Análise Arkade: MainFrames, traz plataformas e desafios dentro de um sistema operacional

Vou confessar uma coisa curiosa: eu tenho uma queda por jogos que se passam dentro de sistemas operacionais, ou que brincam com interfaces computacionais de algum jeito.
Puxando de cabeça, tenho 3 ótimos exemplos: OneShot quebra a quarta parede e manipula seu PC. The Pedestrian tem um personagem que passeia por diferentes interfaces (analógicas e digitais). E o famoso SUPERHOT, um jogo dentro de um jogo que faz questionamentos filosóficos ao jogador.

MainFrames é mais um integrante desta lista, ainda que, em se tratando de gameplay, ele esteja mais para Celeste. Ele não vai quebrar a quarta parede, nem fazer nada muito arrojado em termos de narrativa, mas vai usar, janelas, ícones e apps de um sistema operacional “de mentirinha” para nos entregar uma carismática e desafiadora aventura de plataforma 2D.
Em MainFames, controlamos o pequeno Floppy, um disquetinho que está meio sem propósito no sistema do qual faz parte — algo que não pega bem para um programa de computador. Assim, ele vai navegar pelo sistema operacional de alguns computadores ligados em rede enquanto busca seu propósito.

É um objetivo nobre — quase metafórico –, mas que não é realmente aprofundado. MainFrames é um jogo de mecânicas, não de história. A jornada de autoconhecimento de Floppy é apenas o pano de fundo para justificar que o inconformado disquetinho saia pulando por aí.
Pulando entre janelas
A ação básica e primordial de MainFrames é o pulo — algo que a gente vem fazendo desde os tempos do Nintendinho. Porém, aqui o simples ato de pular chega acompanhados de uma generosa pitada de puzzles, que vamos precisar resolver enquanto pulamos pra lá e pra cá.

Verdade seja dita, os pulos aqui não só nos permitem progredir, como também são nossa principal forma de interação com o mundo do game. Há pulos tradicionais, pulos entre paredes e uma planadinha (que tem um propósito maior do que simplesmente prolongar o pulo).
Vamos acionar certos mecanismos pulando sobre eles, e acertar o número de “quicadas” sobre alguns elementos é a chave do sucesso para que certas coisas aconteçam.

Elementos como selecionar, arrastar e “esticar” janelas também é importante, e conforme avançamos, outros tipos de janelas e ícones vão surgindo, invertendo a gravidade e criando desafios cada vez mais cabeludos.
MainFrames é bem desafiador
Pode não parecer pelas imagens, mas temos aqui um jogo que testa a perícia (e o raciocínio) do jogador. Tal qual o já mencionado Celeste, MainFrames vai bem fundo no seu nível de desafio. E não estamos falando apenas de desafios mecânicos, mas também da lógica necessária para entendermos o que deve ser feito.

O fato de o jogo nunca explicar realmente suas mecânicas torna a experiência ainda mais desafiadora: é na observação e na tentativa e erro que vamos entender o que faz certas coisas funcionarem. Isso pode ser meio frustrante,
Cada tela é um desafio, e muitas telas têm diferentes “portas” de entrada/saída que desembocam em diferentes locais, que nos levam para outros lugares, e quando você perceber que pode “resgatar” as criaturinhas que encontra perdidas pelo sistema operacional, vai querer revisitar diversas telas para ver quantos bichinhos deixou para trás.
Audiovisual
MainFrames faz um ótimo trabalho em aproveitar a estética “sistema operacional” desde os primeiros minutos. Do menu inicial às bordas distorcidas da tela, tudo é cuidadosamente construído para nos vender a ideia de que estamos interagindo com uma interface computacional.

E o jogo faz isso de forma muito charmosa, graças a uma pixel art cheia de estilo. Os cenários, ainda que simples, são muito detalhados, e as animações são muito fluidas. É um jogo muito bem resolvido, visualmente falando.
O departamento sonoro também tira proveito do conceito “sistema operacional” para brincar com barulhinhos e efeitos que, mesmo não sendo os “oficiais do Windows“, trazem o mesmo feeling. A música não se destaca, e acaba sendo pano de fundo para a aventura.
Conclusão
MainFrames é um jogo curto — sua campanha dura ali umas 4 ou 5 horas –, mas cheio de segredos. Seu mundinho cibernético interconectado é muito interessante, e quanto mais você se aprofunda nele, mais há para se aprofundar.

É um jogo com uma curva de desafio crescente — e até um pouco inconstante, uma vez que você meio que faz o seu próprio caminho — e que pode facilmente se tornar frustrante, tamanha a dificuldade de alguns trechos.
Mas, ele premia a curiosidade e a experimentação do jogador. Às vezes você está tentando fazer algo muito complicado, e o próprio jogo questiona: será que não existe um jeito mais fácil de fazer isso? E muitas vezes, sim, existe um caminho mais fácil, que a gente simplesmente não enxergou.

É um jogo de plataforma gostoso, mas com bem mais que um pezinho no hardcore que pode afastar algumas pessoas. Se este “detalhe” não te assusta, venha sem medo, pois você vai se divertir muito — e também sofrer um bocado.
MainFrames está disponível para PC e Nintendo Switch. O game possui menus e legendas em português brasileiro.