Análise Arkade: Megaton Rainfall é um verdadeiro simulador de Super-Herói

4 de novembro de 2017

Análise Arkade: Megaton Rainfall é um verdadeiro simulador de Super-Herói

Simulador de Super-Herói

Sabe aquela velha conversa sempre que há um rumor sobre um novo game com o Superman como protagonista? Aquela de que o Homem de Aço nunca teve um jogo verdadeiramente bom e que faça jus a todo o seu poder e seu legado em outras mídias? Pois é… ainda não temos nenhum tipo de indicação de algo sendo produzido para além das participações do personagem em games como Injustice. A boa notícia é que mesmo não sendo tendo qualquer ligação com o mais icônico super-herói de todos os tempos, Megaton Rainfall faz muito bem esse papel.

O game é basicamente um simulador de super-heróis, feito exatamente para aproveitar toda a potencialidade dos recursos da realidade virtual. Funcionando todo em primeira pessoa, o jogador pode explorar desde as ruas de uma grande cidade na Terra como viajar até os confins do universo voando a três milhões de vezes a velocidade da luz (?!). Mas vamos com calma, e tratemos das características do jogo com mais detalhes.

Análise Arkade: Megaton Rainfall é um verdadeiro simulador de Super-Herói

Já vimos essa origem em algum lugar

A princípio, o protagonista não tem muitas informações, tal como o jogador. Há um despertar e uma voz grave e misteriosa de Marlon Brando se apresentando como uma entidade e, ao mesmo tempo, pai do herói. Suas palavras são tão grandiosas quanto vazias, dando migalhas de explicações ao dizer que é necessário destruir os invasores e salvar o planeta e que, ao longo da jornada, tudo ficará mais claro. Falta, porém, personalidade para o herói, ferindo um pouco as motivações de envolvimento e imersão, tão valorosos em jogos em primeira pessoa.

Basicamente, ele diz que você é poderoso e indestrutível e que precisa salvar os terráqueos de uma invasão alienígena. E é com essas informações — e o poder de emitir rajadas de energia das mãos — que partimos para a primeira missão. A cada nova onda derrotada, novas informações e novos poderes vão sendo revelados e a história, ainda que não seja lá muito surpreendente ou mesmo inovadora, vai ganhando contornos mais complexos.

Confira os 20 minutos iniciais de gameplay abaixo:

Megaton Rainfall se permite uma linha narrativa suficiente para conectar os diferentes trechos da ação, mas que pode se tornar um pouco cansativa, já que a forma como isso é contado, salvo alguns detalhes, é bastante expositivo e nada empolgante. Funciona por toda a aura de mistério que envolve a tal entidade que serve como guia para a jornada, mas ao mesmo tempo usa pouco os recursos narrativos que fazem uma boa história em quadrinhos, base fundamental para todo o contexto do game.

Assuma o manto de Super-Herói

Tirando a questão da conexão entre as diferentes missões do game, não sobra muito a ser contado. O game se estrutura em fases, onde as ondas de inimigos vão ficando cada vez maiores e mais difíceis de serem contidas. Como o herói é indestrutível, ele não precisa se preocupar com uma barra de HP nem nada disso, nem os invasores se preocupam em atacá-lo diretamente, na real. A medida para a vitória ou a derrota é o quão destruída fica a região atacada, e o número de baixas civis.

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O jogo é bastante feliz em tratar do controle do herói em usar os seus poderes, refletindo questionamento que sempre vimos em produtos descompromissados, como os clássicos tokusatsus (aquelas séries japonesas com robôs e monstros gigantes destruindo uma cidade de isopor), e mais recentemente, em produções mais sérias, como os recentes produtos de Marvel e da DC nos cinemas. Afinal, não adianta explodir a cidade inteira para parar o vilão e é exatamente essa responsabilidade de proteger a população que diferencia o mocinho dos caras maus.

Portanto, nada de sair disparando poderes para os todos os lados. Um erro é suficiente para derrubar um prédio ou mesmo explodir a cidade inteira. Ao mesmo tempo, nada de ficar preparando demais o ataque, já que os invasores não são lá muito delicados. Megaton Rainfall desafia o jogador a encontrar o equilíbrio entre ser preciso e contido em seus ataques, sem abrir mão da urgência e da necessidade de eliminar as hordas inimigas no menor tempo possível.

Veja mais um vídeo abaixo, exemplificando melhor essa questão:

Fica claro que, em termos práticos, não há nenhuma complexidade em entender o que deve ser feito. Use os poderes que tem em mãos — ao longo da jornada, é possível usar ataques mais potentes, parar o tempo, levitar objetos, etc. — para destruir os inimigos antes que a barra de causalidades atinja um nível inaceitável para um herói. Essa dinâmica se torna mais difícil a cada missão vencida, mas não mais complexa. Talvez o mais difícil, as vezes, seja descobrir se é necessário acertar um ponto fraco ou não de cada tipo de nave invasora.

Nem sempre tudo isso é tão prazeroso assim, porém. A grande maioria dos inimigos tem movimentos padronizados e uma inteligência artificial limitada, mas ainda assim são bastante erráticos quando perseguidos. Acertá-los em movimento pode ser um grande tormento, e cada erro atrapalha o rendimento do jogador. Ainda que seja mais prudente atacar sempre de baixo para cima (caso erre o alvo, a rajada não atinge o chão ou uma praça, por exemplo), nem sempre é possível. Perseguir uma pequena nave camuflada pode ser um tormento as vezes.

