Análise Arkade – É divertido entrar em forma com Fitness Boxing 3: Your Personal Trainer
Quando a Nintendo compreendeu que precisava buscar um novo público em um momento chave para a nossa indústria vital, na troca de geração pós o relativo fracasso comercial do GameCube, levou isso muito a sério. Foi nesse exato instante que ela entendeu que havia uma infinidade de nichos que nem sabiam o potencial dos jogos eletrônicos como algo além do que era feito até então.
O Wii dialogou com grupos sociais muito diferentes daqueles contemplados até então, incluindo quem tinha interesse em fazer seus exercícios físicos em casa e se limitavam aos vídeos e programas televisivos específicos deste mercado, um segmento que fez muito sucesso sobretudo a partir da década de 1980.
Mas se repetir passivamente movimentos na TV parecia interessante, o que dizer de algo com que se poderia interagir e, melhor, receber um feedback em tempo real? E se aquilo pudesse se aproveitar das mecânicas dos jogos de ritmo que tanto fizeram sucesso em games de música e dança?
O Nintendo Switch, anos depois dos primeiros sucessos do gênero, como as linhas Wii Fit e Zumba Fitness, por exemplo, ainda é um espaço muito promissor para esse segmento, e Fitness Boxing 3: Your Personal Trainer, terceiro jogo de uma série iniciada lá em 2019, prova que o console ainda tem muito a oferecer na queima de calorias “gameficada” e focada na diversão.
Simulação de academia
Desde a introdução, Fitness Boxing 3: Your Personal Trainer não esconde a sua proposta em ser exatamente aquilo que o título prenuncia. É basicamente uma simulação de academia que se aproveita dos movimentos tradicionais do boxe para estabelecer padrões de repetição e treinos focados.
O jogador acrescenta alguns dados pessoais, o que permite ao sistema calcular informações de IMC, metas diárias e outros dados de acompanhamento personalizado. Depois dos primeiros exercícios, ainda é possível se aprofundar mais, estabelecendo metas complementares para partes do corpo a serem trabalhadas e coisas assim. Um programa básico, bastante reconhecível, e fácil de acompanhar, inclusive em um sistema de progressão com direito a XP e conquistas.
Sem tantas variações ou modos específicos, a interface acompanha a carreira do jogador gameficando o progresso ao delimitar metas diárias, semanais e mensais, favorecendo a criação de uma rotina de treinos. Mais do que um jogo de domingo a tarde, portanto, é um programa que pode ser levado à risca por quem realmente almeja alcançar um objetivo.
Outra característica importante é a personificação orientadora do tal personal trainer que, além das recomendações básicas de movimento e de navegação pelo jogo, ainda faz questão de apontar para ações importantes, como hidratação, alongamento e descanso. Esse personagem é, aliás, customizável, centralizando as compras cosméticas in-game com as moedinhas conquistas pelo sucesso.
Um jogo sério de ritmo
Quando todos os preparativos estão concluídos, a garrafa de água está ao nosso alcance e estamos usando roupas confortáveis, tudo o que compõe o jogo é uma experiência relativamente tradicional de ritmo, com a necessidade de se usar os joycons, um em cada mão. Não há, portanto, modos mais simplificados com só uma parte, ou uso de controles convencionais.
Isso significa que o modo para dois jogadores, liberado assim que cumprimos a primeira sessão do jogo, exige um segundo conjunto completo de joycons. Isso porque os movimentos são mapeados para os lados esquerdo e direito do corpo, em duas colunas destacadas na tela.
Ao nos colocar em posição clássica do boxe, a música dá a batida para os ataques, que variam entre diretos, ganchos, cruzados, jabs e outros golpes em combinações e combos que obviamente não farão de ninguém um lutador profissional, mas que tem uma lógica bem interessante na articulação com sequências intensas e exigentes.
Em outras palavras, aquele marmanjão que se deixa levar pelo estilo amigável e convidativo do jogo achando que seja uma versão Just Dance mais lúdica para exercícios físicos poderá se surpreender com com as missões mais dedicadas. Acredite: pular alongamento prévio e relaxamento posterior não é recomendável, por mais que seja permitido.
