Análise Arkade: Empire of the Ants tem criatividade, mas com limitações
Mesmo que a gente canse de falar que a indústria de games vem cada vez mais caindo num marasmo complicado de mesmices e relançamentos eternos, é fato que temos pérolas incríveis para além dos famigerados ‘triple A’ perdidos por aí. Empire of the Ants pode ser, sem dúvidas, uma dessas pérolas que pode passar despercebido por muitas pessoas.
Empire of the Ants é um jogo bem “fora da caixinha” se compararmos a outros do seu gênero. Afinal, estamos falando de um jogo de estratégia em tempo real aqui, os clássicos RTS que ficaram famosos nos anos 2000. Mas no jogo da desenvolvedora independente Tower Five, você vai quase esquecer que estamos jogando um RTS. E nesse caso específico, isso é ótimo! Vamos explorar mais esse game nessa review completa.
E então a primavera começa…
Empire of the Ants é um jogo de estratégia em tempo real no qual você assume o papel de uma formiga operária em um formigueiro que acabou de acordar após um longo inverno. Iniciada a primavera, as formiga precisam sair para mapear a região, encontrar comida, lidar com animais adversários e se reconectar com outros formigueiros da colônia. Tudo isso é vivido por nós jogadores de um modo muito orgânico e, pasmem, divertido.
Na história (sim, temos um modo história no jogo), nós lidamos com diversas demandas do nosso formigueiro junto com aliadas para nos organizar para a recém chegada primavera. Porém as coisas começam a se complicar quando nossa rainha nos envia para um formigueiro próximo, o qual acabou sendo isolado por um alagamento. Daí pra frente, vivemos diversas situações inusitadas que simulam a vida de uma pequena formiga num mundo cheio de desafios.
Desafios aqui não faltam, embora o nível de dificuldade do jogo não seja tão grande assim. Mas em termos de tarefas, temos até bastante coisa pra fazer enquanto perambulamos pra lá e pra cá. Desde mapear terrenos e encontrar objetos específicos até comandar batalhões em combates contra espécies adversárias. Passando inclusive por momentos mais stealth onde precisamos nos esconder de aranhas e outras ameaças.
Tudo isso se apresenta em Empire of the Ants com um visual impecável e repleto de detalhes que, mesmo assim, consegue ser absolutamente leve e não pesa em nada seja num PC, no Steam Deck ou nos consoles. A riqueza de detalhes e efeitos de luz e sombra do jogo só fazem a experiência de controlar a pequena formiga muito mais imersiva.
Um RTS completamente não convencional
Importante comentar também que Empire of the Ants definitivamente não é um RTS tradicional. Se tratando de mecânicas de jogo, a galera da Tower Five saiu completamente da caixinha aqui. Nada de visão isométrica fixa com controle de unidades baseada no clique de um cursor. Na verdade, a maior parte do jogo é jogado em terceira pessoa, com no máximo a possibilidade de afastarmos um pouco a câmera da nossa formiguinha protagonista.
Para controlar os batalhões, o ideal é que encontremos um local mais alto que nos dê visão de todo o cenário próximo e, de lá, comandarmos nossas unidades. Isso por si só já explodiria muitas cabeças da galera mais aficcionada pelo gênero. Afinal, imaginem um Age of Mythology no qual você tem a visão em terceira pessoa do Arkantos e precisa comandar suas unidades a distância? Além disso, comandos como melhorias de unidade e aumento da defesa do formigueiro são todos feitos “na mão” enquanto controlamos nossa formiga principal.
Já os combates em si giram em torno de uma tríade de fraquezas bem interessante, mesmo que básica. Operárias tem vantagem contra atiradoras que, por sua vez, possuem vantagem contra guerreiras que, consequentemente, obliteram as operárias. Com essa tríade em mente, precisamos coordernar da maneira ideal nossos batalhões, levando em consideração deslocamento e o próprio cenário para obter vantagem nos combates.
Tudo isso faz de Empire of the Ants um RTS completamente diferente de tudo que já experimentei antes. E olha que a minha bagagem nesse gênero não é escassa de títulos desconhecidos. Mas mesmo assim, esse game me surpreendeu de diversas maneiras. Claro que os combates são bem mais básicos do que outros games do gênero, mas a experiência como um todo se torna muito inovadora e satisfatória por conta de toda essa criatividade envolvida no desenvolvimento do game.
