Análise Arkade: Nintendo World Championships: NES Edition é pura nostalgia competitiva

27 de julho de 2024
Análise Arkade: Nintendo World Championships: NES Edition é pura nostalgia competitiva

Se você é sensível a doses cavalares de nostalgia; se tem um instinto competitivo apurado; ou se gosta de fazer uma bagunça na sala de casa em tardes preguiçosas com a família e com amigos; já vou logo avisando: evite se aproximar de Nintendo World Championships: NES Edition à todo custo! Este pacote de celebração, que reúne treze dos mais antológicos games da primeira grande geração da gigante japonesa, apela para todos os sentimentos mais (ou menos) nobres que jogadores de todas as idades — mas principalmente aqueles que estão perto dos 40 –, podem mostrar.

A História diante os nossos olhos

Digo História, com “H” maiúsculo mesmo, porque qualquer um que já tenha ao menos ouvido falar sobre as passagens mais importantes desta indústria vital sabe que podemos dividir a ainda jovem jornada dos videogames em dois períodos: antes e depois de 1983, ano que marca aquilo que se convencionou chamar do grande crash dos jogos eletrônicos.

Para não me estender demais nisso, basta eu dizer que no momento em que se duvidava da permanência dos games dentre os elementos mais importantes da indústria cultural, eis que surge a Nintendo para inaugurar uma era gloriosa, simbolizada em um aparelho um tanto quanto desajeitado, um tal de Famicom ou Nintendo Entertainment System, o NES, também conhecido como Nintendinho pelos mais íntimos.

Análise Arkade: Nintendo World Championships: NES Edition é pura nostalgia competitiva

Se nem todos que estão me lendo neste instante estiveram de corpo presente neste período, o berço do Super Mario não faz qualquer questão de nos deixar esquecer das bases onde se levantou para o mundo. Seja por meio de coletâneas, serviços, celebrações e continuações, os primeiros clássicos imortais da empresa jamais deixaram a nossa memória coletiva, sempre buscando formas de renovar o interesse e reapresentar cada pixel quarentão para uma nova leva de jogadores.

Esta Nintendo World Championships: NES Edition, contudo, não é somente mais uma coleção convencional como tantas outras, já que se aproveita de outros segmentos demográficos menos óbvios para trabalhar com suas antigas propriedades de formas diferenciadas.

Ao perceber que havia toda uma sub-cultura nas entranhas da internet que se apegava ao chamado speedrun (a arte de terminar um jogo o mais rápido possível, por vezes em modo competitivo) e que, dentre outros jogos originais, os produzidos no motor principal de Super Mario Maker fazem um sucesso estrondoso — tanto com quem cria conteúdo como quem o consome –, seria óbvio que há todo um conceito a ser explorado.

Esta coleção, portanto, aglutina desafios que exigem da habilidade e da velocidade dos jogadores em atender demandas oriundas de recortes destes jogos, não de suas versões completas. Afinal, como seria abrir competições de alguns segundos para ver quem consegue superar adversários por milésimos de segundos, seja localmente ou ao redor do mundo todo?

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Quantidade e qualidade

Estamos diante, portanto, não de um jogo, ou mesmo da obviedade de uma coleção deles, mas sim de uma plataforma competitiva que se aproveita de alguns trechos recortados de jogos como Super Mario Bros. (do primeiro ao terceiro); Super Mario Bros.: The Lost Levels; The Legend of Zelda e Zelda II: The Adventure of Link; Kirby’s Adventure; Metroid; Donkey Kong (aquele mesmo estrelado por um certo bigodudo chamado de “Jumpman”); Ice Climber; Kid Icarus; Balloon Fight e Excitebike.

Qualquer grande fã destas obras irá reconhecer facilmente as passagens aqui resgatadas, mas a boa notícia é que felizmente não há pré-requisitos para se aproveitar a experiência aqui sugerida e mesmo aqueles que nunca ouviram falar de algum deles poderá se divertir aqui, desde que esteja com os nervos no lugar.

