Análise Arkade: um garotinho cego, seu cão guia e o apocalipse zumbi escolar de Ian’s Eyes

1 de setembro de 2016

Análise Arkade: um  garotinho cego, seu cão guia e o apocalipse zumbi escolar de Ian's Eyes

Contextualizando

Mudanças são complicadas e normalmente desconfortáveis. O simples ato de trocar de escola pode acarretar diversas questões psicológicas que podem nos afetar das mais diversas formas.

Na infância, principalmente, lidar com tal adversidade se intensifica. Agora, coloque-se no lugar de uma criança que é deficiente visual, em um ambiente totalmente novo, envolto em gritos e múrmurios que somente sua imaginação poderia criar, sendo que seu único refúgio é seu cão guia e nada mais. Imaginou? Bom, isso é Ian’s Eyes, conceitualmente.

O jogo

Ian’s Eyes é um game indie classificado com os gêneros horror e puzzle, desenvolvido pela Sindie Games e SOEDESCO Publishing, em ação colaborativa. No primeiro contato com o jogo o que mais chama a atenção é sua premissa, mas será que essa boa premissa conseguiu se transformar em um bom game? Vamos descobrir agora.

Análise Arkade: um  garotinho cego, seu cão guia e o apocalipse zumbi escolar de Ian's Eyes

A história é bem simples e tem seu início quando Ian e seu cão guia, North, chegam à escola Blue Norholm Centenary, para seu primeiro dia de aula. Lá, somos recebidos pelo diretor, Mr. Bates, e convidados a segui-lo até o ginásio para acompanhar um pronunciamento. Quando Ian adentra o local, sem grandes explicações, todos os alunos que lá estavam se transformam em zumbis.

E assim começa a campanha, sem nenhum esclarecimento ou aviso prévio, temos que conduzir Ian para fora do ginásio para iniciarmos nossa jornada em busca de uma saída. Ao longo da jornada, encontramos fitas cassetes que revelam mais sobre o enredo, escalonando explicações fita a fita.

Análise Arkade: um  garotinho cego, seu cão guia e o apocalipse zumbi escolar de Ian's Eyes

A história, por mais sem sentido que pareça, é minimamente interessante, mas a questão do Ian ser deficiente visual e ter um cão que é seu amigo deveria nos causar empatia e a partir disso a narrativa realmente importar. Mas não é isso que acontece.

O gameplay

Em um game que se utiliza desses subterfúgios a imersão é quesito importantíssimo e neste caso não é contemplada durante a aventura. Não há nenhum elemento que faça com que nos importemos com Ian. Na verdade, suas falas são de certa forma irritantes por serem muito repetitivas. Ian fala as mesmas coisas dezenas de vezes durante a campanha, não foi inserida grande variação nesse aspecto.

O cachorro North funciona um pouco melhor, já que ele é verdadeiro protagonista do game, mas mesmo assim ainda falta substância maior na relação dos dois para nos causar alguma emoção.

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A jogabilidade também é meio problemática, pois é extremamente travada e nada intuitiva, especialmente quando controlamos North. Joguei com o controle do Xbox One e mesmo assim não foi agradável. Empurrar caixas, por exemplo, é frustrante. Posicionamos North em frente às caixas, pressionamos o botão de ação junto com o direcional e o movimento das caixas é quase randômico, uma hora funciona e outra não.

Os mapas do jogo, sendo principalmente os corredores da escola, são muito pequenos e fazem com que desviar dos zumbis seja um ato que deve ser realizado com tamanha sincronia que beira o exagero. Ou seja, o que realizamos no game em termos de gameplay é andar, desviar dos zumbis, guiar Ian e empurrar algumas caixas, basicamente.

Análise Arkade: um  garotinho cego, seu cão guia e o apocalipse zumbi escolar de Ian's Eyes

Os problemas

A dificuldade está diretamente relacionada com os problemas do gameplay. Cada vez que um zumbi nos toca podemos ver um contador que enumera quantas vezes morremos. Morri aproximadamente 200 vezes.

Então, de certa forma é frustrante ser punido tantas vezes por uma escolha de design. Os puzzles são bem fáceis de lidar, nada além de movimentar uma caixa para perto de uma janela ou escrever uma palavra em um painel que abrirá uma porta em determinado lugar.

A trilha sonora é interessante, assim como algumas referências à cultura pop dispostas no cenário, tal como um pôster que parodia O Exterminador do Futuro (imagem abaixo). O gráfico é bem rudimentar, e apesar dos modelos utilizado serem em 3D, há muito serrilhado, o que não torna o game tão atraente visualmente.

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Voltando à imersão: existem muitas linhas de diálogo, especialmente entre Ian e Mr. Bates, que evidenciam a falta de “química” entre os personagens. Por exemplo, em certo momento conseguimos chegar na sala do Mr. Bates e ele pede para encontrarmos a chave da biblioteca em determinado lugar. Ele fala algo como: “Você tem que encontrar a chave. Se tem alguém que consegue é você, mas tenha cuidado”.

Bom, mesmo usando toda a suspensão de descrença, é muito irritante ver o diretor de uma instituição mandar um menino cego (?!) ficar andando por aí com centenas de zumbis enchendo os corredores. Praticamente todo game faz esse tipo de coisa, mas rolar isso em um jogo onde o protagonista é cego força a amizade.

Conclusão

Todos esses pontos somados fazem com que Ian’s Eyes seja uma experiência rasa dentro de uma proposta que poderia ser muito mais interessante, levantando questões de cunho social e acessibilidade, e nos proporcionando algum sentimento, coisa que, infelizmente, não acontece.

A jornada é válida para descobrir porque os estudantes se transformaram em zumbis e o que está por trás das misteriosas fitas narradas pelo diretor. E por mais que a dificuldade seja punitiva, existe a satisfação pessoal de conseguir passar por uma área excepcionalmente complicada. Não é um jogo para todos os públicos, mas talvez seja para você.

Ian’s Eyes está sendo lançado hoje no Steam.

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