Análise Arkade: MLB The Show 25 não mexe em time que está vencendo

Quem nos acompanha há algum tempo sabe que a nossa cobertura com a franquia MLB The Show tem se colocado a nobre responsabilidade de, para além das características dos games em si, contextualizar o tal do beisebol (ou baseball), esporte com o qual a grande maioria de nós tem contato muito mais pela ficção da TV e do cinema do que pela versão profissional dele.
Felizmente, depois dos esforços nas análises das versões anteriores, esta tarefa está bem mais fácil, e agora a meta é compreender o que esta nova edição tem a acrescentar ao sólido trabalho desenvolvido pela Sony San Diego Studios, um dos poucos estúdios originais do ecossistema Playstation que criam produtos multiplataforma, tamanho o alcance do esporte em terras gringas.

Celebrando seu impressionante 20º aniversário, MLB The Show 25 trouxe as estrelas Paul Skenes, Elly De La Cruz e Gunnar Henderson como estrelas de capa e fez poucas promessas sobre atualizações significativas, o que, como podemos conferir adiante, resulta em um jogo robusto e polido, mas também reconhecível e pouco inovador.
O esporte é só um detalhe
Uma das características marcantes de ligas norte-americanas adaptadas para o universo dos games é que elas carregam consigo não só a experiência do jogo, mas também e principalmente toda a ambientação do espetáculo por trás dele. É assim com Madden NFL e NBA 2K, mas principalmente com MLB The Show, que traz a ideia do entretenimento estampado no título.

E por este prisma, a edição deste ano é praticamente impecável. Das animações in-game ao estilo de transmissão com uma narração tipicamente estadunidense, dos takes da torcida ao som ambiente, tudo transpira o show que se espera desta modalidade esportiva que tem sim muitos adeptos pelo mundo, mas nada comparado à festa retratada aqui.
Se há algo a se observar é que a cada ano, são cada vez menos novidades adicionadas uma vez que, dentro do que a lógica de franquia esportiva anual pode oferecer, há muito pouco a incrementar em um produto que já emula, desde muito tempo, a experiência televisiva já com bastante competência. Olhares menos atentos, mesmo de quem acompanha fielmente a série, dificilmente veria na apresentação qualquer diferença entre as edições 23, 24 ou 25.

Isso significa também que estamos cada vez mais próximos, graficamente falando, do teto do que a tecnologia parece conseguir oferecer na emulação do realismo deste mundo, seja na reprodução incrível de estádios, uniformes e efeitos de ambiência, seja também pelo inevitável vale da estranheza que acompanha recriações realistas de figuras humanas reais.
Aliás, impossível não destacar também as licenças atualizadas, com uma grande reverência à história do beisebol, algo que supera em muitos aspectos outros games esportivos, não só por trazer dúzias de uniformes clássicos de cada time, mas pelo respeito aos grandes ícones do passado sobretudo no modo dedicado a eles, do qual falo mais adiante.

Tudo pelo mesmo Home Run
Não é segredo dizer que o grande objetivo aqui é tentar ler a mente do arremessador e encaixar o timing perfeito de uma boa rebatida para ouvir a vibração da torcida e do narrador se assombrando com um belíssimo Home Run, enquanto damos aquela volta desfilando pelas bases para receber os cumprimentos da equipe.
A boa notícia é a mesma que a ruim: exceto pela óbvia evolução gráfica (afinal, a franquia já tem 2 décadas de vida), há muito pouco o que se alterar na jogabilidade em MLB The Show ou qualquer outro game baseado em um esporte bem menos agitado do que o futebol ou o basquete.
No papel de batedor, vamos escolher algumas formas de bater na bola usando um dos botões de ação. Já no papel de arremessador, o propósito é acertar o estilo de arremesso na direção certa para que o adversário não consiga acetar a bola e perca seus três strikes. É uma descrição simplista (mas verdadeira), do cerne da experiência do beisebol, modalidade que não comporta o mesmo volume de tática e planejamento de outros esportes com bola.

As demais posições em campo são tão importantes quanto protocolares, e normalmente são passagens que esperamos superar rapidamente. Claro que é sempre satisfatório alcançar a bola antes que ela toque o chão para eliminar o rebatedor adversário enquanto ele corre pelas bases, mas certamente não é isso que nos leva a adentrar uma partida. Ajuda, faz sentido, traz diversidade a um gameplay limitado, mas é algo complementar.
Quem já conhece estas mecânicas dos jogos anteriores, aliás, pode pular tutoriais, partidas amistosas para se atualizar, ou começar jogando nas dificuldades mais tranquilas até readquirir a confiança, porque nada foi significativamente alterado. Tudo o que já vimos antes funciona perfeitamente bem aqui, e os mais ousados podem até experimentar a nova dificuldade G.O.A.T. para testar seus limites.

