Análise Arkade: Flight Simulator 2020 é majestosamente incrível
Um dos simuladores mais famosos do mundo está de volta em uma edição monumental. Microsoft Flight Simulator 2020 é o suprassumo de tudo que já foi feito em simuladores! Ele não é perfeito, mas talvez os maiores problemas do jogo não estejam exatamente nele. Falaremos tudo sobre isso nessa análise completa!
Caso você nunca tenha visto ou ouvido nada sobre essa franquia, estamos falando de uma das mais antigas do seu gênero na indústria. Os “simulators” se popularizaram nos últimos anos — alguns pelo realismo, outros pela zoeira –, mas o primeiro Flight Simulator foi lançado em 1982! Porém, desde 2014 não temos uma nova versão do simulador. Felizmente, para os amantes de simuladores e aviões, a versão 2020 do jogo está incrível e possui melhorias absurdas em sua arquitetura.
Um jogo para qualquer um jogar
Simuladores em geral não são pensados para o grande público. Isso porque encontrar um equilíbrio entre o realismo que usuários de simuladores pedem e a comodidade que novos jogadores precisam é algo realmente difícil. Entretanto o novo Microsoft Flight Simulator consegue fazer isso de forma primorosa.
A começar pela sua coletânea de aeronaves. No pacote mais completo do jogo são 30 aviões que vão desde monomotores até o conhecido Boeing 747. Porém, na edição de 2020 do simulador a Microsoft incluiu em seu pacote básico um avião muito importante: o Cessna 152. Este é um dos aviões de aprendizado mais populares do mundo. A simplicidade de controles combinada com a fácil percepção das suas características de voo faz desse modelo o ponto alto de qualquer escola de aviação.
Junto a ele, o Cessna 175 e o DA40 também estão presentes. Ambos também adequados para aulas de voo e treinamentos práticos. Mesmo que pareça óbvio, é a primeira vez que esses modelos estão presentes num pacote básico do Flight Simulator. O que já é, por si só, um acréscimo muito bem-vindo para iniciantes.
Entretanto, para além da coletânea de aviões, temos configurações suficientes para abarcar qualquer público no jogo. Seja pela possibilidade de usar teclado e mouse, controle do Xbox ou manches, seja pelo nível de dificuldade altamente personalizável, ou pelos menus inteiramente em português. Tudo no jogo é pensado para acessibilizar o jogo e adequá-lo aos mais variados públicos.
Isso quer dizer que: se você é um (aspirante a) aviador que gosta de simuladores, terá uma ótima experiência aqui. Mas se você só quer pegar um avião bonitinho e sobrevoar o Grand Canyon, esse jogo também é pra você.
Voando em qualquer lugar da Terra
Um dos pontos mais surpreendentes do novo Microsoft Flight Simulator é o seu mapa. A Microsoft e a Asobo Studio levaram nada menos que o planeta Terra inteiro para dentro do simulador. Ao contrário do que vemos em muitos simuladores famosos do mercado, e até em edições anteriores do próprio jogo da Microsoft, não precisamos pagar mais para poder voar em algum local específico do mundo.
Mas você pode estar pensando: “mas imagens de satélite chapadas até o Google Maps tem”. De fato. Entretanto, o Flight Simulator 2020 não tem somente imagens chapadas. São cerca de 37 mil aeroportos, locais com vida selvagem, carros passando em estradas, estações do ano dinâmicas, ciclo de dia e noite, tráfego aéreo em tempo real, mais de 1 trilhão de árvores e vegetações, fora a possibilidade de multiplayer online.
Vale ressaltar que todo esse trabalho estupendo é fruto da combinação da construção procedural combinada com modelagem manual pontual. Não temos a Terra em precisão completa, mas chega muito perto disso. Quanto ao número assustadoramente alto de aeroportos… bom, é assustador mesmo. De acordo com o Google, existem exatos 49.024 aeroportos ao redor do mundo. Aqui temos 37 mil plenamente realizados e modelados!
O resultado? A possibilidade de voar sobre qualquer paisagem com uma precisão fotorrealista incrivelmente imersiva. Claro que vim conferir se o aeroporto da minha cidade (que é bem pequeno) estava no jogo. Bom, além de achar o aeroporto, achei minha própria cidade em 3D, encontrei minha rua e, pasmem, a minha casa. Este é o nível de detalhes do Flight Simulator 2020.
Mais que apenas um jogo
Todo esse trabalho técnico primoso visto em Flight Simulator 2020 é fruto da combinação de diversas tecnologias distintas. O uso combinado do Bing Maps com dados de satélites e algoritmos inteligentes, por exemplo, é o que permite uma atualização em tempo real do clima, tráfego aéreo e outros.
O próprio motor climático utilizado aqui é incrivelmente preciso. E quando eu falo preciso, eu quero dizer que ele é preciso o suficiente para retratar um arco-íris no exato lugar onde está ocorrendo um em tempo real. Não se surpreendeu? Bom, que tal um furacão então? Exatamente. Recentemente os EUA foram assolados pelo furacão Laura, que, pasmem, foi simulado em tempo real dentro do jogo.
Esse nível de precisão surreal que o novo simulador da Microsoft possui é estonteante. Obviamente algo deste porte não é exatamente preciso. Algumas avenidas que beiram rios na minha cidade, por exemplo, estavam passando por dentro d’água, inclusive, com carros passando pelo rio. Além disso, existem locais no mundo que, mesmo que possuam vegetação, estas não são em relevo no jogo. Mesmo com alguns detalhes como estes, o resultado final ainda é de explodir a cabeça da gente, ao ponto destes detalhes serem quase irrelevantes, dado o tamanho do mundo que há para ser explorado.
