Análise Arkade: Palworld definitivamente não é uma cópia de Pokémon

5 de fevereiro de 2024
Análise Arkade: Palworld definitivamente não é uma cópia de Pokémon

Se tem um jogo que está dando o que falar nas últimas semanas é Palworld. Seja pelos diversos memes e conteúdos hilários originários do nome dos seus monstrinhos: Pals (com L, não com U seu safadinho); seja pelas polêmicas comparações que a internet vem fazendo do game da Pocket Pair com a franquia Pokémon.

Independente de polêmicas e piadocas de 5ª série, o sucesso de Palworld já é um fato! O game é o mais vendido da Steam, além de ser o segundo com maior número de jogadores simultâneos da história da plataforma, passando gigantes como Baldur’s Gate 3, CS:GO e Dota 2. Além disso, o jogo já vendeu mais de 12 milhões de cópias nas duas semanas desde o seu lançamento e seus números não param de subir.

Análise Arkade: Palworld definitivamente não é uma cópia de Pokémon

Mas vamos entender direito o que está acontecendo aqui. Pois a alcunha de “cópia de Pokémon” foi atribuída ao jogo e reproduzida pela mídia “especializada” até à exaustão, mas após jogar bastante o título, acho importante dizer que temos muito pouco de Pokémon em Palworld, e isso é excelente. Então pegue seus Pals e reserve suas bolas para vir comigo numa jornada que tinha tudo pra dar errado, mas que acabou sendo um excelente acerto.

Um jogo ainda em desenvolvimento

Antes de mais nada, é importante ressaltar que mesmo que estejamos analisando o jogo, ele encontra-se no momento da escrita desse texto em sua versão 0.1.3.0. Isso se deve ao fato do game ter sido lançado em acesso antecipado pela Steam e disponibilizado via Game Pass no Xbox. Por isso, era de se esperar um jogo razoavelmente repleto de bugs, instabilidades de desempenho e pouco conteúdo.

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E dois desses três elementos realmente são verdade. Palworld possui uma quantidade considerável de bugs e necessidades de melhorias. Além também de possuir instabilidades em seu processamento que trazem quedas na taxa de quadros que podem eventualmente atrapalhar a gameplay. Entretanto, nem de longe o jogo parece “quebrado” ou mal feito de alguma forma. E parte disso se deve ao terceiro item citado acima: seu conteúdo.

Palworld chegou em seu acesso antecipado com um conteúdo surpreendentemente rico em variedade de mecânicas. São 111 monstrinhos diferentes com variações de tipos que aumentam ainda mais esses números na prática (para 137 para ser mais exato). Além de mecânicas de sobrevivência e sandbox pra fã nenhum de Ark Survival Evolved botar defeito.

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Sim, é isso mesmo, Palworld é um jogo de sobrevivência e sandbox que mescla esses gêneros com a captura e treinamento de monstrinhos de bolso, tal qual Pokémon e diversos outros jogos do gênero de captura de monstros. E entendendo que o game possui seus problemas devido ao lançamento em acesso antecipado, passamos então para o conteúdo em si.

Perdido numa ilha nada deserta

Palworld não é um game que foca tanto em um enredo ou uma história tão profunda, ao menos não de início. Ele possui um contexto, mas este é deixado bem de lado durante a maior parte da jogatina. Você é um humano que misteriosamente foi parar no Arquipélago Palpagos. Nesse grupo de ilhas, você acaba encontrando outros sobreviventes que lhe avisam das perigosas criaturas com as quais vocês aprendem a conviver.

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O mapa do jogo é bem vasto e cheio de biomas diferentes.

Desde o início os famigerados Pals são tratados como uma ameaça tanto quanto potenciais aliados. Personagens em diálogos bem rasos te avisam sobre os riscos dos monstrinhos noturnos e de como os animais maiores são bem mais perigosos. Até um deles te avisar que você precisa aprender a capturar esses tais Pals para usar o poder deles a seu favor, ao ponto de vencer as cinco ilhas com dominadores de Pals que, cada uma a seu modo, influenciam negativamente o arquipélago.

E é isso, a história não terá muito mais desenvolvimento do que isso. No máximo temos alguns coletáveis espalhados pelo mapa do mundo do game que contam indiretamente alguns acontecimentos para dar mas contextualização para algumas regiões e lendas.

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Acariciando um Pal bem fofinho.

Fora isso, o jogo não aprofunda tanto na história, não temos diálogos complexos com NPCs nem muito menos personagens com personalidade própria para interagir, mesmo que encontremos algumas cidades com comércio espalhadas pelo arquipélago.

