Análise Arkade: Minecraft: Story Mode – Temporada 2 (Ep.01) é o (re)começo de uma grande aventura

29 de julho de 2017

Análise Arkade: Minecraft: Story Mode - Temporada 2 (Ep.01) é o (re)começo de uma grande aventura

Há quem não goste de Minecraft. Há quem simplesmente idolatre esse jogo de bloquinhos da Mojang lançado lá no longínquo ano de 2011. Mas o que nenhum desses lados pode negar é que a franquia é um marco revolucionário na história dos jogos eletrônicos, tendo um papel importante na história ao lado de Pac-Man, Pong, Super Mario World, Mortal Kombat e Angry Birds, dentre tantos outros. Não a toa, a vida útil do game original parece não acabar tão cedo, com versões para todos os sistemas possíveis e renovações que tem seu público cativo.

Na esteira desse sucesso, a Telltale, em parceria com a desenvolvedora do jogo base, se propôs a trazer para esse universo um modo narrativo que se aproveite do visual muito característico de Minecraft. Surge então Minecraft: Story Mode, que rendeu uma primeira temporada composta por 4 episódios e mais 3 capítulos extras em 2016. O sucesso rendeu uma segunda temporada, cujo primeiro episódio acaba de sair do forno e parece apostar em tudo o que há de mais marcante nessa sub-franquia ao mesmo que aproveita para experimentar coisas novas para a própria Telltale.

Análise Arkade: Minecraft: Story Mode - Temporada 2 (Ep.01) é o (re)começo de uma grande aventura

Sim, há uma história para se contar!

Enquanto a primeira temporada tinha a missão de provar que haveria sim uma boa história para ser contada dentro do universo de infinitas possibilidades de Minecraft, a segunda chega com o objetivo claro de aprofundar essa mitologia, apostando em um trabalho tradicional e que é voltado, claramente, para um público diferente de outros produtos da Telltale, como Batman, The Wolf Among Us ou The Walking Dead. Assim, a surpresa, a tensão e as decisões ambíguas dão lugar a uma aventura mais tradicional, leve e também previsível.

Acompanhamos Jesse, personagem que pode ter tanto gênero quanto etnia definido pelo jogador, já reconhecido(a) como herói em sua comunidade e com lugar de respeito entre seus amigos. Para o escopo dessa análise, escolhemos uma personagem feminina e, portanto, a trataremos como “ela” a partir daqui. Como em uma boa aventura clássica da filmes dos anos 1980, Jesse tem ao seu lado companheiros que a acompanham em jornadas cheia de mistérios e perigos no melhor estilo Indiana Jones.

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Para quem jogou a primeira temporada, é possível seguir escolhas e eventos dessa primeira aventura, o que não parece ser tão significativo nesse primeiro episódio. O jogo deixa claro que não serão todos os membros da party da primeira temporada que estarão junto a protagonista agora. Há um cuidado de relembrá-los e justificar a ausência de cada um nessa nova história, já que era preciso abrir espaço para novos companheiros que vão se juntando ao time ao longo das quase 2 horas costumeiras do episódio.

Tudo começa na tranquilidade, com o vilarejo em paz e com a maior preocupação dos habitantes sendo ter torta de abóbora ou bolo no festival que está prestes a acontecer. Ao encontrar uma amiga antiga para ajudá-la em uma missão, Jesse acaba esbarrando sem querer em algo maior e parte em busca de respostas para saber como resolver o problema e, ao mesmo tempo, se livrar de uma encrenca onde se meteu. Dizer mais que isso seria entregar spoilers do começo do episódio, que não são tão impactantes assim, mas tem sua graça.

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Seguindo um padrão bastante convencional descrito por Joseph Campbell em sua obra O Herói de Mil Faces, chamado por ele mesmo como a Jornada do Herói, a história acaba se arrastando um pouco no começo, até para poder apresentar as mecânicas do jogo — algumas novas no universo da Telltale — e também para estabelecer junto ao jogador a personalidade de cada NPC e, claro, da própria protagonista. Portanto, não é uma história empolgante logo a princípio, mas é segura e funcional, se considerar o público-alvo.

Faz bem à franquia o formato mais episódico com um arco bastante fechado em si, que abre a trama maior da temporada, mas ao mesmo tempo funciona bem com início, meio, clímax e fim individual. Diferente de outros jogos da desenvolvedora e do padrão seriado com arcos maiores e mais complexos presentes hoje em séries e filmes, esta estrutura favorece uma percepção mais direta de como começa e como termina uma quest. Não se pode saber se será um padrão a ser seguido para os próximos episódios, mas funciona bem nesse season premiere.

