Análise Arkade – Metro Exodus e sua busca por dias melhores em meio ao apocalipse nuclear
Além do apocalipse, que é explorado por diversas mídias, incluindo os games, a mensagem de esperança em meio ao caos também faz parte constante deste contexto. E não é diferente da série Metro. A franquia, que é inspirada na série de livros do russo Dmitriy Glukhovskiy, tem sua história situada na Rússia de 2013.
Tanto o país, como mais especificamente sua capital, Moscou, foi destruída por um holocausto nuclear. Os sobreviventes, impossibilitados de viver na superfície, dominada pela radiação e por criaturas bizarras, acabaram tendo que se adaptar nas antigas linhas de metrô da cidade, procurando sobrevivência. Mas alguns, ousavam ter esperança em meio a este cenário.
Passado algum tempo, as pessoas se adaptaram ao novo estilo de vida, gerando novas maneiras de comércio, sustento, e governo. E é neste contexto, que controlamos Artyom, um jovem que não acredita que Moscou e seus habitantes tenham sido os únicos sobreviventes dos eventos. Ele acredita, de maneira teimosa, que muitas pessoas pelo mundo estão a salvo e, assim, vivendo na superfície.
Este desejo de viver uma vida melhor é o que motiva a história do game. Com muita cara de livro, e com elementos cinematográficos para justificar este enredo, vamos juntos conferir como ficou esta viagem pela Mãe Rússia.
Um livro em forma de game
Por ser baseado em uma série de livros, Metro Exodus é narrado de uma forma bem parecida com uma boa leitura. Inclusive, há um modo “mais fácil do que o fácil”, feito apenas para quem tem o interesse de “ler o jogo”, e nada mais. Este jeitão do jogo também reflete no gameplay. Há muita conversa, muitas cutscenes e, até cenas que seriam QTEs normais em outros games, aqui rolam de maneira mais simples.
Serão várias as vezes que seu personagem fará alguma ação sozinho, enquanto você, com a mente “preparada” devido a outros FPS, ficará esperando um botão que nunca vai aparecer. Mas, apesar de a história ser bem interessante, e cativante, infelizmente, em alguns momentos, ela é mal contada.
E a culpa não é do enredo em si, e sim do gameplay. Confuso, o jogo é linear, porém não serão poucas as vezes que você não saberá direito aonde ir. Entendo que, no contexto de exploração do jogo, uma dificuldade maior de se localizar, em contraponto aos pontos de ação de um Call of Duty da vida, são relevantes. O problema é que você acaba perdendo, principalmente se for mais acelerado no jogar, muita coisa importante da história.
Outro ponto que também atrapalha a narrativa são conversas simultâneas. Não foi apenas uma vez que gostaria de ouvir uma informação importante, enquanto outra conversa paralela estava acontecendo. E pior: as legendas se misturam, deixando tudo ainda mais confuso. Além disso, sempre acreditei que, por se tratar de um game que busca valorizar sua história, ele seria melhor executado se fosse um game em terceira pessoa, do que um FPS. Isso não muda muito para o jogador, mas pelo menos pra mim, esta série poderia ser até mais prestigiada, caso contasse com este formato de jogabilidade.
Por fim, creio que, por ser um jogo baseado em Moscou, deveria ter sido dublado, por padrão, em russo. Outros idiomas, como o inglês, poderiam ser adicionados apenas se o jogador assim o quisesse. Mas, para uma melhor imersão, o idioma local seria uma melhor escolha.
Ar puro, finalmente
No começo de Metro Exodus, você tem um gameplay bem semelhante aos games da série. Mas, os corredores escuros e ameaças constantes vão dando lugar, gradativamente, a um mundo quase aberto, com cenários amplos pra se explorar. Temos, inclusive, muita inspiração de Far Cry e Fallout 4 por aqui. O game que era mais direcionado ao terror, agora foca mais na sobrevivência. E, vez ou outra, na ação.
