Análise Arkade: Explore o mundo dos insetos em Metamorphosis
O que você faria se um dia simplesmente acordasse e fosse um inseto? Em 1915 o escritor Franz Kafka imaginou essa situação em seu livro “Metamorfose”. E agora, 105 anos anos depois, o game Metamorphosis dá vida a essa história!
E chegou a hora de vermos como o game acabou se saindo em sua interessante premissa, colocando o jogador para explorar o minusculo e ao mesmo tempo gigantesco mundo dos insetos. Então, vamos lá!
Uma reinterpretação da obra de Kafka
Metamorphosis conta a história de Gregor Samsa, um vendedor que após uma noite de bebedeira, acorda em um quarto na casa de seu amigo Josef. Ao sair do quarto, tudo ao redor de Gregor começa a parecer estranho, quadros passam a mostrar imagens de insetos antropomorfos, as paredes vão ficando mais altas, os corredores mais largos e por fim, Gregor deixa de ser humano, se transformando num inseto.
Sem ter a mínima ideia do que aconteceu, Gregor se vê numa situação que, além de ser incompreensível, se tornou urgente: Seu amigo Josef subitamente é acusado de algum misterioso crime e está prestes a ser julgado, sem saber a acusação. E além disso, Gregor é instruído a ir até a “Torre” se quiser voltar a ser humano.
E assim, se inicia a aventura de Gregor pelo mundo dos insetos, em sua busca pela Torre e para tentar salvar a pele de Josef. Tudo isso enquanto conhece os mais estranhos e curiosos insetos das mais diversas personalidades em seu caminho.
O game é uma reinterpretação da história original, que por si só é bem menos “aventuresca” e muito mais sombria. No livro, Gregor se transforma em um inseto gigante e a história gira em torno de como sua família reage a isso, em ver que um de seus membros, aquele que trabalhava e pagava as contas, se tornou um inseto gigante.
Já aqui, a história é diferente, Gregor se torna um minúsculo inseto e desbrava esse pequeno mundo, conhecendo vários insetos no caminho, que possuem religiões, empregos, vidas pessoais e etc.
Um “puzzle-explorer”
Metamorphosis é um game cujo objetivo é resolver puzzles para avançar de área em área. São puzzles simples, porém engenhosos, que não demandam habilidades especiais para serem resolvidos, apenas investigação e lógica.
O game possui quests simples, que envolvem convencer algum inseto a te ajudar ou interagir com algo para poder avançar. A diferença é que você está num mundo gigantesco, então cumprir um objetivo envolve longas viagens pelo mundo dos insetos e por estantes, armários, gavetas e objetos humanos.
O game conta com ícones que indicam objetivos, mas muitas vezes não guia o jogador de forma direta. Assim, o jogador precisa ficar ligado no que está acontecendo para saber onde ir ou o que fazer, o que não é difícil, já que os objetivos do game são simples. Porém, imaginando a situação em que o jogador passe alguns dias longe do game e esqueça o objetivo atual, em alguns trechos pode ser difícil retomar o passo de onde parou.
Em contrapartida, o game é relativamente curto. Suas áreas são realmente imensas e alguns puzzles são um tanto complicados de resolver (mais por entender qual o melhor caminho para chegar aos objetivos ou descobrir com qual inseto conversar), porém se o jogador tiver uma boa progressão, chegará no final do game relativamente rápido. Eu terminei o game em dois dias, o primeiro jogando apenas algumas poucas horas e o segundo de forma dedicada.
Talvez um ponto negativo seja a forma vaga com que o game atualiza os objetivos para o jogador. Usar a cabeça para interpretar diálogos e descobrir como resolver puzzles é parte da experiência, porém em certos trechos o game acaba sendo muito vago. Nesses momentos é necessário que o jogador explore bem a área em que está para descobrir o que fazer, muitas vezes com os objetivos muito bem escondidos.
Como já mencionei, isso não é exatamente um problema, afinal exigir habilidade do jogador não é erro algum, na verdade é o correto a se fazer. Porém, essa característica do game é o que exige que o jogador preste atenção e lembre o que deve fazer. É claro que é possível abrir um menu e ver os objetivos atuais, mas a atenção do jogador é bastante exigida aqui.
