Análise Arkade: Iron Harvest é um incrível RTS steampunk
Jogos de estratégia em tempo real estão começando a voltar aos poucos ao seu nicho de mercado. Em um ano repleto de lançamentos desse gênero, Iron Harvest definitivamente se sobressai com uma qualidade ímpar. A ambientação steampunk combinada com visual de primeira e jogatina desafiadora fazem deste um dos melhores RTS do ano.
O jogo possui uma campanha incrivelmente envolvente, modo multiplayer prático e jogatina bem consistente. Rompendo com algumas tradições do gênero, o jogo ainda sustenta muito bem algumas outras características do nicho. Mas vamos aos poucos, pois tem muita coisa para falarmos sobre essa pérola.
Viva a revolução!
Iron Harvest já surpreende na primeira impressão pela sua ambientação. Não é todo dia que vemos um jogo tão bonito ambientado no gênero Steampunk. Para quem não sabe, Steampunk é um “primo” do Cyberpunk, no qual as evoluções tecnológicas tidas como “futuristas” aconteceram ainda na primeira revolução industrial.
Assim, é de prache nesse gênero encontrarmos mechas movidos a vapor, armas de eletricidade entre outras coisas. E é justamente dessa fonte que Iron Harvest bebe com vontade. Na campanha do jogo, acompanhamos inicialmente uma camponesa da nação fictícia Polânia. Aos poucos, a protagonista se vê em meio a uma trama de guerra contra os chamados Rusviéticos.
A trama totalmente fictícia lembra um pouco a Primeira Guerra Mundial. Porém, com uma pegada steampunk que deixa tudo muito mais legal. A campanha é cheia de reviravoltas e personagens interessantes. Arrisco dizer que é uma das melhores campanhas single-player de RTS dos últimos anos.
Com um nível de desafio muito bom, missões criativas e AI realmente inteligente. A campanha tem uma duração boa e pode prender o jogador até mais do que o próprio multiplayer. Para aqueles que, assim como eu, adoram um RTS, mas não curtem tanto a jogatina PVP, podem encontrar uma ótima história a ser vivida em Iron Harvest.
Visual e física de primeira
Outro dos aspectos que chama muita atenção em Iron Harvest é o seu visual. Os cenários são belíssimos e recheados de detalhes. Os modelos de unidade, igualmente detalhados. Por sua vez, explosões, tiros e chamas são tão bons que podem fazer alguns computadores suarem um pouquinho.
Mas não é só de aparência que vive Iron Harvest. Isso porque os sistemas de física aplicados no jogo são sensacionais. Mas não digo isso só da parte estética, como partes de robôs que saem voando quando estes explodem. Estou falando de um sistema de física que pode influenciar diretamente o seu gameplay!
Construções podem ser demolidas por unidades pesadas demais. Barricadas realmente funcionam como defesa adicional contra tiros. Emboscadas utilizando vegetação densa podem ser muito significativas. E o que falar dos terrenos elevados? Estes podem inclusive definir o vitorioso de um combate.
O terreno como principal ferramenta
Em Iron Harvest, conhecer o terreno ao seu redor é crucial. E não digo isso somente por conta de saber onde estão recursos básicos para montar sua base. Isso o próprio jogo deixa sinalizado para você no minimapa. Estou falando de realmente reconhecer o terreno ao seu redor.
Entender quais são as fraquezas e possíveis brechas da sua base e trabalhar para fortificá-las. Saber por onde inimigos podem surgir e como você pode montar armadilhas para eles. Isso fora prédios, galpões e demais construções que podem ser utilizadas por atiradores. Sim, eles entram nas edificações que estão largadas pelo mapa e as usam de casamata.
O conhecimento de todos esses elementos de terreno só são possíveis por conta de um detalhamento incrível desses ambientes. Esse excesso de detalhes pode até atrapalhar um pouco jogadores novos. Particularmente, senti um pouco de dificuldade nas primeiras horas de jogo nesse ponto. É realmente difícil localizar algumas unidades em mapas tão complexos e ricos em detalhes.
Desafio e complexidade como nos clássicos
Algo que Iron Harvest faz com muita competência é desafiar seus jogadores. Porém, aqui não temos desafios voltados para a ação mais “rápida” como em RTS mais novos, como Starcraft 2 ou mesmo o híbrido Disintegration. Aqui temos combates muito mais táticos e pesados.
