Análise Arkade – Kong: Survivor Instinct, uma ótima surpresa direto do Monsterverse

22 de outubro de 2024
Análise Arkade - Kong: Survivor Instinct, uma ótima surpresa direto do Monsterverse

Sabia que esta semana tem um jogo oficial do Monsterverse sendo lançado? E, para surpresa de todos — inclusive a minha — Kong: Survivor Instinct é um jogo muito bom!

Jogos licenciados: um rápido contexto

Houve uma época em que jogos licenciados eram, em geral, uma porcaria. Muito porque eram feitos “a toque de caixa”, com orçamentos baixos e prazos curtos, a fim de acompanhar o hype do lançamento de um filme nos cinemas.

A geração Playstation 2 teve muitos desses jogos. Como o tempo de produção de um game aumentou consideravelmente (bem como o custo), essa prática foi se tornando inviável.

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Com isso, passamos a ver obras licenciadas que não tinham ligação com filmes, e construíam universos próprios para os videogames. Caso da excelente franquia Batman Arkham, por exemplo, e do jogo dos Guardiões da Galáxia.

Kong: Survivor Instinct, curiosamente, está na linha tênue entre estes dois cenários. Por um lado, ele é parte oficial e canônica do Monsterverse que a Warner Bros e a Legendary Entertainment estão construindo. Por outro, ele chega de forma avulsa, sem estar atrelado a um filme específico em cartaz.

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E isso é ótimo. Confesso que estou meio por fora do tal Monsterverse (que foi iniciado em 2014 e inclui filmes como Godzilla, Kong: Ilha da Caveira, Godzilla Vs. Kong e o mais recente, Godzilla e Kong: O Novo Império), mas felizmente, este game usa o universo dos monstros apenas como pano de fundo para uma história bem mais pé no chão.

Um pai em busca de sua filha

Kong: Survivor Instinct nos apresenta a David, um coroa que descobre que a cidade está sendo evacuada por conta do estrago causado pelos Titãs (não a banda, os monstros gigantes). Ele tenta entrar em contato com sua filha, Stacy, e quando não consegue encontrá-la, resolve ir até lá.

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Por conta do caos, ele acaba sofrendo um acidente. Então, passa a explorar a pé, mas descobre que a cidade está quase totalmente destruída, e há muita movimentação estranha de cientistas da Monarch e de uma espécie de milícia, os Hyenas.

Assim, nossa missão principal é encontrar Stacy. Mas, enquanto exploramos as ruínas da cidade, vamos esbarrando em instalações militares, laboratórios secretos e outros locais misteriosos que trazem perguntas (e respostas) sobre a participação da Monarch na treta entre os Titãs.

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A treta entre os Titãs

Não há muita história em Kong: Survivor Instinct, mas a premissa do jogo é poderosa. Afinal, poucas coisas são mais motivadoras do que salvar um ente querido em perigo. E é essa missão, simples, mas de alto potencial empático, que vai nos levar a todos os cantos da cidade.

Kong: Survivor Instinct é um MetroidVania mundano

Kong: Survivor Instinct é, sob muitos aspectos, um MetroidVania. Enquanto jogava, ele me remetia a dois jogos mais antigos, mas que considero muito bons até hoje: Shadow Complex e Deadlight.

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A cidade é enorme, e se divide em várias áreas, mas todas são interligadas. Porém, no geral, ele é um MetroidVania mais linear, que não envolve tanto backtracking. E, quando envolve, sempre dá um jeito de nos levar de volta a um lugar já visitado por um caminho novo, o que deixa a jornada muito mais fluida.

Os lugares por onde vamos passar também são bem mundanos: bairros residenciais em ruínas, prédios destruídos, hospitais semi-demolidos, esgotos, um porto repleto de barcos parcialmente naufragados e contêineres tombados. Também vamos visitar bunkers anti-Titãs e laboratórios secretos, mas né, não dá para ser 100% realista quando se tem um gorila gigante enfurecido na história.

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Pode parecer bobagem, mas esse ambiente mais urbano é muito interessante para um jogo que flerta com o Metroidvania. Nada contra planetas alienígenas ou mundos de fantasia, mas, para variar, é bom um jogo que se passa em uma cidade “comum”, uma experiência mais pé no chão.

Atividades mundanas

A jogabilidade de Kong: Survivor Instinct é totalmente side scroller e envolve muita escalada, muitas caixas para serem arrastadas e geradores para serem consertados.

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São atividades “comuns” em videogames, mas que fazem sentido no contexto, pois estamos sempre explorando escombros e estruturas danificadas. Se pendurar em beiradas, entrar por janelas e encontrar peças para consertar geradores — que vão fazer uma porta abrir ou um elevador voltar a funcionar, por exemplo — são ações “realistas” nesta situação.

O mais legal é que essas atividades mundanas são executadas de forma “realista”, pois nosso protagonista não é um soldado treinado em um traje de combate, é um sujeito comum, que está em uma situação fantástica — uma cidade destruída por monstros gigantes.

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De fato, o que seriam itens e upgrades mirabolantes em outros jogos do gênero, aqui são coisas bem mais comuns. O que vamos usar para quebrar certos pisos e paredes frágeis é uma marreta. O item que aumenta nossa barra de vida é uma garrafa de água.

