Análise Arkade – Granblue Fantasy Versus: Rising e o ápice das lutas 2D

14 de dezembro de 2023
Análise Arkade - Granblue Fantasy Versus: Rising e o ápice das lutas 2D

São poucas as empresas de desenvolvimento de jogos, sobretudo aquelas que se especializaram em um gênero específico, que se tornaram símbolos de competência para qual fosse o anúncio que fizessem.

A história da Arc System Works, responsável por algumas das mais significativas franquias hoje consagradas dentre os adeptos da pancadaria digital como Dragon Ball FighterZ e, principalmente, a série Guilty Gear, está intrinsicamente ligada a sobrevivência do estilo de arte bidimensional em games de luta, e isso se deve sobretudo às qualidades incomparáveis no seu estilo de fazer jogos.

Encontrando um ótimo equilíbrio entre a modelagem tridimensional com texturas que emulam muito bem a estética de animações desenhadas a mão, seus maiores sucessos se mostraram estar além de serem “só” alguns dos mais lindos expoentes do gênero, no momento em que o quebra-pau começa e qualquer pessoa, especialista ou não, testemunha o cuidado com mecânicas sofisticadas e inventivas que conseguem ser precisas, efetivas e esteticamente fascinantes.

O sarrafo esperado para o mais novo-velho lançamento da empresa, Granblue Fantasy Versus: Rising, estava, portanto, bem alto. E felizmente, parece ter sido alcançado com êxito.

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Dos RPGs orientais para o mundo

A versão anterior do game, chamada somente de Granblue Fantasy Versus e lançada em 2020, foi concebida como uma derivação do RPG bastante popular principalmente no oriente e que tinha no mobile sua principal plataforma. Uma parceria entre a Cygames, dona original da marca, e a renomada e já exaltada Arc System Works levou aqueles personagens para os jogos de luta e, com isso, trouxe consigo novos adeptos para este universo, pessoas que jamais seriam encontradas pela sua versão original, como este que vos fala.

Com o sucesso inesperado pelo mundo, era de se esperar que uma continuação surgisse e GBVS: Risign surge para responder aos adeptos ansiosos em ver uma nova aparição daqueles personagens tão espalhafatosos agora otimizados para a nova geração. O game, porém, não é exatamente uma sequência, mas um aprimoramento da edição anterior, algo que está mais próximo de uma remasterização robusta, uma versão revisada e ampliada, por assim dizer, do que um jogo totalmente novo. Com todo o conteúdo extra lançado desde o original e outras coisinhas mais, podemos dizer que é a versão premium e definitiva da experiência.

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Dito isso, a história aqui contada segue exatamente pelo mesmo caminho. Em um modo já bem estabelecido no gênero, a campanha principal mostra o protagonista Gran em uma jornada para compreender o que está corrompendo seus antigos aliados, fazendo com eles se tornem agressivos e estranhamente o estejam atacando sem maiores explicações. Tentando sobreviver ao poder destes grandes guerreiros, ele precisará ser capaz de reverter o fenômeno e reestabelecer a boa convivência antes de ser aniquilado no processo.

Narrada em um padrão de três atos como uma grande visual novel japonesa, a trama é relativamente simples, mas efetiva ao justificar batalhas entre antigos aliados e parcerias improváveis. A treta toda nada mais é do que uma reapresentação do mundo de Granblue Fantasy para não iniciados, deixando claro, portanto, que não exige conhecimentos prévios para que o jogador aproveite suas qualidades. Por outro lado, os veteranos da versão anterior podem recuperar o save antigo, o que dá cabo do primeiro ato completo. Os outros dois são materiais originais que amplificam o alcance da trama e se aproveitam dos personagens novos e os que antes eram DLCs.

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Como um grande tutorial, o Modo História é, de longe, a melhor recomendação para os novatos adentrarem esse mundo, mesmo que a tendência inicial, pelo menos para mim, é buscar por partidas avulsas antes que me permitam conhecer cada personagem o mais rápido possível. Ainda assim, por mais que o espaço para terinamento seja nitidamente um espaço seguro para se aprender combos, sequências e combinações, tudo está muito bem explicado aqui. GBVS: Rising é generoso e paciente com novos adeptos, mas exigente conforme avançamos com nossas habilidades.

Modos e mais modos

E já que estamos falando das diferentes opções de modos, melhor detalhar um pouco mais a dinâmica deste que é, claramente, o principal espaço single player do jogo. Emulando um bom RPG, a campanha nos coloca para enfrentar legiões de inimigos comuns como em um bom e velho beat ‘em up típico dos anos 1990, ou nos permite focar nas batalhas contra chefes ainda mais complicados e intensos.