Metro Exodus segue sendo um game que não é dos mais interessantes para aqueles que gostam de bancar o Rambo. Além da munição escassa, e que vai ficando ainda menor de acordo com o nível de dificuldade escolhido, o jogo te convida a ser o mais discreto possível. Afinal, entrar em combate com dois ou mais soldados inimigos ao mesmo tempo é sinônimo de morte certa.
O melhor jeito de curtir o jogo é aproveitar o stealth. Ou, em caso de combate, bastante movimentação para isolar os inimigos, e assim eliminá-los, um por um. A exploração, ampliada no game, é focada em micro regiões. O game tem cara de mundo aberto, mas na verdade, você viaja de trem pela Rússia e, ocasionalmente, precisará explorar novos locais.
É basicamente um Far Cry em seu gameplay, só que linear. Isso pode desagradar alguns, que gostavam da série exatamente por seu clima de terror, e ambientes escuros e apertados. Mas também pode ser, tanto um sinal de evolução da história. Quanto um convite para que novos jogadores possam ser introduzidos ao contexto de Metro.
No geral, é um mais do mesmo, com monstros ameaçando constantemente, inimigos sem humanidade e recursos escassos. Mas com uma ambientação maior, com direito a, finalmente, “ar puro” na Rússia desolada por um ataque nuclear.
Economizar é sobreviver
Em um ambiente pós-guerra, gerenciar seus recursos é fundamental para a sobrevivência. Mesmo nos níveis mais fáceis, você não terá à disposição quilos e quilos de balas para atirar. Até a seleção de armas é bem limitada. Para compensar, é possível personalizar as armas que possui. Deixando-a, na medida do possível, mais confortável ao seu estilo de jogo.
A mesa de montagem de recursos permitem também a criação de kits médicos. E máscaras de ar, utilizadas em locais com radiação extrema. Além disso, você vai precisar limpar a sua arma sempre que tiver a oportunidade. Pois ela vai emperrar se você deixá-la ir acumulando sujeira durante sua jornada.
Pena que não é só este elemento que. “atrapalha” a jogabilidade. O game busca ter um padrão próprio de gameplay, e acaba se confundindo muito em momentos de ação. Por exemplo: em um gameplay no Playstation 4, o botão R1 que serve para selecionar armas, se pressionado, também serve para atirar itens secundários, como uma lata ou uma faca. Adivinha quantas vezes você vai querer trocar de arma e vai desperdiçar uma faca atirando-a no nada?
Também tive alguns contratempos com situações simples. Como uma escada que não conseguia descer por não conseguir achar o lugar exato para apertar o botão para isso. E, por fim, a distribuição geral dos botões está um tanto confusa, em elementos secundários, o que acabará atrapalhando, em algum momento, o desempenho do jogador. Pelo menos o tiroteiro está incrível. Como um ótimo FPS, lutar contra os monstros imprevisíveis, ou os soldados inimigos está bem divertido.
Um bom “livro”, em um game com problemas.
A narrativa de Metro Exodus, mesmo sendo a mais fraca da série, por ser previsível e linear, ainda é o melhor elemento do game. Seguido por perto do tiroteio. O game tenta evoluir a série, mas enquanto acerta em alguns pontos, como os mencionados acima, também se perde. Quando tenta criar um clima novo de exploração, ou levar a narrativa de forma mais natural.
Esta necessidade de evolução, que é possível notar em todo o momento em que você joga o game, acaba forçando um pouco a barra. Especialmente com uma série que já tem elementos próprios e queridos por seu público. Uma DLC ou um spin-off poderia servir de laboratório para estas novidades que foram discutidos por seus desenvolvedores.
Pois no fim, temos um game que, apesar de ser bom, e interessante de se jogar, perde um pouco de sua identidade. Até passa a ideia, ruim, de que o game é um clone de Far Cry, ou Fallout. Mas isso não é verdade. A série é bacana, seu contexto é único e até o tema central de Metro Exodus é relevante. Talvez um pouco mais de cuidados em seu desenvolvimento poderiam resultar em um game melhor.
Bom para quem gosta de uma boa história, e divertido para quem curte atirar nos outros nos videogames, Metro Exodus já está disponível. Com versões para Playstation 4, Xbox One, e PC.