Análise Arkade: Marvel Vs. Capcom Infinite traz a pancadaria clássica reformulada

18 de setembro de 2017

Análise Arkade: Marvel Vs. Capcom Infinite traz a pancadaria clássica reformulada

Quase 6 anos após o lançamento do último game da série (desconsiderando a versão remasterizada lançada para os consoles atuais no ano passado), os universos da Marvel e da Capcom se misturam novamente! Confira agora nossa análise completa de Marvel Vs. Capcom Infinite!

Agora com Estória!

Talvez querendo fugir dos erros cometidos com o lançamento “incompleto” de Street Fighter V, com Marvel Vs. Capcom Infinite a Capcom entrega um game com muito mais conteúdo já de cara. E a principal novidade chega na forma do Modo Estória — com E, mesmo, e o termo não está errado, por mais que seja pouco utilizado –, que traz umas trama que mistura personagens de realidades tão distintas em uma busca pelas famosas Joias do Infinito.

O que acontece é o seguinte: Sigma (vilão da série Mega Man X) e Ultron (vilão da Marvel que esteve no segundo filme dos Vingadores) unem forças usando duas das Joias do Infinito, assumindo a forma de uma entidade híbrida “criativamente” chamada Ultron Sigma. Eles consideram a vida biológica inútil, e planejam lançar uma espécie de vírus eletrônico que transforma qualquer forma de vida em máquina.

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Para tentar impedir este plano maquiavélico, heróis dos universos Marvel e Capcom unirão forças para encontrar as outras Joias do Infinito na esperança de que o poder combinado das Joias possa destruir Ultron Sigma. Como nenhum deles é realmente um especialista nas pedras, eles acabam buscando a ajuda de um sujeito não lá muito confiável: Thanos.

E é assim que temos, pela primeira vez na série, um esforço narrativo que justifique encontros tão improváveis e mirabolantes como Dante e Rocket Racoon, Homem-Aranha e Chris Redfield, ou mesmo Mega Man e Homem de Ferro.

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Heróis unindo forças!

Não espere um super roteiro: a história é bastante rasa, mas interessante justamente por não se levar muito a sério. Há muita galhofa envolvida, e o maior mérito da narrativa em si é justamente o de criar parcerias inusitadas que funcionam tão bem nas cutscenes quanto na hora da porradaria. Afinal, não é todo dia que vemos Ryu e Hulk unindo forças para derrubar um dragão (?!), não é mesmo?

Gameplay simplificado (mas nem tanto)

O Modo Estória, porém, não é a única novidade do game, que traz um gameplay bastante reformulado: para começar, agora os combates são apenas 2×2 e não 3×3 como era nos jogos anteriores. É fácil torcer o nariz para este novo formato (eu mesmo não curti muito), mas depois de algumas partidas, a gente acaba se acostumando.

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As batalhas agora são só 2×2.

No gameplay em si, a Capcom se rendeu ao estilo “easy combos” que andou se tornando tendência na indústria: aperte o mesmo botão várias vezes (quadrado, no PS4) e seu personagem executa um combo de uns 7 ou 8 hits automaticamente. É algo que ajuda os novatos a “jogarem bonito” mas atrapalha um pouco quem já é familiarizado com o gênero.

Confira uma batalha rápida abaixo:

Felizmente, isso pode ser desabilitado pelo menu de opções, e se você já jogou algum Marvel Vs. Capcom na sua vida, recomendo fortemente que desative tudo isso, para que as mecânicas voltem a ser essencialmente as mesmas de sempre: 4 botões de ataque principais, que combinados com agilidade e “meias luas” podem render golpes especiais e air combos insanos.

As Joias do Infinito

Outra novidade no gameplay chega na forma das próprias Joias do Infinito: quem é das antigas vai lembrar que as Joias do Infinito já marcaram presença no clássico Marvel Super Heroes, de 1995, mas aqui sua utilização é diferenciada, e agrega um bocado de estratégia aos combates.

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Rocket cobiçando as Joias do Infinito.

Funciona assim: você pode equipar uma pedra em seu time, e usufruir do poder dela durante todo o combate. Cada Joia possui habilidades específicas, e dominar a utilização de cada uma delas sem dúvida é algo que os jogadores mais competitivos vão querer gastar um tempinho fazendo.

Além de ataques de energia simples, cada Joia possui um poder único e especial: a Joia do Espaço, por exemplo, coloca o oponente dentro de uma “caixa”, deixando-o preso e potencialmente vulnerável por vários segundos.  Tipo assim, ó:

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O poder da Joia do Espaço.

