Análise Arkade: O decepcionante modo história de Overwatch 2
Quando Overwatch 2 foi anunciado lá em 2019, tendo como foco principal desse próprio anúncio a adição de um modo história, a maioria dos jogadores ficou muito empolgada, pois isso era um elemento ausente no primeiro Overwatch.
Chegamos então em 2023 e finalmente o modo história foi lançado! Mas, será que ele é tudo o que foi prometido? Vamos sentar e conversar um pouco sobre o modo Invasão, o modo história PvE de Overwatch 2.
Contextualizando
Antes mesmo do lançamento de Overwatch 2 as coisas já começavam a ficar progressivamente piores em relação ao Hero Shooter. Em 2021, ano em que o game deveria ter sido originalmente lançado, o próprio criador da série, Jeff Kaplan, saiu da Blizzard após 19 anos trabalhando lá.
Kaplan deixou o estúdio em abril e meros dois meses depois, em junho, veio a tona os casos de assédio e abuso dentro do estúdio, com total cumplicidade de quase todos os membros da alta cúpula da Blizzard e da própria Activision, sua companhia-mãe.
E então, Overwatch 2 finalmente foi lançado em outubro de 2022, mas sem incluir seu modo história, com o estúdio alegando que precisava de mais tempo para entregar a melhor experiência possível. No fim, essa “melhor experiência” nunca aconteceu, pois em maio deste ano foi anunciado que a maioria dos recursos prometidos desse modo seriam cortados.
Esses cortes incluem o modo Hero Mastery, um modo de treino especializado para cada herói, e as árvores de habilidades, que permitiriam que os jogadores customizassem seus heróis, desbloqueando novas habilidades e poderes para serem usadas nos modos PvE.
Esses dois recursos não eram apenas extras desse modo história, eram simplesmente o cerne dessa nova adição. Mas no fim tudo isso foi cortado. Porém, o modo história prometido seguiu sendo produzido, mas tornando-se algo muito mais simplificado.
E esse modo, chamado de Invasão, finalmente chegou. E… ele é decepcionante. Divertido? Sim. Afinal os modos PvE de Overwatch sempre divertem bastante. Mas ele é bom? E é aí que eu gostaria de sentar e ter uma conversa.
4 anos depois… e apenas 4 missões adicionadas
É exatamente isso que você leu. O modo história de Overwatch 2 adicionou somente quatro missões de história até agora, sendo essas: Rio de Janeiro, Toronto, Gothenburg e uma missão extra, chamada King’s Row: Subterrâneo.
Essas missões funcionam basicamente como as missões PvE do primeiro Overwatch, em que você joga através dos mapas padrões do game cumprindo certos objetivos para avançar na narrativa. A diferença é que temos a adição de cutscenes totalmente animadas e algumas cenas in-game bem legais, como Torbjorn ativando canhões escondidos na cidade.
Mecanicamente, o modo Invasão não muda muito em relação aos eventos PvE tradicionais, exceto pelas já citadas cutscenes, por ter durações maiores e a possibilidade de reviver personagens caídos, ao invés de ter que esperar pelo tempo de respawn.
Sabe aquele ditado “melhor um pássaro na mão do que dois voando”? O modo Invasão me passa essa sensação enquanto jogo. Só que ao contrário. Falando de forma totalmente pessoal, quando Overwatch 2 foi lançado, sendo exatamente a mesma coisa que o primeiro Overwatch, mas com gráficos levemente melhores e equipes de 5 jogadores ao invés de 6, eu joguei apenas algumas partidas e nunca mais voltei ao game.
Ver a adição de um passe de temporada que demanda uma atenção do jogador que beira (na verdade chega a superar) o irrealismo com suas exigências para debloqueio de novos heróis, além de ter dificultado o desbloqueio de certos itens cosméticos, que antes eram baseados na sorte com suas lootboxes (o que já não era legal), me fez perder o interesse pelo game, que deixou de ser uma experiência pelo game em si, mas sim mais um título que replica as partes ruins dos live services.
Podemos, é claro, discutir longamente sobre decisões mercadológicas e sobre o porquê dos live services serem bons/ruins. Ou então tentar encontrar justificativas para a Blizzard estar tratando Overwatch 2 assim. Discutir que “o game é free-to-play, por isso precisa achar formas alternativas de lucrar“, ou que “os desbloqueios são cosméticos, você não é obrigado a pagar por nada“, ou que “antes o game era pago, agora não é mais“, ou coisas do tipo. Mas independente do que se discuta, não muda o fato de que o modo história de Overwatch 2 foi lançado de forma “capada” e muito aquém do que foi prometido.
E, sejamos sinceros, a Blizzard não é uma empresa com dinheiro contato no bolso, a ponto de precisar tratar o game dessa forma. Não estou falando que teria sido melhor Overwatch 2 ter sido um game pago, custando o valor de um AAA. Estou falando que seu live service não foi bem planejado, o que já era bem evidente quando essa sequência foi lançada.
E isso se reflete diretamente no modo história, pois para jogar as missões da campanha PvE, você precisa pagar. O preço é, comparativamente, “baixo” perto dos AAA de hoje em dia que custam de 300 reais para cima. Mas no fim das contas, o formato free-to-play, cujo marketing principal foi em cima de seu modo história, precisa ser pago para desbloquear um modo de jogo básico que foi prometido desde o início.
