Análise Arkade: Genshin Impact eleva os jogos grátis a um novo patamar
Genshin Impact vem chamando atenção de forma crescente desde o seu primeiro anúncio. Uma das suas maiores polêmicas pelo caminho são suas semelhanças com The Legend of Zelda: Breath of the Wild, o revolucionário game de mundo aberto da Nintendo. Porém, depois de muito barulho, o dia do lançamento ocidental do jogo finalmente chegou e seu sucesso é inquestionável.
Com um mundo aberto estonteante, personagens carismáticos e uma tonelada de atividades a serem feitas, Genshin Impact causa uma excelente primeira impressão. Além disso, o jogo da chinesa Mihoyo claramente saiu da sombra da referência japonesa, com mecânicas e particularidade muito bem vindas. Mas será que o jogo dura bastante? Será que realmente ele não é um mero plágio? Bom, vem comigo nessa análise pra gente discutir mais sobre.
O majestoso mundo de Teyvat
Ao contrário do que se imaginava, Genshin Impact possui o foco quase que totalmente voltado para a experiência single player. Exatamente isso. Ele não é um MMORPG clássico. A exploração livre do mundo e a vivência da história do jogo são suas bases. Assim, temos um enredo bem interessante que foge um pouco do óbvio que tange jogos gratuitos online.
Na história, acompanhamos o(a) protagonista da história, chamado apenas de Viajante. Ao escolher nosso gênero, presenciamos uma batalha épica na qual somos separados do nosso irmão ou irmã gêmeo, caindo no mundo de Teyvat. Após algum tempo explorando este mundo sozinhos, conhecemos a elfa Paimon, que serve como companheira de toda a nossa aventura.
O mundo de Teyvat é repleto de histórias primárias e secundárias que enriquecem bastante sua mitologia. Neste mundo, existem pessoas que possuem a chamada “Visão”. Amuletos que permitem que estes indivíduos especiais consigam manipular algum tipo de magia elemental. Esses elementos, sete no total, são bastante importantes para a contextulização do mundo.
No prólogo do jogo (que é consideravelmente grande) acompanhamos as histórias do reino de Mondstadt. O primeiro de sete reinos que serão liberados aos poucos em futuras atualizações do jogo. Mondstadt é bem ampla e serve como região “tutorial” do jogo. Essa intodução leva umas boas seis horas para ser concluída, o que é bastante tempo. Mas você só nota de fato que está em uma introdução depois que ela acaba, pois já temos disponível também a primeira parte do conteúdo do segundo reino, chamado Liyue, focado no elemento terra.
Sistema de combate viciante
Como dissemos anteriormente, Genshin Impact lembra bastante Breath of the Wild, mas consegue sair da sua sombra. Um dos pontos que o diferenciam bastante do jogo da Nintendo é o seu sistema de combate. Isso porque, em Genshin Impact, controlamos até quatro personagens alternadamente em um time.
Além disso, cada personagem possui um elemento mágico específico, os quais possuem relação de vantagem e desvantagem. Assim, já temos um primeiro ponto muito viciante na jogatina de Genshin Impact: construir seu time. Uma sensação que não é idêntica, mas que lembra um pouco Pokémon acontece aqui. Isso porque começamos a montar o time com o que temos, mas aos poucos construímos estratégias e modos de jogar únicos.
Isso tudo graças a inteligentíssima mecânica de reação elemental implantada no jogo. Assim, todos os sete elementos possuem reação tanto entre eles como com o ambiente ao seu redor. Em um dos meus primeiros momentos jogando, por exemplo, usei um personagem do elemento vento para criar um tornado e causar dano nos inimigos. Porém, esse tornado sugou as chamas de uma fogueira próxima, virando um tornado de fogo que deu dano acumulado de fogo e vento nos inimigos. Essa reação específica é chamada de espalhamento.
O mesmo acontece com outros elementos, podendo combinar sempre dois elementos para combos mais poderosos. Alguém molhado pode ser congelado pelo gelo ou eletrificado pelos relâmpagos. Já alguém em chamas pode ser cristalizado pela terra ou vaporizado pela água. As combinações são bem criativias e diversificadas.
Por fim, temos comandos muito precisos e instintivos para combinar perfeitamente com todas essas regras de combate. Tanto no teclado quanto no controle de videogame os comandos são excelentes. Até mesmo no smartphone, apertando botões na tela, é possível jogar de modo bastante confortável para quem está acostumado.
Single player com multiplayer opcional
Como dito anteriormente, Genshin Impact não é um MMORPG. Mesmo que ele seja um RPG e tenha funções online, a maior parte da aventura é solitária. Nisso, ele lembra bastante a experiência de Breath of the Wild. Uma exploração bastante livre, com mais ambientes e funcionalidades sendo liberadas no decorrer da jogatina, de modo bem orgânico e instintivo.