Já a Joia da Alma não só ressuscita seu aliado (caso ele esteja morto, claro), como permite que ambos os personagens ataquem simultaneamente durante alguns segundos. Usadas de forma estratégica, as Joias do Infinito são capazes de virar a mesa em partidas mais acirradas.

Troca-troca dinâmico

A mudança que mais afeta o gameplay em si, porém, é o novo sistema de troca dinâmica de personagens, chamado Active Switch. Na prática, você pode alternar entre seus 2 personagens a qualquer momento, inclusive no meio de combos ou Hyper Combos. Isso quer dizer que — com um pouco de habilidade — você pode aumentar ainda mais seu contador de hits, sabendo fazer a troca de forma dinâmica.

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Com menos personagens em tela, acabaram-se aqueles Hyper Combos conjuntos… pelo menos os feitos da forma tradicional: agora, usando o sistema Active Switch, você pode ativar o Hyper Combo de um personagem, trocar de herói DURANTE o Hyper Combo dele e acionar o golpe do segundo personagem — tudo isso em um piscar de olhos!

Claro que isso funciona mais com personagens cujo Hyper Combo é um golpe mais longo — como o Crawler Assault do Aranha, por exemplo –, mas esse troca-troca acelerado pode ser feito das mais variadas formas. No vídeo abaixo, a dupla Rocket e Gamora faz isso muito bem, confira:

Por mais que eu sinta falta de ter 3 personagens no time, é indiscutível que o novo formato do game funciona muito bem, e boa parte deste mérito é justamente fruto do sistema dinâmico de troca de personagens. Ainda não peguei totalmente a manha, mas o potencial da novidade é enorme, e sem dúvida vai render batalhas épicas em torneios!

O elenco

Talvez um dos aspectos mais questionáveis do game: temos um total de 15 personagens de cada lado, totalizando 30 personagens selecionáveis nesta versão vanilla do game. Destes, 24 já estavam presentes em Ultimate Marvel Vs. Capcom 3, ou seja, não há taaanta novidade assim, mas no geral, temos escolhas bem ecléticas de ambos os lados, mas quem é fã da série sem dúvida irá sentir falta de muitos veteranos.

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Já temos 30 personagens + 6 confirmados via DLC: Sigma, Pantera Negra, Monster Hunter, Soldado Invernal, Viúva Negra e Venom.

No lado Marvel, as ausências mais notáveis são as dos X-Men. Não há Wolverine, Ciclope, Gambit, Magneto nem qualquer outro mutante aqui. A Capcom, por sua vez, insiste em trazer Sir Athur e Firebrand, mas deixou na geladeira Captain Commando, Amaterasu, Jin Saotome e outros heróis bacanas que marcaram presença em episódios anteriores da franquia.

Por outro lado, temos novidades interessantes, especialmente no lado da Marvel: Gamora se une a Rocket Raccoon, somando 2 Guardiões da Galáxia no rol de lutadores, e as presenças de Thanos e Ultron sem dúvida são bem-vindas, bem como de Capitã Marvel e Nova.

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Duelo de vilões.

Do lado da Capcom, é bom vermos de volta Jedah (de Darkstalkers), e a presença tanto de X quanto de Zero vai deixar os fãs de Mega Man bem felizes. Pessoalmente, fico feliz que a empresa não tenha tirado Strider Hiryu, um dos meus personagens favoritos desde o segundo jogo da série, e gosto de ainda poder contar com Dante e Homem-Aranha… mas não entendo o que gente sem graça como Spencer ou Dormammu continuam fazendo aqui.

Uma treta em Hollywood explica?

Mercadologicamente, algumas escolhas até são compreensíveis. O time Marvel está totalmente de acordo com o MCU (universo cinematográfico Marvel): temos quase todos os Vingadores presentes (e Pantera Negra e Viúva Negra já estão confirmados como DLCs), e os vilões Ultron e Thanos também estão em alta nas telonas, bem como os Guardiões da Galáxia e o Doutor Estranho, que se tornaram queridinhos do grande público graças aos seus bem-sucedidos filmes.

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Gamora, uma das novatas do game.

Porém, quem é realmente fã da empresa — e da série Marvel Vs. Capcom — não está tão interessado assim neste lado mercadológico da coisa, e vai sentir falta de heróis como Wolverine, Vampira, Tempestade e tantos outros que já passaram pela série MvC (inclusive o fanfarrão Deadpool). E o pior é que pode haver alguma sujeira debaixo do tapete nesta história.

Repare que, coincidentemente (ou não), os personagens Marvel que ficaram de fora são aqueles cujos direitos cinematográficos pertencem à outra empresa: a 20th Century Fox, que é quem cuida dos filmes dos X-Men, do Deadpool e do Quarteto Fantástico.

