Análise Arkade – O sombrio e desolado mundo subterrâneo de Metro: Last Light (PC, PS3, X360)

30 de maio de 2013

Análise Arkade - O sombrio e desolado mundo subterrâneo de Metro: Last Light  (PC, PS3, X360)

Depois de tantos altos e baixos, incluindo a partida de uma distribuidora, um dos últimos jogos que inicialmente seria publicado pela THQ finalmente recebeu a luz verde (sem trocadilhos) para o seu lançamento. Confira agora nossa análise completa de Metro Last: Light!

O tema de um mundo destruído por um apocalipse talvez seja um dos mais recorrentes na indústria dos games. Do saudoso Fallout ao mediano I Am Alive, passando pelo estiloso Deadlight até o promissor The Last of Us, que chega em breve, o fim do mundo está em alta no mundo dos games há tempos, e se depender das produtoras, este hype não deve passar tão cedo.

Em 2010 mais um jogo foi lançado com um tema similar a este, Metro 2033 foi produzido pela ucraniana 4A Games e publicada pela já falecida THQ. Um diferencial bacana é que o game foi totalmente baseado no livro de mesmo nome escrito pelo russo Dmitry Glukhovsky.

Isto já fez a história e o tema de Metro 2033 tomar uma direção diferente, com uma pegada mais sombria e sem esperança para os protagonistas. Na parte da jogabilidade, os desenvolvedores decidiram utilizar um pouco da jogabilidade de outros jogos famosos como Fallout 3 e da série STALKER.

Análise Arkade - O sombrio e desolado mundo subterrâneo de Metro: Last Light  (PC, PS3, X360)

Metro 2033 conseguiu divertir muitos pela sua história, ambientação e a impiedosa dificuldade repleta de restrições intencionais na hora do combate. Era um jogo difícil até demais em certos aspectos, pois exigia que o jogador administrasse seus diversos equipamentos com cuidado, se movesse sem ser percebido, evitar armadilhas e cacos de vidro, se virar com uma munição extremamente escassa, e por aí vai.

Todas estas circunstâncias fizeram de Metro 2033 um jogo extremamente autêntico: no universo do game, o perigo é real e está em toda parte, desde inimigos humanos nos subterrâneos até os mutantes da superfície, passando pelos riscos da exposição à atmosfera tóxica (a máscara de gás podia quebrar). Tudo isso transformou Metro 2033 um jogo mais imersivo e desafiador que média dos FPS.

Três anos depois, a 4A Games decidiu lançar sua continuação direta nomeada Metro: Last Light. Grandes mudanças ocorreram durante o desenvolvimento, incluindo aí o fim da THQ e logo depois a Deep Silver assumindo o projeto. Depois de incertezas e adiamentos, porém, Metro: Last Light enfim viu a luz do dia (novamente, sem trocadilhos).

Análise Arkade - O sombrio e desolado mundo subterrâneo de Metro: Last Light  (PC, PS3, X360)

A história do jogo começa um ano depois que o primeiro terminou, com o protagonista, Artyom, vendo como suas ações de acabar com todos os mutantes da superfície (os The Dark Ones) no final de Metro 2033 afetou a população em geral do Metro.

Agora Artyom faz parte oficialmente da organização militar The Order e está lá como um soldado vangloriado pela maioria graças aos seus atos heroicos. Infelizmente,  não são todos pensam assim. O próprio Artyom pensa que talvez os Dark Ones não sejam o verdadeiro inimigo, e acabar com eles pode não ter disso a melhor escolha.

Eis que chega seu amigo Khan, dizendo que encontrou o último Dark One vivo e acreditando piamente que ele pode ser a salvação da humanidade se Artyom conseguir comunicar com ele. Porém, ao saber disso, o Coronel Miller decide enviar Artyom e sua filha, Anna, para encontrar este último Dark One e matá-lo, terminando de vez com esta suposta ameaça.

