Análise Arkade: Never Alone é um jogo indie que encanta, emociona e nos ensina muita coisa

19 de novembro de 2014

Análise Arkade: Never Alone é um jogo indie que encanta, emociona e nos ensina muita coisa

Quando foi a última vez que um jogo lhe ensinou algo realmente interessante sobre um tema que você não conhecia? Never Alone está aí para nos ensinar sobre a cultura dos nativos do Alasca de maneira encantadora.

Eu não sei você mas, que eu me lembre, nunca aprendi muito sobre o Alasca nas aulas de Geografia da escola.

Ok, eu sei que é um lugar com clima frio, que tem ursos polares e onde dá para ver a Aurora Boreal… mas e o povo de lá? Quem são? Como vivem? Quais são seus costumes e tradições?

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Talvez estas perguntas já tenham sido respondidas pelo Globo Repórter ou por algum documentário do National Geographic ou do Discovery Channel. Mas Never Alone me deu uma aula sobre a região e a cultura dos Iñupiat (que são os nativos da região) de maneira muito mais lúdica e interessante.

Uma fábula diferente

Never Alone nos conta a história de Nuna, uma garotinha Iñupiaq muito corajosa que vive em uma aldeia que está sendo terrivelmente afligida por terríveis nevascas. A neve impossibilita a caça, de modo que seu povo está definhando para a morte.

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Curiosa como toda criança, Nuna decide sair e descobrir o que está causando tempestades de neve tão severas. Sua viagem poderia acabar de forma trágica quando um feroz urso polar a persegue… mas ela é salva por uma bela raposa do ártico!

Um forte laço de união imediatamente se forma entre Nuna e a raposa, e as duas seguirão juntas em uma jornada que mistura realidade, folclore e fantasia para nos apresentar de maneira lúdica um pouco das tradições dos Iñupiat.

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Never AloneKisima Ingitchuna no idioma original — é uma adaptação de um conto típico do povo Iñupiat. Contadores de história e anciãos dos Iñupiat participaram ativamente da concepção do game (graças ao Cook Inlet Tribal Council), o que resulta em uma experiência respeitosa e autêntica da vida daquele povo.

Explorando o Alasca

Never Alone é um jogo de plataforma 2.5D com alguns puzzles. Ele pode ser jogado cooperativamente por 2 jogadores no mesmo console, onde um assume o controle de Nuna, outro de sua companheira raposa.

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Se você não tem um player 2 por perto, fique tranquilo, pois também é possível curtir o jogo sozinho, apertando o botão triângulo (no PS4) para alternar entre as duas aventureiras. No single player, a inteligência artificial se encarrega da personagem que sobrar e não decepciona (embora cometa algumas gafes), mas se puder, arrume alguém para jogar com você, pois o coop “de sofá” sempre é mais divertido.

A jogabilidade é bastante simples e se apoia na sinergia entre as protagonistas: Nuna é capaz de empurrar/puxar coisas e também pode destruir barreiras e “acordar” espíritos com sua boleadeira. A raposa, por sua vez, é capaz de se esgueirar por frestas e saltar entre duas paredes, além de conseguir “evocar” espíritos da natureza que serão muito úteis em sua jornada.

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O vento da nevasca pode ser tanto seu inimigo quanto seu aliado: soprando contra ele vai dificultar o seu progresso e te empurrar em abismos, mas correntes a favor ele pode impulsionar os saltos de Nuna e levá-la mais longe. Pegue o timing das correntes de ar e use-as com sabedoria!

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O game intercala momentos de plataforma com pequenos puzzles baseados em física e algumas sequências de perseguição bem bacanas. Temos até uma outra boss battle, mas o foco nunca é o combate direto: você precisa usar elementos do cenário para se livrar dos inimigos.

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Never Alone mistura trechos de plataforma…

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Com perseguições…

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E boss battles diferenciadas.

O folclore dos Iñupiat também será de grande ajuda em sua jornada: espíritos com formas de animais podem se tornar plataformas e apoios, além de carregar o jogador em alguns trechos.

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Só fique ligado para não afastar a raposa dos espíritos, pois é a “aura” dela que os mantém “acesos”!

Audiovisual

Produzido com a versátil engine Unity, Never Alone é um jogo de visual bem agradável. Se por um lado as planícies gélidas do Alasca não oferecem muita variedade de cenários, por outro temos elementos como lagos cristalinos, tribos e a belíssima Aurora Boreal (retratada com um toque de fantasia bem interessante) para quebrar a mesmice.

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Esse espírito verde é a representação folclórica da Aurora Boreal. Há um vídeo que conta a história.

Entre uma fase e outra, a jornada de Nuna é mostrada por animações “tribais” muito bacanas. A aventura é toda narrada no idioma Iñupiat, mas felizmente, o jogo está 100% legendado em português, de modo que podemos entender tudo! =)

A trilha sonora se faz presente quando necessário, mantendo uma pegada tribal que combina perfeitamente com o jogo. Na maior parte do tempo, porém, é o som do vento, dos seus passos e o pio das corujas que irá te acompanhar.

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Mesmo que não falem, Nuna e a raposa são muito carismáticas e fofinhas, e a simples afeição à elas consegue manter o jogador interessado por toda a campanha — que dura cerca de 4 horas. Sim, o jogo é relativamente curto, mas a mensagem que ele passa é bem maior.

A cultura Iñupiat

Sem dúvida o grande destaque do jogo. Como eu já disse lá no começo, o Alasca e o povo Iñupiat são meio deixados de lado nas aulas de Geografia, mas esta carência é muito bem suprida por Never Alone.

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Conforme você avança, vai destravando vídeos onde contadores de história, estudiosos, anciãos e jovens do povo Iñupiat revelam um pouco de suas tradições, relembram o tempo de seus antepassados e celebram a cultura da região.

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A fauna do Alasca, os valores familiares dos Iñupiat, seus costumes e tradições, o clima do Alasca e os efeitos do aquecimento global naquela região, tudo isso e muito mais nos é apresentado de maneira bem didática, em duas dúzias de vídeos curtinhos mas cheios de conteúdo.

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Os vídeos mostram um pouco da cultura Iñupiat

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Da fauna local…

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E dos costumes e tradições de quem vive por lá.

Muito mais do que um idioma ou ou uma simples crença, a cultura Iñupiat é muito rica, e seus preceitos de igualdade e respeito ao meio ambiente são belíssimos. Lendas e mitos se fundem a elementos reais para criar um folclore cheio de peculiaridades que merece ser conhecido e um estilo de vida que deveria ser muito mais difundido.

Conclusão

Never Alone me lembrou bastante outro belo jogo que saiu recentemente: Valiant Hearts. Em ambos os casos, o gameplay é simples, os personagens são carismáticos e a história é tocante, mas é a bagagem cultural que está “embutida” nestes jogos é que é seu maior triunfo.

Se em Valiant Hearts eu aprendi muito sobre a Primeira Guerra Mundial, com Never Alone eu tive uma verdadeira aula sobre a cultura Iñupiat. E eu gostei muito de tudo o que aprendi com o game.

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Se aprender algo novo sempre é bom, aprender algo novo jogando videogame é melhor ainda. Por isso, não posso deixar de recomendar Never Alone a todos que buscam não apenas um belo jogo, mas também conhecimento e novas formas de enxergar o mundo. Que venham mais jogos assim.

http://youtu.be/VnY21Fg5G1Y

Produzido em uma parceria da E-Line Media e da Upper One Games com o Cook Inlet Tribal Council, Never Alone foi lançado digitalmente ontem, dia 18 de novembro, com versões para PC, Playstation 4 e Xbox One.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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