Análise Arkade: F.I.S.T. Forged in Shadow Torch, um grande (até demais) MetroidVania

16 de setembro de 2021
Análise Arkade: F.I.S.T. Forged in Shadow Torch, um grande (até demais) MetroidVania

Certos jogos chamam a atenção da gente já de cara. É o caso de F.I.S.T. Forged in Shadow Torch, que a gente vem acompanhando aqui no site há anos.

Nem sei dizer porque esse jogo me deixou tão animado, na real, Não é como se faltassem MetroidVanias no mundo dos games atualmente. Mas, esse aqui parecia algo mais: sua estética, seu sistema de combate, seu visual incrível… tudo dava a entender que estávamos diante de algo especial.

Após alguns anos de espera, o jogo enfim foi lançado no último dia 7 de setembro, e eu tive a oportunidade de jogá-lo. E, olha, o que posso dizer é: F.I.S.T. Forged in Shadow Torch é um grande jogo. Talvez grande até demais…

O coelho e o McGuffin

F.I.S.T. Forged in Shadow Torch nos apresenta a Rayton, coelho badass que é um veterano de guerra, que tentava viver pacificamente depois que os “furtizens”, as criaturas antropomorfizadas de Torch City, perderam a guerra para os Iron Dogs.

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Quando a gangue robótica que controla a cidade sequestra seu amigo Urso, Ray percebe que é hora de voltar à ação. Seu antigo traje de combate não é mais funcional, mas ele se vira como dá: acoplando apenas o enorme punho de seu antigo mecha de combate às suas costas, ele vai descobrir na marra o que está acontecendo.

A história, obviamente, vai muito além do resgate ao seu amigo peludo: conforme a narrativa avança, Ray vai acabar envolvido em um conflito que acontece nas entrelinhas de Torch City. Com cães robóticos dominando a superfície, um enorme exército de ratos se formou pelos esgotos da cidade.

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Essas facções rivais estão atrás de uma pedra de imenso poder. Obviamente, não vai ser bom que nenhum deles tenha acesso a este poder, então Ray vai ter que se envolver na treta a fim de garantir que a relíquia não caia em mãos erradas.

A história de F.I.S.T. Forged in Shadow Torch abusa de um recurso que, na ficção, é conhecido como McGuffin — um artefato qualquer que é cobiçado por todos e que vai, invariavelmente colocar heróis e vilões em conflito para mover a história adiante. Tipo o Santo Graal do Indiana Jones, sabe?

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Isso não é um problema específico deste jogo, mas, é fato que F.I.S.T. se leva a sério até demais. Tudo é muito sisudo, militarizado, até para (creio eu), preservar a imagem de durão do protagonista. O fato é: já vi MetroidVanias com bem menos diálogos contarem histórias bem mais interessantes.

Pancadaria e exploração

E já que falamos em bons MetroidVanias, deixa eu dizer logo aqui que, até certo ponto, F.I.S.T. Forged in Shadow Torch é um dos melhores que já joguei, especialmente por fazer bem tanto a parte de exploração quanto o combate. Nesse ponto, ele até lembra Guacamelee, que é, sem exagero, um dos melhores representantes do gênero.

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Mecanicamente, F.I.S.T. Forged in Shadow Torch é um delícia: a movimentação é fluída e responsiva como tem de ser. Ray é ágil e, conforme avançamos, vai ganhando novas possibilidades de mobilidade que deixam o gameplay ainda mais divertido. O jogo inclusive oferece uma “dungeon” com desafios puramente de plataforma que testa as habilidades do jogador e é maravilhosa olha só:

Não é só o ato de ir e vir que é bom, o combate de F.I.S.T. também é muito satisfatório, com boas opções de combos e ataques que realmente nos permitem sentir o “peso” de cada pancada e algumas boss battles bastante desafiadoras.

O jogo também faz um bom trabalho em mesclar a exploração e o combate, de modo que nenhum dos dois fica particularmente cansativo. Ao longo da campanha, vamos encontrar três armas diferentes, e é impressionante como todas elas são úteis tanto no combate quanto na exploração. A broca, por exemplo, é ótima para surrar inimigos, mas também é usada para planar e nadar mais rápido. Como em todo bom MetroidVania, aqui cada equipamento é multiuso.

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Este nem é o mapa inteiro do jogo…

E, não podemos deixar de falar do level design, que é insano: como é padrão no gênero, aqui temos um mapa enorme e todo interconectado, que vai sendo expandido conforme exploramos. E tem coisa para descobrir nesse joho, hein! O número de salas secretas e segredos de F.I.S.T. Forged in Shadow Torch é imenso — desconfio que este jogo inclusive vai se tornar um pesadelo para platinadores e colecionistas.

Uma experiência que se alonga demais

Tenho uma confissão a fazer: eu reviso e edito artigos de diversos colaboradores aqui do site, mas odeio editar meus próprios textos. Quando é um material que eu mesmo fiz, fica mais difícil de identificar o que pode ser descartado, sabe? Tipo esse parágrafo, que nem precisava estar aqui, mas está. ¯\_(ツ)_/¯

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Meu ponto é que parece que o pessoal da TiGames também tem dificuldade em editar seu próprio trabalho. Ainda que seja um ótimo jogo na maior parte do tempo, F.I.S.T. Forged in Shadow Torch se alonga demais, ao ponto de se tornar cansativo.