Análise Arkade - O sombrio e desolado mundo subterrâneo de Metro: Last Light  (PC, PS3, X360)

A partir daí o jogo te leva por várias partes do subterrâneo de Moscou, que na verdade deixou de ser apenas “o subterrâneo de Moscou”, pois abriga diferentes cidades, cada uma delas com suas próprias características, ideologias e particularidades. Já a continua dominada por mutantes, ainda mais originais e grotescos que os do jogo anterior.

O time responsável por Metro: Last Light fez um ótimo trabalho ao criar uma ambientação forte até pelos pequenos detalhes: seja nas pequenas poças d’água cheias de radiação, no ar frio e pesado embaçando sua máscara de gás na superfície ou nas desoladas planícies repletas de prédios destruídos, tudo no jogo carrega um peso, uma melancolia depressiva que deixa clara a falta de esperança que há para o mundo “lá de cima”. É extremamente lindo (fotograficamente falando), mas extremamente triste ao mesmo tempo, mais ou menos como deve ser um mundo acabado real.

Porém a estrela de Metro: Last Light não é a superfície, mas o subterrâneo e as imensas cidades encontradas por lá. A produtora  trabalhou duro para acrescentar diversidade e vida em cada uma das cidades que o jogador encontra em sua jornada.

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Todas as pessoas falam alguma coisa relacionada a vida no Metro, algumas até acham que tudo irá dar certo e o futuro é esperançoso, mas a maioria já perdeu as esperanças, depois de tanto tempo vivendo em um lugar escuro e claustrofóbico. O mundo em si é rico em detalhes e concede uma boa dose de liberdade, permitindo que o jogador vá curtir um show de cabaré (com peitinhos e tudo!), assista a belos espetáculos teatrais, jogue cartas com NPCs ou simplesmente caminhe por corredores escuros, absorvendo um pouco da cultura de cada cidade.

Nesta continuação o mundo está realmente mais vivo do que no jogo anterior, e as grandes cidades do Metro, como Polis, ganham o mais atenção na história. Claro que nem todas são pacíficas, pois temos diferentes facções controlando regiões importantes (temos até um grupo de nazistas), o que contribui para tornar Metro: Last Light um jogo bem mais imersivo e caprichado que seu antecessor.

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Verdade seja dita, explorar estas cidades e suas peculiaridades é algo tão legal que estes momentos ofuscam outros trechos do jogo: as sessões de combate e as incursões ao mundo superior se tornam cansativas e algumas vezes até frustrantes, pois queremos continuar explorando as cidades subterrâneas e descobrindo seus segredos.

Porém ainda existe um grande motivo que o combate consegue frustrar, que é sua facilidade. Metro: Last Light se tornou extremamente fácil, agora é muito mais fácil matar um grande grupo, visto que a munição está bem mais fácil de encontrar do que antigamente.

Metro 2033 era um jogo que não perdoava: a munição era escassa e você precisava realmente pensar como racioná-la e guardá-la, sem sair distribuindo tiros por aí. Durante o primeiro jogo, muitas vezes precisei trocar a munição “suja” pela que é utilizada como moeda  para garantir minha sobrevivência. Por conta disso, o jogo forçava o jogador a ser furtivo para matar inimigos mais simples com armas que poderiam ser reutilizadas várias vezes.

Análise Arkade - O sombrio e desolado mundo subterrâneo de Metro: Last Light  (PC, PS3, X360)

Já em Metro: Last Light a furtividade é muito mais uma opção, uma diversão, do que uma necessidade. Você não precisa mais entrar escondido, apagar as luzes e acabar com cada soldado sem ser descoberto, já que a arma conta com mais de 300 balas normais, e eu posso matar todos com a certeza de que mais da metade da munição que foi gasta será recuperada com muita facilidade.

Para facilitar as coisas ainda mais, parece que a inteligência artificial dos inimigos pode ser tão estúpida quanto uma porta, tendo momentos em que eu estava literalmente na frente do soldado e ele não conseguia me ver, simplesmente porque estava agachado e no escuro.