Se por um lado há uma evidente consistência da marca, há também uma inércia do que ele pode oferecer ao jogador que justifique a compra de uma nova edição e o abandono da anterior. Mais do que em qualquer outra série esportiva, aqui só vale a pena a transição para quem joga on-line com dedicação competitiva e quer continuar se testando nos servidores mais atualizados; ou quem realmente precisa ter as escalações e uniformes do momento. Porque como jogo, é difícil perceber qualquer evolução palpável.
Conteúdo é o que não falta
Se há algo que sobra na franquia, comparando com seus concorrentes, e que segue em MLB The Show 25 é a oferta generosa de modos de jogo e formas de se vivenciar tudo o que a liga profissional tem a oferecer.
O modo Storylines segue, em sua terceira temporada, abordando histórias de atletas inviabilizados por uma série de fatores sociais e que agora ganham uma nova chance de reconhecimento e celebração.

Já os demais modos seguem com a mesma função de outrora: Franchise é uma experiência completa na gestão geral de um time, passando pela cartolagem na montagem e aprimoramento de elencos, gerenciamento financeiro, treinamentos e, claro, a participação na temporada jogando integralmente, parcialmente ou simulando jogos.
Road to the Show é mais dedicado na carreira de um jogador do início ao estrelato, com alguns elementos narrativos tímidos, mas funcionais, com direito a opções de diálogo, pontos de tensão com a equipe, treinadores e até personagens externos.

Agora, porém, é permitido passar algumas temporadas aprendendo de forma amadora, seja lá no colegial ou na faculdade, como é tradição no esporte lá pelas bandas norte-americanas. Também é de se destacar a possibilidade da câmera em primeira pessoa, uma novidade inesperada e, sinceramente, esquisita, mas que pode ter seus entusiastas.
Para os mais dedicados, entretanto, nada mais óbvio do que destacar o modo Diamond Dynasty, onde podemos compor um time totalmente customizado a partir dos famosos cards de jogadores e usando todas as bonificações nos modos off-line para customizar cada aspecto do nosso próprio time. Uma vez mais fazendo o paralelo com jogos do nosso bom e velho futebol, é a versão com tacos do Ultimate Team.

É aqui, no modo que recebe mais carinho todos os anos por ser o responsável por praticamente toda a receita pós-venda pelas microtransações disponíveis, onde estão algumas das principais novidades do jogo. A controversa adição de Sets and Seasons em 24 não agradou e entrou em reformulação.
Agora surge um novo sistema que mistura progressão em tabuleiro com inspirações roguelike, que parece inusitado e um tanto confuso de início, mas logo acaba fazendo sentido, trazendo como benefícios os chamados Peanuts, que mais tarde podem ser trocados por outros benefícios a serem investidos no próprio modo, em um movimento de retroalimentação interessante.

A continuidade é, como nos aspectos audiovisual e de jogabilidade, uma faca de dois gumes aqui: sim, a falta de inovações e renovações no conjunto dos modos e dentro de cada um deles traz a sensação inevitável de mais-do-mesmo; mas ao mesmo tempo garante a segurança de que tudo o que já nos acostumamos estará lá novamente, sem qualquer impressão de perda na mudança de uma edição para outra.
Conclusão
Para o bem e para o mal, MLB The Show 25 é uma atualização protocolar do mesmo jogo do ano passado (e dos anteriores), garantindo continuidade e coesão, mas sem trazer melhorias significativas naquilo que já faz — e faz bem. Algo que, em parte é por conta do próprio esporte, mas também pelos desenvolvedores saberem que em time que está ganhando (por W.O., sem concorrência no nicho) não se mexe, uma vez que tudo o que está ali já funciona perfeitamente bem.

Para novatos, todos os refinamentos na franquia acumulados até aqui tornam este o ponto mais alto do beisebol no mundo dos games. Para veteranos, porém, a recomendação é avaliar o quanto as sutilezas em todos os aspectos é o suficiente para justificar a passagem da ótima edição 24 para esta. Por mais que seja tão boa quanto, qualquer um terá que se esforçar muito para reconhecer as poucas e leves diferenças.
MLB The Show 25 foi lançado ontem, 18 de março de 2025 para PlayStation 5, Xbox Series X|S e Nintendo Switch, mais uma vez sem qualquer localização, seja em textos ou áudio, para o nosso idioma.