Análise Arkade: Fobia St Dinfna Hotel é um excelente survivor horror brasileiro
O Brasil já é um país reconhecido mundialmente na indústria dos video games, sempre com novas criações que mostram o potencial de nossos desenvolvedores e seus grandes níveis de criatividade. E Fobia: St. Dinfna Hotel é mais uma prova disso, além de ser um excelente game de terror!
Vamos então conversar um pouco sobre o game, que realmente surpreendeu e chamou atenção não só do público de nosso país, mas de todo o mundo!
O mistério de Treze Trilhas
Fobia: St. Dinfna Hotel é ambientado na cidade fictícia de Treze Trilhas, no interior do estado de Santa Catarina. Essa cidade foi fundada por um homem que ficou conhecido como o “Profeta Christopher”, que veio até a cidade para comandar a mina localizada no local. E graças a ele, o que inicialmente era uma pequena vila tornou-se uma próspera cidade.
Treze Trilhas sempre foi envolta em mistérios, em especial estranhos e inexplicáveis desaparecimentos de pessoas, que nunca mais são encontradas. Além da aparição de um estranho fantasma, que é descrito como uma garota usando máscara de gás.
A história então acompanha um homem chamado Roberto Lopes, recém formado em jornalismo e em busca de ingressar na carreira de jornalista investigativo. Ele é convidado a ir para Treze Trilhas por uma mulher chamada Stephanie, que contou a ele sobre os mistérios da cidade, que jamais foram solucionados.
E então ele viaja até lá, em uma busca para descobrir a verdade sobre o desaparecimento de pessoas na cidade e o fantasma da menina com máscara de gás. E, hospedado no Hotel Santa Dinfna, seu maior pesadelo começa, quando após um encontro com o fantasma da menina, ele acaba entrando num verdadeiro inferno.
Um game de terror bem feito e inspirado nos clássicos
Fobia: St. Dinfna Hotel é um Survivor Horror em primeira pessoa inspirado nos clássicos do gênero, em especial no primeiro Resident Evil e em Resident Evil 7, e para quem jogou esses games, a inspiração é bem evidente.
O game é ambientado todo dentro do Hotel Santa Dinfna, um prédio de oito andares com uma arquitetura bem simples. Porém, o hotel está misteriosamente destruído, com caminhos bloqueados e segredos escondidos entre seus escombros e diversos quartos de hóspedes.
Assim, o game nos coloca em um mapa consideravelmente pequeno, mas com o tradicional backtracking para que possamos avançar. Por exemplo, em um andar você encontrará alguns quartos ou portas trancadas, e encontrará suas chaves ou outros meios de entrar em outros lugares.
Um ponto positivo do game é sua duração. Nem muito curto para parecer que a aventura é corrida, e nem muito extensa para fazer com que o backtracking torne-se um problema. A quantidade de tempo que o jogador gastará no game é diretamente proporcional ao quão bem o jogador completa os diversos puzzles que encontrar, e se está indo atrás de completar 100% do game, explorando todo o hotel em busca de seus itens e segredos.
O game ainda é focado na exploração e resolução de puzzles, com combate sendo uma mecânica secundária. O progresso do game ocorre conforme o jogador explora cada andar do hotel e coleta itens chave ou documentos com informações para resolução de puzzles. E o game possui muitos puzzles bastante criativos e complexos!
Uma das coisas mais legais do game é o seu principal item: uma câmera fotográfica capaz de ver o passado. Ao equipar essa câmera, você consegue enxergar coisas que normalmente não conseguiria, como portas, itens escondidos e até mesmo dicas ou itens importantes para resolver puzzles!
O uso da câmera torna toda a experiência do game ainda mais rica, além de permitir uma maior duração de sua campanha, para os jogadores que quiserem fazer 100%. Um exemplo de uso da câmera, por exemplo, é encontrar uma porta fechada por tábuas no presente, mas aberta no passado. E dentro dela, encontrar diferentes itens se estiver ou não equipado com a câmera. Ou, por exemplo, encontrar um cofre trancado no presente, e sua solução escrita na parede no passado.
Na parte de combate, conforme o jogador avança, encontrará diferentes tipos de armas, como uma pistola, espingarda, submetralhadora e etc. E, sendo um Survivor Horror, a munição aqui é escarça. Ou, melhor dizendo, nas primeiras partes do game encontrar munição e itens de cura é bem raro, mas conforme você avança e o perigo e nível de desafio se torna cada vez maior, itens e munição tornam-se mais comuns de se encontrar. O que não necessariamente significa que as coisas ficam mais fáceis. Pois se você não gerenciar sua munição, vai se dar muito mal.
Isso é a parte “Resident Evil 1” do game, a parte Resident Evil 7 vem obviamente de sua perspectiva em primeira pessoa, e também do menu de inventário, que é muito semelhante ao de RE7. Inclusive, gerenciamento de inventário é uma parte muito importante, pois é bem fácil você ficar sem espaço para itens importantes. Felizmente é possível encontrar bolsas aumentam os espaços de inventário, além de baús que o jogador pode utilizar para guardar itens que não vai usar ou não tem mais necessidade.
Além disso, o game é bastante oldschool em termos de progressão, pois não há autosave aqui, e sim o clássico sistema de save manual. Aqui, ao invés de máquinas de escrever, você salva o game em relógios de parede, que estão localizados em save rooms (que contam até com música própria). Por isso, nunca se esqueça de salvar o game, pois se você morrer, perderá todo o seu progresso não salvo.