O pior é que, se dividirmos ele em 3 partes, é justamente seu último terço que deixa ele chato. Em uma (rara) escolha equivocada de game design, os produtores concentraram duas áreas excepcionalmente pentelhas lá na reta final do jogo, uma depois da outra.

Não vou entrar em spoilers aqui, mas é fato que as últimas horas de F.I.S.T. são também as piores. E esticam um jogo que poderia ser mais curto. Sei que tem gente que gosta de aferir valor em um jogo pelo tempo que ele dura, mas aqui temos um caso de jogo que sem dúvida seria melhor se fosse um pouco mais curto.

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Spoiler: é a partir daqui que o jogo fica chato

Parece que faltou um editor ali para dar uma ajeitada, sabe? Não é só porque um monte de coisa foi criada, que TUDO precisa estar no game. Um corte aqui, outro ali, podem tornar a experiência muito mais dinâmica e agrada´vel. Mas, infelizmente, faltam esses cortes em F.I.S.T.

Se fosse um jogo que durasse umas 10 horas, F.I.S.T. Forged in Shadow Torch seria praticamente perfeito. Mas ele continua… e continua… e continua… e passa das 15 horas de duração. Não precisava de tudo isso. Tem muita gordura ali que poderia ter sido eliminada — especialmente na reta final — e não faria falta. Muito pelo contrário, tornaria a experiência como um todo mais redondinha.

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Eu já escrevi sobre “qual a duração ideal de um jogo” aqui para o site. Na época, comentei que, além de jogos de mundo aberto “inchados” por missões genéricas e pontinhos no mapa, outra coisa que me incomoda são jogos que não sabem a hora de acabar. Pois é, infelizmente, F.I.S.T. Forged in Shadow Torch entra para esta lista.

Audiovisual

Aqui, praticamente, não tem do que reclamar: F.I.S.T. Forged in Shadow Torch é sem dúvida um dos jogos 2.5D mais bonitos dos últimos tempos, e falo isso tanto em termos de direção de arte quanto de execução técnica, mesmo.

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Fala sério, não lembra Midgar?

Cada área do jogo é belíssima e extremamente detalhada. A vibe dieselpunk do jogo contribui muito com a isso: a Torch City, que é uma das principais áreas do jogo, tem uma estética industrial meio “suja” que lembra bastante a Midgar de Final Fantasy VII Remake. E, o character design, em geral, também é primoroso, especialmente no que diz respeito aos “furtizens”, os animais antropomorfizados que povoam o universo do game.

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Olha que iluminação maravilhosa <3

O trabalho de iluminação é incrível, e há muitos pequenos detalhes que enriquecem o visual como um todo: se você pula e bate em um lustre, por exemplo, o cone de luz que ele projeta vai se mover realisticamente, lançando sombras dançantes em tempo real. As animações que vemos quando ativamos um terminal de Save também são muito boas — e não são sempre iguais. Ver um sujeito casca-grossa como Ray sendo lavado e “ajustado” pela máquina é muito fofo, olha só:

No departamento sonoro temos uma boa mistura de faixas atmosféricas –que estão ali basicamente para preencher o silêncio — com outras mais grandiosas e agitadas que coroam momentos intensos e batalhas contra chefes. As dublagens também são muito boas — só ficou faltando localização para outros idiomas: o jogo só está disponível em inglês e japonês.

Rodando no Playstation 5, F.I.S.T. Forged in Shadow Torch tem um excelente desempenho, com visual nítido, loadings super rápidos e framerate estável. O jogo não se preocupa muito em usar os recursos do DualSense, mas acho que essa nem era a proposta — até porque, ele também saiu para PS4 e ainda vai chegar aos PCs.

Conclusão

F.I.S.T. Forged in Shadow Torch me deixou com sentimentos conflitantes. Se a gente gosta muito do jogo, quer que ele não acabe “nunca”, para continuarmos jogando, certo?

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Pois é, nesse caso foi o contrário: eu gostei muito dele, mas gostaria que ele durasse um pouco menos. Quanto mais ele se arrastava para além das 10 horas de campanha, mais eu ficava cansado, e torcia para ele acabar logo.

Muito disso se deve à questionável decisão de colocar algumas das áreas mais chatas do jogo lá na reta final da campanha. Mas, mesmo se esses trechos chegassem antes, ainda representariam uma gordura, um excesso, algo que poderia ter sido a) reduzido drasticamente ou b) cortado.

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No fim das contas, parece que o estúdio foi vítima de sua própria ambição: F.I.S.T. claramente mira mais alto do que a maioria dos MetroidVanias independentes atuais, mas nessa busca pela grandeza, acabou ficando grande demais, para seu próprio bem.

Mas, sendo justo, o saldo geral ainda é bem positivo: F.I.S.T. Forged in Shadow Torch é um excelente jogo, que tem tudo para agradar os fãs de um bom MetroidVania, que não abrem mão de um bom sistema de combate. Poderiam ter “aparado algumas arestas”, mas é fato que, na maior parte de sua duração, ele acerta bem mais do que erra.

F.I.S.T. Forged in Shadow Torch foi lançado em 7 de setembro para PS4 e PS5 (versão analisada). Em breve ele deve sair também para PC. O jogo não recebeu localização para o nosso idioma.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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