Para os mais dedicados, além dos treinos diários sugeridos, há sessões livres e outros complementos, mas no geral, é bastante seguro e sustentável estabelecer uma meta diária — algo que pode variar entre os 10 a 30 minutos — e buscar manter, ao máximo, a fidelidade. Não é o jogo que vai nos deixar jogando por horas a fio, e faz muito sentido realmente ser visto como parte de uma rotina, não só pelo entretenimento.
Confesso que tenho minhas restrições quanto aos estudos em relação aos conceitos de jogos educacionais e os chamados serious games, mas há que se compreender que, mesmo com a satisfação de completar uma série sem erros estampada em estatísticas, esse é o complemento de algo que está muito mais como um aplicativo gameficado do que um jogo propriamente dito.
Nem parece uma academia
Por mais que se proponha como algo vinculado ao conceito da academia e do exercício físico, Fitness Boxing 3: Your Personal Trainer busca se libertar visualmente dos ambientes fechados e dos cenários convencionais. Nada de ringues ou pessoas de fundo fazendo os mesmos movimentos, felizmente.
Inicialmente, o ambiente onde nos vemos refletidos tem características de uma discoteca (e vou usar propositalmente o termo mais próximo do brilho específico dos anos 1970/1980), dando suporte a um tipo de música com a batida eletrônica que marca os movimentos ritmados, mas não demora para que possamos escolher outras ambientações ainda menos óbvias.
O esforço é válido, mas o resultado passa longe dos bons efeitos vistos em jogos como o já citado Just Dance, por exemplo. Tudo é um tanto quanto limpo demais e parece uma projeção no fundo, daquelas bem artificiais e que, se não interferem diretamente do que estamos fazendo, definitivamente adicionam muito pouco à experiência. Logo, nem me preocupei mais em escolher um ou outro.
Por sua vez, a modelagem das figuras que nos dão suporte não tem nada de realmente muito novo, abraçando alguns elementos cartunescos muito característicos, destacando-se, de forma acertada, a fluidez dos movimentos os quais devem ser copiados.
O destaque mesmo está para a seleção sonora com músicas que não são exatamente clássicos do cancioneiro mundial (mesmo com presenças ilustres, como Billie Eilish), mas que funcionam muito bem para o propósito de nos incutir o ritmo certo e, ao mesmo tempo, estabelecer um clima de animação e euforia tão necessário para o propósito do game.
Completa o pacote uma interface clean e intuitiva, bem localizada para o nosso bom e velho português BR em legendas e textos, com informações adequadas ao público, mesmo que seja difícil compreender a lógica dos gráficos e outras estatísticas a princípio. Depois de alguns dias em sequência — fiz questão de manter o meu programa de forma exemplar para esta análise — é mais compreensível acompanhar nosso progresso.
Conclusão
Mesmo não sendo exatamente o tipo de produção que me atrai inicialmente, posso dizer que ainda estou empolgado em manter firme o projeto 2025, porque propus uma configuração que me é sustentável. Isso se as comilanças do final de ano não desandarem tudo, obviamente.
Fitness Boxing 3: Your Personal Trainer não é exatamente uma revolução no gênero, e está longe de se preocupar com isso. Simples e focado naquilo que propõe, é uma experiência complementar para a maioria dos jogadores mais tradicionais, e uma forma interessante de atrair um público distinto, sem contudo abrir mão de alguns artifícios gameficados que podem atrair os mais competitivos.
Não espere, porém, uma versão para o boxe de Guitar Hero, porque certamente haverá uma certa decepção. Onde esse e outros apresentam improviso, aqui haverá padrão e repetição. Onde eles oferecem um sentido de competição e criatividade, aqui há rotina e comprometimento. A longevidade proposta aqui é para os dedicados, não os aventureiros.
Fitness Boxing 3: Your Personal Trainer foi lançado exclusivamente para o Nintendo Switch no dia 05 de dezembro de 2024, com menus e textos em português brasileiro.