Análise Arkade: Oure tenta misturar Journey com Shadow of the Colossus

14 de novembro de 2017

Análise Arkade: Oure tenta misturar Journey com Shadow of the Colossus

O que esperar de um game que mistura o feeling pacífico de Journey com a escala titânica de Shadow of the Colossus? Oure é quase isso, e nosso review dele você confere agora!

Meio criança, meio dragão

Em Oure, controlamos uma criança — você escolhe se é um garotinho ou uma garotinha — que, após atravessar uma misteriosa porta de luz, ganha a fantástica habilidade de se transformar em um dragão voador.

Esta nova realidade composta de nuvens e torres tem relação com a vida pregressa da criança, que sonhava com este mundo e desenhava-o com giz de cera. Há uma espécie de busca, e uma mensagem velada sobre relações entre pais e filhos, mas, como em outros games do gênero, é tudo bem subjetivo e aberto à interpretações.

Análise Arkade: Oure tenta misturar Journey com Shadow of the Colossus

O fato é: você é uma criança que, ao toque de um botão, pode se transformar em um dragão voador. Sua missão é basicamente explorar a vastidão de nuvens, coletando orbes azuis, explorando (e ativando) ruínas… e enfrentando enormes criaturas de pedra!

O lado Journey

Quem jogou Journey sabe que um dos grandes prazeres do game é a pura e simples exploração em si, surfando pelas dunas e planando pelo ar enquanto buscamos pictogramas e murais.

Análise Arkade: Oure tenta misturar Journey com Shadow of the Colossus

Oure pega emprestada a mecânica básica de planagem e se apoia basicamente nela: nosso dragão é bem maleável, mas pode basicamente ir para cima ou para baixo, dar uma acelerada e, ao fazer um círculo no ar, libera uma onda que revela temporariamente a localização de pontos de interesse pelo cenário.

Confira o início do gameplay abaixo:

O gameplay é bem simples, sem desafios nem confrontos, sendo sua barra de stamina o único fator limitador de suas ações. Mas basta mergulhar nas nuvens para preencher esta barra, então simplesmente voe pelo mapa, coletando tudo o que puder e buscando ruínas que podem ser “ativadas”. É é a partir destas ruínas que podemos acessar…

O lado Shadow of the Colossus

Sempre que você restabelece a energia de uma torre, pode voltar a ser criança para subir até o topo dela. Chegando lá, você dará de cara com uma imensa criatura feita de pedra, e terá que segui-la em alta velocidade pelos céus, “atacando” todos os seus pontos fracos e tentando não ficar para trás.

Análise Arkade: Oure tenta misturar Journey com Shadow of the Colossus

Digo “atacando” porque, ao contrário de Shadow of the Colossus, aqui não parece que estamos realmente machucando os bichos. As “batalhas” parecem mais com ritos de libertação, como se estivéssemos libertando os titãs de enormes “farpas” que estão prendendo-os e lhes causando sofrimento.

Confira abaixo o encontro com o primeiro titã:

Como você deve ter reparado, depois da batalha o titã continua vivo, e ainda ajuda a criança, canalizando sua energia para a enorme torre que fica no centro do cenário, que é seu objetivo principal. Há vários titãs diferentes espalhados pelo game, e as “batalhas” contra eles vão se tornando mais complexas e desafiadoras.

Essa mistura funciona?

Mais ou menos. Oure é aquele tipo de jogo para jogar sem pressa, simplesmente curtindo a vibe relaxante da exploração em si. A questão é que, enquanto jogos como Journey e Abzû possuem ambientes fantásticos e momentos memoráveis, aqui não temos essa mesma magnitude.

Análise Arkade: Oure tenta misturar Journey com Shadow of the Colossus

Não há muita variedade de cenários, de modo que temos basicamente o céu e as nuvens como companheiros por praticamente toda a jornada. Até encontramos alguns “peixes” e borboletas com os quais podemos interagir, mas no geral eles não fazem muita coisa. Salvo os encontros com os gigantes de pedra, não há momentos emocionantes nem grandiosos aqui.

Isso deixa o ritmo do jogo meio lento, e, por consequência, um tanto entediante. Já de cara temos o mapa inteiro para explorar, e catar as 750 orbes azuis é uma tarefa que até começa divertida, mas logo vai se tornando um exercício de paciência e perseverança. A falta de outros objetivos faz com a gente inevitavelmente foque na ativação das torres, afinal os encontros com os titãs logo se tornam a melhor coisa do game.

Análise Arkade: Oure tenta misturar Journey com Shadow of the Colossus

Então, se você se interessou por Oure, saiba que ele demanda um bocado de paciência, e apresenta pouca variedade. Você vai passar 80% do tempo olhando para o mesmo lugar e fazendo a mesma coisa. Um pouco mais de variedade e dinamismo sem dúvida faria muito bem ao jogo.

Audiovisual

Ainda que seja um jogo de visual relativamente simples, Oure é um jogo claramente feito com muito carinho e atenção aos detalhes. A movimentação do dragão é muito fluida, e a maneira com que ele “perfura” as nuvens ou cruza túneis de nuvens gera belos momentos., especialmente quando acompanhado das matizes do pôr-do-sol, que tingem o céu de outras cores.

Análise Arkade: Oure tenta misturar Journey com Shadow of the Colossus

O design dos titãs pode não parecer lá muito original em uma primeira olhada, mas é coerente com a proposta do game, e o efeito espelhado da área em que interagimos com eles após as batalhas é muito interessante.

O game possui poucas vozes, mas no geral todas são competentes, e condizentes com a pegada meio “contos de fada” da narrativa. A trilha sonora orquestrada faz bonito, mantendo um clima sereno na exploração e subindo para algo mais intenso quando confrontamos os titãs.

Conclusão

Ainda que busque referência em dois dos jogos mais elogiados de gerações passadas, Oure não consegue ser tão memorável quanto nenhum deles. Talvez se fosse mais curto, mais focado — ou com menos colecionáveis — a experiência seria mais divertida, mas é fato que a falta de objetivos acaba deixando o jogo um pouco arrastado.

Análise Arkade: Oure tenta misturar Journey com Shadow of the Colossus

Ele sem dúvida tem o coração no lugar certo, e consegue ser encantador e relaxante se jogado de forma homeopática, em pequenas doses, para não acabar deixando o jogador entediado. Vale muito a pena para dar uma desestressada depois de um longo dia de trabalho, mas não espere por nada tão incrível quanto os jogos nos quais ele se baseia.

Oure foi lançado em 30 de outubro para Playstation 4, e esta semana está chegando aos PCs. O game não possui suporte ao nosso idioma, e está 100% em inglês.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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