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Mas nem só de superfície terrena vive um herói tão poderoso, certo? Entre uma invasão e outra, o protagonista é um pouco livre para explorar o universo da forma como bem entender. E quando falo de universo, estou falando sério. É possível viajar para a Lua, planetas do nosso sistema solar, nebulosas, galáxias e para o universo profundo. É impressionante a sensação de escala que o game oferece. É possível ver um pedestre na rua e, minutos depois, estar sobrevoando a superfície de um dos sóis de um sistema binário em outra galáxia milhões de anos-luz da Terra.

Claro que não há um detalhamento tão evidente como em propostas como No Man’s Sky, por exemplo, onde cada planeta é dotado de suas próprias flora e fauna. Na verdade, de perto, planetas e luas distantes são grandes pedaços de rocha borradas, com algumas diferenças em cores, formatos e detalhes — alguns possuem anéis similares aos de Saturno, por exemplo. Mas o que importa é a sensação da imensidão do universo e, principalmente, da nossa solidão.

Veja só no vídeo abaixo esse sistema de exploração e contemplação:

Fica claro, portanto, que a intenção aqui não é ser complexo em termos de jogabilidade. As missões são diretas e objetivas, os comandos são simplificados e o gameplay é até básico. Megaton Rainfall não tenta reinventar a roda ou ser um Arkham Asylum, por exemplo. É um jogo otimizado para a realidade virtual, que preza muito mais por uma experiência sensorial de como é ter os poderes de um super-herói e ter a liberdade de explorar uma inevitável fascinação pelo universo.

Audiovisual

Como dito, Megaton Rainfall é um game de escala. Mas em termos visuais, o jogo paga caro pela ousadia e o preço fica bastante evidente no nível dos detalhes. Ao descer às ruas de uma grande cidade, os modelos de carros, construções e de pessoas parecem de papelão, e lembram alguns games da geração 32 bits. Há texturas bem aceitáveis, mas nenhuma feita para se prestar tanta atenção assim. O mesmo vale para a superfície de outros corpos celestes.

Análise Arkade: Megaton Rainfall é um verdadeiro simulador de Super-Herói

Não que o jogo seja feio, longe disso. Todas as passagens de gameplay são muito bem construídas, com cidades críveis, construções bem desenhadas, e as naves inimigas dão uma dimensão muito impressionante de um ataque em grande escala. A participação de forças militares é quase cosmética e bem comedida, mas também está lá. Em outras palavras, na ação de fato, tudo funciona de forma exemplar, com muita fluidez e um estilo estético dignos. Esse olhar mais minucioso não é objetivo do game e é muito mais preciosismo de querer olhar detalhes.

Já em termos sonoros, o destaque vai para o silêncio do vazio. E isso não é demérito, já que a sensação de isolamento e de solidão no espaço sideral não é tão simples como pode parecer. Trabalhar com o silêncio opressivo, aquele que incomoda, que parece sufocar mesmo no meio do nada, é algo difícil de se alcançar e o game é muito competente nesse sentido. Já durante os ataques, o áudio não brilha tanto, mas também não faz feio, com gritos desesperados por entre explosões e quedas de escombros ao som de uma batida bem mixada e que funciona para dar ritmo à ação.

Análise Arkade: Megaton Rainfall é um verdadeiro simulador de Super-Herói

Com um estilo que transita entre o realismo e a literatura fantástica, Megaton Rainfall é bastante agradável e se apoia no potencial da realidade virtual para transportar o jogador para uma experiência crível que, se não é apegada aos mínimos detalhes, dá uma sensação de grandiosidade e, ao mesmo tempo, de solidão como poucos games fizeram até hoje, potencializando essa percepção do poder do herói e de suas habilidades especiais, ao mesmo tempo que o torna tão especial quanto solitário no universo infinito.

Conclusão

Desenvolvido pelo estúdio espanhol Pentadimensional Games, Megaton Rainfall consegue ser ao mesmo tempo pretensioso e contido em suas aspirações. Se em termos de gameplay o game é bastante simples, se pautando em uma série de comandos para vencer ondas de inimigos, o visual e a liberdade de exploração valorizam a grandiosidade do universo e dos poderes de um ser quase divino.

Análise Arkade: Megaton Rainfall é um verdadeiro simulador de Super-Herói

Se o game peca em termos de personalidade – o herói não tem nem um pouco de carisma e a apresentação narrativa exagera na exposição didática – há outras qualidades destacáveis, como a aventura da exploração espacial, um combate frenético que se utiliza de vários conceitos que conhecemos sobre invasões alienígenas e histórias em quadrinhos e a sensação de grandiosidade, o que certamente garantem ao game ao menos uma chance de ser experimentado.

Disponível para Playstation 4 com ou sem o uso do PSVR, e para PCMegaton Rainfall tem textos localizados para o português brasileiro e, sem dúvidas, é o melhor jogo do Superman (mesmo sem ter qualquer ligação com o personagem) já feito.

Paulo Roberto Montanaro

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