Análise Arkade: prepare-se para morrer (muito) em Lords of the Fallen
Se você curte Dark Souls, Lords of the Fallen é um game que merece a sua atenção! Confira nossa análise completa na sequência!
Em tempos onde os jogos vão ficando cada vez mais fáceis — com energia que regenera sozinha, munição a rodo, visão de raio x e outras regalias –, Dark Souls ousou ser difícil, e justamente por isso acabou se tornando uma referência, um diferencial. Lords of the Fallen é o primeiro “filho” deste novo sub-gênero dos RPGs a chegar à nova geração. Mas ele é bom ou é apenas uma “cópia malfeita”? Vamos descobrir!
SINOPSE
Lords of the Fallen se passa em um sombrio mundo de fantasia cheio de castelos, masmorras e montanhas nevadas. Nada de criação de personagens, aqui temos um protagonista definido: Harkyn, um criminoso mal encarado de rosto tatuado (as runas tatuadas tem algo a ver com os crimes que ele cometeu) que cumpria sua pena quando o mundo é invadido por uma horda de criaturas sombrias conhecidas como os Rhogar.
Por ser um exímio guerreiro, Harkyn é liberado de seu cárcere pelo mago Kaslo e recebe a ingrata missão de ocupar a linha de frente na guerra contra estes monstros, devendo inclusive viajar para a dimensão demoníaca de onde eles vieram na esperança de deter seus superiores, os tais Lords of the Fallen do título.
A história não é lá tão grandiosa e, embora introduza alguns personagens secundários relativamente interessantes, conte com uma ou outra reviravolta e te obrigue a tomar decisões aqui e ali, nenhum destes elementos tem verdadeiro peso narrativo, acrescentando somente uma ou outra cena ao final da campanha.
Não espere pelo peso das decisões de um Mass Effect da vida: na prática, tudo se resume a vestir uma armadura, empunhar uma arma e chutar uns traseiros demoníacos.
Classes e magias
Embora não seja possível criar um personagem do zero, você tem algumas escolhas a fazer antes de começar a aventura: existem 3 classes disponíveis — Guerreiro, Clérigo e Ladino — mas elas se referem basicamente ao set inicial de sua armadura e à distribuição inicial de seu pontos de experiência, não tendo influência direta nos poderes e habilidades do personagem.
Além disso, nada impede o jogador de começar com um set de Clérigo e trocar para uma armadura de Guerreiro ou Ladino durante a campanha (armaduras e equips podem ser encontrados em baús ou inimigos mortos).
A escolha da armadura ideal é uma faca de dois gumes, visto que a maior diferença entre cada classe de armadura está no peso e na proteção: armaduras que protegem melhor geralmente são as mais pesadas, o que deixa seu personagem desesperadoramente lento. Já os equips mais leves lhe garantem mais agilidade, mas não seguram tanto o dano.
É possível combinar livremente partes de diferentes classes para criar um set customizado: nada impede que você use, por exemplo, um peitoral de Guerreiro com elmo de Clérigo e botas de Ladino. Experimentação é a palavra-chave na hora de customizar um equipamento que combine da melhor maneira possível proteção e agilidade.
Fora isso, o que realmente altera o seu perfil de combate são as magias: existem 3 variações — Briga, Engano e Conforto. A Briga é focada em força bruta e dano direto; a Engano vale-se de táticas diferenciadas de combate (como clones que distraem inimigos ou mimetizam seus golpes); e o Conforto é focado em recuperação e suporte.
Fique ligado pois, se por um lado é possível alterar entre armas e armaduras livremente durante o jogo, o tipo de Magia que você escolhe é fixo, e vai acompanhá-lo por toda a campanha. Leia os atributos de cada uma com atenção e escolha aquela que mais se adapta ao seu estilo de jogo.
JOGABILIDADE
Aqui é onde a essência de Dark Souls se faz mais presente: a jogabilidade de Lords of the Fallen é extremamente semelhante à de Dark Souls, o que torna cada confronto um verdadeiro exercício de estratégia e paciência.
O combate se resume a estudar o adversário e seus ataques de uma distância segura em busca de uma brecha para contra-atacar. Marcar o inimigo para que a câmera “trave” nele (faça isso pressionando a alavanca direita/R3) também ajuda, embora isso só seja recomendável em batalhas contra apenas um inimigo.
Além do já mencionado peso da armadura — que afeta diretamente a agilidade de seu personagem — ainda há uma barra de stamina que limita suas ações. Atacar consome stamina, rolar para esquivar consome stamina, defender consome stamina… basicamente tudo consome stamina, o que te obriga a manter o olho na barrinha específica para traçar uma estratégia e ataque e defesa eficiente.
