Análise Arkade: Mortal Shell inova dentro do universo dos Souls-like
O gênero dos Souls-like recebeu um novo título de peso! Mortal Shell é um game que explora esse universo adicionando algumas interessantes novidades, que o diferencia de outros “concorrentes” de forma bem satisfatória.
Vamos então conferir como o game se sai entre os diversos Souls-like que estão saindo atualmente. Será que Mortal Shell consegue se destacar de forma positiva com as ideias que traz? Hora de descobrir!
A criatura que habita corpos
Assim como é padrão no gênero, Mortal Shell é um game cuja própria história é um mistério a ser descoberto. Com o jogador controlando um personagem que não sabe qual o seu real propósito.
No game o jogador controla a “Pobre Criança“, um estranho ser sem rosto que nasce num mundo estranho, completamente cinza. Essa criatura então literalmente se rasteja até ser transportada para outro mundo, para Fallgrim, uma floresta decrépita, habitada por bandidos sem esperança.
E nessa floresta, a Pobre Criança acaba descobrindo um incomum poder, ao encontrar uma “Carcaça”, o corpo de um guerreiro falecido, pode habitar dentro desse corpo e usá-lo como se fosse seu. E assim, inicia-se a aventura da Pobre Criança, em busca de propósito e em busca de conhecer a verdade. A verdade daquele mundo, de seus habitantes, do lugar de onde veio e é claro, a verdade sobre as Carcaças.
“Body Snatcher”
Mortal Shell não possui esse nome a toa. O nome do game faz referência às Carcaças, sua principal mecânica. O game não possui progressão de nível, nem evolução de personagem da forma como estamos acostumados. Tudo está atrelado as Carcaças.
Funciona assim: a Pobre Criança é frágil (apesar de ser possível jogar o game inteiro com ela desprotegida), e os corpos que controla são o que definem o seu poder, com cada corpo possuindo suas próprias características únicas.
Existem quatro Carcaças diferentes para serem encontradas, cada uma com uma especialização. Existem quatro Carcaças ao todo. A primeira que o jogador encontra, Harros, é uma carcaça mais balanceada, sem muito HP ou stamina. Solomon possui mais HP e pode usar habilidades mais livremente. Eredrim possui muito HP e pouca stamina, sendo praticamente um tanque. E Tiel possui pouco HP e muita stamina, sendo focado em velocidade e esquivas.
Apesar de não existirem níveis nem pontos de atributo, é possível evoluir as quatro carcaças. Para isso, é necessário primeiro descobrir seus nomes. Para isso, basta conversar com a Irmã Genessa, a misteriosa entidade que serve como uma “Fire Keeper” e bonfire ao mesmo tempo.
Ao conversar com ela, o jogador pode gastar o Tar (as “almas” do game) para comprar habilidades passivas. mas, é necessário possui Vislumbres para isso. Vislumbres são restos de memória adquiridos usando certos itens ou matando inimigos. A cada habilidade adquiria, um fragmento de memória da Carcaça é desbloqueado, assim, passamos a conhecer suas histórias, antes de suas mortes.
Há três habilidades comuns para as quatro Carcaças: A habilidade de chutar inimigos, recuperar a “ultima chance” (falarei disso mais adiante) e adquirir uma habilidade de causar grande impacto em ataques aéreos.
Porém, há uma característica que o jogador deve lembrar na hora de evoluir as Carcaças. O Tar é um recurso universal. Ele é usado para comprar itens e melhorar seu personagem. Mas os Vislumbres são atrelados a Carcaça usada. Se você conseguir 30 vislumbres usando Harros, somente ele poderá consumir esse número. Você precisa acumular vislumbres individualmente em cada corpo que quiser evoluir.
Um combate mais lento e diferente
Mortal Shell é um game com combate mais “focado” e “realista”. De certa forma lembrando um pouco os combates de Hellblade, com ataques mais pesados e golpes em que é possível sentir o impacto.
Além disso, o game possui apenas quatro armas diferentes, sendo elas: A Espada Sagrada, uma espada longa de movimentos rápidos. A Maça Fumegante, uma longa maça com golpes devastadores. O Martelo e Cinzel, duas armas usadas em golpes rápidos. E a Espada do Mártir, uma gigantesca espada com golpes muito pesados que desestabilizam os inimigos.
Cada arma tem suas vantagens e desvantagens, e combinando-as com diferentes Carcaças, é possível criar combinações poderosas que aproveitam o melhor de cada equipamento.
Como já dito, o combate do game é mais “realista”, assim os golpes de cada arma não são rápidos, e dependendo da arma é preciso preparo para levantar a arma e atacar. Dessa forma, se o jogador partir pra cima de um grupo de inimigos descuidadamente, certamente irá morrer.
Outro ponto em que o game se diferencia dos demais é que não há escudos aqui, consequentemente, defender-se é algo bem diferente. Para se defender, a Pobre Criança tem a habilidade de solidificar-se, literalmente se transformando em pedra. Nesse estado, nenhum ataque causa dano, mas basta ser atingido uma só vez para a solidificação ser quebrada.
Além disso, essa é uma habilidade que recarrega após alguns segundos. Dessa forma o jogador precisa usar estratégia durante qualquer combate e acostumar-se com as esquivas. Infelizmente as esquivas no game são um pouco imprecisas, muitas vezes com o game não lendo o comando se a barra de stamina estiver recarregando. Além de que cada Carcaça se esquiva de forma diferente, sendo mais rápidas ou lentas.
Algo bem legal é que é possível combinar ataques com a solidificação. Você pode por exemplo atacar e solidificar-se ao mesmo tempo, assim a Pobre Criança se torna pedra durante a movimentação de ataque, e quando for atingida, retoma o movimento, pegando os inimigos de surpresa. A solidificação é um recurso de defesa bem versátil, porém limitado. Então aprenda a usá-lo de forma eficaz!