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De um jeito ou de outro, estas missões fogem em alguns aspectos da dinâmica padrão de jogos de luta e nos aproximam do modelo de ataque, defesa e dano em tempo real de clássicos de outrora, sem perder de vista as suas mecânicas de combate precisas e as diferentes combinações de comando para ações devastadoras contra um ou mais inimigos na tela. Diferente de MK1 onde algumas passagens inovadoras parecem estranhas ao se utilizarem das mecânicas de um típico jogo de lutinha, aqui tudo parece mais orgânico e funcional.

Novamente, as lutas mais interessantes são aquelas de maior escopo, mas espancar um bando de capangas ou lobos gigantes tem lá a sua graça, mesmo que o modo pareça em alguns momentos alongado demais. Cada ato tem uma linha de capítulos que podem ou não conter sequências de batalha, e que intercalam cenas animadas, diálogos estáticos ou passagens fotográficas didáticas que recuperam eventos que se passaram antes que estamos vendo. Ninguém fica perdido, e há um glossário para se atualizar caso um personagem seja citado e não explicado imediatamente.

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A vitória em pontos-chave garante benefícios extras que melhoram o nosso desempenho para os próximos desafios, em uma constante de progressão bem típica do gênero RPG, berço da série. Equipamentos, níveis, poderes elementais, tudo o que se espera de uma boa aventura desse tipo está presente. E para os mais empolgados, não demora para poder compartilhar a aventura com outra pessoa, seja on-line, seja no sofá de casa, a melhor forma de se aproveitar o modo que parece uma (boa) colcha de retalhos com ótimas ideias, mas mecânicas que podem se tornar cansativas em sessões mais alongadas. A recomendação é alternar entre a história outros modos para manter o interesse nos eventos aqui narrados.

Entretanto, este é um jogo de luta, afinal, então o pacote não pode deixar de lado o Modo Arcade, aqui bem tradicional com a escolha de um personagem para enfrentar uma linha de adversários aleatórios; o Treinamento que permite aprender desde a dar um soco até a contar os benditos frames para combos mais efetivos e que carrega consigo as famigeradas Trials que nos deixam com bolhas nos dedos tentando repetir sequências devastadoras e aprender os meandros de cada personagem. E para uma partida solta ou outra, o modo Versus completa o pacote, nos colocando pra jogar contra a CPU ou outro jogador com todo o elenco à disposição.

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On-line que presta, finalmente!

Os fãs de Granblue Fantasy Versus, porém, muito provavelmente não vão reconhecer aqui tantas diferenças (para além do conteúdo adicional na campanha e no elenco) e estavam esperando algo realmente relevante no Modo On-line do jogo, isso porque aquela versão não contava ainda com o hoje imprescindível netcode via rollback, sistema que basicamente aprimora a comunicação em rede e diminui significativamente problemas de lag, latência e instabilidade em jogos que dependem de precisão e timing como esse.

Então sim, esta talvez seja a principal novidade do game. Dotado da tecnologia, o jogo permite partidas mais dinâmicas, mesmo quando se está geograficamente distante de seus adversários, e colocar a culpa na conexão quando se toma uma surra é um pouco mais complicado agora. Estar condicionado a ter amigos brasileiros jogando para ter o mínimo de uma boa experiência multiplayer ficou no passado e já dá pra se dedicar verdadeiramente a uma carreira on-line no jogo.

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Os ambientes de lobby são simpáticos e cheios de fofura ao nos colocar em um espaço comunitário, com direito a avatares chibi para criar pontos de interação com outros jogadores e até a participar de mini-games que me tomaram mais tempo do que eu gostaria de assumir. Um tanto quanto repetitivos e inesperados, esses pequenos passatempos agregam valor ao produto, elevando o fator social a um outro nível.

Claro que opções tradicionais de batalhas on-line, como não poderia deixar de ser, também marcam presença, com partidas casuais, salas particulares e batalhas ranqueadas que fazem um bom trabalho de matchmaking, mesmo que por vezes eu tenha enfrentado inimigos claramente em níveis muito superiores ao meu. Com um perfil de jogador personalizável, percebe-se aqui um cuidado todo especial para um elemento que estava defasado em sua versão original. Bom para os adeptos do multiplayer, algo que eleva muito a qualidade de vida e a longevidade do título.

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No período de avaliação, tive alguma dificuldade em encontrar adversários para fazer os testes, e talvez por isso enfrentado adversários com níveis discrepantes, mas isso se dá por ter experimentado o jogo em um período pré-lançamento, com servidores obviamente mais vazios. Ainda assim, em partidas contadas, senti pouca ou nenhuma diferença na velocidade e na estabilidade na comparação com os modos off-line. Não sou dos mais fervorosos competidores, mas já não dá para excluir as jogatinas contra adversários reais quando se espera uma experiência completa no gênero.

