Análise Arkade: A divertida, mas problemática guerra de Ghost Recon: Wildlands
A série Ghost Recon estava tão encostada, que muitos jogadores nem sabiam que Wildlands se trata de uma franquia já estabelecida na Ubisoft, com o selo Tom Clancy, assim como os games Splinter Cell ou Rainbow Six. Isso pode acabar assustando marinheiros de primeira viagem, pois ao ver um mundo enorme para ser explorado e ações militares, a sensação de um game mais focado na ação é surpreendida por seu gameplay mais tático e focado na estratégia.
Wildlands simplificou muito os conceitos de gameplay tático, e oferece a seus jogadores um imenso universo para explorar, com centros de treinamento, pequenas vilas, algumas cidades e tudo o que um espaço dominado por um cartel tem direito. A luta para, assim como um vírus, desmanchar a quadrilha de maneira silenciosa por dentro, obriga o jogador a invadir bases, roubar equipamentos e eliminar ou sequestrar alvos específicos, em um trabalho de formiga que levará ao cabeça de tudo, El Sueño.
É uma guerra, mas uma guerra silenciosa
https://youtu.be/E5BRqCyoMkY
Todos aqueles que já estão acostumados com Call of Duty ou Battlefield irão sofrer e muito com Wildlands no começo, pelo simples fato de, apesar de comandar um grupo de soldados e poder entrar em combate, a operação é “Ghost”, ou seja, com o mínimo de barulho possível. Isso significa que, sair dando uma de Rambo e chutar a porta com o fuzil na mão é sinal de morte na certa, já que o inimigo irá ferozmente pra cima de você e sua equipe.
Para completar as missões, que infelizmente não são lá muito variadas, apesar de consistentes e bem planejadas, o método fica a sua escolha, mas sempre seguindo os passos de chegar, reconhecer o lugar, e ir limpando o ambiente para atingir seu objetivo, usando os membros de seu time, ou o apoio dos rebeldes que estão com você na operação, com funções sendo desbloqueadas com o passar do jogo. O ideal é sempre, após analisar o lugar, ir atacando devagar acuando o inimigo para um centro em comum, para finalizar o trabalho e pegar seu item, ou pessoa, sem maiores dificuldades, usando claro, o seu melhor amigo durante todo o game: o drone, que conta com upgrades e é uma ótima ferramenta para reconhecimento e ação, já que através dele é possível ordenar ataques a seus soldados para alvos específicos.
E, por estar dentro do território inimigo, a discrição é fundamental. Tudo bem que vez ou outra seus soldados não entendem isso, mas é só dominar os comandos e reagrupá-los quando estiverem prestes a fazerem burrada. Se você errar um tiro, chamar atenção indevida ou for visto, pode ter certeza que os inimigos vão com tudo pra cima, chamando reforços e mandando até helicópteros em sua caça. Por isso, paciência é fundamental em Wildlands, para realizar suas tarefas sem apanhar muito do jogo, que pra te ajudar, não oferece uma dificuldade muito alta, só exigindo do jogador silêncio e calma.
Para um game de ação tática, o jogo oferece recursos bem simplificados, talvez buscando atingir um número maior de jogadores. No começo, tudo é bem nebuloso e estranho, mas apesar da curva de aprendizado esquisita, com pouco tempo de jogo você domina as muitas funções do jogo, que, além da tropa que tem para cuidar, também conta com ajuda de rebeldes, coletas de pontos de habilidades para ampliar suas possibilidades em campo e coletas de armas novas, para melhorar seu arsenal, limitado a duas armas grandes e uma pistola carregados por você.
O mundo aberto, um padrão nos jogos recentes da Ubisoft também se faz presente aqui, com a possibilidade de ir desbravando toda a região boliviana disponível no jogo, em áreas dominadas por um dos influentes do cartel. Com isso, o jogo segue no seu ritmo, te deixando escolher as missões, tanto as principais quanto as secundárias, no seu ritmo e velocidade. Mas, pelo menos no começo, tudo é muito confuso, e você não sabe o que é missão principal, nem o que tem que fazer direito, exigindo umas horas de jogo para “se encaixar” e planejar melhor sua exploração.