Características físicas realistas
Um dos principais pilares de um simulador de voo é justamente a interação do avião com a massa de ar ao seu redor. Em Flight Simulator 2020 temos um avanço técnico sem precedentes nesse quesito. Isso porque, ao contrário do que havia nas versões anteriores, todo o sistema de física do jogo foi remodelado praticamente do zero. Foi uma repaginação completa dos sistemas de clima, massa de ar e física do jogo.
Desse modo, temos um sistema de fluxo de ar hiperrealista que leva em conta dados como temperatura, umidade, pressão e velocidade de vento. Todo esse sistema interage diretamente com a superfície da Terra (sim, do planeta como um todo) e com cada parte de cada modelo de aeronave presentes no jogo, individualmente. Isso inclui motores, asas, flaps, trens de pouso e tudo mais.
Para você ter uma ideia desse rigor técnico aplicado na prática, vamos dar um exemplo: dependendo da altitude que você voar, uma camada de gelo pode se formar em toda a aeronave. Isso consequentemente muda a forma que o vento se comporta ao redor dela, além de aumentar seu peso. Assim, os controles e padrão de estabilidade mudam drasticamente.
Para além da própria aeronave e dos sistemas em tempo real já citados, temos um sistema incrivelmente complexo que justifica muito bem os incríveis 127 GB do download inicial do jogo. O vento balança a copa das árvores, move nuvens, aumenta ondas no mar e mexe com as asas do avião. A lua pode ser vista fielmente na posição em que se encontra realmente no céu, o que me faz crer que futuros eclipses lunares — e outros eventos astronômicos — poderão estar presentes no jogo.
Tudo tem seu preço
Todo esse show de poderio técnico em escala global de Flight Simulator 2020 tem seu preço. Os insanos 127 GB com certeza é um deles. Porém, alguns outros podem ser mais incômodos do que o espaço ocupado no seu HD, então merecem ser citados aqui. O primeiro deles é a dificuldade inicial de acessar os servidores da Microsoft para baixar o jogo.
Isso porque, independente se você comprou o jogo pela Steam ou pela Microsoft Store , um arquivo inicial será baixado rapidamente. Abrindo-o, você dará início a uma “atualização” com mais de 100 GB que demora consideravelmente para ser feita, mesmo com velocidades bem grandes de internet.
Esse impasse inicial gerou uma situação conturbada na própria Steam, já que o jogo constava como aberto por várias horas enquanto era baixado, “burlando” a política de devolução de 2 horas da loja da Valve. Mas isso já foi resolvido pela própria Steam — que aplicou uma exceção à sua política no caso do Flight Simulator 2020.
Mas passado o árduo trabalho de baixar o jogo, chegamos a outro problema: loadings iniciais demorados. Como o jogo te dá o planeta inteiro para voar — com a possibilidade de mudar o clima sem loadings e ainda acessar os modos online com outros jogadores, tráfego aéreo atualizado e clima do momento quase sem telas de carregamento –, ele cobra esse preço no loading inicial, cujo carregamento pode ser bem demorado, independente do seu hardware.
Mesmo em máquinas mais potentes, esse carregamento pode variar de 1 a 4 minutos. Em máquinas mais lentas (mas que são abarcadas pelos requisitos mínimos do jogo) esse tempo do loading inicial pode ser ainda maior. Claro que é bastante justificável devido ao porte monstruoso do jogo. Porém, não deixa de ser um incômodo ainda assim, mesmo que necessário.
O simulador de voo definitivo
Microsoft Flight Simulator 2020 pode ser o último Flight Simulator. Não necessariamente pela franquia acabar. Mas sim pela proposta que o novo simulador carrega. Todo o planeta acessível no pacote básico do jogo, com atualizações futuras prometidas, um possível projeto de realidade virtual, acordos com empresas terceirizadas para pacotes de melhorias pontuais e novas aeronaves vendidas dentro do próprio jogo, além de um sistema online preciso tanto para clima e tráfego quanto para multiplayer.
Um dos simuladores mais famosos da história dos videogames está caminhando para um formato MMO bem interessante. Mas isso por si só não é o que me faz crer que ele será o “último” Flight Simulator. A escala do trabalho técnico feito aqui é surreal. O trabalho sincronizado de diversas tecnologias para trazer com a maior fidelidade já vista o planeta inteiro para dentro do jogo de um modo realista como nunca antes visto. Isso não é algo que pode ser descartado em quatro ou cinco anos para dar vez a algo maior. E, sejamos sinceros: como ser “maior” do que o planeta Terra? Para aumentar a escala, só se o jogo tornar-se um “Space Flight Simulator“, com foguetes, espaçonaves e ônibus espaciais (fica a ideia aí, Microsoft!)
O fato é: Flight Simulator 2020 representa uma nova fase para o mundo dos simuladores. Um marco zero, que coloca o simulador de voo numa posição incrível de poder técnico, acessibilidade, fidedignidade e imersão. Mudanças e acréscimos não virão para acabar com o Flight Simulator 2020, mas sim para agregar mais conteúdo a ele.
Fora isso, o fato dele possuir uma precisão e detalhes técnicos incríveis para os fissurados por aviação e simuladores, ao mesmo tempo que é muito acessível e convidativo para novatos, o deixa no panteão dos melhores simuladores já feitos.
Microsoft Flight Simulator 2020 foi lançado inicialmente no dia 18 de agosto de 2020, e está disponível para Xbox One e PC. Para esta análise, rodamos o game em um notebook gamer com processador i5-9300, 24GB de memória, placa de vídeo GTX 1650 de 4GB e SSD de 128 GB.