E então, temos a parte do terror, e Fobia: St. Dinfna Hotel manda muito bem nesse quesito! O game não possui muitos monstros, mas se o jogador não tiver cuidado, estará em sérios apuros. Existem dois tipos mais comuns de monstros: uma criatura humanóide de pele escura, coração exposto, e com a mandíbula faltando. Esse monstro é como se fosse um zumbi padrão, mas não se engane achando que eles são inofensivos. Se você não acabar com eles rapidamente, terá que se preparar para enfrentar um verdadeiro terror! E acredite, esses bichos são aterrorizantes se você vacilar!
O outro tipo básico, mas mais incomum, é uma espécie de inseto monstruoso. Esse tipo aparece apenas em alguns trechos andando pelas paredes. Se você se aproximar muito, eles te atacarão imediatamente, causando um imenso susto. Felizmente, após atacarem eles morrem, e podem ser derrotados com poucos tiros, mas, se você entrar no alcance de vários deles, ficará preso em suas animações de ataque, até que todos tenham terminado de arrancar um pedaço de você.
Há ainda alguns chefões, que são bem grotescos e assustadores, exigindo bastante poder de fogo do jogador. Por isso, não saia desperdiçando munição de forma irresponsável, pois se você estiver despreparado ao enfrentar chefões, não vai conseguir derrotá-los.
Por fim, o game possui seu próprio “Nemesis”, uma criatura humanóide enorme, usando máscara de gás, com cilindros de gás em suas costas e com um braço gigante, que termina em longos tentáculos. Esse monstro segue o jogador em vários trechos de extrema tensão e terror, protagonizando alguns dos momentos mais intensos do game.
Tudo isso combinado faz de Fobia: St. Dinfna Hotel um game de terror excelente, e mostra o talento que o pessoal da Pulsatrix Studio, estúdio brasileiro que criou o game, tem em criar uma experiência de terror. Ao mesmo tempo evocando os pontos fortes dos clássicos e contando sua própria história. E, mais importante que tudo, conseguindo ser assustador de verdade!
Audiovisual
Fobia: St. Dinfna Hotel possui um visual excelente. O game foi criado na Unreal Engine e sua qualidade é realmente impressionante, ainda mais ao se comparar o tamanho do game. No PC, o game tem apenas 3,8 GB de tamanho total, algo realmente impressionante dado seu visual bastante detalhado!
Os cenários, cheios de escombros, destruição e carnificina, possuem uma enorme riqueza visual, com texturas realistas e contando inclusive com Ray Tracing, que deixa tudo muito melhor. As luzes artificiais de corredores ou quartos, reflexos de relâmpagos e a luz da lanterna que o protagonista carrega são excelentes, e ao serem refletidas nas diferentes superfícies texturizadas, geram efeitos incríveis.
Seja ao observar portas ou paredes de madeira polida, objetos de metal brilhante, manchas e poças de sangue no chão e nas paredes, escombros e barreiras empilhadas em corredores, e até mesmo as estranhas massas de carne pulsante presentes em alguns pontos dos cenários, com um visual muito grotesco e úmido.
Os monstros também possuem visuais excelente, em especial o monstro mais comum, a criatura humanóide de pele acinzentada e coração exposto. Apesar de não ser recomendado (pelo perigo de sofrer um ataque), ao se aproximar delas você pode ver muitos detalhes impressionantes, inclusive os efeitos do Ray Tracing em suas peles.
O game possui uma trilha sonora bem feita, que se faz presente apenas em momentos pontuais, como ao entrar nas save rooms, ao ser perseguido pelo “Nemesis” do game, ao enfrentar chefões e em cena importantes. Na grande maioria do tempo, os sons ambientes preenchem o “espaço”.
Sons de incêndios, madeira estalando, portas e passos à distância. O game consegue criar uma atmosfera realmente tensa com sua qualidade sonora. E alie isso aos sons dos próprios passos do protagonista, dando aquela sensação assustadora de que tem alguém te ouvindo e pode te atacar a qualquer momento.
E, sendo um game brasileiro, Fobia: St. Dinfna Hotel está 100% localizado em português brasileiro, inclusive em sua dublagem! A dublagem do game em nosso idioma é mais simples, não contando com atuações exageradas, mas também contando com personagens de diferentes sotaques, em especial o protagonista, Roberto Lopes, com um sotaque bem característico do interior de São Paulo e de Santa Catarina (algo bem incomum em qualquer trabalho de dublagem, mas que se torna mais próximo de como realmente conversamos no dia a dia).
O melhor de tudo, em minha opinião, é que as atuações das pessoas que deram vozes aos personagens são bem mais puxadas para o realismo, fugindo daqueles clichés de filme de terror em que o protagonista, ao ser sugerido encarar o monstro de frente, encarna um herói do nada e vai pra cima sem mesmo. Pelo contrário, Roberto não quer estar ali, não quer ter que encarar os perigos e definitivamente não quer saber de conversa ou “desculpas” quando se trata de sair vivo dali.
Conclusão
Fobia: St. Dinfna Hotel é um excelente game de terror. Ele nos oferece aquilo que se espera de um Survivor Horror clássico e não cai em certas “armadilhas” que muito comumente pegam alguns títulos desse gênero, como exagerar em jumpscares ao ponto de não assustar mais, ou então ser muito fácil ou extremamente difícil, uma balança que muitos games acabam errando.
O game ainda é mais uma prova de como os desenvolvedores aqui do Brasil são talentosos e capazes de criar experiências incríveis. Nosso país já tem muito poder no cenário independente, mas nossa experiência com histórias de terror ainda não é tão vasta assim. Mas Fobia: St. Dinfna Hotel é sem dúvida alguma um marco na história de nossa indústria gamer. E não é a toa que o game conquistou o mundo todo em seu lançamento!
Fobia: St. Dinfna Hotel foi lançado no dia 28 de junho com versões para PC, Playstation 4, Playstation 5, Xbox One e Xbox Series X/S.