Análise Arkade: Floodland é um City Builder/Survival muito imersivo, mas burocrático
Floodland, da Vile Monarch e distribuído pela Ravenscourt, é uma mistura de City Builder e Simulador de Sobrevivência que nos dá a árdua tarefa de tentar recriar a civilização humana após os oceanos do mundo subirem, como consequência do aquecimento global.
Vamos então conversar um pouco sobre como o game acabou se saindo, bem como seus pontos fortes e fracos!
O difícil trabalho de recriar a sociedade num mundo alagado
Em Floodland, sobreviver não é uma tarefa nem um pouco fácil, pois encontrar terra firme é algo raro. Some a isso o fato de que encontrar recursos é igualmente difícil e, para complicar ainda mais as coisas, você não pode se dar ao luxo de permanecer em um único local, do contrário, esgotará todas as suas possibilidades de sobrevivência.
O game é iniciado com o jogador escolhendo um clã para gerenciar. Existem 4 clãs diferentes no game, cada com sua própria cultura, pontos positivos e negativos. Enquanto um clã pode ter uma mentalidade mais aberta e acreditar que cada um deve ser livre para fazer e pensar o que quiser (desde que de forma benéfica), outro clã pode ser hiper-tradicional, exigindo que as leis do antigo mundo sejam a lei para todos.
Ao escolher um clã, você deve estabelecer seu acampamento inicial, que já começa no sufoco, pois você tem poucas pessoas para gerenciar e muitos recursos para coletar, para que possa construir casas, depósitos, cais de pesca, estações de coleta de lixo e entulho. Tudo isso é necessário para que você possa construir e expandir sua nova sociedade. Floodland se inicia de forma lenta e leva um bom tempo até que o jogador se acostume com seu ritmo e desenvolvimento.
Uma vez estabelecido, o trabalho é gerenciar sua própria população, buscando comida, madeira, lixo e outros recursos essenciais para seu desenvolvimento. E além disso, você deverá explorar outras ilhas para encontrar recursos novos, grupos de pessoas para juntarem-se a seu clã, e até mesmo outros clãs, que você pode convidar para o seu acampamento. E é aqui que entra a parte mais difícil do game: O gerenciamento de pessoas.
Como já mencionei, cada clã possui sua própria cultura e filosofia. Alguns clãs se dão bem entre si, outros não. Gerenciar dois ou mais clãs vivendo juntos será uma tarefa dificílima, pois cada decisão que você tomar afetará como cada clã, inclusive o inicial, reagem as suas escolhas. Existem três formas principais de gerenciamento de pessoas: Através de construções, através de leis e de eventos.
Construir casas para todos, localizadas próximas a seus postos de trabalho. Construir locais de recreação, como fogueiras e refeitórios. Estações de tratamento de água e, acima de tudo, de produção e distribuição de comida. Esses são os primeiros fatores a afetar o contentamento das pessoas de seu acampamento e como eles se relacionam entre si.
As leis servem para estabelecer diferentes caminhos de desenvolvimento, bem como para desbloquear novos tipos de construção. Aqui entram as principais disparidades entre os clãs. Existem diversos tipos de leis, que englobam decisões de saúde, científicas, de lazer e até de informação e policiamento. Toda lei agrada um grupo e desagrada outro. Gerenciar tudo isso é um trabalho muito árduo e que demanda muita preparação do jogador.
A terceira forma são os eventos. Um clã pode te pedir para concluir alguma tarefa específicas, como construir certos edifícios, ir para algum lugar, tomar decisões sobre algo inesperado e etc. Muitas vezes, principalmente quando a tarefa é construir algo, a forma para cumprir os objetivos se torna muito difícil, senão impossível, por conta do estilo de progressão do game.
Burocracia, barreiras e questões técnicas
Em Floodland, desenvolver-se muito lentamente é ruim. Crescer muito rapidamente também é ruim. No entanto, o game exige que você seja rápido em muitas coisas, ao passo que freia constantemente seu progresso.
Alguns exemplos disso: Se você juntar uma população grande, terá muita mão de obra para coleta de recursos e exploração. Porém, consumirá muito mais recursos, principalmente comida e água, resultando em um grupo infeliz e difícil de lidar.
Ou então, você recebe uma tarefa de construir um edifício, mas para isso, precisará desbloquear novas tecnologias, e isso por si só leva bastante tempo para se conseguir, pois exige que o jogador acumule pontos de especialização, coletados ao encontrar relíquias do mundo antigo, ou colocando pessoas para estudar. Com isso, uma tarefa que superficialmente parece fácil, na verdade torna-se muito difícil, dada a dificuldade de coleta de todo tipo de recurso, tanto material quando intelectual.
