Análise Arkade: Panzer Dragoon Remake, o retorno de um clássico do Sega Saturn
Há jogos que marcam a vida da gente. Panzer Dragoon foi um desses jogos. Acho que ele dificilmente poderia ser chamado de “clássico”, mas lembro que joguei-o muito no Sega Saturn do meu tio, ali na segunda metade dos anos 90.
A memória, porém, é uma coisa um tanto traiçoeira. Na minha cabeça, Panzer Dragoon era um jogo gigantesco. Eu lembro de passar horas voando nas costas de um dragão poligonal, enquanto atirava em vermes gigantes, torretas e diversos outros tipos de criaturas.
Esta semana, Panzer Dragoon Remake chegou ao PS4, logo depois de desembarcar nos PCs e, antes disso, no Nintendo Switch, em março. Ele é um remake bastante fiel do jogo original… e isso me fez perceber o quanto ele não é tão épico e gigantesco quanto eu me lembrava.
Um remake fiel
O estúdio polonês MegaPixel Studio tratou o título original com reverência e respeito. Nada foi acrescentado em termos de história, e mesmo as cutscenes se esforçam para recriar até os ângulos de câmera do jogo original.
Até que ponto essa fidelidade é boa, fica a critério do jogador. O fato é que Panzer Dragoon nunca teve lá uma história muito bem desenvolvida, e isso se repete neste remake: o jogo parece ter mais “lore” do que história, e ainda que pela internet a gente encontre bastante coisa, o jogo em si não entrega tanto conteúdo.
Basicamente, controlamos um caçador que acaba entrando em ruínas ancestrais e sendo atacado por uma criatura gigante. O protagonista consegue escapar quando a estrutura desaba, e encontra um dragão azul de armadura, cujo “cavaleiro”foi ferido em combate.
O “cavaleiro” do dragão diz que estava em uma missão importante: impedir que o dragão negro chegue à torre. À beira da morte, ele cede sua arma e compartilha sua consciência com o protagonista, que deverá então montar no lombo do dragão azul (que “sabe o caminho”) e terminar a missão.
E a história é basicamente isso. Ao longo do jogo, vamos ver cidades alagadas, templos em ruínas e embarcações voadoras, mas nada disso recebe alguma atenção narrativa. O mundo de Panzer Dragoon é instigante e misterioso, mas só podemos ver o que o jogo nos mostra.
Jogando Panzer Dragoon em 2020
Quando foi lançado, em 1995, Panzer Dragoon era um shooter on rails que estava experimentando as possibilidades de uma nova tecnologia: jogos tridimensionais ainda eram raros naquela época, e títulos como Star Fox (de 1993) abriram caminho para uma leva de títulos poligonais que eram bastante experimentais, visto que tudo aquilo era novo tanto para os produtores quanto para os jogadores.
Por exemplo: o Sega Saturn é de um tempo em que não tínhamos alavancas analógicas nos controles. Isso quer dizer que usávamos o d-pad para mover o dragão e para mirar. Algo que é não só confuso, mas desnecessário hoje em dia. Então, embora você possa jogar do jeito “clássico”, existe um padrão de gameplay “moderno”, que nos permite controlar o dragão com a alavanca da esquerda, e a mira com a direita, o que é bem mais aceitável.
Isso é um implemento que deixa o jogo muito mais amigável, mas essa atualização não oferece liberdade total de mira em 360º. Quando precisar atirar para os lados ou para trás, você precisa apertar os botões L1 e R1, que movem a câmera em ângulos de 90º, permitindo que você veja os inimigos posicionados ao seu redor. Porém, quando estamos mirando para qualquer outra direção, praticamente não temos controle do dragão, então o único jeito de não ser alvejado é atirando nos projéteis inimigos.
Por falar nisso, temos dois tipos de tiros: apertar R2 continuamente faz com que você use a pistolinha do personagem. Mantenha o R2 pressionado e “arraste” a mira pelos inimigos para marcá-los e soltar uma saraivada de mísseis teleguiados. Poderiam ter colocado um tipo de tiro em cada botão, mas preferiram deixar o layout mais alinhado com o clássico.