E quanto a história?
As quatro missões disponíveis possuem histórias curtas, todas com um clima de introdução, sendo as três primeiras focadas em personagens específicos. A primeira missão, do Rio de Janeiro, foca no herói Lúcio defendendo a cidade, até que a Overwatch aparece para ajudá-lo. A missão de Toronto nos apresenta de forma devida a Sojourn, antiga comandante da Overwatch, e na tentativa de Winston em recrutá-la novamente. E a missão de Gothenburg mostra Reinhardt e Brigitte levando um Ôminico que teve um dispositivo implantado em sua cabeça para Torbjorn tentar salvá-lo, enquanto Bastion aparece como um dos moradores de sua fábrica.
Já na missão de Kings Row o objetivo é coletar baterias espalhadas pelo mapa para consertar um Ômnico e então guiá-lo até o fim do mapa para uma última missão de defesa de ponto. Explorando um pouco mais sobre a história do líder do Setor Nulo, Ramattra, e as motivações para ele dar início a uma segunda Crise Ôminica.
As histórias são legais e contém diálogos interessantes, porém todas terminam naquele estilo “To be continue”. Em especial a missão de King’s Row. O problema é o tempo entre o lançamento de novas missões, e o conteúdo entregue por elas. As três primeiras missões podem ser jogadas em quatro níveis de dificuldade diferentes. E a missão de King’s Row a cada semana libera uma nova versão modificada. Por exemplo uma versão com mísseis caindo do céu de tempos em tempos, outra em que a habilidade suprema só carrega se você estiver dentro de círculos azuis, e etc.
No fim, o modelo é o mesmo dos eventos sazonais que o game recebe desde a época de Overwatch 1, a diferença apenas é que essas missões não desaparecem após certo período de tempo.
A sensação que essas missões de história passam, inclusive, é a de que elas deveriam ter acontecido em Overwatch 1, dado o espaço de tempo em que elas ocorrem. Logo na cutscene de abertura do primeiro game, que aparece sempre que botamos ele para rodar, vemos Winston enviando uma mensagem a todos os ex-membros da Overwatch espalhados pelo mundo, chamando-os para unirem-se mais uma vez para salvar o mundo.
E só agora, em Overwatch 2, é que vemos a continuação disso, com membros antigos respondendo ao chamado, como Tracer, Genji, Mercy, Cassidy, Mei e Reinhardt, além de finalmente vermos a integração de “novos” membros, como D.Va, Brigitte, Lucio, Bastion.
As histórias em cutscene apresentadas nas quatro missões disponíveis atualmente são bem feitas e divertidas, mostrando a necessidade do retorno do time de heróis para salvar o mundo, o caos generalizado que está se espalhando, bem como a relutância de alguns personagens, como Sojourn, na própria ideia de trazer a equipe oficialmente de volta à ativa. E, principalmente, a história de Ramattra é muito bem apresentada.
Overwatch 1 não ter tido um modo história não foi um ponto negativo, pois desde o início o game foi focado em seu gameplay e na jogatina online, ele tinha um objetivo claro e bem definido. O problema de Overwatch 2 é que ele foi “vendido” através de seu modo história, que não apenas chegou atrasado, mas chegou entregando pouco conteúdo, além desse próprio conteúdo ter sido severamente capado.
Conclusão… por enquanto
É fato inegável que Overwatch 2 está num estado bem triste em comparação a tudo o que foi prometido pela Blizzard desde antes do game ser lançado. Isso significa que ele está menos divertido de jogar? Não. Mas a experiência não é mais a mesma, pelo menos para mim.
Passe de batalha que exige uma dedicação absurda, a adição de progresso e evolução de personagens que premiam o jogador apenas com insígnias para exibir em seu perfil, e acima de tudo um modo história que era o carro chefe do game sendo transformado apenas num extra lançado pedacinho a pedacinho – e pior, sendo pago a preço cheio – tornaram a experiência familiarmente manchada para mim.
Digo familiarmente pois quem acompanhou Overwatch desde o início viu o declínio em seu suporte, com conteúdos sendo lançados constantemente, tornando-se esporádicos, ocasionais, raros, até o total abandono de tudo, com o foco da produção totalmente direcionado para Overwatch 2.
O meu problema, sendo muito sincero, é que Overwatch 2 recebeu todos os recursos e atenção que não estavam mais sendo empregados em Overwatch 1, chegando ao ponto do novo game substituir completamente seu antecessor. E mesmo assim, ainda não recebemos nem mesmo todo o conteúdo que foi prometido para seu lançamento, pois ainda há coisas a serem lançadas com o tempo.
No fim, essa introdução ao modo história não me atraiu como eu gostaria, me parecendo mais como os eventos PvE sazonais, mas numa escala um pouquinho maior. Espero muito que as coisas melhorem no futuro, mas sinceramente, se a Blizzard tratar Overwatch 2 da mesma forma que tratou Overwatch 1 nos últimos anos, com o lançamento de novos conteúdos acontecendo uma vez por ano ou ainda menos que isso, vai ser difícil eu ter vontade de jogar como jogava antigamente. (Mesmo levando em conta que a D.Va, minha eterna main, está muito melhor do que sua triste versão ultra-nerfada do game original)