Além da solidificação, outro item para defesa é o Selo Manchado. Esse é um item usado para realizar o Parry. Porém para utilizá-lo é necessário determinação. Determinação é uma barra que se enche conforme você ataca inimigos e é usada para realizar ações especiais. No caso do Selo Manchado, permite usar o Parry e ativar um Ripostar Poderoso, que causa grande dano e ainda possui diferentes efeitos liberados ao melhorar o item, como recuperar HP, explodir o inimigo ou parar o tempo por poucos segundos.
Cada arma ainda possui dois upgrades, que permitem usar ataques muito poderosos que gastam Determinação. Assim, cada arma é realmente única, sendo ideais para diferentes usos. A Espada Sagrada, por exemplo, pode ativar um dardo de seu pomo que perfura os inimigos. E a Espada do Mártir pode congelar-se e causar uma grande explosão de gelo. E etc.
Há ainda uma arma para combate a distância, a poderosa “Balistazuka”. E ela não tem esse nome a toa! Ela é literalmente uma bazuca poderosíssima! Um tiro dessa arma é capaz de explodir um inimigo em um amontoado de carne e ossos. Porém, ao usá-la você deve ficar imóvel, e ela leva tempo para recarregar. Por isso, use essa arma com sabedoria!
Ah, e não existem “Frascos de Estus” nesse game! Não ha nenhum item de cura padrão que recarrega quando você descansa. Para se curar, você precisa comprar ou encontrar itens pelos cenários. Como cogumelos, comida, ou itens que recuperam vida durante a solidificação ou parry. E todos os itens possuem “familiaridade”. Quanto mais você os usar, mais seu efeito é potencializado.
Por fim, vem a mecânica de morte. Se sua barra de vida acabar, enquanto estiver usando uma Carcaça, a Pobre Criança é expulsa do corpo, que se transforma em pedra. Você pode continuar lutando nessa forma e interagir com a Carcaça para recuperá-la. Essa é a última chance. Mas, se você morrer novamente, aí você realmente morre e é transportado para o checkpoint anterior, que é onde está localizada a Irmã Genessa da área (se você conversou com ela para ativá-la).
Audiovisual
Mortal Shell é um game belíssimo. Construído na Unreal Engine 4, o visual do game é muito bem feito e detalhado. Os efeitos de iluminação, reflexo, texturas e etc são muito bem feitos. Inclusive a sujeira!
Se você nos acompanha há algum tempo e viu minhas análises dos games da FromSoftware, então viu que algo que eu elogio muito nesses games é a sujeira de seu mundo. Poeira, sangue, terra, lama, metal. A sujeira dá ainda mais identidade visual a esses games e aqui é a mesma coisa.
Além dos humanos que encontramos por Fallgrim, cada área diferente possui seus próprios tipos de inimigos, com visuais grotescos que emanam perigo. Desde brutamontes de rostos cobertos em faixas carregando martelos gigantes, prisioneiros com espadas fincadas por todo o corpo ou cavaleiros demoníacos com armaduras retorcidas. Isso sem mencionar as Carcaças e os chefões, que possuem visuais incríveis!
Os cenários também são muito bem construídos e cheios de detalhes. Desde as florestas de Fallgrim, com sapos em suas poças de água, sujeira e acampamentos precários de ladrões, até áreas de gelo, templos envoltos em chamas e etc.
Há ainda um estado especial de mundo, chamado “A névoa”. Quando o mundo está nesse estado, tudo fica escuro e uma densa névoa limita a visão. E nesse estado, novos tipos de monstros surgem, com visuais grotescos e nojentos.
Na parte sonora o game manda muito bem, com músicas belíssimas, que normalmente se fazem presentes nas batalhas contra chefões. O game conta com áudio em inglês, com um excelente trabalho de atuação. A Irmã Genessa é a personagem com quem mais se conversa, e ela tem muitas coisas interessantes a falar sobre o mundo.
E a cada habilidade de Carcaça desbloqueada, ouvimos a voz do guerreiro a quem aquele corpo pertencia contando sua própria história. Os quatro guerreiros que controlamos os corpos possuem histórias muito interessantes, vale muito a pena conhecê-los por completo.
O game conta com localização em português brasileiro em seus menus e legendas. E a localização é simplesmente impecável! Há um pouco de adaptação na tradução de alguns nomes e termos, mas não do tipo que fogem do significado original, mas os adequam melhor para nosso idioma, o que mostra o excelente trabalho de localização.
Conclusão
E então fica a pergunta: Como Mortal Shell se sai no intenso subgênero dos Souls-like? Se sai muito bem! O game pega a fórmula, que na maioria das vezes é repetida sem se entender bem seus pontos fortes e fracos, e adiciona sua própria identidade e desafio.
Oferecer poucas opções de “builds” e armas certamente parecerá um ponto negativo para alguns jogadores que gostam de jogar com o “seu” personagem, customizado para seu estilo de gameplay. Mas talvez isso seja uma das razões para seu desafio. Assim como em Sekiro, é função do jogador aprender o gameplay básico. Desafiar o jogador com recursos limitados não é um ponto negativo, tudo cai na adaptabilidade do jogador.
O game não é muito longo, mas possui uma boa duração e um alto desafio, o que adiciona longevidade a jogatina. O único ponto realmente negativo do game são as esquivas, que as vezes não funcionam direito, mas seu gameplay é bem feito. E se são mortes que o jogador busca em um Souls-like, então são mortes que encontrará aqui!
Mortal Shell foi lançado no dia 18 de agosto com versões para PC, Playstation 4 e Xbox One.