Muito além de só um jogo de estratégia
Pois é, Empire of the Ants é tão fora da caixinha no que se refere a jogos de estratégia em tempo real que até podemos considerar que ele “esbarra” constantemente em outros gêneros aqui e ali. O mais óbvio talvez seja o gênero da simulação, já que o game é praticamente um “formiga simulator” e não me entendam mal quando digo isso: é fantástico! Mas não só com a simulação que o jogo se confunde aqui e ali.
Outro gênero que consigo observar bastante em alguns momentos da jogatina de Empire of the Ants é, sem dúvidas, o plataforma 3D. Isso porque uma das mecânicas que aprendemos primeiro no jogo é justamente o salto. Além disso, superfícies com água são basicamente morte certa para a nossa pequena formiguinha. Por isso, existem momentos durante a jogatina que precisamos superar obstáculos saltando e escalando de maneiras criativas e até não convencionais.
Digo não convencionais pois, como uma boa formiga que somos, andamos nas superfícies mais diferentes possíveis e das maneiras mais variadas também! Desde um fino caule de uma flor até o interior de um pneu meio submerso, passando por troncos ocos, folhas de trevos e pequenas pedrinhas. Tudo em nosso caminho pode ser um obstáculo ou uma saída para os desafios geográficos que o game proporciona, seja na direção tradicional ou de ponta cabeça.
Todas essas mecânicas combinadas fazem Empire of the Ants ser um jogo muito singular, sendo até difícil encaixá-lo plenamente em um único gênero. O problema vem justamente da identificação com o público. Por conta de ter tantas mecânicas diferentes combinadas e pensar tanto de maneira não convencional, ele pode cativar os mais ávidos por novidades, mas também desanimar aqueles que chegam no game por conta de um gênero ou outro.
Algumas barreiras bem visíveis
Aqui entramos em talvez um dos únicos pontos de fato negativos do game. Afinal Empire of the Ants é um jogo de formigas que não possui alguns dos recursos de gameplay mais esperados para um jogo de formigas. O mais decepcionante pra mim é, sem dúvidas, o fato de não podermos transitar livremente por dentro de formigueiros. Com o nível de detalhismo que os cenários do game possuem, é bem broxante chegar na entrada do enorme ninho das formigas e se deparar com uma parede invisível.
Em alguns momentos específicos da história do game nós entramos de fato no formigueiro. Mas nada com uma exploração livre e andanças pelos diversos túneis e andares. Na verdade só temos algumas breves ceninhas conversando com a rainha do formigueiro ou outras formigas de maior importância. Nada nem perto do que se espera de um “simulador de formiga”.
Com isso, temos também alguns outros deslizes do ponto de vista de RTS. Não temos tanta gestão de recursos assim. Embora tenhamos alguns, estes são bem simples e não precisamos nos dedicar prontamente a coleta deles em específico. Isso torna a gestão do formigueiro em si algo muito mais automático do que um fator mais personalizado de acordo com a nossa estratégia. O mesmo vale para recursos do ambiente que possuem mais função narrativa para a história em si do que para a jogatina.
Tudo isso faz o jogo se tornar limitado demais em alguns aspectos que talvez fossem cruciais para ele chamar mais atenção do grande público. A experiência em si não chega nem perto de ser ruim, muito pelo contrário: jogar Empire of the Ants é muito divertido e imersivo. Mas não demora muito para você se dar conta das limitações de gameplay do jogo, mesmo com toda a criatividade envolvida nele.
Empire of the Ants não é para todos
Empire of the Ants é um excelente jogo que demonstra claramente como a indústria de jogos ainda consegue inovar e pensar fora da caixinha, basta o investimento nos projetos certos. Do apelo estético às mecânicas de jogo, tudo aqui possui uma aura de inovação e criatividade que torna a experiência como um todo muito divertida e gratificante. Porém, vale o aviso óbvio de que esse título não vai agradar a todos.
O próprio gênero RTS já é bem nichado atualmente. E com Empire of the Ants ainda temos alguns agravantes extras para talvez aumentar esse efeito de nicho. A mistureba de gêneros que eu particularmente achei fantástica pode afastar alguns jogadores, ao mesmo tempo que a temática mais “Discovery Channel” do realismo envolvido no “formiga simulator” igualmente pode ser outro aspecto que isola o título. Mas se você procura um jogo que de faz sair do padrão de games que você está acostumado, esse aqui sem dúvidas é pedida certa!
Empire of the Ants foi lançado no dia 7 de novembro de 2024 e está disponível para PCs (via Steam), PlayStation 5, PlayStation 5, Xbox Series, Xbox One e Nintendo Switch.