Não há um tutorial super aprofundado de como o sistema de combate funciona, então, caso você não seja familiarizado à série Souls, prática é essencial para pegar a manha das esquivas e o timing dos combates. Um escudo também é altamente recomendado para jogadores menos experientes, visto que a defesa no tempo certo e o parry podem abrir mais possibilidades de ataque.
Jogando nos consoles, o layout dos botões é bem curioso: no PS4, R1 e R2 são responsáveis por ataque rápido e forte respectivamente, enquanto L1 e L2 cuidam de defesa e parry (e dos disparos com a manopla). O rolamento/esquiva fica no X, que sempre deve ser usado junto com o direcional esquerdo para definir a direção do rolamento.
A troca e utilização de itens e magias é feita pelos botões quadrado e círculo: aperte rapidamente para trocar, mantenha pressionado para usar. Acredito que um layout que utilizasse os direcionais digitais para troca de itens e magias seria mais eficiente, mas com o tempo você pega o jeito. Só fique ligado, pois seu personagem fica vulnerável nas animações de soltar magias/consumir itens, então só faça isso quando estiver suficientemente longe dos monstros.
Derrotar inimigos lhe rende pontos de XP, que podem ser utilizados para melhorar praticamente todos os atributos do seu personagem. A evolução o torna mais forte, aumentando não só a força dos seus ataques ou sua barra de vida, mas permitindo que seu personagem carregue mais peso e equipe armaduras melhores. Atributos como Fé e Sorte também devem ser melhorados para uma evolução equilibrada, pois melhoram suas magias e aumentam as chances de você encontrar armas e equipamentos melhores.
As armas são bem variadas, indo de espadas e martelos até lanças, piques e cajados. Algumas só podem ser manejadas com as duas mãos — o que te impede de usar um escudo — e temos ainda a manopla, conseguida mais ou menos no início da campanha, que possibilita que seu personagem dispare projéteis mágicos e realize outros ataques de médio alcance.
Um detalhe bacana é que certas armas e equipamentos podem ser melhorados com runas mágicas, que concedem fatores elementais de ataque (equipadas em armas) ou proteção (equipadas em escudos e partes de armadura). Fogo, gelo, veneno e outros elementos típicos de RPG estão presentes aqui, oferecendo um amplo leque de customização. Isso só pode ser feito junto ao “Artesão”, que tem um visual pra lá de estiloso, olha só:
No mais, o essencial para se dar bem nos combates é ter paciência e pegar o timing da luta. Este não é um hack n’ slash, e se você acha que é só sair “esmagando” os botões de ataque, mal vai passar do primeiro sub-chefe. O que nos leva ao próximo tópico, que é…
DIFICULDADE
Embora não seja um jogo tão punitivo quanto Dark Souls, Lords of the Fallen definitivamente não vai pegar leve com você. Lutas contra mais de um inimigo (mesmo os mais comuns) são bem complicadas, há sub-chefes que demandam técnicas bem específicas para serem vencidos e os chefões são duros na queda, geralmente conseguindo dar cabo do seu personagem em poucos ataques.
Você vai morrer — e muito — em Lords of the Fallen. Mas é como diz o ditado, “o que não te mata te fortalece”, de modo que você pode ir aprendendo o padrão de ataques de um chefe, por exemplo, e jogando melhor a cada nova tentativa. Mais do que habilidade, perseverança é essencial para superar as batalhas mais tensas.
Um dos trailers do game deixa isso bem claro, confere aí:
http://youtu.be/u80yLSpN2VQ
Atenção também é fundamental: fique ligado para ataques que só podem ser evitados em certos locais do cenário (o “Adorador” no cemitério faz muito isso) ou inimigos “imortais” cujo coração deve ser coletado (geralmente em algum vaso nos arredores) para só então eles poderem ser derrotados. Os pergaminhos/arquivos de áudio, o diário de seu personagem e até as telas de loading trazem boas dicas, então fique ligado em tudo para não perder nenhuma pista!
Andar com muito XP acumulado tem suas vantagens — multiplicadores que rendem mais XP e a chance de itens melhores droparem — mas geralmente não é uma boa ideia, pois há o risco de você morrer de bobeira com todo o XP de horas de jogo acumulado.
Felizmente, aqui temos um twist: você não perde seus equipamentos quando morre, mas seu XP acumulado fica preso ao seu fantasma, que espera exatamente no lugar onde você morreu. Porém, ele não fica lá para sempre, e sua XP vai “vazando” aos poucos, então a morte é sempre acompanhada de uma corrida desesperada do checkpoint ao ponto onde seu fantasma aguarda com seus preciosos pontos de experiência. Ah e fique ligado, pois caso você morra, os inimigos da área darão respawn e você terá que matar todo mundo de volta!
