Análise Arkade: Layers of Fear 2 é um jogo de terror que não dá medo
O terror está de volta ao mundo dos games… Ou não. Layers of Fear 2 chegou trazendo uma perspectiva diferente de terror, confira nossa análise!
Terror em alto mar
Layers of Fear 2 conta uma nova história, que não depende de nada que foi mostrado no primeiro jogo para funcionar. Mantém-se, porém, a temática artística: se no primeiro jogo assumimos o controle de um pintor que estava perdendo sua sanidade, aqui conhecemos um ator que foi convidado para estrelar o filme de um diretor famoso por suas excentricidades. Tão maluco é o tal diretor, que ele resolveu rodar seu filme em alto mar, dentro de um navio de cruzeiro.
Obviamente, algo não deu muito certo nessa história, e acompanhamos a trajetória do ator pelo navio “deserto” enquanto ele tenta entender o que está rolando por ali, e por trás da cabeça do diretor, que parece ter uma certa predileção por testar seus contratados de maneiras bastante peculiares.
Walking Simulator do Terror
Quem jogou o primeiro Layers of Fear talvez já saiba mais ou menos o que esperar do novo jogo, em termos de gameplay: em uma perspectiva em primeira pessoa, vamos explorar corredores enquanto buscamos pistas e informações que nos ajudem a entender o que está acontecendo por lá.
Layers of Fear se consagrou por oferecer uma experiência altamente roteirizada: há portas trancadas por todos os lados que obrigam o jogador a seguir o caminho que os roteiristas planejaram. Entre um corredor e outro, podemos abrir algumas gavetas e coletar itens, anotações e bilhetes.
O capricho aqui — e o que deveria causar medo — vem justamente de todo este planejamento, que coloca o jogador exatamente onde ele deve estar para que algo aconteça. Tal qual os cenários pelos quais passamos, Layers of Fear 2 monta um cenário planejado para nos dar sustos.
Pera… “Deveria” causar medo?
Pois é. Eu gostei muito do primeiro jogo e de como ele estava sempre se modificando para confundir e assustar. Aqui, embora a mecânica utilizada seja a mesma, senti que os sustos e momentos de tensão não tiveram quase nada de impacto.
Talvez eu já esteja “vacinado”, mas é fato que os “gatilhos” que despertam certas ações são bem óbvios: um cano pingando, uma lâmpada piscando, uma porta semiaberta… Elementos que tendem a ser bem evidentes para qualquer um com alguma experiência no gênero.
E o que sobra em um jogo de terror — que, nesse caso, é basicamente um walking simulator — quando o terror se perde? Pois é, não muita coisa. Layers of Fear 2 não é um jogo especialmente longo, mas quando ele não causa medo, inevitavelmente só consegue deixar o jogador entediado.
Há alguns fatores que podem explicar isso: para começar, você quase nunca está realmente em perigo aqui, e isso acaba quebrando o clima de terror, pois nada parece uma ameaça real, tudo é scriptado e calculado para te dar sustos metodicamente calculados. Não há perigo real.
É, eu sei que esperar “perigo real” de um game é forçar a barra, mas é preciso que você se sinta em perigo para ter medo, sentir adrenalina. Pense em como a Capcom introduziu o Mr. X no remake de Resident Evil 2: ele não vai matar a gente de verdade, mas sua presença causa tensão, aflição. O mesmo vale para Silent Hill, Amnesia e tantos outros jogos: a gente precisa se sentir em perigo para se importar.
Quando este elemento de tensão é subtraído da fórmula, a experiência fica parecendo um trem fantasma de parque de diversões, saca? Tudo ali é falso, e embora alguns momentos possam até te dar uns sustinhos, nada representa perigo real, não nos coloca em risco.
O jogo até tem algumas partes mais inspiradas — com luzes que devem ser evitadas e uma criatura abominável que nos persegue ali pelo Capítulo 2 –, mas são coisas pontuais, que não salvam o conjunto da obra. E, mesmo quando somos apanhados por esse monstro, não há uma cena de morte apavorante, nada que choque ou cause repulsa. A perseguição acaba sendo um exercício de repetição, no qual tentamos alguns caminhos até acertar.
Walking Simulators costumam compensar sua falta de gameplay com boas histórias, mas aqui nem isso acontece de fato. Há uma narrativa sendo desenvolvida, mas tudo é muito vago, subjetivo, aberto a interpretações — com direito inclusive a alguns questionamentos morais inseridos em puzzles e escolhas. Completam o pacote algumas boas sacadas de game design, bem como um punhado de referências a obras clássicas do terror.
Audiovisual
Layers of Fear 2 está longe de ser um jogo feio, mas o excesso de escuridão e as poucas cores presentes na grande maioria dos ambientes torna um pouco difícil apreciá-lo por suas qualidades visuais. Sem exagero: boa parte do jogo é literalmente em preto e branco, uma escolha estética que definitivamente não é lá das mais interessantes.
O áudio, por sua vez, faz um ótimo trabalho: gravado no formato binaural — como o do excelente Hellblade — ele realmente insere o jogador naquele universo. Este é um daqueles jogos que PRECISA ser jogado com um bom par de headphones para que a imersão seja completa.
Quer dizer, mais ou menos completa, né, pois considerando que o jogo nunca dá medo de verdade, não é o áudio binaural que vai tornar a experiência realmente aterrorizante. Mas, ele cumpre seu papel. Ah, e temos menus e legendas em português brasileiro, o que sempre é uma boa notícia.
Conclusão
Eu gostei muito do primeiro Layers of Fear, e justamente por isso estava extremamente animado pelo segundo jogo. E, infelizmente, ele não correspondeu às minhas expectativas. Ele é um jogo de terror que não me deu medo praticamente em momento nenhum, de modo que o que restou foi a monotonia e a repetição de andar por corredores escuros e assistir sustos scriptados.
Talvez o problema nem seja com o jogo, mas comigo, que já estou meio calejado desse tipo de experiência. Já se vão mais de 3 anos desde que analisei o primeiro jogo. Quem sabe se eu fosse jogá-lo hoje, ele também acabasse não sendo tão impactante. Sei lá. Vou tentar rejogá-lo qualquer hora para ver como a experiência envelheceu.
O fato é: Layers of Fear 2 não me deu medo, e isso é imperdoável em um jogo que traz medo (fear) no nome. Se quiser experimentar algo da série, ainda acho que o primeiro jogo oferece uma experiência superior. De qualquer modo, há opções melhores — tanto de walking simulators quanto de jogos de terror — disponíveis por aí.
Layers of Fear 2 está disponível para PC, Playstation 4 (versão analisada, rodando no PS4 Pro) e Xbox One.