Análise Arkade – Flintlock: The Siege of Dawn, um “Souls-lite” competente e com boas ideias

17 de julho de 2024
Análise Arkade - Flintlock: The Siege of Dawn, um "Souls-lite" competente e com boas ideias

Amanhã chega às prateleiras Flintlock: The Siege of Dawn, novo RPG de ação com pitadas de Souls-like da produtora A44 Games. Tivemos acesso antecipado ao game, e agora você confere nossa opinião em primeira mão!

Antes de mais nada: o que é Flintlock?

Flintlock: The Siege of Dawn é um jogo ambientado em um mundo de fantasia um pouco diferente. Fugindo um pouco das aventuras de “capa e espada” tradicionais, ele tem como base referência obras de um nicho conhecido como “flintlock fantasy” ou “gunpowder fantasy“.

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Na prática, a maior diferença em relação à fantasia tradicional é que aqui já houve alguma evolução tecnológica, o mundo não é puramente medieval. Existe pólvora, e armas de fogo podem ser tão poderosas quanto magias e artes arcanas.

De fato, uma flintlock gun é um tipo de pistola/escopeta de uma mão, que você provavelmente já deve ter visto em algum filme ou série, especialmente em alguma obra que envolva piratas. O Jack Sparrow, por exemplo, carrega uma arma desse tipo nos filmes da série Piratas do Caribe.

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Curiosidade: a arma do filme era de verdade, não uma réplica

Achei importante trazer essa contextualização inicial porque isso diz muito sobre o mundo e o combate de Flintlock: The Siege of Dawn. Nossa protagonista, Nor Vanek, é uma guerreira que combina machados estilo tomahawk com uma dessas espingardas, e a combinação de golpes físicos, tiros e magias está no cerne da experiência do game.

Uma história sobre deuses e vinganças

Flintlock: The Siege of Dawn nos coloca em um mundo que está à mercê da ira dos deuses antigos. Nor Vanek é uma jovem sapadora do exército da Coalizão que acaba indo parar na linha de frente no combate contra estas divindades e seus exércitos de monstros.

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Depois que um combate contra um desses deuses quase acaba com sua vida, a guerreira acaba sendo salva por Enki, uma divindade em forma de raposa que tem seus próprios assuntos a tratar com os deuses. Juntos, eles vão tentar fechar o portal que liga o mundo dos homens ao submundo, a fim de salvar o que restou da humanidade.

Ainda que seja muito mais direta e cinematográfica do que costumam ser as narrativas do gênero Souls-like, é fato que a história de Flintlock: The Siege of Dawn é um pouco vaga, confusa.

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Sendo justo, a jornada de Nor e Enki é bem didática, mas muitos conceitos do mundo em si acabam não sendo devidamente abordados. Por exemplo: eu terminei o jogo sem saber o que é (e o que faz) uma “sapadora”, e minha única outra referência do termo vem dos livros da série A Torre Negra — em um contexto que definitivamente não é o mesmo que aqui. A importância da tal Coalizão, ou mesmo a importância prévia dos deuses neste mundo também são assuntos que ficam em segundo plano.

Flintlock: The Siege os Dawn não é mundo aberto!

Talvez essa notícia não seja realmente boa para muita gente, mas eu, como já expliquei aqui, tenho problemas com jogos muito grandes, muito inchados de conteúdo. Dito isso, é uma satisfação ver que Flintlock: The Siege os Dawn não é mais um RPG de mundo aberto com um mapa repleto de pontos de interesse.

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Não é mundo aberto, mas é vasto

Isso também não quer dizer que ele é um jogo de ação linear. Na verdade, sua campanha se espalha por 3 mapas diferentes, e 2 deles são bastante vastos, com muitas possibilidades de exploração. Pense em algo mais como Final Fantasy XVI e menos como Assassin’s Creed Valhalla e você vai entender.

Dito isso, o jogo possui sua parcela de recursos colecionáveis, bem como de NPCs nos pedindo coisas e missões secundárias. Mas, novamente, tudo é muito mais coeso e menos trabalhoso, o que impede as coisas de ficarem maçantes e a sensação de ficarmos sobrecarregados de atividades.

Exploração e Fendas

Se os mapas menores já são um ponto bem positivo para tornar a exploração mais prazerosa, Flintlock: The Siege os Dawn nos dá ferramentas bem divertidas de locomoção, que tornam o ato de ir e vir muito mais agradável.

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Para começar, temos a verticalidade dos mapas, que é algo não muito explorado neste tipo de jogo. Mas, o mais legal são as fendas, uma espécie de superpoder que o Enki nos permite usar, que é uma mão na roda durante a exploração.

Funciona assim: ao interagirmos com certos altares de caveira, habilitamos as chamadas fendas, que são “buracos de minhoca flutuantes” (na falta de uma explicação melhor). Enki então, nos puxa voando para dentro da mais próxima, e podemos voar entre fenas próximas sem esforço.

Tipo assim, ó:

Essas fendas acabam funcionando como atalhos. Na primeira passagem por uma área, é recomendável que você explore com calma e enfrente os inimigos para ganhar XP. Porém, como aqui temos um bocado de vai e vem (e os inimigos renascem quando ativamos os monolitos de salvamento), revisitar certas áreas acaba sendo muito mais rápido, uma vez que podemos cortar caminho pelas fendas — e evitar a repetição de confrontos.