Também há bastante combate aqui. Nossa primeira arma é um cano de metal (que depois será trocado pela marreta), e logo também arranjamos uma pistola, com munição bastante escassa — e que também deve ser usada em outros contextos.

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A parte difícil é que geralmente os inimigos nos cercam

Seja contra os soldados Hyenas ou monstrinhos, o combate é simples, mas estratégico.

Kong: Survivor Instinct também tem monstros gigantes

Como este é um jogo que faz parte do Monsterverse, obviamente, também há monstros gigantes. E, apesar do Kong no título, ele não é o único monstrão que está solto pela cidade.

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Se é que você me entende

Os monstros são bem coadjuvantes, para falar a verdade. Vamos vê-los bem pouco no decorrer da campanha, e só de passagem. Eles vão estar indo para algum outro lugar, cuidando da própria vida e fazendo coisas de monstros gigantes.

Porém, ocasionalmente vamos estar na mira de um monstro. E estes são os momentos mais intensos (e provavelmente caros) do jogo: vamos ter que correr por nossa vida, enquanto uma criatura colossal destrói tudo pelo caminho enquanto tenta nos pegar.

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Tipo assim

Confira um destes momentos no vídeo abaixo, onde fujo da gigantesca aranha Abaddon por um ambiente caótico e cheio de teias:

A única parte chata destes momentos é que eles acabam sendo exercícios de tentativa e erro: se você errar o caminho ou não entender o que precisa ser feito, o bicho te pega. E, como não há checkpoints, um errinho nos obriga a fazer todo o trecho novamente.

Amigos e rivais

Um detalhe curioso — e que talvez faça sentido no Monsterverse, mas não tenho certeza — é que, graças à tecnologia da Monarch, podemos, em momentos específicos, fazer os monstrengos trabalharem para nós.

Explicando: já no começo da aventura, vamos encontrar uma espécie de tablet da Monarch, que nos permite identificar e escanear certos padrões de ondas sonoras — que podem tanto ser sinais de rádio perdidos quanto resquícios da passagem de monstros.

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Ao alinharmos essas ondas sonoras, vamos chamar um monstro que, por fins de “o roteiro quis assim”, vai desempenhar alguma tarefa útil para o protagonista. Coisas “simples”, tipo derrubar um prédio inteiro ou tombar um navio cargueiro.

Confira um destes momentos abaixo:

Não sei se esse tipo de coisa acontece nos filmes, ou se é um recurso específico do game. Mas, não deixa de ser interessante — ainda que um pouco exagerado. Sem contar que é nestes momentos que a gente vê melhor os Titãs, em toda sua grandiosidade.

Audiovisual

Kong: Survivor Instinct é mais um ótimo representante dos jogos “Double A“, que andaram ressurgindo com força nos últimos meses. É um jogo que claramente tem mais orçamento do que um indie, mas também não tem a grana de um Triple A.

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E, ouso dizer que a 7 Levels fez um ótimo trabalho com o orçamento que tinha. Os cenários são muito detalhados e realistas, com ótimos efeitos de iluminação e uma grande variedade de ambientes. E, ao mesmo tempo que a estética “pós-apocalipse” seja comum em videogames, é difícil vermos este tipo de cenário aplicada a um jogo que não seja algo grandioso, na linha de um The Last of Us.

O escopo do jogo permitiu que os desenvolvedores focassem esforços (e recursos) nas chamadas “set pieces”, sem relaxar no restante do jogo. O resultado é um jogo muito consistente tecnicamente, que claramente foi muito bem planejado.

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Jogando no Playstation 5, o game roda muito bem. Não tive nenhum tipo de bug ou crash, mesmo jogando antes do lançamento. As telas de loading existem, mas são bem rápidas. O uso do DualSense é sutil, e se destaca pela iluminação do controle, que muda de cor e pulsa conforme interagimos com o ambiente ou nos aproximamos de pontos de interesse.

O jogo possui dublagens somente em inglês e as legendas, ainda que estejam disponíveis em nosso idioma, são PT-PT (português de Portugal). Dá para entender tudo numa boa, mas não deixa de ser curioso, uma vez que o PT-BR está se tornando o padrão.

Conclusão

E aqui trago de volta a questão dos jogos licenciados: Kong: Survivor Instinct é um jogo licenciado, mas é excelente. Claramente é um projeto que foi muito bem planejado para funcionar de forma independente, ao mesmo tempo em que é uma parte transmidiática do Monsterverse.

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Eu já achava que ia gostar dele desde que vi o primeiro trailer — simplesmente porque gosto de jogos 2.5D com essa pegada — mas não esperava que ele fosse tão bom. Uma jornada intensa e instigante, com um pacing incrível, um ótimo nível de desafio e momentos cinematográficos muito empolgantes.

Acho que ele está saindo em uma época bem ingrata (na mesma semana de um novo Call of Duty, em um dos períodos mais cheios de lançamentos do ano). Mas, se você está lendo isso, considere dar uma chance a ele. Tenho certeza que você não vai se arrepender — esteja por dentro do Monsterverse ou não.

Kong: Survivor Instinct está sendo lançado hoje (22/10), com versões para PC, Playstation 5 e Xbox Series X|S.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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