Análise Arkade: caçando orcs gigantes em Extinction
Os produtores de Killer Instinct decidiram criar um game que mistura ideias de Shadow of the Colossus e Attack on Titan, trocando colossos e titãs por orcs gigantes. Será que essa mistura deu certo? Vamos descobrir!
Um mundo em crise
Extinction se passa em um mundo fantástico que está sendo dizimado por uma terrível ameaça: os Raveni, orcs de proporções titânicas que parecem querer matar, esmagar e destruir cada ser humano, cidade e vilarejo que encontrarem.
A única esperança dos pobres humanos reside na figura de Avil, último guerreiro de uma linhagem de Sentinelas que dedicaram suas vidas à arte de caçar Ravenis. Munido de uma espada, um grappling hook e muita agilidade, ele terá que (literalmente) escalar estes orcs gigantescos para arrancar-lhes a cabeça.
Enquanto Avil assume a linha de frente das defesas — salvando aldeões, protegendo vilarejos e eliminando Ravenis e seus lacaios menores — sua parceira Xandra busca uma forma de levar as pessoas para longe dos monstros. Juntos, Avil e Xandra irão arriscar suas vidas para salvar o máximo possível de civis da fúria dos Raveni.
Extinction tinha tudo para ter uma história empolgante e cinematográfica, mas infelizmente não é isso o que acontece. Salvo algumas poucas cenas animadas, a maior parte da narrativa é desenvolvida mais ou menos assim:
Pois é, acompanhamos diálogos entre “figurinhas” dos personagens entre uma missão e outra, algo que é considero bastante anticlimático, e me deixa com a nítida impressão de que a história em si foi feita “em cima da hora”, tornando os acontecimentos da campanha bem menos emocionantes. Mortes, encontros e desencontros são apresentados exatamente como no vídeo acima, através de diálogos e caixinhas de texto. A campanha acaba nem parecendo uma campanha, mas uma série de estágios tipo arcade ligados por um fiapo de narrativa.
Sendo justo: não é um roteiro ruim — até tem um plot twist bacana –, só é desenvolvido de forma preguiçosa, bem diferente daquele primeiro trailer em CG que criou algum hype. Extinction traz uma história dramática de sobrevivência e superação perante uma ameaça colossal, mas nos conta essa história de um jeito absolutamente sem graça. Uma pena, pois tinha potencial.
Decapitando orcs gigantes
O gameplay de Extinction concede ao jogador um ótimo controle das habilidades de combate acrobáticas de Avil: o guerreiro move-se com graça e leveza, podendo correr, saltar, escalar e usar seu chicote para lançar-se para o alto — mais ou menos como fazem os personagens de Attack on Titan. A mobilidade do personagem é ótima, uma versão turbinada de Prince of Persia que torna a navegação muito dinâmica.
Os Raveni são tipo o Highlander — só morrem quando sua cabeça é cortada. Porém, Avil precisa acumular poder para desferir o golpe fatal na nuca dos monstros. Seu medidor de energia rúnica é preenchido conforme ele salva civis, elimina inimigos menores e/ou destrói partes de armadura dos Ravenis para poder desmembrá-los, o que facilita um pouco as coisas.
Confira abaixo um pouco de gameplay, com direito a 2 Ravenis mortos:
Parece bem legal, né? E sendo justo, é legal, sim. Desmembrar e decapitar os Raveni é divertido e empolgante… mas a matança perde boa parte do seu apelo quando a gente percebe que Extinction não tem muito além disso a oferecer, e apoia-se em uma mesma fórmula por toda sua duração.
Um ciclo de repetição
Sabe o vídeo que você viu ali em cima? Pois é, em 2 minutos, ele mostra praticamente tudo o que há para se fazer neste jogo: você irá salvar civis, eliminar monstrinhos menores, destruir armaduras e decapitar Ravenis… de novo e de novo, até não aguentar mais. A campanha de Extinction durou pouco mais de 11 horas para mim, mas em 45 minutos de jogo, é possível ver praticamente tudo o que ele tem a oferecer.
