Análise Arkade: Octahedron e a inovação psicodélica dos jogos de plataforma

22 de março de 2018

Análise Arkade: Octahedron e a inovação psicodélica dos jogos de plataforma

Ainda que o indústria esteja em plena expansão, é fato que os jogos de plataforma ainda são considerados os símbolos mais clássicos dos videogames, herança de clássicos eternos com os quais muitos de nós crescemos nos anos 1980 e principalmente na década seguinte. E também é verdade que o gênero passou por alguns momentos de desgaste e repetição, abusando de elementos consagrados e pouco apresentando inovações significativas.

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Octahedron, contudo, segue uma linha diferente, possibilitada principalmente pela abertura do mercado para produções independentes nos últimos anos. O game consegue trazer elementos bastante diferentes dos sistemas mais tradicionais tanto em termos de jogabilidade como nos quesitos estéticos. Tudo isso, quando alinhado a um trabalho minucioso de level design e um toque de tensão, fazem deste jogo uma ótima alternativa para se passar algumas horas reclamando da própria incompetência.

Uma não-história

A bela abertura de Octahedron, quase que desenhada  a mão com nanquim baseado em sombras e luz, pode pegar o jogador desprevenido, mas dá uma dimensão completamente distinta do que será encontrado a seguir, quando o protagonista cai no estranho mundo sintético de Veetragoul. É umas introdução bastante singular, quase poética, que não entrega qualquer plot mais específico e que se abre muito mais a sensações do que a objetividade dura de motivações ou chamadas para a aventura.

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O fato é que o jogo não está preocupado em necessariamente contar uma história, mas sim criar um clima, propor um momento de imersão, para logo em seguida desafiar o jogador a se apropriar de mecânicas bastante simples conceitualmente para superar desafios mais intensos. Logo, saber quem é esse cara é algo tão aberto quanto a própria proposta de gameplay do jogo, que desafia o jogador a criar alternativas, criar caminhos, criar suas próprias soluções para cada fase, um verdadeiro amálgama de armadilhas.

Na prática, um puzzle game

Octahedron se mostra convidativo não só pela bela cena de abertura, mas também por ser sedutor em suas primeiras fases. Cada mecânica é apresentada de modo bastante simples, quase naturalizado quando ao lado daquelas que nos são mais confortáveis. Afinal, é um jogo de plataforma com progressão vertical, onde o mote para vitória é alcançar o ponto mais alto do cenário. Como grande diferencial, está o fato do jogador ir construindo alguns dos pontos-chave para sua escalada.

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Deste modo, a mecânica a ser dominada é basicamente pular e criar uma plataforma no local exato para continuar subindo. Não que seja exatamente uma proposta original — creio que algo realmente inédito seja quase improvável hoje em dia — mas seu uso na concepção do jogo é inventivo e bem aproveitado. Mais tarde, novas habilidades são adicionadas, com a montagem de plataformas com funções distintas, mas isso é quase que uma evolução convencional que complementa o básico.

Confira abaixo um pouquinho de gameplay das primeiras fases:

O que faz Octahedron algo novo de fato é a sensação de liberdade que se estabelece nesse processo de criação do próprio caminho, ainda que fique claro que na maioria das vezes, criamos aquilo que o jogo espera que seja criado. É uma estratégia de game design bastante eficaz: fazer com que o jogador faça as escolhas previstas e ainda assim permitir que ele acredite que as fez por livre vontade. Parece cruel, mas funciona de forma positiva na maioria das vezes.

Soma-se ao desafio básico de chegar ao fim da fase a possibilidade de se completar colecionáveis. Em cada fase, por exemplo, há partes espalhadas de um octaedro — provavelmente daí vem o nome do jogo, algo não tão óbvio em um primeiro momento. Há ainda outras figuras que parecem ser formadas por núcleos de energia ou de luz, algo coerente com um mundo digital cheio de neon que parece ter saído de uma casa noturna dos anos 1980.

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Para os jogadores com desejos de completude, portanto, o jogo pode se mostrar ainda mais complicado. Do mesmo jeito que em jogos como Super Meat Boy, as vezes é mais fácil passar de fase do que coletar alguns itens, sobretudo nos níveis mais avançados dentre os 6 mundos presentes no jogo.

Alguns desses coletáveis são indispensáveis para se avançar, já que há quantidades mínimas de energia para se abrir um novo mundo, mas nem todos precisam ser coletados logo de cara. A questão é: quem consegue deixar coisas para trás quando elas parecem tão acessíveis numa primeira olhada?

O poder do neon

Se visto pelo caráter estético, podemos dizer que Octahedron é quase um passeio por letreiros de Las Vegas, visto que é basicamente uma composição meio sádica de luzes e pulsos de energia, algo que lembra um pouco a visão oitentista do que seria um mundo digital, como visto no primeiro filme da saga Tron. Há um minimalismo enganoso na estrutura das fases, onde a sensação de elementos básicos num rápido olhar contrasta com os efeitos de luz e profundidade, potencializados sempre pelo poder de criação do jogador.

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Tudo isso é acompanhado de uma composição sonora quase hipnotizante, com efeitos que se misturam a uma trilha musical eletrônica que nos remete diretamente a uma festa rave. Ainda que repetitiva, é uma trilha envolvente, que parece uma mistura de House e Trance, e dá ritmo ao jogo. É quase natural que os movimentos do jogador se sincronizem com a música em uma sintonia consonante. O gameplay e os quesitos audiovisuais se fundem em um mosaico de cores, sons e movimentos e se tornam um conjunto psicodélico.

Conclusão

Octahedron não é dos jogos de plataforma mais fáceis, mas também não é dos mais frustrantes. Sua estrutura de gameplay, seu visual moderno retrô e seu ritmo dão sustentação a uma estrutura de puzzle game que refrigera um dos gêneros mais convencionais do mundo dos games. A morte é inevitável, tal como a repetição, e chegar ao fim é um desafio que demanda dedicação e suor, mas, ao mesmo tempo, é divertido e recompensador.

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O game está todo em inglês, mas isso é quase imperceptível, já que não há diálogos ou mesmo instruções em formato de texto. Tudo – da história ao gameplay – é muito mais instintivo do que explícito, o que torna a experiência mais fluida e acessível. Trilha sonora e composição visual colaboram para proporcionar diversão, mesmo naqueles momentos onde há vontade de dar aquele bom e velho rage quit. É só fechar os olhos, respirar, sentir a batida do tunts-tunts eletrônico e tentar de novo. Vale a pena.

Desenvolvido pela Demimonde Games e distribuído pelo selo Square Enix Collective, Octahedron foi lançado esta semana, e está disponível para Playstation 4, PC e XBox One.

Paulo Roberto Montanaro

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