Para converter seus pontos de XP em melhorias e atributos, você precisa encontrar um Fragmento, que funciona como as bonfires de Dark Souls: ali você salva seu jogo, guarda seu XP, restabelece suas forças e melhora seu personagem. Porém, quanto mais você usa um mesmo fragmento, mais limitado ele vai ficando (enchendo menos garrafinhas de poção), de modo que até isso deve ser feito com um mínimo de cuidado, respeitando o timing de respawn das propriedades do Fragmento.
Essas mecânica empregadas juntas deixam o jogo “bem calibrado” para diferentes tipos de jogadores: se você é mais precavido, pode “guardar” seus pontos de XP em qualquer Fragmento. Se é mais corajoso, pode ir acumulando tudo e ver até onde consegue chegar. Caso morra, ainda pode recuperar seu XP (ou boa parte dele) indo até seu fantasma, o que por si só já é um desafio e tanto.
Outra coisa que dificulta um pouco o jogo é a ausência de um mapa: os cenários são relativamente grandes e cheios de portas e ramificações, o que pode deixar o jogador meio perdido. O objetivo de uma missão fica o tempo todo à vista, mas onde você deve ir e o que deve fazer para completá-lo fica totalmente por sua conta. Ficar perdido, dar de cara com uma passagem sem saída e ter de retornar é algo comum e até um pouco irritante.
Audiovisual
Lords of the Fallen é um game caprichado: a direção de arte do jogo é inspiradíssima, e nos entrega cenários grandiosos e personagens bem modelados. O design das armaduras é espetacular, é tudo grande e intimidador, mas com uma riqueza de detalhes incrível.
A criatividade também foi muito bem empregada na criação dos inimigos: o estilo dark fantasy do game possibilita que vejamos enormes guerreiros de armaduras incríveis empunhando armas gigantescas até demônios-árvores com cara de molusco dignos de uma obra de H.P. Lovecraft. Mesmo sendo belo e colorido, Lords of the Fallen mantém uma atmosfera sombria o tempo todo, e seu universo é cheio de seres e criaturas tão belos quanto bizarros.
A trilha sonora segue uma pegada condizente com o estilo, misturando temas épicos e coros com arranjos sinistros e “arranhados” que chegam a causar certo incômodo. O som dos golpes, explosões e pancadas também cumpre seu papel, e a dublagem só não é melhor porque a sincronia labial é péssima. O som de seu guerreiro ofegando quando a barra de stamina zera é um bom indicador de que você deve tomar cuidado.
Mesmo sendo um jogo pequeno (em termos de GB, mesmo), Lords of the Fallen consegue aproveitar o potencial da nova geração, com uma iluminação caprichada, efeitos de partículas bem empregados e texturas bacanas. A taxa de framerate oscila um pouco, mas raramente chega a atrapalhar.
O que atrapalha um bocado são os vários bugs e glitches do game: em nossa aventura pela campanha, vimos alguns elementos de áudio (locução de documentos ou música) simplesmente desaparecerem em mais de uma ocasião. A detecção de colisão é meio falha, e detalhes como elementos “atravessando” seu personagem (e portas ou paredes) e a “falta de gravidade” de alguns elementos do cenário também saltam aos olhos.
Além disso, já popam pelo Youtube demonstrações de “game-breaking glitches” os famigerados bugs que podem zoar o seu save e arruinar todo seu jogo. Quero deixar claro que isso não aconteceu em nosso jogo, mas é fato que tais bugs existem, então cuidado!
No geral, o audiovisual é muito bom, mas suas falhas são bem evidentes, e deixam uma sensação de que o jogo foi “tirado do forno” antes da hora. Talvez se fosse lançado em 2 ou 3 meses, os desenvolvedores teriam tempo para corrigir esses problemas.
No mais, Lords of the Fallen é sem dúvida um jogo bonito e com uma direção de arte ímpar, mas ele com certeza brilharia ainda mais com um polimento mais caprichado.
CONCLUSÃO
Por ser um pouco mais “amigável” que a série Souls, Lords of the Fallen pode ser uma boa “porta de entrada” para quem não conhece o gênero, mas tem vontade de experimentar. Já os fãs da franquia da From Software irão encontrar um jogo que é parecido com Dark Souls, mas possui personalidade para se firmar e consegue agregar novas ideias ao gênero.
Mais do que isso, Lords of the Fallen é um pontapé inicial bem promissor para uma possível nova franquia. Considerando que Dark Souls está “parado” e BloodBorne só chega em fevereiro do ano que vem (e será exclusivo para PS4), Lords of the Fallen chega para “preencher esta lacuna” com estilo, e sem dúvida é uma boa opção para quem curte este novo tipo de RPG de ação.
Produzido pelas nem tão conhecidas Deck 13 e CI Games e distribuído pela Bandai Namco, Lords of the Fallen foi lançado em 28 de outubro, com versões para PC, Playstation 4 e Xbox One. Ah, e em todas as plataformas, o game possui menus e legendas em português brasileiro!