Afinal, qualquer bom sistema competitivo exige precisão e repetição, além de doses generosas de resiliência. Concluir um desafio não chega a ser um problema, mesmo os de dificuldade mais elevada, mas aqui não basta cumprir os requisitos, e sim fazê-lo dentro dos parâmetros de melhor ranqueamento. Você pode ter o desafio de superar uma pista inteira em Excitebike, algo que pode durar pouco mais de um minuto, mas pode também passar bastante tempo tentando baixar um centésimo de segundo na fase onde precisa somente dar cinco passos com a Princesa Peach e tirar um rabanete do chão. Conquistar o nível S é a primeira grande meta auto estabelecida (badges e colecionáveis precisam de marcas mais modestas, porém), mas depois disso, a coisa se torna pessoal nos rankings locais e, principalmente, mundiais.

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Cada um dos jogos mantém tanto visual quanto jogabilidade bastante fiéis às suas origens, e isso pode causar certos estranhamentos por parte de quem não os conhece bem. O hitbox de Donkey Kong e Ice Climber, por exemplo, demanda uma certa readaptação para evitar frustrações, o mesmo valendo para o timing dos saltos de Metroid ou a mudança de direção em The Legend of Zelda, ambos aspectos que podem nos fazer perder frações preciosas de tempo se não dominadas a contento. A melhor estratégia para se conseguir os melhores resultados, portanto, passa por se manter em desafios do mesmo jogo em sequência, garantindo uma memória muscular precisa para cada um.

Modos e funções online

Sejamos sinceros, entretanto: serão poucos de nós que estaremos nos aventurando em um jogo como esse para buscar a perfeição, e para aqueles que preferem a mais pura farofagem, o melhor lugar a se divertir é no Modo Festa, que como já se pode prever, é o espaço multiplayer local da experiência. Até oito pessoas podem dividir a bagunça, cada qual com a sua telinha, para competições de tiro curto, passando pelos mesmos desafios e buscando sempre chegar primeiro.

Com muitos trechos a serem jogados, Nintendo World Championships: NES Edition supera muitos jogos dedicados ao gênero no que se refere a diversidade, ainda que na comparação, dependa muito pouco da aleatoriedade e seja mais indicado para competições entre pessoas com mais ou menos o mesmo grau de habilidade. Diferente de coisas mais casuais, como a franquia Mario Party ou os jogos do Wario, aqui a habilidade individual faz sim a diferença para a diversão coletiva.

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Já quem prefere (ou precisa) encarar a plataforma de forma solo enfrentará os desafios sempre em um modelo de competição interna, no Contra o Relógio, com a tela dividida entre o momento atual à esquerda e a melhor marca local à direita. A comparação não é só pelo parâmetro do tempo, mas também pela forma como aquele recorde atual foi alcançado, facilitando o estudo de onde está o movimento a ser melhorado. Pode ser o frame exato de um salto preciso, pode ser a posição perfeita para desferir um ataque, pode ser o estudo do comportamento de eventuais inimigos, ou simplesmente encontrar um caminho diferente que seja mais eficiente.

Há outros auxílios na tela, como lembretes dos comandos necessários, descrições detalhadas, pontuação alcançada pelo feito (com moedas que podem ser utilizadas para novos elementos do card de jogador e para abrir novos desafios mais difíceis) e coisas do tipo, e muitas vezes a tela parece poluída demais. Os mini-games, porém, demandam um hiperfoco, e a HUD acaba nem influenciando em nossa compreensão das ações. A interface, por sinal, é muito benéfica na maioria do tempo, facilitando o rápido acesso a cada desafio sem tantas burocracias para o reinício contínuo. A repetição, parte essencial da experiência aqui proposta, não tem engasgos e é imediata, sem telas de carregamento ou outros artifícios que poderiam engasgar o fluxo que o game demanda.

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Para o aproveitamento pleno de tudo o que Nintendo World Championships: NES Edition pode oferecer, que fique claro, é necessário ter uma assinatura ativa da Nintendo Switch Online, já que para o acesso – e o pertencimento – aos rankings globais, é fundamental que se esteja em dia com o sistema multiplayer online da empresa.