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Para além dos QTEs

Talvez a maior crítica feita aos jogos da Telltale acaba sendo recorrente em sempre se basear em duas mecânicas básicas: escolha de diálogos para moldar a narrativa e os famigerados quick time events, ou simplesmente QTEs, para os momentos de ação. E não deixa de ser verdade que ambas essas características estão presentes em sua plenitude também em Minecraft: Story Mode – Season Two. Mas felizmente há novidades, e foi introduzido até um sistema de combate (?!), com direito a movimentos de ataque e de esquiva e até barra de vida.

Não que seja um sistema sofisticado como o que estamos acostumados nos jogos atuais. Na verdade, é um sistema bastante “rústico” e limitado. Contudo, compreendendo que não é esse o centro da jogabilidade de qualquer jogo da desenvolvedora, e considerando ainda que o objetivo é entreter também crianças, acaba sendo um tempero a mais para o game, um extra muito bem-vindo e um respiro entre trechos longos de diálogos. Que seja uma tendência e que outros games da empresa adotem possibilidades parecidas de diversificação dos meios de interação.

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No mais, nada de realmente significativo. As escolhas de diálogos parecem moldar muito mais as relações entre os personagens do que os caminhos narrativos em si, ainda que traga de uma forma mais clara o impacto de certas escolhas no canto superior da tela, algo que as vezes fica meio obscuro em outros jogos. Os eventos de reação rápida também são bastante simplificados e com um tempo de resposta bastante tranquilo, havendo poucos momentos onde se realmente pode fracassar.

É, em resumo, um jogo casual em essência, o que pode ser ótimo para crianças ou mesmo para quem está procurando algo para relaxar, com uma história simples e clichê e uma jogabilidade tranquila, mas pode acabar incomodando e até entediando quem espera por momentos mais tensos, mesmo em jogos narrativos, de escolhas mais ambíguas ou ações mais determinantes. O tempo de jogo pode até ser arrastado demais dependendo do ânimo do jogador. Mas é um sistema que funciona e atende os objetivos do game.

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Jogo de Minecraft com cara de Minecraft

Ainda que seja facilmente reconhecível pelo estilo Telltale de se fazer jogos, Minecraft: Story Mode não abandona em momento algum suas raízes visuais. A estética quadriculada, com texturas intencionalmente menos definidas e que caminham na direção oposta do mercado que cada vez mais tende ao realismo ou ao visual deslumbrante, é uma das marcas registradas da franquia e aqui ficam até mais escancaradas que no jogo original, já que é necessário movimentos e expressões mais detalhadas durante o tempo todo.

Desta forma, o jogo é fiel a si mesmo e ao universo de possibilidades da Mojang, mas como experiência narrativa e interativa pode cansar aqueles que não são adeptos do sandbox original. Fãs de longa data certamente reconhecem tudo ali presente, e não faltam pequenos detalhes que alimentam esse público cativo, mas o visual composto por cubos não é, definitivamente, para todo mundo. Ainda assim, tomadas aéreas que mostram construções maiores tem sua beleza e podem trazer ótimos cenários em diferentes ambientes.

Análise Arkade: Minecraft: Story Mode - Temporada 2 (Ep.01) é o (re)começo de uma grande aventura

Em termos da mixagem sonora, tanto a dublagem como efeitos sonoros seguem um padrão bastante interessante, com ótimas vozes e atuações que conseguem equilibrar a falta de expressividade da composição visual. Muitas vezes tudo pode soar caricato demais — até para reforçar os arquétipos presentes — mas isso não é um problema. Funciona bem e, com composições musicais competentes e coerentes, ainda que repetitivas, fazem do conjunto audiovisual algo que cumpre bem a função.

Conclusão

O primeiro episódio de Minecraft: Story Mode – Temporada 2 apresenta tudo o que se pode esperar de uma parceria entre Telltale e Mojang: um mundo colorido composto pelos famosos blocos cúbicos, uma história sólida e uma leveza equilibrada para divertir sem compromisso. A história pode não ser tão impactante ou imersiva, mas é coerente com o público que o game pretende atingir, trazendo bons momentos com lhamas, zumbis e tumbas submersas.

Análise Arkade: Minecraft: Story Mode - Temporada 2 (Ep.01) é o (re)começo de uma grande aventura

Enquanto carrega consigo os elementos consagrados de diálogos e QTE, a jogabilidade até traz suas inovações, com sistemas de combate e até resolução de puzzles simples. Pode ser um laboratório para possibilidades futuras em outras produções, várias já anunciadas pela empresa. Até mesmo momentos de construção com blocos tem seu espaço dentro deste episódio e podem surgir com uma importância maior ao longo da jornada. Sem dúvidas, é um começo promissor e seguro para essa temporada.

Minecraft: Story Mode está disponível para Playstation 4, XBox One, PC, Android e iOS e conta com legendas em português brasileiro, dentre outros idiomas — e desta vez, parece ter tido um trabalho de revisão bem feito, evitando as vergonhosas linhas não traduzidas presentes em Batman e Guardians of the Galaxy. Antes tarde do que mais tarde.

Paulo Roberto Montanaro

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