As principais unidades são bem lentas. Além disso, outras possuem mais de um modo de combate e a passagem de um para o outro é também lenta. Isso tudo representa muito bem a época na qual a mitologia do jogo acontece: 1920. Nada de aeronaves hiperrápidas, robôs leves com espadas rápidas ou algo do tipo. Em Iron Harvest, o “Iron” do título é levado bem a sério.
E isso faz com que os combates não sejam necessariamente decididos por quem tem mais resposta rápida. Mas sim quem arquiteta seu plano com mais competência. Algo que lembra um pouco a aura de alguns RTS clássicos, como o primeiro Age of Empires. Junte a isso uma AI muito esperta e que sabe jogar na defensiva e temos excelentes desafios até para quem gosta de enfrentar bots.
A sobrevivência de cada unidade
Em um aspecto Iron Harvest consegue se diferenciar bastante da maioria dos demais RTS disponíveis atualmente. Suas unidades podem ser recuperadas, curadas e, consequentemente, durarem muito mais de uma batalha. Claro, isso não é fácil de ser feito, mas o jogo é recheado de mecânicas que podem te ajudar nisso.
Para início de conversa, estamos falando de uma mistologia que acontece em um contexto semelhante ao da Primeira Grande Guerra. Assim, recursos são bem limitados. Por isso, temos a possibilidade de usar mecânicos para coletar recursos de máquinas inimigas derrotadas, por exemplo. O simpático urso que funciona como companheiro da protagonista, pode levar remédios para seus soldados, curando-os. Por fim, caixas de primeiros socorros podem ser encontradas se vasculhar o mapa com eficiência.
Para além da defesa, também temos melhorias de ataque com o aumento da durabilidade de cada unidade, sejam elas mecânicas ou humanas. Antes de mais nada, todas as unidades recebem melhorias com o passar do tempo que elas se mantem vivas. Assim, unidades passam a ser veteranas e, com isso, tem alguns atributos melhorados. Fora isso, determinadas unidades humanas podem trocar de função durante as partidas ao encontrar novos armamentos espalhados pelo cenário.
Todos esses aspectos deixam a jogatina bastante complexa. Porém, isso é positivo, pois ela não fica exatamente massante. Na verdade, fica mais diversificada. Pois são tantos pontos e tantos elementos diferentes a serem explorados de forma estratégica que a jogatina fica ainda mais divertida.
Multiplayer prático
Para os amantes de RTS competitivo, Iron Harvest também agrada bastante. As partidas online não possuem tantas variações inicialmente, mas tudo pode mudar com novas atualizações. No clássico mata-mata, temos partidas de 1vs1, 3vs3 e 5vs5. É relativamente rápido encontrar partidas e estas são equilibradas de acordo com o nível da sua conta.
A praticidade de se jogar partidas online é bem convidativa. Porém, é importante ressaltar que o ritmo de jogo no multiplayer é bem diferente da campanha. Isso é até bem comum em jogos do gênero. Mas é sempre importante ressaltar que o foco estratégico em partidas 1vs1 é completamente diferente de partidas 5vs5 ou então de missões da campanha.
Iron Harvest: RTS como poucos são
Iron Harvest recupera alguns dos elementos mais importantes de um bom jogo de estratégia em tempo real. Entre eles, temos um modo campanha excelente, boa variedade de unidades, nações com características próprias, nível de dificuldade considerável e alta complexidade. Some isso a um trabalho primoroso da King Art Games em lançar periodicamente novos conteúdos para o jogo Pronto, você tem um excelente título.
Entretanto, que fique claro: ele não é bonzinho com novatos do gênero. Jogadores que não se aventuram muito em RTS podem sofrer um pouco aqui. Por isso, vejo Iron Harvest como um jogo próprio para os jogadores mais entusiastas de RTS, ávidos por novidades num gênero de poucos grandes nomes atualmente.
Iron Harvest foi lançado no dia 01 de setembro de 2020 e está disponível para PC, PlayStation 4 e Xbox One. Para esta análise, rodamos o game em um notebook gamer com processador i5-9300, 24GB de memória, placa de vídeo GTX 1650 de 4GB e SSD de 480 GB.