O extravagante retículo de mira do jogo é algo que não faz sentido em 2020: em 1995, percepção especial em um ambiente 3D era algo novo, diferente. Hoje temos jogos de tiro que levam até a resistência do ar em compensação. Então, os “quadrados” — que visam demonstrar o caminho dos seus projéteis — parecem simplesmente antiquados e desajeitados. Já sabemos como essa balística funciona. Podia haver um retículo de mira mais tradicional, que estava de bom tamanho.
Tirando esses detalhes, a jogatina flui de maneira simples: atire nos inimigos e tente não ser atingido por eles, enquanto seu dragão voa através de caminhos pré-determinados. Confira um pouquinho de gameplay aí embaixo, para sacar o “feeling” do jogo:
Lembra que eu falei que o jogo parecia “gigantesco” no Sega Saturn? Pois é, a memória prega peças na gente: o remake tem as mesmas 6 fases + chefe final do jogo original, e ontem eu terminei ele em uma partida só, que mal durou uma hora. Zerar o jogo nos dá acesso a um “cheat code” (que é uma variação do Konami Code!) e nos permite acessar seleção de fases, tiro rápido, god mode, e outras “trapaças”.
Audiovisual
Eu sei que Panzer Dragoon é um Remake, mas honestamente, ele tem bem mais cara de Remaster. Talvez para respeitar o material original, o visual foi melhorado… mas ainda parece um tanto quanto datado. Não houve o mesmo empenho/investimento/talento que vimos, por exemplo, em Shadow of the Colossus, ou nas coletâneas remasterizadas de Crash Bandicoot e Spyro the Dragon, por exemplo, para citar jogos mais ou menos da mesma época (segunda metade dos anos 90).
Isso quer dizer que: o jogo está mais bonito que o original de Sega Saturn, mas definitivamente não faz jus a uma plataforma atual — joguei no Playstation 4 Pro. Poucos cenários são coloridos como esse da foto acima, em geral tudo é amarelo, marrom e sem graça. Sei que a primeira plataforma a receber o game foi o Switch, mas mesmo ele é capaz de entregar games mais caprichados e coloridos.
A trilha sonora também é uma releitura dos temas originais. Ela não é especialmente memorável, mas tem seus momentos. As vezes, a trilha quase desaparece, mas de repente cresce e ganha novas camadas, para casar com momentos de clímax. Os sons de tiros e explosões são satisfatórios, sem necessariamente se destacarem.
E já que falamos em áudio, acho que o recurso exclusivo do Playstation 4 se faz no uso do alto falante do controle: quando você toma dano, o “grito” do seu dragão sai pelo DualShock. É mais um gimmick do que uma novidade de fato. Ah, e vale ressaltar que, infelizmente, o game não recebeu localização para o nosso idioma.
Conclusão
Este novo Panzer Dragoon é um remake com preço de remake e cara de remaster. Se você tiver a oportunidade de jogá-lo no PC — onde ele custa menos de 50 reais, acho que vale a pena. Mas no PS4 o jogo está custando mais de R$ 130, o que é um absurdo para um jogo “velho” que dura tão pouco.
Se você curtiu este clássico no Sega Saturn, sem dúvida vai gostar de reviver a experiência — mas tenha em mente que a experiência não foi tão atualizada e aprimorada assim. Quem curte esse tipo de jogo geralmente é retrogamer, então talvez seja mais fácil você tirar o pó do seu Sega Saturn, ou mesmo apelar para a emulação.
O estúdio responsável pelo jogo já garantiu os direitos da sequência, então é fato que teremos um remake de Panzer Dragoon II Zwei em algum momento no futuro. Espero que, na próxima, os produtores sejam mais corajosos, e tentem agregar mais conteúdo ao jogo original, ao invés de apenas refazê-lo em gráficos medianos. Ou que, pelo menos, cobrem um preço mais coerente com a proposta. R$ 133 (ou U$ 25) para um jogo de 25 anos com visual bem abaixo da média não me parece um preço justo a se pagar por 1 hora de nostalgia.
Panzer Dragoon Remake chegou ao PS4 em 28 de setembro. O game também está disponível no Nintendo Switch e no PC.