Todas as missões da campanha giram em torno de três ou quatro objetivos genéricos, tipo “mate X Raveni“, “salve X civis” ou “proteja as torres de vigia por X minutos”. Você não tem limite de vidas, mas falhará caso o nível de extinção (aka o percentual de destruição dos monstros) chegue a 0, ou não cumpra o objetivo principal da fase.
O jogo é tão carente de conteúdo que mais da metade das missões são meio que procedurais: há um objetivo principal fixo, mas desafios secundários e até mesmo o tipo de mapa são definidos por uma “roleta”. Nada contra jogos procedurais, mas neste caso é forte a sensação de que adotaram este formato simplesmente para “inchar” a campanha.
Essa geração procedural só enaltece o ciclo de repetição do jogo: você sempre vai ter que matar X Raveni, ou salvar X civis. O que muda é que os Raveni passam a usar armaduras mais poderosas, que precisam de mais golpes para quebrar, ou possuem pontos fracos específicos — há até algumas armaduras que sequer podemos destruir –, o que gera batalhas mais longas, não necessariamente mais divertidas.
Se pensarmos bem, Shadow of the Colossus também é meio que a mesma coisa o jogo todo, mas lá, cada monstro é único, e demanda uma estratégia completamente diferente dos demais.
Aqui não há essa variedade: ainda que o herói conte com combos e sequências de golpes bacanas, só há um tipo de ataque capaz de destruir armaduras e desmembrar os monstrengos, de modo que o “modus operandi” para dar cabo dos bichos se repete mais do que deveria. Todos os Raveni são essencialmente iguais, e são vencidos da mesma maneira.
Audiovisual
Extinction entrega um visual de fantasia bastante estilizado e cheio de personalidade. O design não chega a variar muito, ainda que eles cheguem com diferentes cores e indumentárias. As telas de loading tentam agregar um lore, falando sobre as diferentes espécies de Raveni, mas a verdade é que, na prática, o que muda é mais a armadura do que o bicho dentro dela.
As animações no geral são boas, com destaque para a mobilidade de Avil, que é praticamente um ginasta no que tange a movimentação, ainda que se prenda aos mesmos golpes e combos na hora do combate. Não há sequer animações de golpes especiais diferentes, então prepare-se para rever (muitas vezes) o ataque rúnico do herói partindo armaduras, membros e pescoços.
Vez ou outra alguns acontecimentos da história são mostrados em forma de cenas animadas, e o estilo destas animações me faz acreditar que Extinction daria uma boa série de animação para TV, daquelas pra gente assistir sábado de manhã no SBT. Assista uma destas cutscenes abaixo:
Só não se empolgue muito porque, como já dito, a maior parte da história é desenvolvida através de diálogos extremamente sem graça, essas animações são bem raras. Ainda que traga boas dublagens em inglês, a forma como a história é contada decepciona. Vale ressaltar que Extinction traz menus e legendas em português brasileiro, e uma trilha sonora cheia de tambores que casa muito bem com a proposta do game.
Conclusão
Extinction parte de um conceito muito interessante, mas desperdiça seu potencial em uma campanha longa, repetitiva e sem conteúdo. Há Desafios Diários e mais dois outros modos de jogo — mas considerando que eu já estava de saco cheio da repetição da campanha, não me vejo caçando os mesmos monstros e protegendo torres em outros modos de jogo simplesmente para aparecer em leaderboards.
Não sei se faltou tempo ou dinheiro (ou ambos), mas Extinction poderia ser muito maior e melhor se tivesse mais conteúdo — outros tipos de missões, outros golpes, outros objetivos. Do jeito que está, ele é uma sucessão de fases genéricas com objetivos parecidos que é divertido ali nas primeiras 2 ou 3 horas, mas logo fica chato.
Nunca pensei que me veria entediado com um game onde caçamos e desmembramos monstros gigantes, mas a verdade é que Extinction nos obriga a fazer TANTO isso, que a magia se perde. E como não há muito além disso, o que fica é um jogo cheio de potencial, mas com pouquíssima substância.
Extinction está sendo lançado hoje, com versões para PC, Playstation 4 e Xbox One. Este review foi feito em um Xbox One X, em uma cópia que recebemos antecipadamente da distribuidora para fins de análise.