Um novo mundo dentro da Bolívia
Logo no começo do jogo, você monta seu soldado. Por ser uma equipe de Ghosts, seu personagem não é lá um protagonista carismático ou coisa do tipo, mas independente do jeito que você montá-lo, seja homem, mulher, alto, baixo, forte, ou magro, a personalidade é a mesma e até existe um pequeno trecho de seu passado, como o serviço no Iraque, mas não espere personalidade de sua equipe, nem da turma da CIA que te ajuda no trabalho. Personalidade temos nos caras maus, que embora sigam a risca a cartilha de como se comportar no cartel, contam todos com passado bem construído e mostram o poder da rede criminosa, que conta com, além dos já tradicionais assassinos de aluguel, blogueiro e cantor, por exemplo.
O Santa Blanca luta para se tornar um país independente da Bolívia, tal qual o sonho de Pablo Escobar na Colômbia, e por isso, se organizou de maneira maior do que um sistema de crime organizado. Claro que existem os responsáveis pelos assassinatos, sequestros e tortura, mas a mídia também é utilizada, com um DJ que espalha a mensagem do cartel, cantor que traz músicas de apologia ao crime e um blogueiro que é responsável para cuidar das notíticas e imagem do cartel perante a sociedade. Até uma espécie de júri existe para cuidar dos problemas dos habitantes do local, além de uma equipe responsável por fornecer empréstimos.
A ideia é bem executada, por trazer o jogador para um universo que, embora é bem explorado no cinema, televisão, raramente é visto de uma forma tão profunda dentro de um jogo. O mundo dos cartéis oferecem interessantes histórias e personagens, e a proposta do universo, mesmo que com a falta de uma história mais pessoal envolvendo um protagonista e suas razões para entrar na luta, consegue prender o jogador, pelo menos para conhecer mais sobre cada um dos envolvidos com o Santa Blanca.
E, com um mundo enorme como este, prepare-se para dirigir, e dirigir muito. Estamos em uma terra bem isolada, com poucos recursos, por isso não espere que o táxi do GTA vá te buscar sempre que precisar. Tudo bem que viagens rápidas e um helicóptero te ajudem muito, mas tudo é muito longe e te fará passar um bom tempo do jogo no comando de algum veículo. Mundo este bem detalhado, até, mas com um visual baseado no ok, sem muitas novidades para as questões gráficas, bastando destacar o detalhamento de cidades, vilas, casas e igrejas, o que mostra um bom trabalho de conhecimento da equipe que desenvolveu este mundo no jogo.
Rádio Santa Blanca, a número um do cartel
Quanto ao som, Wildlands não traz grandes novidades quanto o esperado: o silêncio nas operações ajudam o jogador a preparar sua estratégia, enquanto o ambiente convence sobre a região que está, seja ela bastante populosa ou mais deserta.
Mas o que chama atenção de maneira positiva aqui é o bom humor que foi adicionado ao jogo, começando pelas conversas entre os soldados no carro enquanto estão em locomoção para algum lugar do mapa: eles contam piadas, lembram de casos passados e tratam tudo com certa ironia de um soldado de elite típico dos filmes de ação.
E, além disso, temos uma rádio só no jogo, mas que foi bem planejada, tirando apenas o fato de que o áudio é pouco comparado ao tempo que se passamos dirigindo e com o tempo tudo fica bem repetitivo. A rádio pirata do cartel existe para transmitir os ideais do cartel para os habitantes, tentando convencê-los que a causa é justa e que eles lutam pela liberdade da Bolívia, usando até de religião, de uma maneira bem manipuladora, para sustentar a filosofia deles, chegando a citar versículos bíblicos para tal.