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Não, não é o Tocha-Humana. =/

Quem acompanha os bastidores da indústria de quadrinhos deve lembrar que em 2014 a Marvel cancelou a revista do Quarteto Fantástico alguns meses antes do lançamento do reboot cinematográfico dos heróis. No mês passado, um roteirista confirmou que o cancelamento foi um “boicote” à Fox, o que nos leva a crer que a rixa entre as empresas é mais séria do que parece.

Isso pode (ou não) explicar a ausência de tantos personagens famosos que, coincidentemente (ou não) estão sob tutela da Fox nos cinemas, e a absurda (e equivocada) desculpa de que “ninguém lembra dos X-Men” que foi dada por uma dupla de produtores há alguns meses.

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Pantera Negra e Monster Hunter já estão confirmados como DLCs.

Uma parte do que levantei aqui é especulação, mas temos fatos que insinuam que a Marvel pode ter uma tendência a deixar nos holofotes somente os personagens que lhe convém. Eu gostaria de acreditar que a picuinha entre as 2 empresas não afetou a escolha dos lutadores presentes no game, mas sinceramente tenho minhas dúvidas.

Audiovisual

Bom, mas chega de falar de tretas, e vamos voltar a falar do game: vi muita gente por aí reclamando do visual do game, mas não consegui identificar nenhum problema tão grave. Ok, alguns personagens — como o Gavião Arqueiro, por exemplo — têm rostos bem zoados quando vistos nas cutscenes do Modo Estória, mas no geral o visual do game está muito bonito, e a pancadaria em si continua frenética, cheia de luzes e cores como sempre.

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Não tem como defender essa cara zoada do Gavião. Parece o Johnny Cage com caxumba!

Alguns detalhes que a Estória cria corroboram em fundir os 2 universos de forma muito harmoniosa e interessante. Um dos cenários é a torre dos Vingadores, e adivinha só quem está projetado holograficamente lá no fundo? Dr. Light, o “pai” do Mega Man! Passamos também por Valkanda (terra do Pantera Negra) e pelos sinistros laboratórios de uma tal A.I.M. BRELLA (pois é, também fiquei curioso), e em todos eles a fusão dos universos Marvel e Capcom se faz presente de forma criativa, nem que seja em pequenos detalhes.

O game não traz dublagens em português, mas as vozes em inglês estão ótimas e condizentes com os personagens. E o mais legal é que cada personagem tem dezenas de falas diferentes, e elas podem ser condizentes tanto com seu companheiro de time quanto com o líder da equipe adversária! Um bom exemplo é o Homem-Aranha que, junto do Ryu, chega querendo soltar Hadouken, confere aí:

Esses detalhes também concedem personalidade aos personagens: o Hulk, com seu vocabulário limitado, chama os outros por apelidos curtos (web head para o Aranha e tiny knight para o Sir Arthur, por exemplo), enquanto o Motoqueiro Fantasma usa termos genéricos (feiticeiro para o Dr. Estranho, por exemplo) para chamar seus aliados. É apenas um detalhe, mas que no contexto fica bem legal. A trilha sonora também é boa, e as legendas e menus estão totalmente em português.

Conclusão

Marvel Vs. Capcom Infinite se mantém relativamente familiar, mas sem dúvida sofreu diversas mudanças. Embora muitas delas não sejam essencialmente “evoluções” para a franquia em si, o produto entregue é um game de luta sólido e funcional que se mantém extremamente fluido, divertido e gostoso de jogar, e de quebra está muito mais acessível para os novatos.

Análise Arkade: Marvel Vs. Capcom Infinite traz a pancadaria clássica reformulada

Eu sou um grande fã da série — jogos de luta acelerados sempre foram mais a minha praia — e depois de passar um bom número de horas jogando Marvel Vs. Capcom Infinite (lembrando que além do Modo EstóriaModo Arcade, Batalhas Online e Offline, Missões, Tutorial, etc.), saio satisfeito com o gameplay e conformado com as mudanças, mas chateado com a ausência de personagens marcantes.

Marvel Vs. Capcom Infinite toma algumas atitudes questionáveis, mas revive com competência um dos maiores crossovers da história dos videogames. Quem é fã da franquia pode vir sem medo, mas tenha em mente que vai precisar reaprender alguns conceitos… e que não terá mais o bom e velho “Berserker Barrage” do Wolverine. 🙁

Marvel Vs. Capcom Infinite será lançado amanhã (19/09), com versões para PC, Playstation 4 e Xbox One. Esta análise foi feita com base na versão PS4 do game, em uma cópia que recebemos antecipadamente da assessoria da Capcom.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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