Mãos à obra

A partir desse ponto, Palword te deixa livre para fazer o que bem entender tal como a maioria dos jogos de sobrevivência em mundo aberto o fazem. Aqui cabe alguns elogios quanto a construção do mundo do jogo em si, visto que o mapa não começa inteiramente aberto em seus registros, necessitando que exploremos “na marra” cada cantinho a ponto de descobrir segredos, coletar recursos e diversos itens necessários para o avanço da aventura.

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A liberdade criativa para construções ainda é limitada, mas é algo esperado para um early access.

E nisso o jogo acerta bastante! Mesmo que o mapa soe um pouco genérico na região inicial, temos algumas construções interessantes, pontos de interesse bem construídos e uma construção de visão do horizonte que lembra bastante The Legend of Zelda: Breath of the Wild, visto que conseguimos ver ao longe relevos gigantescos de outras ilhas, mesmo que estas não estejam abertas pra gente em nossos registros ainda.

Isso tudo é bacana pois incita a curiosidade do jogador de sempre tentar ir mais longe, seja para liberar as estátuas de teleporte espalhadas por todo o mapa, seja para conhecer novas regiões e encontrar monstrinhos inéditos. Claro que tudo isso depende inicialmente do jogador coletar recursos como pedra, madeira, metal e diversos outros para construir sua base. Uma espécie de quartel general para que possa construir equipamentos, armas e, principalmente, domar e administrar seus Pals.

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Nisso é importante ressaltar que Palworld tem um equilíbrio entre a sobrevivência e o sandbox muito mais voltado para o casual do que para o hardcore desses gêneros. Claro que, para os mais afixionados por desafios, temos configurações de jogo mais rígidas que permitem a jornada ser bem mais trabalhosa e vagarosa. Mas existem também modos mais fáceis que garantem diversão e uma progressão leve para jogadores mais tranquilos.

Mais sandbox do que sobrevivência

Esse foco mais no casual é um acerto e tanto, além de ser parte da justificativa para o engajamento tão grande ao jogo. Qualquer um consegue jogar despretensiosamente Palworld, no nível de dificuldade que achar mais adequado. Mesmo com isso, é nítido que o foco do jogo é muito mais voltado para o Sandbox do que para a sobrevivência em si, mesmo que tenhamos mecânicas de ambos aqui.

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Claro que temos que cuidar da durabilidade de nossos equipamentos, bem como temos fome, precisando cozinhar alimentos tanto para nosso personagem quanto para nossos pets. Também temos efeitos negativos ligados a calor e frio extremos, bem como doenças das mais variadas as quais nossos Pals podem adquirir caso não tratados da melhor maneira. Mas os desafios da parte de sobrevivência do jogo não vão muito além disso, tendo no máximo invasões sazonais de Pals malignos ou humanos adversários para sobrevivermos em nossas bases.

A maior parte do restante das mecânicas é voltada para o sandbox e, principalmente, para a administração de base e criação de itens. São centenas de itens diferentes para serem construídos tanto para a nossa base como para o nosso personagem, além de matérias primas a serem coletadas e construções específicas de base. O gameplay em geral gira em torno basicamente de capturar monstrinhos variados, utilizá-los em sua base como companheiros trabalhadores (ou escravos, dependendo da sua administração) e, assim, otimizar sua produção de manufaturas.

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Cada tipo de Pal possui habilidades específicas que podem ajudar mais ou menos nas produções em sua base.

Essa produção serve para construir equipamentos e itens melhores, para conseguir Pals melhores e melhorar ainda mais sua base. Para fazer esse ciclo de novo e de novo, até conseguir superar o desafio das cinco torres espalhadas pelo mundo. É um ritmo cíclico, mas que não é tão repetitivo assim justamante pela variedade de ambientes e monstrinhos com os quais você interage no processo.

Mas e os Pals nisso tudo?

Mas o que seria de Palworld sem os seus famigerados Pals? Pois bem, talvez o elemento que impede Palworld de ser mais um jogo genérico de sobrevivência e sandbox como vários outros seja justamente seus monstrinhos que, inquestionavelmente, possuem designers que lembram muito a franquia da Nintendo, para o bem e para o mal. São os Pals e o seu senso de colecionismo que garantem dezenas de horas de jogatina.

