Análise Arkade: Hello Neighbor é uma boa ideia muito mal executada

16 de dezembro de 2017

Análise Arkade: Hello Neighbor é uma boa ideia muito mal executada

Hello Neighbor é um jogo que foi anunciado há bastante tempo, e conseguiu se manter orbitando o inconsciente coletivo gamer graças a sua premissa, ao mesmo tempo simples e genial: seu vizinho está escondendo algo na casa dele, e é claro que a gente quer dar um jeito de entrar lá e dar uma espiadinha, não é?

Paranoia e curiosidade andam juntas desde sempre, e já vimos excelentes obras contarem histórias com estes temas, com destaque óbvio para o clássico Janela Indiscreta, de Hitchcock. Hello Neighbor parte da mesma ideia, mas infelizmente não desenvolve-a com a mesma qualidade.

O que temos aqui é um jogo dividido em 3 atos que têm a mesma premissa, mas objetivos bem diferentes: no primeiro ato, controlamos uma criança que acabou de se mudar e percebe que seu vizinho da frente esquisitão está escondendo alguma coisa em seu porão.

Análise Arkade: Hello Neighbor é uma boa ideia muito mal executada

No segundo ato, estamos presos no porão do tal vizinho, e nosso objetivo agora é cair fora dali. Por fim, no terceiro ato, temos o mesmo personagem do primeiro — agora adulto — tendo que encarar novamente o vizinho creepy, cuja casa agora é uma verdadeira fortaleza.

Tentativa e erro

Em sua extensa campanha de marketing, Hello Neighbor chamou a atenção de muita gente (inclusive a nossa) por prometer uma inteligência artificial adaptável, capaz de assimilar comportamentos do jogador e reagir de forma adequada e imprevisível.

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Pego no flagra!

isso meio que acontece… mas não é nada tão genial quanto nos fizeram acreditar que seria. A verdade é que o tal vizinho acaba criando seus próprios padrões de comportamento, de modo que ele nunca é tão inteligente ou imprevisível quanto poderia ser.

Somado a isso, temos a total falta de consequência pelos nossos atos: se o vizinho nos flagra bisbilhotando, simplesmente corre até nós, a tela fica escura… e acordamos em nossa casa (ou no porão, caso do Ato 2), prontos para uma nova investida. Mesmo itens acumulados na partida anterior continuam no seu inventário, o que pode meio que nos conceder uma vantagem na nova incursão.

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Assim, o jogo logo estabelece um padrão repetitivo bem sem graça: tente uma abordagem, seja pego, tente outra… e assim sucessivamente. Se você tentou entrar pela cozinha dessa vez, na próxima é melhor começar por outro lugar, pois o vizinho estará mais disposto a vigiar a cozinha. Essa é a tal “IA adaptável” que nos prometeram, um jogo de gato-e-rato pouco inspirado que demanda mais experimentação do que inteligência de fato.

Existem chaves e mecanismos que você invariavelmente vai precisar encontrar para acessar as áreas mais seguras da casa, que podem estar protegidas com câmeras de vigilância, lasers ou até mesmo por um enorme tubarão robô!

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Como seu inventário não é perdido de uma partida para outra, acaba sendo mais fácil ir coletando as coisas aos poucos, se equipando, para só então investir em uma abordagem definitiva. Esta provavelmente não é a maneira “certa” de se jogar, mas com certeza é a mais efetiva.

Um jogo problemático

Apesar de estar em desenvolvimento há vários anos e ter contado com diversas fases de testes (alphas e betas), Hello Neighbor ainda assim possui uma falta de polimento notável, que faz o game parecer inacabado, como se ainda estivesse em Early Access mesmo após seu lançamento definitivo.

Análise Arkade: Hello Neighbor é uma boa ideia muito mal executada

A jogabilidade é zoada e imprecisa, a gravidade/peso e sistema de colisão é terrível — o que atrapalha muito nos trechos de plataforma ou quando você precisa arremessar ou empilhar coisas. Sem a precisão adequada, é normal você lançar algum item e vê-lo simplesmente atravessar a parede, não podendo ser recuperado e te obrigando a recomeçar o capítulo (do mesmo jeito que você não perde seus itens, coisas que desaparecem não voltam).

Para complicar, o jogo ainda tem lá seus problemas de game design: ok, nosso objetivo é basicamente o mesmo, sempre — entrar na casa ou sair da casa — mas uma vez lá, você precisa cumprir certos objetivos que o jogo simplesmente não te avisa.

Análise Arkade: Hello Neighbor é uma boa ideia muito mal executada

Quem faz uma casa dessas sem ecadas? 😛

Por exemplo: já no Ato 1, você precisa ir até o segundo andar da casa, mas não há uma escada do lado de dentro, é preciso dar um jeito de acessar  andar superior por fora. O jogo nunca te diz isso, então o jogador desavisado corre o risco de passar um bom tempo se dando mal atrás de uma escada no interior da casa que simplesmente não está lá — aliás, quem diabos constrói uma casa de 2 andares sem uma escada?

Audiovisual

Ainda que tenha uma direção de arte cartunesca cheio de estilo, na prática Hello Neighbor deixa um pouco a desejar. Ele não é realmente feio mas, novamente, tudo parece um tanto grosseiro, e a falta de polimento salta aos olhos. Certos jogos disfarçam suas imperfeições sendo estilosos, mas aqui o estilo definitivamente não mascara a “crueza” do visual em si.

Análise Arkade: Hello Neighbor é uma boa ideia muito mal executada

O design estiloso não esconde as falhas do jogo.

No departamento sonoro, tudo é bem minimalista: este é um jogo stealth, então é fundamental que você consiga ouvir o ambiente ao seu redor. Passos e portas batendo lhe dão boas dicas da presença do vizinho na casa, então fique de ouvidos ligados se não quiser ser flagrado bisbilhotando.

Conclusão

Sabe quando uma boa ideia é mal executada? Hello Neighbor é exatamente isso: uma premissa cheia de potencial que naufraga em um mar de problemas e escolhas questionáveis de game design. Não há tensão aqui, e a falta de “punição” em caso de sermos pegos tira qualquer arremedo de suspense ou terror que o jogo poderia ter.

Análise Arkade: Hello Neighbor é uma boa ideia muito mal executada

É triste vermos uma boa ideia sendo desperdiçada, mas Hello Neighbor é um jogo problemático, mesmo tendo passado vários meses em período de testes. Acredito que ele pode — e deve — ser melhorado através de patches, mas neste primeiro momento, é difícil recomendá-lo.

Hello Neighbor foi lançado em 8 de dezembro, com versões para PC e Xbox One. O game possui menus e legendas em inglês.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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