Toda essa burocracia para se desenvolver, sobreviver e explorar o mundo do Floodland não é um problema em si, e sim parte do desafio. Porém, é um desafio bem grande para quem não estiver acostumado. Um ponto principal do game é que, diferente de outros City Builders, seu controle sobre uma população tem um limite. Você pode ordená-los a realizar tarefas ou a ir a determinados lugar, mas tem pouco controle sobre os indivíduos em si.
Um exemplo disso acontece quando dois clãs começam a ter problemas entre si. Você tem várias opções sobre como lidar com relacionamentos conturbados, uma opção sendo realocar um clã inteiro para um local mais distante, evitando o contato entre dos dois clãs. O problema é que você não tem controle individual sobre os membros de seus acampamentos.
Um exemplo disso é ao alocar pessoas para determinado trabalho. Você não tem controle sobre quem vai escolher. Ao alocar pessoas, você verá os ícones de quais clãs cada um pertence, e não pode selecionar apenas pessoas de um clã apenas para fazer esse controle. Pode parecer algo pequeno, mas é algo que faz uma diferença enorme. Outro exemplo é a alocação de pessoas a suas próprias casas/locais de dormir. Você não faz essa escolha, o game sim, e as vezes o game decide colocar alguém para dormir numa casa muito distante, gerando reclamação dessa pessoa por causa de todo esse trajeto.
Esses detalhes, ainda que não sejam problemas, são pontos que podemos argumentar se são negativos ou não, dependendo de como cada jogador se adapta a isso. Mas um problema real que o game possui está em seus constantes travamentos e “engasgos”.
No início, quando você tem apena um acampamento e poucas construções, as coisas rodam tranquilamente. Mas quando entram mais pessoas, mais construções e você começa a explorar mais o mapa, o game passa a travar constantemente. E o game ainda não exige um computador muito potente para rodar, mas ainda assim, rolam muitos engasgos, cliques perdidos e etc, o que torna a experiência bem frustrante.
Audiovisual
Floodland possui um visual muito bonito, com uma iluminação excelente, com efeitos de reflexo nas onipresentes águas dando uma beleza incrível aos cenários desolados.
Sendo esse um game em que exploração e descoberta são mecânicas importantes, as partes do mapa que ainda não foram exploradas ficam cobertas por uma densa névoa, mas podemos ver estruturas antigas que existem acima dela, como arranha-céus, prédios, chaminés de fábricas, e até uma roda-gigante destruída.
Já nas partes exploradas, encontramos pouca terra, mas muitas ilhas formadas por pequenas porções de terra, por aglomerados de telhados, navios encalhados, ou até mesmo ilhas formadas de lixo e entulho. E ainda há mais debaixo d’água, em que podemos ver carros e construções totalmente submersos, com belos efeitos de refração da luz dependendo da profundidade da água.
Floodland é ambientado no interior dos Estados Unidos, por isso, sua trilha sonora é predominantemente country. O game possui boas músicas, tanto instrumentais quanto cantadas, porém, na maior parte do tempo tempos apenas a mesma música sendo repetida em loop, ficando cansativa bem rapidamente.
Fora a trilha sonora, o design de áudio é simples. Temos os sons das pessoas trabalhando, da água, ondas, madeira sendo cortada e etc. Mas esses sons são tímidos, não ouvimos eles frequentemente, o que creio não ser algo ruim, pois não gera um ambiente de poluição sonora.
Floodland é totalmente localizado em português brasileiro. As vezes rola uma confusão e misturas de idiomas, com frases em inglês e português juntas. As vezes num mesmo parágrafo. Fora isso, o trabalho de tradução foi muito competente.
Conclusão
Floodland é um game muito imersivo e bastante desafiador, mostrando que reconstruir a sociedade após um evento cataclísmico, como o aumento dos oceanos, não é nada fácil.
No entanto, apesar de sua burocracia ser parte do desafio, é ao mesmo tempo algo que “embarriga” o andamento do game, que exige rapidez do jogador para se desenvolver, mas o pune se tentar desenvolver-se rápido demais.
Apesar de não ser um game complexo, como outros do gênero, Floodland não é muito convidativo para quem não tem experiência com esse tipo de game. Ainda assim, oferece desafio e diversão, se você se dedicar e aprender bem suas nuances e “travas”.
Floodland foi lançado no dia 15 de novembro exclusivamente para PCs.