Combate intenso, mas estratégico

Flintlock: The Siege os Dawn traz um sistema de combate intenso e desafiador, que bebe na fonte do gênero Souls, mas acrescenta seus próprios ingredientes. Nossa arma principal é o machado/martelo, mas a já mencionada flintlock é muito útil para cancelar ataques ou para dar um respiro à meia distância para o jogador.

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A presença de Enki é outro diferencial. Com um botão dedicado, a criatura possui seus próprios ataques, que no geral não causam dano direto, mas enchem uma “barra de postura” dos inimigos. Quando esse medidor se enche, abre-se a brecha para um ataque especial muito mais forte, uma finalização sangrenta e estilosa.

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As árvores de habilidade se dividem em pólvora, magia (Enki) e aço

Nor e Enki possuem suas próprias árvores de habilidades, que vão adicionando novas nuances ao sistema de combate do game. A famigerada barra de stamina não existe aqui, o que dá às lutas uma pegada muito mais ágil, um Souls-like que molha o pezinho no hack ‘n slash.

Reputação, risco e recompensa

O que nos leva a outro ponto interessante: o acúmulo de XP, que aqui se chama Reputação. Eliminar monstros com boa variação de ataques, cumprir objetivos, finalizar missões, tudo isso rende pontos de Reputação, que podem ser trocados por upgrades e equipamentos.

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O lance é que “jogar bonito” gera um multiplicador de XP. Enquanto você não apanhar, esse multiplicador se mantém (e aumenta), mas se tomar dano, resgata o valor original. Se confia no seu taco, você pode seguir sem resgatar a XP, para ir acumulando. É um risco x recompensa interessante, que eu gostaria de ver jogos tipo Devil May Cry utilizando.

Eu só não gosto da ideia de que os pontos de Reputação servem para comprar tudo no jogo — uma nova habilidade ou um traje melhor? Como escolher? — mas no geral, sinto que Flintlock: The Siege os Dawn fez um esforço para deixar as coisas interessantes.

Análise Arkade - Flintlock: The Siege of Dawn, um "Souls-lite" competente e com boas ideias

Os desenvolvedores categorizam o game como um Souls-lite, e acho que isso faz sentido. O jogo não é mais uma cópia da cartilha da From Software, e constrói em cima de uma base que muita gente já usou. Tem as pentelhices de ressuscitar inimigos e derrubar o XP ao morrer, mas no geral, a experiência é bem mais amigável — ainda que o nível de desafio seja elevado, e quem jogar no Easy fica sem troféus.

Audiovisual

Flintlock: The Siege os Dawn é muito bem resolvido visualmente, mas não vai concorrer a nenhum prêmio de jogo mais bonito do ano. Afinal, estamos falando de um “double A”, um título mais modesto, sem cutscenes mirabolantes, que chega custando mais barato do que os lançamentos parrudos.

A direção de arte é inspirada: o mundo do jogo tem criaturas exóticas e muito interessantes. Destaco as atendentes das cafeterias, figuras que possuem diversos braços e, na falta de um rosto, ficam segurando uma máscara para termos para onde olhar. É um character design incrível.

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Olha o visual incrível dessa criatura

No departamento sonoro, o game traz boas dublagens em inglês, e as legendas em português são sempre muito bem-vindas. Embora a trilha sonora não seja particularmente marcante, ela cumpre sua função.

Em termos de desempenho, o game chega trazendo os já tradicionais formatos resolução e performance. Eu priorizei a taxa de quadros (como sempre), mas senti que o jogo dava algumas engasgadas.

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Na verdade, o game crashou algumas vezes, mas como joguei antes do lançamento, estava avisado que isso poderia acontecer. Quando você pegar para jogar, a partir de amanhã, provavelmente terá uma experiência bem mais estável, com um patch day one e outras correções.

Conclusão

Flintlock: The Siege os Dawn é um jogo que chega de mansinho, mas tem muitos elementos que podem fazer dele um sucesso. Seu mundo é coeso e interessante, com boas mecânicas de exploração e um sistema de combate denso e cheio de possibilidades.

Acho que ele peca um pouco em nos apresentar mais profundamente o mundo construído, mas compensa isso com bons protagonistas, unidos em uma aventura simples, mas muito bem executada.

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Não acho que vou lembrar de Flintlock daqui uns meses, mas me diverti com o tempo que passei com ele. Nem todo jogo precisa ser memorável, afinal de contas. Ver esse levante da indústria “double A” é muito legal, um meio termo saudável — e necessário — entre a simplicidade dos indies e o alto orçamento dos triple As.

Por fim, vale ressaltar que, para deixar o jogo ainda mais recomendável, ele já chega direto ao Game Pass. Se você é assinante do serviço, este é um lançamento que sem dúvida faz valer a pena o investimento.

Flintlock: The Siege os Dawn será lançado amanhã, 18 de maio, com versões para PC, Playstation 5 (versão analisada) e Xbox Series X|S.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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