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Mas não é só de um design “nintendesco” que se faz um Pal. Na verdade, ao jogar e me aprofundar nas mecânicas de Palworld, me surpreendi bastante com toda a complexidade e zelo que os desenvolvedores tiveram com a construção dos sistemas por trás dos Pals. Temos o arroz com feijão de todo monster catcher disponível aqui: treinamento de “IVs” e atributos, escolha de técnicas e variedade boa de poderes para cada monstrinho, interação de fraqueza entre elementos e batalhas voltadas para a ação.

Para além disso, como se trata de um sandbox focado na construção e administração de bases, também temos dezenas de habilidades passivas para os monstrinhos que auxiliam tanto nas batalhas quanto no trabalho deles na base. Cada monstrinho tem, por espécie, características e capacidades que influenciam seu trabalho na base. Alguns vão mineirar, outros coletar madeira, outros regarão suas plantações enquanto os do elemento fogo ajudarão a cozinhar e trabalhar metais na fornalha.

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Pals podem te ajudar em praticamente todas as funções do jogo, e olha que não são poucas.

Existem Pals com várias capacidades ao mesmo tempo, como trabalho manual, transporte de recurso, produção de matérias prima como leite, ovos, lã e outros. Assim como também temos Pals que são mais indicados para auxiliar em sua base e Pals que são especializados em combate, não sendo tão bons em trabalhos de base. Toda essa complexa rede de interações e variações é viciante e muito cativante, lembrando muito mais jogos da franquia Digimon do que realmente Pokémon.

Batalhas e exploração de primeira

Passados os principais pilares do jogo: sandbox e administração de monstrinhos, temos ainda outros dois pilares “secundários” que são igualmente muito gratificantes: os combates e a exploração. Falando propriamente dos combates, eles são focados na ação, com um monstrinho seu podendo ser invocado por vez para a porradaria, enquanto você pode participar da batalha montando nele ou então auxiliando seu parceiro com armas de fogo e de curta distância.

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As batalhas são muito divertidas desde os primeiros embates até os mais avançados, contra bosses e líderes de torres. As habilidades dos Pals são lindas de se ver e toda a fluidez de esquiva e ataque tornam a experiência como todo bem divertida e viciante, já que mescla batalhas de monstros como Pokémon e Temtem, mas voltadas pra ação, com recurso que mais lembram Fortnite mesmo.

E essas batalhas tudo têm a ver com a exploração, visto que boa parte dos motivos que movem o jogador a conhecer o mundo do jogo são as batalhas que ele pode encontrar pelo caminho. O mundo definitivamente não é ausente de coisas a se fazer, visto que possui dezenas de bosses espalhados pelo mapa, dungeons com Pals exclusivos e recursos raros, bases de inimigos com Pals para serem libertados, coletáveis que podem melhorar habilidades passivas, baús escondidos, torres de teletransporte para serem liberadas e dezenas de recursos presentes em áreas específicas.

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Além disso, os próprios Pals representam outra motivação e tanto para a exploração, já que possuem regiões específicas para cada espécie, Pals que só aparecem de dia ou de noite, além de criaturas lendárias que aparecem em locais específicos do mapa e garantem combates verdadeiramente épicos e gratificantes, mesmo que você esteja jogando com amigos nas modalidades online do jogo.

Uma salada mista deliciosa

Palworld é um caso curioso de mescla de mecânicas de gêneros. Consigo ver claramente elementos do jogo que se baseiam descaradamente em Zelda Breath of the Wild, Fortnite, Elden Ring, Digimon, Ark, Conan Exiles e, obviamente, Pokémon. Porém, ao misturar tantos elementos e fontes diferentes de uma forma divertida e despretensiosa, o game conseguiu alcançar, de algum modo, certa originalidade e personalidade própria.

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Não é atoa que, mesmo que esse sucesso estrondoso seja influenciado por memes e pelo efeito manada, é indiscutível que as pessoas continuam jogando e jogando Palworld. Cada vez mais vídeos de tutoriais básicos e avançados são lançados no YouTube, além de horas e mais horas de streamers se aventurando no game. Não só pelos memes, mas também pelo conteúdo divertido que o jogo proporciona. Essa é a ideia final: para além de polêmicas, memes e pouca originalidade, Palworld consegue ser divertido e cativante.

Palworld foi lançado em 19 de janeiro de 2024 e está disponível para PC (via Steam e GamePass) e para Xbox One e Xbox Series S/X. O jogo encontra-se com textos totalmente traduzidos para português brasileiro, o que garante boa parte dos seus memes.

Gilson Peres

Gilson Peres é Psicólogo, Mestre em Comunicação e aqui no Arkade fala principalmente sobre Realidade Virtual, jogos de PC e novas tecnologias desde 2019.

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