O fato do jogo estar com textos totalmente traduzidos para português brasileiro também ajuda bastante nesse ponto. Assim, a apreensão da história e das regras desse mundo são bem mais fáceis (Ainda que tenham muitos erros ortográficos e de tradução). No que tange sua funcionalidade online, ela tanto não é o foco que demora um pouco para ser liberada na jogatina. Somente a partir do rank de aventura 16 (o nível geral da sua conta, independente do nível dos personagens) é que você pode convidar amigos para o seu mundo ou então entrar no mundo deles.
Isso deixa claro que a imersão no mundo de Teyvat é muito mais importante do que as funcionalidades multijogador do título. Claro que num primeiro momento não sabemos se este foco será mantido do mesmo modo nos ranks de aventura mais avançados. Porém, até o presente momento de jogo, no qual alcancei o nível 70 com os persongens e o rank de aventura 36, não existe nada do jogo que não possamos fazer sozinhos.
Claro que o multiplayer facilita algumas coisas, como o embate com bosses do mundo por exemplo. Entretanto, ele não é essencialmente necessário para basicamente nada. Como única exceção, neste primeiro mês de jogo, tivemos um evento comunitário de uma semana, onde participávamos de missões pontuais com mais três jogadores sortidos ou entre amigos.
Otimização sem igual, menos no PS4
Outro fator que agrada bastante em Genshin Impact é o seu visual. Esteticamente muito baseado no visual característico de animes, o game possui um mundo belíssimo e personagens tão bonitos quanto. Mas não é só de beleza que vive o título, já que seu desempenho agrada bastante também.
No PC, é preciso uma máquina relativamente potente para rodar o game nas configurações máximas com uma taxa de quadros boa. Mas as configurações medianas, por sua vez, atendendem um universo enorme de máquinas diferentes, o que é ótimo. Isso tudo sem pecar demais na beleza estética do título, que é encantadora.
No PlayStation 4, entretanto, o título já não se sai tão bem assim. Em nossos testes o título mal chegava aos 30 frames por segundo. Além disso, várias vezes durante a jogatina sofreu quedas na taxa de frames em lutas medianas e durante a exploração do mundo aberto. Porém, temos um resultado extremamente oposto quando vamos para os smartphones.
Surpreendendo bastante, Genshin Impact é incrível na tela de um celular. Em aparelhos que usam Android, o jogo não passa dos 30 quadros, o que já ocorre em aparelhos com iOS, nos quais o game pode chegar a até 60 fps. Porém, o jogo roda consideravelmente bem em celulares com configurações médias aptos a rodar o título. Seu único problema aqui é que consome bastante do aparelho, fazendo-o esquentar bastante.
Porém, ainda é surpreendente que um jogo desse porte rode na tela de um celular sem problemas drásticos. Infelizmente os jogadores de PS4 não seguem com uma experiência tão bem otimizada como a dos usuários de PC e mobile, mas isso pode ser corrigido em atualizações futuras.
Crescimento lento, mas prazeroso
Outro aspecto de Genshim que é importante de se ressaltar, diz respeito ao seu ritmo de jogo. Como o próprio jogo deixa claro em alguns momentos, seu ritmo não é dos mais acelerados. O grind e a exploração despretenciosa são as palavras da vez aqui. Isso porque a todo momento o jogo te encoraja a pegar leve.
Isso pode soar como ótimo para alguns, mas pode incomodar bastante os mais ávidos por chegar no chamado ending game o mais rápido possível. Isso porque, caso você abuse demais de guias para buscar todos os itens do mapa, tutoriais para montar builds para cada personagem entre outras coisas, pode acabar se frustrando ou desistindo do jogo relativamente rápido.
Lembrando: Genshin Impact não é um MMORPG como Black Desert, World of Warcraft ou Ragnarok Online. Ele está muito mais próximo de JRPGs como a série Tales of ou então com o ritmo de exploração de Zelda. Isso por si só já diz de seu ritmo. Entretanto, existe um aspecto específico desse ritmo no “ending game” atual do jogo, que pode ser problemático.
O fator “caça níquel” de Genshin Impact
Como a maior parte dos jogos gratuitos, Genshin Impact tenta obter lucro por algum meio secundário inserido no próprio jogo. Nesse caso, temos algumas compras possíveis que são, de fato, opcionais na maior parte do tempo. A maior parte delas, focada na aquisição de gemas para girar a roleta que lhe dá a possibilidade de obter novos personagens.
Mecânica já bastante conhecida de jogos mobile, o sistema de gacha em Genshin Impact está longe de ser punitivo ou abusivo. Inclusive, existe um número muito grande de atividades dentro do próprio jogo que te dão as famigeradas gemas para rodar a roleta das possibilidades, aqui chamada de oração.