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Metro: Last Light sem dúvida é bem mais divertido se jogado com os elementos de furtividade, porém, a falta de uma real necessidade por esta abordagem acaba minando a diversão do game. Afinal, para que “perder tempo” se esquivando e rastejando quando podemos simplesmente atirar como se não houvesse amanhã e recuperar a munição com muita facilidade?

Para piorar, vale lembrar que o o nível mais alto de dificuldade, o Ranger Mode, dito pelos próprios criadores como a forma definitiva de curtir o game, está bloqueado para os “reles mortais” e é exclusivo para as pessoas que adquiriram o jogo durante sua pré-venda. Uma iniciativa infeliz e frustrante, visto que impossibilita os fãs do game – que  pagam caro em um jogo original – acabam não podendo desfrutar do game da maneira como ele merece simplesmente por questões de mercado.

Para mim – e para muitos outros jogadores – isso é inaceitável, especialmente em um jogo como este, onde um de seus pontos positivos (deveria ser) a própria dificuldade. O famoso Youtuber Angry Joe postou um vídeo bem contundente sobre o assunto. Se você manja de inglês, confira abaixo a revolta do sujeito, que é compartilhada por todos nós:

Se o  combate perdeu boa parte de sua dificuldade (e de sua graça), vale ressaltar que os mutantes conseguiram se tornar mais interessantes ainda em Metro: Last Light. Muitas novas variações foram adicionadas e cada um dos monstros conseguem ser mais original e medonho que o anterior, com uma vibe grotesca que se aproxima a de jogos jogos de survival horror como Dead Space.

O que faz todos estes monstros receberem uma camada extra de realismo é o motor gráfico do game, que atinge efeitos extremamente impressionantes para este “final de geração”. Tanto as cidades destruídas pelo eterno inverno nuclear quanto os sombrios corredores do metrô são muito detalhados, e conseguem impressionar mesmo com seus tons sombrios e escuros.

Análise Arkade - O sombrio e desolado mundo subterrâneo de Metro: Last Light  (PC, PS3, X360)

Apesar da temática exigir esta paleta de cores (já bem desgastada), Metro: Last Light consegue provar que, com capricho e um bom level design, algo que poderia ser genérico e sem graça consegue se tornar belo e bem construído.

Falando em aspectos técnicos, por mais que a versão do PC se saia melhor em termos de gráficos, deve-se ter um pouco de cautela ao jogar nesta plataforma: durante o lançamento do game, vários jogadores acabaram encontrando bugs bem tensos, como um aliado que simplesmente não se move para abrir uma porta (e acaba travando todo seu jogo) até momentos em que o jogo simplesmente fecha sem motivo algum, fazendo com que o jogador perca todo seu conteúdo não salvo.

Não é nada muito corriqueiro ou que ofusque os méritos do jogo (como ocorreu com SimCity), mas pode acabar irritando jogadores mais impacientes, afinal, um jogo tão adiado não deveria apresentar este tipo de problema.

Análise Arkade - O sombrio e desolado mundo subterrâneo de Metro: Last Light  (PC, PS3, X360)

Felizmente, boa parte dos problemas já está sendo consertado e futuras atualizações deve fazer com que a versão do PC se torne mais estável e confiável.

No final das contas, Metro: Last Light consegue ser um jogo divertido com uma atmosfera sombria e cativante, e um mundo subterrâneo extremamente rico e imersivo. Sua jogabilidade pode falhar as vezes (mais por conta da facilidade do que das mecânicas de jogo em si) e nem todas as supostas melhorias prometidas funcionaram, mas se este não é melhor que o game anterior em certos aspectos, ele ainda se mantém acima da média em um gênero tão saturado.

http://youtu.be/3FnZOczI9CY

É recomendável jogar Metro: Last Light por vários motivos: sua história, ambientação, atmosfera e seu rico e detalhado mundo merecem ser apreciados. Porém, a dificuldade e o desafio acabaram se perdendo pelos túneis escuros do metrô, o que macula a imagem de um game que, de outro modo, seria ainda mais impactante.

Henrique Gonçalves

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