Lindo e preciso, como sempre

Visualmente, o jogo continua deslumbrante como sempre. A modelagem de cada personagem traz um exagero típico dos RPGs orientais e confere bastante personalidade a cada um dos 28 encrenqueiros do elenco principal, elevando muito, em termos quantitativos e qualitativos, as opções que haviam na versão original. O trabalho de cel-shading é dos mais competentes da indústria, trabalhando maravilhosamente bem com texturas em alta definição que abusam dos efeitos de luz e sombras mais duras, que ao lado de explosões e emanações elementais e de partículas sofisticados, oferecem um espetáculo como poucos.

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A Arc System Works parece estar se tornando cada vez mais uma referência de capricho no que refere à atenção aos detalhes. As animações de entrada nas lutas são cheias de estilo e valorizam todo o rico background da marca. Expressões faciais, movimentos vistosos e diálogos personalizados mostram um cuidado invejável. Destaque para o trabalho de localização das legendas para o nosso português brasileiro, que traz adaptações e regionalismos que funcionam bem. Nas vozes, a minha preferência foi pelo japonês, mais dramático do que a versão em inglês, mas em ambas a qualidade técnica é inquestionável.

O mesmo cuidado pode ser visto também na composição de cenários distintos e bem detalhados, e principalmente em uma interface de HUD intuitiva que tende a parecer exagerada quando as coisas estão mais agitadas, mas que logo se torna confortável para os olhos. Menus e telas de suporte também estão dentre os mais práticos do gênero e a galeria de artes é um ótimo complemento para quem gosta de conferir os mínimos detalhes sem ter que desviar o olhar na dinâmica das lutas. A comparação óbvia com Guilty Gear Strive é inevitável, mas não há dúvidas que este é um dos mais exuberantes jogos de luta já feitos.

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Tudo isso já seria incrível de qualquer forma, mas em Granblue Fantasy Versus: Rising, há uma consonância invejável entre aquilo que se vê e aquilo que se joga. As mecânicas parecem simples em um primeiro momento, principalmente para quem nem consegue decorar o nome de cada ferramenta dos recentes Street Fighter 6 ou The King of Fighters XIII: Global Match (este também um relançamento aprimorado), mas é na composição das diferentes ações onde está a sofisticação das batalhas.

São três tipos básicos de ataque e mais um movimento especial que depende de cada personagem. Ataques especiais e movimentos elaborados precisam ser bem dosados porque, em sua maioria, demandam um tempo de cooldown, o que evita que o seu amiguinho de infância venha com aquele papo de “só vale dois hadoukens por round” e o seu uso precisa de atenção aos ícones logo abaixo da barra de HP. A outra barra, como é de se esperar, é usada para os super especiais, em sua versão normal ou em uma variação ainda mais desesperada que só pode ser usada com a vida baixa.

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Assim, os principais combos do jogo são mais curtos do que estamos acostumados, e permitem pouca variedade, mesmo que o domínio dependa de precisão e um pouco de resiliência. Mesmo os comandos elaborados, como o universal “meia-lua e soco” podem ser substituídos por um atalho nos botões de ombro, então o jogo não está preocupado se você consegue ou não decorar dezenas de combinações, mas sim suas artimanhas para controlar o campo de batalha. Granblue Fantasy Versus: Rising nos golpeia na cara e nos faz lembrar que aqui, não é o que sabemos fazer que importa, mas o como usamos isso a nosso favor.

Conclusão

Granblue Fantasy Versus: Rising é simplesmente magnífico. Com mecânicas muito bem estabelecidas que valorizam a habilidade sem desmerecer quem está só procurando uma diversão descompromissada, é muito provavelmente um dos melhores e mais irretocáveis jogos de luta da atualidade. A excelência especializada dos desenvolvedores transborda de cada detalhe, pensado e repensado para favorecer o jogador e todo o investimento dele na experiência.

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Se a loja in-game espera dezenas e dezenas de horas dedicadas para que possamos desbloquear todos os cosméticos, as demais áreas de suporte e interface funcionam perfeitamente bem, incluindo uma galeria recheada e até um modo onde podemos montar cenas especiais com os modelos digitais. Fãs da franquia se sentirão muito bem servidos, mas quem está chegando agora tem uma tonelada de ferramentas para se envolver com este universo por todos os lados.

Impossível não voltar a falar sobre o aspecto audiovisual simplesmente impecável. Músicas e efeitos sonoros são ótimos, o trabalho de vozes é competente e a modelagem de personagens, cenários e efeitos gráficos é dos melhores que já vi não só em jogos do gênero, mas sim contando todo o universo dos nossos amados games. Granblue Fantasy Versus: Rising é um verdeiro deleite para os olhos, ouvidos e para as mãos. Imperdível!

Lançado em 14 de dezembro de 2023 para Playstation 5, Playstation 4 e PC, Granblue Fantasy Versus: Rising está, como já dito, disponível com legendas, menus e interface localizados para o português, e vozes em japonês e inglês.

Paulo Roberto Montanaro

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