Há ainda o modo Sobrevivência, onde o jogador compete com fantasmas dos recordes de outras pessoas ao redor do mundo, e que também precisa das funções online plenamente ativas. A ausência da assinatura, entretanto, não inviabiliza o jogo, uma vez que tanto o modo principal solo quanto o de festa são independentes e não precisam de uma conexão com a internet para funcionarem, e somente as funções específicas de competição global é que demandam o serviço ativo, algo importante para você, que está pensando em adquirir o jogo, considerar no momento da aquisição.

Conclusão

Nintendo World Championships: NES Edition é mais uma carta de amor aos fãs de longa data do primeiro console de coração de muita gente, seja em sua versão original, seja em suas alternativas pouco ortodoxas, principalmente para nós, brasileiros.

Reimaginar algumas das principais passagens destes jogos em modo competitivo é uma forma interessante de se evitar a sensação de ser “só” mais uma coletânea moderna, dando novos significados à velhas habilidades.

Importante ter em mente, no entanto, que este pode não ser o melhor lugar para se relembrar destes clássicos, uma vez que os jogos não estão completos aqui: o que temos são apenas recortes de momentos específicos de cada jogo, pensados para o desafio proposto. Os jogos, completos, porém, estão longe de serem inacessíveis. De fato, a própria assinatura Nintendo Switch Online dá acesso à grande maioria deles sem custo adicional.

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A coleção de desafios é longa o suficiente para manter jogadores, sozinhos ou em galera, ocupados por bastante tempo. O esgotamento, porém, é inevitável sobretudo para quem não se enxerga como um speedrunner obcecado, e muitos estarão satisfeitos em atingir o ranking A ou A+ na maioria dos desafios.

O multiplayer é certamente o lugar de mais longevidade da proposta, e por isso é importante considerar o quão proveitoso será, para o seu contexto, poder dividir tela com mais gente no sofá ou compartilhar a competitividade online. Sem pessoas em casa com a mesma vontade, ou sem uma assinatura do serviço da Nintendo, sobra muito pouco aqui que compense o investimento de tempo e dinheiro.

É evidente que alguém possa sentir falta de alguns vários tantos jogos clássicos da plataforma, sobretudo aqueles com marcas licenciadas ou de desenvolvedores terceiros, como Megaman, Ducktales, Castlevania ou Contra, franquias que se tornam óbvias possibilidades para esse tipo de corte, e mesmo sendo um pouco mais difíceis de aparecerem em propostas assim pelas burocracias e negociações envolvidas, seriam uma ótima proposta de expansão contínua desta plataforma, que certamente parece pronta para receber módulos novos e conteúdo complementar tanto destas e de outras coisas novas, como daquilo que já está lá. Basta saber se ela se sustenta o suficiente e se há interesse da Nintendo a médio e longo prazo.

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Da mesma forma, é impossível não imaginar que, até pelo título do jogo, a Nintendo já não esteja planejando uma futura franquia, com direito a uma SNES Edition, uma Game Boy Edition, ou quem sabe até uma N64 Edition.

Só de imaginar que outros clássicos merecem ser revisitados neste formato, fica a torcida para que a iniciativa floresça e ganhe espaço dentro dos nichos para os quais se dedica, porque sobram possibilidades para o futuro desta linha nostálgica dentro de uma empresa com décadas de produções inesquecíveis.

Por agora, considerando esta coleção atual, ela tem os seus limites em termos de modos e conteúdos, e claramente foi pensada para um nicho específico, não tendo todo aquele apelo “familiar” típico da Nintendo. Mas, para os fãs mais competitivos que estão dentro deste nicho, esta Nintendo World Championships: NES Edition certamente é um prato cheio.

Nintendo World Championships: NES Edition foi lançado exclusivamente para Nintendo Switch em 18 de julho de 2024. Todo o conteúdo recebeu localização de textos e interface para o português brasileiro.

Paulo Roberto Montanaro

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