência, dado o formado fechado de sua história. Mas sempre há a possibilidade. O que tenho certeza, porém, é que o próximo Soul da From Software, que ainda nem existe, já promete muito!
Elden Ring: Shadow of the Erdtree está disponível para PC, Playstation 4, Playstation 5, Xbox One e Xbox Series X/S.