Junto com a “ministração” de El Sueño, temos também o DJ Perico, responsável por tocar o dia da rádio, atendendo ouvintes, fazendo entrevistas e dando conselhos para o dia a dia dos membros do cartel. O interessante aqui é que o bom humor impera, com conselhos do tipo “usem a p**** da camisinha”, numa campanha contra DSTs que impedem a distribuição de cocaína como desejada, premiações como uma bicicleta cromada para um ouvinte ou entrevista com soldados do cartel, todas bem engraçadas e que tiram muito da seriedade dum confilito desta natureza.
“Te alcanço depois”
O gameplay é bem simplista, como falamos anteriormente, o que é um pequeno problema para quem queria mais profundidade na ação tática, já que a ideia claramente é vender Ghost Recon como um jogo de guerra mais acessível. O problema é que, até pegar o jeito no jogo, e isso pode demorar muito de acordo com cada jogador, tudo se apresenta de forma confusa e esquisita: os novatos não sabem o que fazer e os veteranos se assustam com opções distintas e não-práticas, o que pode afugentar muita gente do jogo, se cansarem do título logo nas primeiras fases.
Outro problema também diz respeito as missões: apesar de serem bem parecidas (ou mate/resgate/destrua algo ou alguém), até que condizem com o contexto do jogo, mas no andar das mesmas que temos alguns probleminhas, como por exemplo, em uma missão, que você precisa roubar um caminhão e em três minutos devolver outro, mas com explosivos. Ao chegar no local da troca, além do espaço bizarro para manobrar o caminhão, é preciso conversar com um soldado ali e enquanto isso o tempo continua correndo, fazendo com que, caso o tempo estoure, você precise começar tudo de novo. Enquanto outra missão, de sequestro, te coloca quase que do lado do alvo podendo finalizar tudo sem dar um tiro, se for para a mesma com um veículo blindado. Este problema de balenceamento das missões atrapalham um pouco o gameplay, que fica repetitivo demais se começarmos a fazer as missões secundárias, que são as mesmas cinco opções em locais diferentes.
E, embora não influencie diretamente no gameplay, o game ainda conta com vários bugs que nos tiram risadas involuntárias. Em nossos testes, batemos com um avião na montanha que continuou voando normalmente, vimos soldados flutuando em seus para-quedas na água como se fosse um balanço e talvez, o mais visto, foi a “entrada-fantasma” dos soldados em seu carro. Ás vezes, no meio da ação, você decide ir sozinho de carro para fugir de um ataque e seus soldados avisam que chegam em seguida, mas num piscar de olhos, eles estão dentro do carro trocando tiros com os inimigos, numa ação muito bizarra. Sabemos dos patches de correção, mas este tipo de coisa apresenta um produto estranho, esquisito, ao jogador.
Uma guerra problemática, porém divertida
Ghost Recon Wildlands é um interessante game de ação tática, mas é bem simplista, se comparar com outros games do gênero, mesmo os mais antigos. Seu mundo é rico e conta com interessantes personagens do lado do cartel, que serão atacados por você cedo ou tarde, mas peca em um gameplay inicial confuso e alguns bugs que acabam atrapalhando a experiência (ou provocando risadas). A jogatina cooperativa é bem interessante também, e ajuda a ampliar um pouco mais as possibilidades do gameplay, que acaba ficando repetitivo após um tempo.
Mas mesmo com seus problemas, é possível se divertir sim com o game, servindo até como porta de entrada para jogadores que até se interessam por este tipo de game, mas que não se sentem confortáveis com as muitas opções e atenção que um jogo desta natureza exige. A mistura de ação tática com elementos de games como Watch Dogs ajudam a simplificar tudo e a apresentar este mundo para estes jogadores, fazendo-os conhecer outros games do gênero e encará-los com mais naturalidade.
O game está disponível para PS4, Xbox One e PC.