O satisfatório controle de um inseto
Metamorphosis possui um gameplay bem simples e bem eficaz. Como um inseto, Gregor não precisa de muitas habilidades para chegar onde quer. Ele não é um “escolhido” ou um “super-inseto”. Ele é simplesmente um inseto ordinário igual a qualquer outro.
Sendo assim, ele possui apenas quatro habilidades: andar, correr, pular e escalar. Porém, a habilidade de escalar infelizmente não é livre. Gregor só consegue escalar objetos e paredes se seu corpo estiver grudento, e para isso ele deve andar sobre substâncias pegajosas (mel ou tinta). E após ficar grudento, só pode escalar por tempo limitado, precisando recarregar seu corpo de substâncias grudentas para escalar novamente.
Gregor é um pequeno inseto, andando sobre suas seis patas bem próximo ao chão, assim, ele consegue correr bem rápido e não se cansa. E escalar é algo realmente muito satisfatório, pois não há limite para onde o jogador pode ir, contanto que o medidor de “grude” não acabe. E é uma grande pena que não seja possível escalar livremente, pois é algo tão simples mas tão legal, passando quase a mesma sensação de escalar um prédio nos games do Homem-Aranha (mas sem as acrobacias).
Os puzzles do game envolvem conversar com um inseto e ir até algum lugar resolver quebra-cabeças que envolvem elementos do cenário. Seja subindo em objetos para fazê-los subir ou descer, apertar botões pulando neles, ou girar botões andando sobre eles. Tudo é bem simples e novamente, o desafio está em fazer o jogador usar a cabeça para descobrir o próximo passo.
Audiovisual
Metamorphosis tem um visual bem feito, com um estilo mais caricato, mas ainda ainda assim bem detalhado. Ver o mundo da perspectiva de um inseto é muito interessante, como por exemplo explorar a cômoda e a estante de livros no quarto de Josef, enquanto observa humanos tão grandes que mal cabem inteiros na câmera.
O game é dividido em dois tipos de cenários: O “Mundo real”, que é o quarto de Josef; e o “mundo dos insetos”, que fica escondido dentro das gavetas e atrás das paredes, sendo literalmente um outro mundo, formado por restos de lixo, vegetação, fungos e objetos esquecidos. O game tem uma estética muito bem feita. Entretanto, sofre um pouco daquele problema de pequenos elementos do cenário que travam o personagem, as vezes uma pedrinha ou um pequeno degrau que obrigam o jogador a pular para atravessá-los.
No departamento sonoro, o game é bem feito, possuindo músicas calmas, mas não muito marcantes, com aquele típico clima de mistério, misturado com um estilo mais antiquado, que para mim é difícil definir em palavras, mas que combina muito bem com o game.
O game possui dois idiomas: Inglês e “insetês”. A partir da transformação de Gregor em inseto, ele só passa a se comunicar com sons estranhos, assim como todos os insetos que são encontrados. Porém é possível notar que há um idioma sendo falado ali, não sendo apenas barulhos sem sentido, com certas palavras sendo pronunciadas de maneiras bem específicas em diferentes diálogos.
O game conta com localização em português brasileiro em seus menus e legendas, e o trabalho de localização foi muito bem feito! Metamorphosis é um game bastante cômico, e sua localização em nosso idioma consegue traduzir bem isso.
Conclusão
Metamorphosis é um game divertido e com uma premissa bem interessante. O game consegue criar a sensação de pequenez ao observar o mundo de uma outra forma e ver objetos como um simples livro ser tão grande como um prédio.
Os puzzles do game são desafiadores e exigem a atenção do jogador, algumas vezes sendo um tanto vagos quanto ao que deve ser feito. Ainda assim, sua história e gameplay conseguem entreter bastante. E como já dito, esse não é um game muito longo, podendo ser terminado em algumas horas se o jogador se dedicar bastante.
Metamorphosis foi lançado no dia 12 de agosto, com versões para PC, Playstation 4, Xbox One e Nintendo Switch.