Análise Arkade – Emio: The Smiling Man – Famicom Detective Club, uma visual novel tenebrosa

13 de setembro de 2024
Análise Arkade - Emio: The Smiling Man - Famicom Detective Club, uma visual novel tenebrosa

Se você gosta de visual novels, prepare-se para uma história de investigação de gelar os ossos com Emio: The Smiling Man, mais novo episódio da série Famicom Detective Club!

Confesso que não joguei os dois primeiros games da série Famicom Detective Club. Na verdade, foi para escrever esta análise que descobri que a série nasceu lá no final dos anos 80, para o saudoso Nintendinho/Famicom/NES. Aliás, é curioso ver a Nintendo publicando títulos exclusivos que não são “family friendly”, não acha?

Em 2021, ambos os jogos do Famicom receberam remakes para o Nintendo Switch. Emio: The Smiling Man, chega para ser o novo capítulo de uma trilogia que, embora tenha certos elementos que conectam os três jogos, funciona de forma independente.

O homem sorridente

O jogo nos coloca na pele de um jovem detetive assistente da Utsugi Detective Agency, que é chamada pela polícia para investigar um assassinato misterioso: um estudante foi encontrado morto, com uma sacola de papel cobrindo sua cabeça. Desenhado na sacola, um hediondo rosto sorridente.

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O crime se conecta com a lenda urbana do Homem Sorridente, assassino que prometia às suas vítimas que elas iriam sorrir para sempre antes de estrangulá-las e colocar sobre suas cabeças a sacola de papelão característica. Mais preocupante, porém, é que este modus operandi lembra muito o de um criminoso que, 18 anos antes, tirou a vida de algumas jovens e jamais foi pego.

Há sutis diferenças entre os crimes, porém: as vítimas anteriores eram todas garotas, desta vez é um rapaz. E, enquanto os estrangulamentos passados foram feitos “na mão”, o crime atual foi cometido com algum tipo de corda. Seria o mesmo sujeito, ou algum imitador copiando seus métodos? O Homem Sorridente é apenas um assassino, ou algum tipo de figura sobrenatural?

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É nesse clima macabro onde crimes reais ganham contornos sobrenaturais e passado e presente se misturam, que a trama de Emio: The Smiling Man começa. Nosso objetivo, obviamente, é desvendar o mistério.

Não é bem um jogo de investigação

Apesar do tom de mistério e da temática, se você pensa que Emio: The Smiling Man vai lhe permitir encarnar o Sherlock Holmes que existe em você, nivele suas expectativas. A verdade é que ele não é bem um game investigativo, mas uma visual novel sobre detetives fazendo seu trabalho.

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Qual a diferença? Para começar, não estaremos ativamente elaborando hipóteses nem apontando culpados, como em um Danganronpa da vida. Não há grandes consequências narrativas nem múltiplos finais: a história que vamos ver é aquela que os roteiristas querem que a gente veja.

Isso não é exatamente um problema. Muito pelo contrário: o roteiro de Emio: The Smiling Man é muito envolvente, e sua narrativa possui boas reviravoltas e revelações. Porém, a gente não tem um papel tão ativo em termos de investigação: vamos basicamente seguir o script para acompanhar o desenrolar da história.

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Claro que vamos interrogar suspeitos, visitar cenas de crimes e coletar informações. Mas, não é como se eu pudesse chegar a uma conclusão A e você a uma conclusão B. Vamos ligar os mesmos pontos, que levam a trama até uma mesma conclusão.

Não falo isso como um demérito: mesmo não sendo um grande conhecedor de visual novels, sei que o principal mérito do gênero está em combinar um roteiro envolvente com personagens interessantes e bem construídos. E, nessas áreas, Emio: The Smiling Man brilha.

Conversando e anotando

Boa parte do nosso trabalho em Emio: The Smiling Man é conversar com outros personagens. Isso não só aprofunda nossas relações com eles, como também pode nos fornecer pistas valiosas.

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Ainda que o jogo tenha sua parcela de conversas inúteis, o diálogo é nosso maior aliado. Conforme uma conversa se desenrola, novas opções de perguntas podem surgir, o que pode render ainda mais informações relevantes.

Ainda que “conversar com NPCs” não seja a atividade mais empolgante do mundo, o game está repleto de personagens interessantes, misteriosos e carismáticos para conversarmos. E, como quase toda conversa pode trazer novos insights, a simples ânsia por respostas é o que nos mantém engajados.

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Como a memória sempre pode fraquejar, Emio: The Smiling Man traz um bem-vindo sistema de anotações. Tudo o que nosso personagem ver/ouvir de relevante vira automaticamente uma anotação em um caderninho. Consultar essas anotações é uma mão na roda para estar com os dados pertinentes sempre frescos.

Audiovisual

Não há muito o que dizer em termos de audiovisual. Emio: The Smiling Man tem aquela “cara de anime” que é comum em visual novels. Mas, é um anime com alto valor de produção, com character design caprichado e muita atenção aos detalhes.

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A trilha sonora é bastante sutil, talvez para conceder um pouco mais de realismo. A única opção de dublagem é a japonesa e, ainda que isso conceda personalidade e autenticidade aos personagens, é um idioma desconhecido para a grande maioria de nós.

De fato, a maior escorregada do game, infelizmente, é a falta de localização. A escassez de opções de idiomas é bastante restritiva: as vozes estão em japonês, e, sem nada localizado para o português brasileiro, você vai precisar se virar com legendas em inglês ou espanhol. Considerando que 99% da experiência é puro diálogo, não há como recomendar o jogo para quem não tem nível avançado de conhecimento em outro idioma.

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Novamente, questiono as decisões da Nintendo, que localiza remakes que quase não tem diálogo, e “esquece” de traduzir jogos onde a história é densa e realmente precisa ser compreendida.

Conclusão

Emio: The Smiling Man é uma boa visual novel de suspense e investigação, com pitadas de terror. A trama principal se ramifica por diversos caminhos, e logo não estaremos apenas investigando o crime atual, mas também os crimes que ocorreram há 18 anos e a própria origem da lenda urbana do Homem Sorridente.

Este não é o jogo que vai me fazer gostar de visual novels… mas é uma visual novel que eu gostei de experimentar, pois sua rica e misteriosa história conseguiu me fisgar desde os primeiros minutos.

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Dito isso, é uma experiência que pode ficar cansativa para quem não está familiarizado com o gênero. Além disso, a falta de localização denota um descaso com acessibilidade, uma vez que levanta uma barreira idiomática intransponível para quem não está com o inglês (ou o japonês) em dia.

O lado bom é que o jogo tem uma demo gratuita disponível, e você pode carregar seu progresso para o jogo final. Experimente e tire suas conclusões.

Emio: The Smiling Man – Famicom Detective Club está disponível exclusivamente para Nintendo Switch.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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