Análise Arkade: o céu (não) é o limite no criativo Lego Worlds
O que dizer de um jogo que mistura conceitos de Minecraft e No Man’s Sky em um universo todo criado com pecinhas de Lego? Esta é a proposta de Lego Worlds, jogo onde o céu não é o limite, confira nossa análise!
Um jogo sem limites
Lego Worlds é um jogo procedural que explora melhor do que nunca algo que sempre foi inerente aos bloquinhos “do mundo real”: a criatividade. Todo jogo de Lego sempre nos permitiu criar coisas usando as pecinhas, mas sempre eram objetos específicos. Aqui, pela primeira vez, temos liberdade total de criação.
O jogo nos coloca na pele de um astronauta, cujo foguete cai em um mundo misterioso. Para consertar seu foguete, você deve coletar bloquinhos de Lego dourados, que podem ser conseguidos de diversas maneiras, a principal delas é cumprindo missões e ajudando outros personagens, que estarão o tempo todo lhe pedindo coisas.
Por incrível que pareça, essa vibe “explorador espacial” torna o jogo muito mais parecido com No Man’s Sky — que começa praticamente da mesma maneira — do que com Minecraft, pelo menos em um primeiro momento. Conforme você vai destravando suas “ferramentas” é que o jogo vai se tornando mais voltado para a criação propriamente dita.
Muitas ferramentas e alguma confusão
Ao contrário de Minecraft, onde basta ter uma pá e você já pode sair desbravando o mundo livremente, em Lego Worlds você precisa reunir as ferramentas certas para interagir com o mundo. Elas são “armas” de cores e tamanhos variados que assumem as mais variadas funções: descobrir e replicar coisas, copiar construções, mudar a paisagem, colorir objetos e (claro) construir coisas, bloquinho por bloquinho.
São vários equipamentos diferentes que realizam tarefas diferentes — ainda que relacionadas — para você se acostumar. Por exemplo: a ferramenta de paisagem permite que você crie montanhas ou depressões, mas também serve para aplanar terrenos, criar blocos de terra, areia, lava, pedra, etc. Toda ferramenta serve para mais de uma coisa, e aprender a usá-las plenamente é essencial.
Ainda que não seja necessariamente complicada, a interface do game é um pouco confusa, e demanda certa paciência até o jogador se acostumar. É engraçado como um jogo que (teoricamente) seria bom para crianças pode se tornar um pouco cansativo justamente por ter tantas camadas de menus. Talvez jogando no PC seja mais tranquilo, mas no PS4 definitivamente há muito menu para pouco botão.
Claro que o jogo possui um (enorme) tutorial que serve justamente para você ir “pegando as manhas” de cada equipamento enquanto joga. No vídeo abaixo, mostro a primeira hora de gameplay de Lego Worlds, com tutoriais de equipamentos, cumprimento de missões e muita exploração. Dê o play e divirta-se:
Um jogo 2 em 1
Para aliviar um pouco a confusão, é possível jogar Lego Worlds fazendo apenas “o básico”, que é o cumprimento de missões. Claro que há um óbvio apelo pela criação, mas se você não curtir construir coisas bloquinho por bloquinho, pode ficar apenas “copiando” coisas (casas, objetos, animais, veículos, personagens, etc.), ou assumindo missões que envolvem a utilização da ferramenta de pintura, ou de paisagem.
Neste ponto, Lego Worlds acaba parecendo um jogo 2-em-1: quem não é lá muito fã do estilo Minecraft pode ir simplesmente pulando de um planeta para outro — os mundos vão ficando maiores conforme você avança –, explorando e realizando missões para conseguir blocos dourados, em um jogo de exploração simpático, divertido e cheio de possibilidades. Quando já tiver acumulado 100 blocos, aí é que você poderá criar seu próprio mundo do zero, e montar o que quiser nele.
Lego Worlds pode ser jogado em modo cooperativo local — e finalmente a Traveller’s Tales abandonou aquela tela dividida móvel, pentelha! — ou online. Eu deixei meu jogo aberto para outros jogadores o tempo todo, mas não encontrei nenhum outro jogador. Você decide se quer que as construções de outro jogadores afetem ou não o seu jogo, e isso deve ser ainda mais útil quando você já está criando seus próprios mundos.
Veja um pouco de nosso gameplay cooperativo em tela dividida abaixo:
Audiovisual
Lego Worlds abraça a estética colorida e fofinha característica da série Lego que a gente já conhece, mas como há um elemento procedural envolvido, ele tem muito mais liberdade em inovar e surpreender o jogador. Ainda que existam alguns padrões (de tipos de terrenos, basicamente), os planetas em si não se repetem, e há alguns realmente loucos.
Só para mencionar os mais básicos, há mundos com casas feitas de doces e montanhas de sorvete, mundos que parecem enormes ferros-velhos, mundos pré-históricos cheios de lava escaldante, mundos com temática pirata, mundos com temática rural, mundos congelados, mundos pantanosos com crocodilos à espreita, mundos sombrios com esqueletos e zumbis, mundos quase totalmente submersos… a variedade é absurda, e a geração procedural torna impossível a existência de 2 mundos iguais.
Um detalhe interessante é que, com a ajuda da sua Ferramenta de Descoberta, você pode levar elementos de um mundo para outro como bem entender, e isso inclui tudo (tudo mesmo) até sua aparência! Quer ser um zumbi que anda de trator na pré-história? Sem problemas! Que tal ser um fazendeiro que constrói casas de sorvete para porcos? Em Lego Worlds você pode ser quem quiser e fazer praticamente tudo o que quiser.
O jogo chega totalmente localizado em português brasileiro, com um locutor simpático que estará sempre te estimulando a cumprir objetivos e relembrando de forma insistente até demais algumas dicas que podem ser úteis durante suas aventuras. As músicas são meio inconstantes — elas literalmente desaparecem de vez em quando –, mas como esse é um jogo para curtir com calma, você sempre pode colocar sua playlist favorita para tocar enquanto joga.
Conclusão
Lego Worlds é um jogo simpático e divertido, que tem uma curva de aprendizado um pouco grande, mas que certamente compensa isso ao oferecer (literalmente) um universo de possibilidades. É um jogo que estimula a criatividade de formas que mesmo as pecinhas “reais” de Lego não conseguem, e tem tudo para gerar verdadeiras obras de arte digitais pelas mãos de artistas competentes.
Talvez ele seja um pouquinho complicado demais para a criançada — público-alvo mais comum de jogos Lego –, mas a perseverança para aprender e dominar as mecânicas irá descortinar um universo cheio de mundos interessantes para ser explorado. E como ele tem coop local, que tal você jogar junto com seu filho/irmãozinho/sobrinho para ajudá-lo a pegar a manha?
Fora isso, seu fator online tem potencial para transformar Lego Worlds em um jogo infinito… desde que se forme uma comunidade animada e participativa, para manter os servidores ativos compartilhando suas criações e explorando os mundos uns dos outros. Estou curioso, e torço para isso realmente acontecer. Enquanto isso, sigo na busca pelos 100 blocos dourados para enfim poder criar o meu próprio mundo!
Lego Worlds foi lançado em 7 de março, com versões para PC, Playstation 4 e Xbox One.