Temos aqui taxas de chance de obtenção dos personagens mais raros abaixo de 3%, mas com eventos sazionais que aumentam essas chaces para alguns personagens. Além disso, o fato do jogo não possuir nenhuma mecânica PVP deixa ele bem longe de ser considerado pay to win de algum modo.
Entretanto, existe o problema das energias gastas para determinadas atividades dentro do jogo. Após um certo nível, você começa a finalizar as principais atividades do mundo ou a faltar muito pouco para concluir a maioria. Isso vai te deixando cada vez mais restrito à atividades repetitivas de grind, como calabouços e bosses. O problema é que para obter o loot desses locais, você gasta uma energia própria que recarrega 1 ponto a cada 8 minutos.
Para recarregar 60 pontos de uma vez, você pode usar um item que é obtido passando de rank de aventura ou então pagando com gemas. E aí é onde mora o elemento mais próximo de um problema em Genshin até agora. Porque quanto mais forte você fica, mais difícil fica de obter essa energia, deixando a evolução cada vez mais vagarosa e limitada. Com a comunidade questionando bastante esse sistema, é possível que a MiHoyo ajuste isso em breve. Porém, ainda não foi feito até a data dessa análise.
Um mundo riquíssimo em detalhes
Mas não se enganem: Genshin Impact tem uma quantidade e conteúdo excelente para um jogo gratuito. Mesmo com o problema atual da energia gasta no jogo, ainda há muito o que se fazer sem ser necessário gastar esta energia. Porém, é necessário se desprender de alguns vícios de jogos online que aqui não funcionam muito bem.
O mundo de Genshin Impact possui uma variedade suficiente de atividades para parecer pouco repetitivo. Baús são o elemento mais viciante de se encontrar no mapa. E você pode obtê-los das mais variadas formas que possa imaginar. Seguir fantasmas no melhor estilo das raposinhas de Ghost of Tsushima, enfrentar inimigos, resolver puzzles de raciocínio lógico espalhados pelo mundo, encontrar locais secretos, vencer bosses, concluir missões opcionais ou temporárias, vencer calabouços… Tudo isso te rende baús no final.
Mas para além dos baús, temos outros elementos a serem obtidos pelo mundo. Orbes elementais são pegas no melhor estilo dos Koroks de Zelda Breath of the Wild. Estes servem para aumentar o nível da estátua dos deuses, aumentando assim sua estamina. Além disso, temos também desafios de tempo que incluem tanto alcançar um determinado local como enfrentar alguns inimigos antes do tempo acabar.
Existem até prêmios secretos dentro de missões. Mostrando verdadeiras camadas de obtenção de loot na exploração. Em certo momento, encontrei um baú que era protegido por monstros e precisei vencê-los para obter o prêmio. No final, saindo do acampamento deles, notei um alvo de flechas suspeito em um canto. Resolvi acertar bem no meio do alvo com uma flecha e voilà: outro baú.
Um novo patamar para jogos gratuitos
Genshim Impact rompeu com vários padrões de jogos gratuitos já cansativos dos últimos tempos. Seu “day one” não foi cercado de problemas de conexão ou lags diversos. Seus recursos pagos não são abusivos ou pay to win. Seu conteúdo inicial é excelente e já existem planos para atualizações com média de dois em dois meses no máximo. Sua qualidade técnica é facilmente comparável a de jogos AAA de consoles e PCs.
Porém, como todo jogo focado em conteúdo progressivo, Genshim Impact precisará manter esse padrão de qualidade nas próximas atualizações. Já foi confirmado pela MiHoyo que teremos nada menos que sete reinos no jogo, com tamanhos variados e histórias interligadas. Seus personagens de gacha, possuem história, contexto e relevância no enredo. Tudo parece estar bem encaixado e planejado para termos conteúdo por anos para o jogo.
Por fim, solicitações de enquetes e mapeamento do perfil dos jogadores feitos nos últimos tempos demonstram um verdadeiro interesse da desenvolvedora em entender quem é o jogador que está interessado em Genshin Impact. Mostrando proatividade rara em ouvir o que temos a dizer. Esperamos que isso seja de fato traduzido em atualizações constantes e modificações do jogo visando a melhoria da experiência, como no caso do sistema de energia. Por fim, temos em mãos uma peça rara, um RPG de ação em mundo aberto de primeira categoria, com ótima jogabilidade e garantia de bastante conteúdo pela frente.
Genshin Impact foi lançado mundialmente em 28 de setembro de 2020 com versões disponíveis para PC, PlayStation 4, Android e iOS. Futuramente o jogo chegará também ao Nintendo Switch, mas sem data prevista. Para esta análise, jogamos o game por cerca de 100 horas em duas contas distintas, utilizando-as tanto no PC quanto no PlayStation 4 e em um celular com sistema Android.